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Parte II – Projetos desenvolvidos no Estágio

1. Projeto I: Rastreio Cardiovascular e Avaliação de Potencial Risco Cardiovascular na Comunidade

1.2 Enquadramento teórico

As DCV são a principal causa de mortalidade em Portugal e na maioria dos estados membros da União Europeia e são, também uma das maiores causas de morbilidade e de potenciais anos de vida perdido [21], o que as torna umas das grandes prioridades na área da saúde, sendo fundamental a prevenção dos seus aparecimentos e agravamentos [21, 22]. As DCV afetam o sistema circulatório, mais concretamente, os vasos sanguíneos como as artérias, sendo causadas por aterosclerose [22].

A aterosclerose caracteriza-se pela constrição das médias e grandes artérias devido à acumulação de placas fibrosas, a que se denominam placas ateroscleróticas ou placas de ateroma. Estas são desenvolvidas após um desequilíbrio na homeostasia entre as células musculares lisas dos vasos e o endotélio [23]. A sua acumulação nos vasos sanguíneos, origina uma maior dificuldade no fluxo sanguíneo dentro dos vasos e vai levando ao seu bloqueio progressivo [23, 24].

1.2.1 Fatores de Risco

A probabilidade de ocorrência de alguma DCV está associada a um conjunto de fatores de risco [22]. Estes são divididos em dois tipos: em fatores de risco não modificáveis e em fatores de risco modificáveis. A diferença entre eles baseia-se na capacidade de poderem sofrer uma possível correção ou intervenção. Os modificáveis são passíveis de ser alterados, enquanto que os não modificáveis não, estes são intrínsecos [25, 26].

1.2.1.1 Fatores de Risco Não Modificáveis

Género – O risco de sofrer um ataque cardíaco é superior em indivíduos do sexo masculino. Contudo, quando as mulheres atingem a menopausa essa diferença no risco inverte-se, passando a ter um risco superior aos homens. Isto deve-se às alterações hormonais que ocorrem nesta fase da vida da mulher, mais propriamente, sobre a quantidade de estrogénio. Esta hormona tem uma característica particular, é antiaterogénica, pelo que tem a capacidade de promover a síntese de c-HDL e a degradação de c-LDL, sendo desta forma bastante benéfica neste contexto [27, 28].

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Idade – Quanto mais avançada a idade, maior será a probabilidade de desenvolver uma DCV. Por isso mesmo, cerca de 80% das mortes relacionadas com DCV acontecem em indivíduos com idade superior a 65 anos. Com o envelhecimento, o coração tende a deixar de funcionar tão bem, pelo que o sangue pode deixar de ser bombeado corretamente [27].

Hereditariedade – Outro fator que não pode ser controlado está relacionado com a genética do indivíduo. Indivíduos que tenham história familiar de DCV apresentam também uma maior probabilidade de vir a desenvolver este tipo de doenças [27].

1.2.1.2 Fatores de Risco Modificáveis

Hipertensão arterial – A HTA é considerada um dos principais fatores de risco no aparecimento de DCV por ser uma patologia “silenciosa” que não apresenta sintomas significativos e por causa disso existe uma percentagem muito elevada de doentes não apresentam a pressão arterial dentro dos valores recomendados. Tanto por desconhecimento, como por falta de monitorização [29].

Em 2015, 36% a população portuguesa com idade compreendida entre os 25 e 74 anos apresentava HTA, sendo estimado que destes, 69.8% tinham conhecimento da sua condição de saúde e 69.4% estavam sob terapêutica hipertensora. Contudo, destes 69,4%, 71,3% estavam efetivamente com a pressão arterial controlada [30].

Esta patologia tem prevalência tão elevada em Portugal devido ao consumo excessivo de sal [21, 31]. Segundo a Organização Mundial de Saúde, o valor recomendado por dia é de 5 gramas [32].

Por norma, os valores de PA devem ser inferiores a 140/90mmHg [33]. Na tabela 1 encontra-se a classificação da PA para adultos, segundo a DGS.

Tabela 4 - Classificação de HTA em adultos (Adaptado) [34].

