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Conservação e preservação de fotografias albuminadas

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Academic year: 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – UNIRIO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS – CCH

ESCOLA DE MUSEOLOGIA

Conservação e preservação de fotografias albuminadas

Bianca Mandarino da Costa

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Bianca Mandarino da Costa

Conservação e preservação de fotografias albuminadas

Monografia apresentada à Escola de Museologia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO

como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Museologia.

Orientador: Prof. Dr. Ivan Coelho de Sá Co-orientador: Prof. Me.Jayme Spinelli Jr.

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FOLHA DE APROVAÇÃO

Conservação e preservação de fotografias albuminadas

Monografia apresentada à Escola de Museologia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Museologia.

Aprovada por:

Prof. ___________________________________________________ Ivan Coelho de Sá

Prof. ___________________________________________________ Avelina Addor

Prof. ___________________________________________________ Júnia Gomes Costa Guimarães e Silva

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Agradecimentos

Agradeço aos meus familiares por todo o carinho e amor, por sempre me apoiarem em todas as escolhas.

À Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO, em especial à Escola de Museologia.

Agradeço especialmente ao meu orientador prof. Dr. Ivan Coelho de Sá, profª. Avelina Addor e ao meu co-orientador prof. Jayme Spinelli, pelo material indicado para pesquisa, pela paciência e incentivo constante.

Aos colegas do Centro de Conservação e Encadernação da Biblioteca Nacional, em especial a Jayme Spinelli e Silvana Bojanoski pela compreensão e por toda a ajuda. A Joaquim Marçal pela indicação de fontes relevantes para a composição desse estudo. A Elizabeth Moraes por ter me emprestado o livro do Luis Pavão, uma vez que, sem ele, não seria possível realizar esse trabalho de maneira completa. A Ryanddre Sampaio, Sabrina Marques, Rebeca Simas, Michele Seixas, Katya Duarte, Isabelle Ingrid, Luis Marcelo, Gilvânia Lima, Gisele Calamara e pelas incontáveis horas de trabalho, ajuda mútua e amizade.

Aos amigos especiais Juliana Amado, Bernardo Arribada, Marcella Borel e Nohana Telles que enfrentaram comigo essa longa jornada da faculdade nunca desanimando.

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Resumo

Este trabalho aborda questões relacionadas à preservação e à conservação de fotografias albuminadas, processo fotográfico mais utilizado no século XIX. Estuda seus materiais e técnicas de fabrico e a deterioração causada por sua constituição, ação humana e fatores ambientais. Em seguida, recomenda procedimentos que podem ser tomados para salvaguardar esse tipo de coleção, preservar e conservar a informação nelas contidas.

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ABSTRACT

This paper addresses issues related to the preservation and conservation of photographic albumen, photographic most used in the nineteenth century. Study materials and manufacturing techniques and deterioration caused by its constitution, human action and environmental factors. Then recommends procedures that can be taken to safeguard this type of collection, preservation and storage of information therein.

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Sumário

Introdução ... 01

Capitulo 1 Histórico da fotografia do século XIX e seus materiais constituintes ... 03

