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3. O CONTEXTO INSTITUCIONAL DA PUCSP DIANTE DAS REFORMAS EDUCACIONAIS NA DÉCADA DE

3.1. O enquadramento da Universidade por meio da reorientação do seu Projeto Político Institucional (PPI)

Justificado pelo amplo processo de transformação da sociedade ocorrido a partir da segunda metade do século XX, segundo as análises apresentadas anteriormente, e pressionada pela regulamentação legal decorrente da implantação da Lei de Diretrizes e Bases de 1996, a PUCSP viu-se obrigada a rever o conjunto de seus processos formativos, principalmente aqueles vinculados à formação inicial, resultando na reelaboração do seu Projeto Pedagógico Institucional (op. cit., Anexo 3), aprovado no final do ano de 2004, e que passou a ser o referencial para a política de graduação da universidade.

Embora haja amplitude suficiente para garantir a autonomia universitária no texto da LDB/96, a dinâmica de organização dos cursos nas mais diversas IES do país, incluindo a PUCSP, rendeu-se à pressão por modificar suas muitas modalidades de formação, em nome de “produzir” uma nova profissionalidade, ancorada na perspectiva de aquisição de múltiplas competências. Ou seja, em um contexto mundial onde o mercado de trabalho é flexível e mutável, em temporalidades muito curtas e incertas, assumiu-se que a formação inicial (graduação) deveria apresentar uma base de conhecimentos sólida, entretanto, flexibilizando os percursos formativos de tal maneira que pudessem oferecer um “cardápio” amplo, visando a atuação dos egressos em múltiplas direções.

Assume-se que toda a graduação deveria incorporar elementos curriculares que nem sempre foram presentes em muitas áreas do conhecimento. É o caso, por exemplo, das áreas das ciências sociais e educativas, nas quais se torna um imperativo a existência de diferentes modalidades práticas ao longo de todo o percurso, já na formação inicial, tal como tradicionalmente acontecia em outras áreas do conhecimento como as ciências médicas, a odontologia, as engenharias, etc.

Dimensão que, em tese, deve se manifestar nessa fase inicial da formação por meio da pesquisa e que, por conseqüência, deve ter garantida sua continuidade em projetos de extensão curricular, dando coerência ao projeto de ampliar o leque de conhecimentos e possibilidades de atuação, sob o discurso da criatividade e da criticidade frente aos desafios a serem respondidos profissionalmente.

Outro aspecto fundamental a se considerar nessa análise do enquadramento da PUCSP ao conjunto mais amplo de modificações no plano formativo do ensino superior é que as mudanças preconizadas tanto na legislação, como nas perspectivas internas das diferentes IES, implicam considerar novos processos de ensinar e aprender, levando-se em conta que os tempos e espaços de formação se alteraram e, por esse motivo incorporam-se práticas de pesquisa e aceleram-se os processos de socialização do

conhecimento em função da presença cada vez maior das tecnologias da informação e da comunicação.

Desse modo, novos elementos que deveriam compor os arranjos curriculares dos cursos de graduação passam a figurar nas discussões a respeito das diversas formações, tais como: incremento de materiais e laboratórios de pesquisa atualizados do ponto de vista das tecnologias necessárias e disponíveis; modalidades de ensino à distância; práticas de pesquisa extraclasse (como, por exemplo, visitas técnicas, trabalhos de campo, estudos do meio, entre outros), visando aproximação com os “objetos de pesquisa” selecionados; vínculos com empresas denominadas parceiras, as quais prestam-se ao financiamento de projetos de trabalho/estágios desonerando as IES, e assim por diante.

Sobre essa questão, Boaventura de Souza Santos (1995) alerta sobre o perigo da ideologia da “comunidade industrial” se estabelecer como paradigma no contexto universitário, “pervertendo” os propósitos da produção de conhecimento científico: a “discussão livre dos procedimentos e etapas da investigação e a publicidade dos resultados são considerados imprescindíveis para sustentar o dinamismo e a competitividade da comunidade acadêmica” passa a dar lugar a “uma outra concepção de dinamismo, assente na perspectiva de lucro, e outra concepção de competitividade, assente nos ganhos de produtividade” (p.203).

Reforçamos, ainda, a importantíssima avaliação que o autor faz quanto ao significado das Reformas Universitárias que ocorreram simultaneamente mundo afora a partir dos anos 60, e que incidem exatamente sobre a questão de suas funções, principalmente a partir dos anos 90.

“Os três fins principais da universidade passaram a ser a investigação, o ensino e a prestação de serviços. Apesar de a inflexão ser, em sim mesma, significativa e de se ter dado no sentido do atrofiamento da dimensão cultural da universidade e do privilegiamento do seu conteúdo utilitário, produtivista, foi sobretudo ao nível das políticas universitárias concretas que a unicidade

dos fins abstractos explodiu numa multiplicidade de funções por vezes contraditórias entre si. A explosão das funções foi, afinal, o correlato da explosão da universidade, do aumento dramático da população estudantil e do corpo docente, de proliferação das universidades, da expansão do ensino e da investigação universitária a novas áreas do saber.” (SANTOS, op. cit., p.188)

Mais adiante pondera:

“Uma tal multiplicidade de funções não pode deixar de levantar a questão da compatibilidade entre elas. Aliás, a um nível mais básico, a contradição será entre algumas dessas funções (nomeadamente as que têm merecido mais atenção nos últimos anos) e a idéia da universidade fundada na investigação livre e desinteressada e na unidade do saber”. (idem, p.189)

Tudo indica, portanto, que por força de novas compreensões sobre as demandas do mundo do trabalho, o qual estabelece as pautas significativas para o processo formativo no interior das IES, estas, dentre elas destacamos a PUCSP, vão aos poucos modificando o seu perfil histórico de atuação política frente ao saber, ao conhecimento e, sobretudo, ao ensino, em nome de uma adequação de suas funções, como parte de um consenso político-social em torno da Reforma do Ensino Superior.

3.2. As relações com as demandas legais sobre a formação universitária e