Classificação PAS (mmHg) PAS (mmHg)

Ótima < 120 < 80

Normal 120 -129 80 – 84

Normal – Alta 130 - 139 85 – 89

HTA Grau I 140 – 159 90 – 99

HTA Grau II 160 – 179 100 – 109

HTA Grau III ≥ 180 ≥ 110

Diabetes mellitus (DM) – Outro fator de risco bastante importante é esta patologia que se caracteriza por uma hiperglicemia resultante de produção insuficiente de insulina, resistência à sua ação ou a ambos os fatores [35].

Esta é uma doença bastante prevalente no mundo, inclusive em Portugal. Estima-se que em Portugal, no ano de 2015, a prevalência da doença em indivíduos com idades compreendidas entre os 20 e os 79 anos fosse de 13,3%. Ou seja, mais de 1 milhão de indivíduos. Com a análise estatística, soube- se que o predomínio de DM é bastante superior em homens e, também, que há aumento de prevalência

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com a idade, uma vez que mais de 25% dos indivíduos com idades compreendidas entre 60 e 79 apresentam DM [36].

A DM divide-se em dois tipos: A DM tipo 1, também designada por insulinodependente, que é uma patologia autoimune que provoca uma insuficiente secreção de insulina ao promover a destruição das células β do pâncreas; e a DM tipo 2, vulgarmente denominada por não insulinodependente e mais prevalente, representando cerca de 90 a 95% dos casos de DM. Este tipo caracteriza-se pela deficiência relativa de insulina por defeitos na secreção da hormona, sendo que pode apresentar fenómenos de insulinorresistência [35, 36].

Na tabela seguinte está representado o critério de diagnóstico da DM e da hiperglicemia intermédia, de acordo com a DGS [37].

Tabela 5- Critérios de diagnóstico da Hiperglicemia intermédia e da DM [37].

Classificação Hiperglicemia intermédia Diabetes mellitus Glicemia em jejum ≥110 – <126 mg/dl Anomalia da

glicemia de jejum ≥126 mg/dl

Glicemia na prova de tolerância à glucose oral às 2h

≥ 140 – <200 mg/dl Tolerância diminuída à

glicose

≥ 200 mg/dl

Hemoglobina glicosilada A1c ---- ≥ 6,5%

Caso seja um indivíduo assintomático, o diagnóstico deve sempre ser confirmado numa segunda análise, e não deve apenas basear-se em um valor anormal de glicemia em jejum ou HbA1c. De preferência 2 semanas após a primeira análise [37, 38].

Obesidade – Segundo a OMS, a obesidade afeta a longevidade e qualidade de vida dos indivíduos, ao favorecer o aparecimento de certas doenças como a DM tipo II, a HTA ou a dislipidemia e, deste modo, aumentar o RCV [35, 39, 40].

Em Portugal estima-se que 50% da população adulta apresente excesso de peso e destas, 10% sofra de obesidade [41].

Um dos métodos mais utilizados para classificar a obesidade é através do cálculo do IMC. Este calcula-se dividindo o peso do indivíduo, em kg, pela altura elevada ao quadrado, em metros [39, 40]. Tabela 6- Classificação do peso dos indivíduos (adaptado) [40]

Classe do Peso IMC (Kg/m2)

Magreza Severa < 16 Magreza média 16,00 – 16,99 Magreza moderada 17,00 – 18,49 Peso Normal 18,50 – 24,99 Pré-obesidade 25,00 – 29,99 Obesidade Grau I 30,00 – 34,99 Obesidade Grau II 35,00 – 39,99 Obesidade Grau III ≥ 40,00

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Dislipidemias- As dislipidemias são caracterizadas por elevação do CT e/ou TG no plasma sanguíneo, ou então, pela redução dos níveis de c-HDL [42]. Assim sendo, é crucial manter os níveis de CT inferiores a 190 mg/dl, sendo que o valor de c-HDL convém ser superior a 45 mg/dl nos homens e 40mg/dl nas mulheres, e o c-LDL inferior a 115 mg/dl [41, 43].

Em pacientes de alto risco, como por exemplo, diagnosticados com DM, os níveis totais de CT não devem ser superiores a 175mg/dl e os de c-LDL devem ser inferiores a 100 mg/dl [41, 43].