1.1. Conceito ... 03

1.2. Histórico da Fotografia do século XIX ... 05

1.3. Utilização da albumina na fotografia ... 08

1.3.1. Negativos em vidro com meio ligante albumina ... 08

1.3.2. Negativo em vidro com meio ligante de colódio úmido ... 08

1.3.3. Provas em albumina ... 09

1.4. Constituição química da albumina ... 13

1.4.1. Estrutura do papel albuminado ... 14

1.5. Papel ... 14

1.5.1. Histórico ... 15

1.5.2. Constituição química do papel ... 16

Capítulo 2 Fatores de deterioração e suas conseqüências ... 17

2.1. Deterioração – conceito ... 17

2.2. Fatores de deterioração... 17

2.2.1. Ação humana ... 19

2.2.1.1. Condições ambientais ... 19

2.2.1.1. Umidade relativa ... 20

2.2.1.1.2. Temperatura ... 22

2.2.1.1.3. Luz ... 22

2.2.1.1.4. Poluentes ... 25

2.2.1.1.5. Fatores biológicos ... 27

2.3. Deterioração do papel ... 29

2.4. Deterioração do papel albuminado ... 30

2.4.1. Oxidação da prata ... 32

2.4.2. Sulfuração da prata ... 33

2.4.3. Amarelecimento ... 34

2.4.4. Perda de detalhes ... 35

2.4.5. Espelhamento de prata ... 36

2.4.6. Sujidades ... 36

2.4.7. Esmaecimento ... 36

2.4.8. Rachaduras ... 37

2.4.9. Foxing ... 38

2.4.10. Processamento insuficiente ... 38

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Capítulo 3

Conservação e preservação em acervos museológicos: recomendações e

soluções ... 40

3.1. Conservação e preservação de coleções fotográficas ... 40

3.2. Controle ambiental ... 42

3.3. Sala de Guarda ... 47

3.4. Questões relacionadas ao manuseio ... 48

3.5. Intervenções conservativas ... 49

3.6. Acondicionamento ... 51

3.7. Exposição ... 55

3.8. Acesso, segurança, reprodução fotográfica ... 55

3.9. Enroladinhas ... 58

Considerações Finais ... 59

Referências ... 61

Caderno de imagens ... 67

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Introdução

Minha paixão pela história e objetos antigos me levou à Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e ao Curso de Museologia onde pude estudar diversas áreas que me fascinam como arte e a história. Contudo, foi na disciplina de “Preservação e Conservação de Bens Culturais” que meu interesse pela preservação foi despertado. A partir daí, busquei voltar toda a minha experiência profissional para essa área realizando estágios no Museu Histórico Nacional, no setor do Arquivo Institucional com a coleção de fotografias da instituição, e, posteriormente, no Serviço de Documentação da Marinha, na reserva técnica da Ilha Fiscal trabalhando na higienização e acondicionamento do vasto acervo de medalhística. Recentemente, de novo voltei a trabalhar com conservação de fotografia, no Centro de Conservação e Encadernação da Biblioteca Nacional realizando a higienização, reestruturação e acondicionamento da “Coleção Thereza Christina Maria”. Optei, então, por realizar meu trabalho de conclusão de curso sobre a preservação e conservação de fotografias albuminadas, processo fotográfico que compõe a maioria dessa coleção valiosíssima.

A preservação e conservação vêm, aos poucos, ganhando destaque entre instituições museológicas, bibliográficas e arquivísticas como um caminho de anteceder o dano que pode afetar seus acervos. Esse estudo, então, tem como objetivo apresentar um breve histórico da fotografia, suas técnicas e aprofundar no processo escolhido: fotografias albuminadas do século XIX. Analisando, posteriormente, os fatores que contribuem para sua deterioração, os principais danos causados e como ocorrem. Em seguida, são assinalados procedimentos e soluções que podem ser empregados para salvaguardar esse tipo de coleção.

O objetivo desse trabalho é agregar informações relativas à conservação desse tipo de processo fotográfico tão sensível ao tempo. É uma contribuição para a preservação e conservação no Brasil, em especial às áreas museológica e arquivista.

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levantamento de como era realizado o processamento da fotografia albuminada e seus materiais constituintes.

No segundo capítulo, “Fatores de deterioração e suas conseqüências” abordam-se os fatores de deterioração que prejudicam essas fotografias e os danos mais específicos que freqüentemente ocorrem.

Já o terceiro capítulo, “Conservação e preservação em acervos museológicos: recomendações e soluções” são tratadas questões relativas à preservação de fotografias albuminadas, sua guarda em local apropriado seguindo parâmetros de conservação. Também são analisadas questões relacionadas à higienização, tratamentos, acondicionamentos, exposição e soluções para salvaguardar sua informação em outros suportes. Por fim, é citada a “Coleção Thereza Christina Maria” onde existem fotografias albuminadas que não sofreram acentuada deterioração por terem permanecido anos guardadas em caixas que protegeram contra os danos ocasionados pela luz e condições ambientais adversas.

