Cabe fazer referência a um acervo de fotografias albuminadas do século XIX que não sofreu acentuados danos de deterioração: as “enroladinhas” da Fundação Biblioteca Nacional. As “enroladinhas” fazem parte de um conjunto mais amplo de fotografias que é denominado “Coleção Dona Thereza Cristina Maria”. Após ser banido do Brasil D. Pedro II partiu para Portugal, em 17 de novembro de 1899, deixando para trás todos os seus bens. Posteriormente, D. Pedro II teve a iniciativa de doar sua biblioteca, além de outros acervos, à Biblioteca Nacional, ao Instituto Histórico Geográfico Brasileiro e do Museu Nacional. Ele exigiu apenas que as parcelas do acervo que fossem doadas à Biblioteca Nacional e ao Instituto Histórico Geográfico Brasileiro recebessem o nome de “Coleção Dona Thereza Cristina Maria” enquanto a parte destinada ao Museu Nacional recebesse o nome de “Coleção Imperatriz D. Leopoldina”. Entretanto, outras instituições como a Biblioteca do Jardim Botânico e a Escola Nacional de Belas Artes também foram contempladas por essa doação. Por motivos diversos, coube à Biblioteca Nacional a maior parte da biblioteca particular de D. Pedro II abrangendo, em sua maior parte, fotografias.
A “Coleção Dona Thereza Cristina” é composta por cerca de 20 mil imagens e destas 20 mil, 590 fotografias albuminadas permaneceram guardadas em 5 caixas de flandres e, por não estarem montadas em um cartão secundário, e em função das características desse processo, enrolaram-se surgindo daí o apelido “enroladinhas”. A caixa de metal acabou se tornando um excelente acondicionamento protegendo da luz, poeira e manuseio tornando-as as fotografias mais preservadas da coleção.
Representativo conjunto de imagens contendo uma temática bastante em voga no século XIX como retratos, vistas panorâmicas, artes plásticas, exposições,
grandes obras de engenharia, indústria, medicina, saúde pública, negros, arqueologia, botânica, etnologia e viagens realizadas pelo Imperador e sua família ao Oriente Médio e à Europa.
“A Biblioteca Nacional é guardiã da mais valiosa coleção de fotografias brasileiras e estrangeiras do século XIX existente numa instituição pública de nosso País. Desatacam-se nesse acervo, estimado em 40.000 fotografias, os originais (cerca de 25.000) doados pelo Imperador D. Pedro II à Instituição após a Proclamação da República, como parte da famosa Coleção D. Thereza Cristina Maria, citada anteriormente.”83
O trabalho de planificação dessas fotografias albuminadas enroladas foi realizado em parceria das equipes do Centro de Conservação e Encadernação da Coordenadoria de Preservação da Biblioteca Nacional e o Centro de Conservação e Preservação Fotográfica (CCF) da Funarte (Fundação Nacional de Arte). Esse trabalho teve consultoria técnica da conservadora Nora Kennedy. Foi efetuado um processo de distensão e planificação das imagens. As espécies foram postas dentro de capelas e umidificadas lentamente onde suas fibras foram distendidas gradativamente e, posteriormente, planificadas.
Considerações Finais
“Uma ínfima percentagem de todos os objetos já produzidos pelo homem encontra-se hoje em museus, galerias, instituições ou coleções particulares. A maioria dos artefatos humanos se perdeu, por ter sido danificada pelo uso e jogada no lixo ou então se deteriorou [...] Mas, uma vez [...] redescoberto um objeto, a sociedade moderna espera que ele dure para sempre. É como se o próprio ato de colocá- lo num museu fosse capaz de preservá-lo”84.
Esse trabalho buscou esclarecer que as coleções de objetos que compõe nossas instituições de memória não estão, obrigatoriamente, isentos de sofrer
83SPINELLI; ANDRADE; ABREU. op. cit., p. 39.
84BRADLEY, Susan M. Os objetos têm vida finita? In: Conservação
– conceitos e práticas. Organizado por Marylka Mendes; tradução de Vera L. Ribeiro. Rio de Janeiro. Editora UFRJ. 2001. p. 15.
deterioração, seja por influências internas e externas. E, no caso de coleções fotográficas albuminadas do século XIX, tema desse trabalho, essa deterioração é ainda mais acentuada por conta de sua alta sensibilidade relacionada aos seus materiais constituintes.
Ao realizar um breve histórico das técnicas de processamento fotográfico relacionadas à utilização de albumina, apontar os fatores relacionados a condições ambientais, evidenciar reações químicas e as alterações que sofrem buscou-se compor um panorama da complexidade de conservar esse tipo de acervo. Em seguida, evidenciar como é possível, dentro do possível, salvaguardar essas coleções tendo em vista o seu caráter frágil.
As fotografias albuminadas compõem o mais importante e difundido processo fotográfico do século XIX, sua preservação e conservação ou permanência de sua informação devem ser observadas com seriedade pelas instituições que contenham esse tipo de acervo em suas coleções.
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Projeto Conservação Preventiva em Bibliotecas e Arquivos. Meio ambiente. 2º edição. Nº14 a 17. P.7-11. Editado por Sherelyn Ogden. [tradução Elizabeth Larkin Nascimento, Francisco de Castro Azevedo. Revisão técnica Ana Virginia Pinheiro, Dely Bezerra de Miranda Santos. Revisão final de Cássia Maria Mello da Silva, Lena Brasil]. Rio de Janeiro. 2001.