Sedentarismo – Estudos epidemiológicos evidenciam que o comportamento sedentário, praticado por tempo alargado, está associado ao aumento da taxa de morbilidade e mortalidade por desenvolvimento de DCV [44]. Como forma a reduzir este fator, a Fundação Portuguesa de Cardiologia recomenda a prática de atividade física durante pelo menos 30minutos por dia, podendo ser até distribuídos por 3 períodos de 10min a horas distintas do dia. Alguns exemplos dessas atividades físicas são: caminhar, correr, remar, nadar, pedalar [45].

Alcoolismo – O consumo de quantidades baixas ou moderadas de álcool estão associadas a um menor RCV e mortalidade (<15-20g/dia), enquanto quantidades superiores são articuladas a maior mortalidade e RCV. Isto deve-se ao facto de, em baixas doses, o álcool não apresentar impacto significativo na PA e aumentar os valores de c-HDL, impedir a agregação plaquetária e favorecer a fibrinólise. Por outro lado, em doses elevadas, já é associado a um incremento transitório de PA e aumento de c-LDL [23, 46].

Tabagismo – Os cigarros contêm nicotina e outros produtos químicos que apresentam toxicidade para o endotélio vascular. O tabagismo, incluindo o passivo, causa aumentos transitórios de PA e frequência cardíaca e, aumentam os níveis plasmáticos de fibrinogénio e hematócrito (aumento da viscosidade sanguínea), aumentam c-LDL e, também, diminuem os níveis de c-HDL [23, 47].

Para além disto, o tabaco é a causa mais comum de DPOC, uma vez que prejudica os mecanismos de defesa local das vias respiratórias e, particularmente nas pessoas geneticamente suscetíveis, tende a acelerar o declínio da função pulmonar [47].

1.2.2 Systematic Coronary Risk Evaluation (SCORE)

O modelo SCORE foi desenvolvido em 2003 e é um sistema europeu de estimativa de RCV que visa avaliar o risco absoluto a dez nos de sofrer um evento CV fatal em indivíduos que não tenham ainda desenvolvido uma doença aterosclerótica. Este modelo pode ser usado em indivíduos de idades compreendidas entre os 40 e os 65 anos e é calculado de forma indireta tendo em conta alguns fatores de risco, como o género, tabagismo, PA sistólica, idade, CT e, preferivelmente, c-HDL também [48, 49].

A interpretação do risco não deve ser feita no sentido individual, mas sim populacional. Isto é, um risco de 2% representa que, por cada 100 indivíduos, 2 apresentam risco de desenvolver um acidente cardiovascular nos próximos 10 anos [49].

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Segundo a Norma N.º 005/2013 da DGS, a classificação pode ser feita em quatro níveis diferentes de RCV [49]:

a) “Risco CV muito alto:

I. Sem necessidade de avaliação SCORE:

i. Utente portador de DCV aterosclerótica documentada, independentemente do território vascular afetado, como sejam, enfarte do miocárdio, síndrome coronário agudo, revascularização coronária ou outro procedimento de revascularização arterial, AVC isquémico, doença arterial periférica;

ii. Utente com DM tipo 2 ou tipo 1, com um ou mais fatores de risco CV e/ou lesão dos órgãos-alvo (tal como microalbuminúria: 30-300 mg/24 horas);

iii. Utente com doença renal crónica grave [taxa de filtração glomerular (TGF) inferior a 30 ml/min/1.73 m2].

II. Utente com avaliação SCORE igual ou superior a 10%. b) Risco CV alto:

I. Sem necessidade avaliação SCORE:

i. Utente com fatores de risco vascular isolados, muitos elevados, tais como, HTA grave (de grau 3) ou dislipidemia familiar;

ii. Utente com DM tipo 2 ou tipo 1, mas sem outros fatores de risco CV ou lesão de órgão- alvo;

iii. Utente com doença renal crónica moderada (TFG entre 30- 59 ml/min/1.73 m2). II. Utente com avaliação SCORE igual ou superior a 5%, mas inferior a 10%.

c) Risco CV moderado:

I. Utente com avaliação SCORE igual ou superior a 1%, mas inferior a 5%. d) Risco CV baixo:

I. Utente com avaliação SCORE inferior a 1%”.

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