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Capítulo 1 – Fotografia e seus materiais constituintes

1.1. Conceito

A palavra “fotografia” tem origem no grego phos ou photos (luz) e graphos (escrita). Essa designação “fotografia” foi utilizada pela primeira vez numa publicação alemã chamada Vossische Zeitung, de 25 de fevereiro de 1839.

O termo fotografia é usado, na atualidade, genericamente para designar objetos de natureza bastante diversa e que tem em comum a ação da luz na formação da imagem. A expressão espécie fotográfica é utilizada por Pavão para assinalar, de maneira geral, objetos que contenham imagens fotográficas.

“[...] uma fotografia será uma composição de materiais, em geral com

uma configuração laminada ou em camadas, com todas as resultantes

químicas e os riscos físicos que isto possa acarretar.”1

A fotografia ou espécie fotográfica consiste da integração de várias camadas que, de maneira geral, podem ser divididas em suporte, substância formadora da imagem e meio ligante. O suporte tem o objetivo de servir como estrutura para a imagem. Diversos materiais foram utilizados para este fim, como por exemplo, vidro, metal, plástico, sendo o papel o mais comum. A substância formadora da imagem é o material que confere os tons de claro e escuro e, posteriormente, com o desenvolvimento da fotografia colorida, dá cor à imagem. Temos como exemplo de substância formadora da imagem os sais de prata, platina, corantes e pigmentos sintéticos ou orgânicos. Enquanto que o meio ligante (também conhecido como aglutinante) é a substância que mantém unidos à substância formadora da imagem e o suporte. A substância formadora da imagem e o meio ligante constituem um conjunto denominado emulsão. Como ligante já foi utilizada a albumina (clara de ovo salgada), colódio e a gelatina (proteína retirada de ossos e couro de animais). A estabilidade do ligante é de suma importância para garantir que uma imagem mantenha-se em boas condições por mais tempo.

Deve ser observado também que determinados processos apresentam as camadas anteriormente citadas acrescidas de camadas protetoras (objetivando dar

1MUSTARDO, Peter; KENNEDY, Nora.

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forma à superfície da prova e mais brancura ao suporte) e um suporte secundário (cartão aderido ao verso da prova para conferir mais sustentação).

É importante estabelecer conceitos que serão muito utilizados no decorrer desse trabalho que dizem respeito a negativo, positivo e prova. O negativo apresenta suas cores invertidas, enquanto que o positivo apresenta suas cores na posição real. Uma prova consiste na obtenção de um positivo através de um negativo. É definido como prova a

“imagem positiva sobre um suporte opaco, geralmente em papel ou

eventualmente em plástico, que foi impressa a partir de uma matriz de impressão (um negativo [...]). A matriz permite a reprodução de muitos

exemplares da mesma imagem.”2

As provas podem ser denominadas de acordo com seu processo de confecção. Há dois tipos de processamento: o fotográfico e o fotomecânico. Na prova fotográfica, a imagem é gerada com o uso de um negativo sobreposto a um papel sensibilizado e que é, em seguida, exposto à luz. Já nas provas fotomecânicas, a imagem é formada através de tinta depositada no papel sobre uma matriz de impressão, não possuindo nenhuma etapa de exposição à luz.3

Com relação às cores, as espécies fotográficas podem ser monocromáticas (imagem formada a partir de sais de prata) e policromáticas (imagem formada a partir de corantes ou pigmentos sintéticos ou orgânicos). Há situações, ainda, em que o fotógrafo ou o dono da fotografia usaram de subterfúgios para simular uma fotografia policromática. É o caso de fotografias monocromáticas que foram coloridas a lápis ou pincel onde, se observadas com atenção, pode ser identificada a textura ou traços do lápis ou pincel. Há também, em alguns casos, a utilização de pigmentos provenientes de óleo ou bromóleo aplicado por meio de pincel ou por uma justaposição de camadas de várias cores. Nessa situação, geralmente, a cor não acompanha os contornos da imagem e a distribuição de coloração é rudimentar. Contudo, essas provas coloridas manualmente devem ser consideradas como monocromáticas.