Projeto Conservação Preventiva em Bibliotecas e Arquivos. Reformatação. 2º edição. Nº44 a 47. Editado por Sherelyn Ogden. [tradução de José Luiz Pedersoli Júnior; revisão técnica Mauro Resende Castro, Ana Virginia Pinheiro, Dely Bezerra de Miranda Santos; revisão final Cássia Maria Mello da Silva, Lena Brasil]. 2º edição. Rio de Janeiro. 2001.
Caderno de imagens
Prata fotolítica – A albumina é composta por partículas de prata arredondada e microscópica. Foto mostra a prata ampliada 40.000X.
Fonte: REILLY, James M. Care and identification
of 19th-century photographic prints. Kodac.
United States of American. 1986. p. 18
Prata filamentar – Processo de revelação contemporâneo em preto-e-branco, a imagem é formada por grupos isolados filamentosos de prata. Foto de prata ampliada 40.000X.
Fonte: REILLY, James M. Care and identification
of 19th-century photographic prints. Kodac. United
States of American. 1986. p. 18
Várias provas albuminadas, suas cores variam entre o castanho e o púrpura.
Fonte: PAVÃO, Luís. Conservação
de coleções de fotografia. Lisboa:
Formatos mais comuns utilizados em provas albuminadas. À esquerda cartão de visita, à direita cartão cabinet, abaixo cartão estereoscópico.
Fonte: PAVÃO, Luís. Conservação de
coleções de fotografia. Lisboa: Dinalivro,
1997. p. 77
A prova superior não sofreu virada em ouro e, a inferior, foi realizado o processo de viragem. Acervo Museu Paulista da USP.
Fonte: FILIPPI, Patrícia de; LIMA, Solange Ferraz de; CARVALHO, Vânia Carneiro de. Como tratar
coleções de fotografias. Arquivo do
Estado/Imprensa oficial do estado. São Paulo. 2002. p. 27
Negativo de vidro com emulsão em colódio. Acervo Museu Paulista da USP.
Fonte: FILIPPI, Patrícia de; LIMA, Solange Ferraz de; CARVALHO, Vânia Carneiro de.
Como tratar coleções de fotografias. Arquivo do Estado/Imprensa oficial do estado. São Paulo. 2002. p.26
Prova amarelecida,
esmaecida, perda de detalhe nas altas luzes e foxing (manchas marrons).
Fonte: REILLY, James M. Care and
identification of 19th-century photographic prints. Kodac. United
States of American. 1986. p. 35
Duas provas albuminadas montadas em suporte secundário. A primeira apresenta os efeitos da oxidação por conta da baixa qualidade do suporte
secundário. Apresenta também amarelecimento, esmaecimento. A segunda prova encontra-se em boas condições, notando-se apenas leve amarelecimento.
Fonte: REILLY, James M. Care and
identification of 19th-century photographic prints. Kodac. United
States of American. 1986. p. 19
Provas amarelecidas e com severos danos físicos por não estarem sido montadas em um suporte secundário.
Fonte: FILIPPI, Patrícia de; LIMA, Solange Ferraz de; CARVALHO, Vânia Carneiro de. Como tratar
coleções de fotografias. Arquivo do
Estado/Imprensa oficial do estado. São Paulo. 2002. p.40.
Foto esmaecida e amarelecida. Nota-se o retoque realizado para reavivar olhos. Fonte: REILLY, James M. Care and identification
of 19th-century photographic prints. Kodac. United States of American. 1986. p. 34 A prova ao lado permanece em boas condições, enquanto a inferior apresenta esmaecimento provocado por sua permanência ambiente com umidade relativa elevada. (Art Institute of Chicago)
Fonte: REILLY, James M. Care
and identification of 19th-century photographic prints. Kodac.
United States of American. 1986. p.85
Sulfuração decorrente
lavagem e fixação insuficiente. Fonte: REILLY, James M. Care and
identification of 19th-century photographic prints. Kodac. United
Prova albuminada com
desvanecimento pontual e detalhe. Fonte:PAVÃO, Luís. Conservação de coleções
de fotografia. Lisboa: Dinalivro, 1997. p. 162.
O detalhe mostra partículas de tinta metálica dourada, usada no suporte secundário, dispensas em flocos sobre a superfície da prova. Quando as partículas atingem a área da imagem, ela oxida.
Fonte: REILLY, James M.
Care and identification of 19th- century photographic prints.
Kodac. United States of American. 1986. p. 40
Exemplo de prova
albuminada contaminada por resíduos de insetos. No detalhe, a área afetada, com ampliação de 30X. Fonte: REILLY, James M. Care
and identification of 19th-century photographic prints. Kodac.
United States of American. 1986. p. 74
Exemplo de fraturas e rachaduras é difícil de ser percebida a olho nu. Detalhes em
ampliação de 30X.
Fonte: REILLY, James M. Care and identification of 19th-
century photographic prints. Kodac. United States of
American. 1986. p. 36
Prova albuminada que sofreu um sinistro relacionado a fogo, água e fumaça.
Fonte: REILLY, James M. Care and
identification of 19th-century photographic prints. Kodac. United
States of American. 1986. p. 81
Prova albuminada em excelentes condições de