As provas monocromáticas são divididas em tons quentes e neutros. No caso do tom quente, as cores podem variar entre vermelho, castanho, castanho-púrpura e púrpura. Já o tom neutro engloba o negro, o cinza e variações. É importante

2 PAVÃO, Luís.

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observar que a deterioração pode descaracterizar totalmente a cor original da prova. Nesses casos as áreas de sombra (áreas mais escuras) devem ser observadas com mais cautela uma vez que têm tendência maior a manter a cor original. A deterioração de uma prova de cor quente pode apresentar áreas amarelas e áreas com cor original, contudo, em estado de deterioração avançada, toda a prova apresenta a tonalidade amarelada. Nas cores neutras, as altas luzes (áreas mais claras) podem se tornar amareladas ou castanhas. As áreas sem imagem comumente são brancas, mas podem ter também a tonalidade original do papel fotográfico usado pelo fotógrafo. O exemplo mais notado é a cor creme, mas existem papéis rosa e azul, cor proveniente da adição de corante ao meio ligante no processo de confecção do papel fotográfico (como é observado em provas albuminadas).

1.2. Histórico da Fotografia do século XIX

“Diferentes tipos de processos fotográficos foram introduzidos, floresceram e desapareceram no curto período de 150 anos da

história desta tecnologia de produção de imagens.”4

A fotografia, de certa forma, conquistou rapidamente o seu espaço na sociedade que entendia que “cabe a ela [fotografia] prolongar a aparência das coisas, difundir os conhecimentos e conservar a memória.”5 É bem verdade que a fotografia torna possível a observação de cenários, indumentárias e costumes de maneira muito mais precisa que qualquer fonte escrita.

“As excepcionais capacidades informativas e didáticas da fotografia

abriram novas perspectivas documentais e iconográficas,

desbravadas já pelos primeiros fotógrafos que percorriam o mundo, freqüentemente com o auxílio dos poderes públicos.”6

O homem sempre tentou representar a realidade ao seu redor através de desenhos e pinturas. A câmara escura, desenvolvida na Itália renascentista, era um instrumento que auxiliava no desenho. Essa câmara formava uma imagem através da luz que entrava por um orifício e pessoas no mundo todo buscavam uma maneira

4MUSTARDO; KENNEDY. op. cit., p. 17.

5CARTIER-BRESSON, Anne.

Uma nova disciplina: a conservação-restauração de fotografias. In: Cadernos técnicos de conservação fotográfica 3. Rio de Janeiro: Funarte, 2004, p.1.

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de fixar essa imagem captada em uma superfície. Contudo, apenas no século XIX foram desenvolvidas diversas técnicas para gravar essa imagem.

Deve ser observado que, apesar da invenção da fotografia ser creditada a Daguerre, estudos recentes comprovam que, em 1833, o francês radicado no Brasil, Hercule Florence (também conhecido com Hércules Florence), desenvolveu um processo fotográfico rudimentar. No entanto, ele permaneceu no anonimato por não ter divulgado na época, de maneira correta, sua descoberta.7

O primeiro processo fotográfico amplamente divulgado e utilizado foi o Daguerreótipo. O pintor e inventor Louis Jacques Mandé Daguerre (1787-1851) revelou ao mundo sua invenção no dia 7 de janeiro de 1839. Em agosto do mesmo ano, o Estado francês comprou a patente de seu invento e tornou público os detalhes de fabricação e sua utilização. Todavia, o daguerreótipo não era um processo de baixo custo e nem de fácil reprodução, logo, cada peça era considerada única e preciosa. O próximo passo foi dado por William Herry Fox Talbot (1800-1877) ao descobrir o sistema positivo-negativo. Denominou-se calótipo ou talbótipo o conjunto do negativo em papel e da prova em papel salgado. O calótipo não obteve tanta popularidade, pois a imagem produzida apresentava acentuada granulação decorrente das fibras de papel do negativo que apareciam impressas no positivo não possibilitando, assim, a reprodução perfeita do pormenor. Em 1851, Frederich Scott Archer (1813-1857) substituiu o papel pelo vidro na confecção de negativos, pois era necessário um material que apresentasse uma transparência e polidez que possibilitasse a obtenção de uma imagem positiva sem granulação. Nesse momento também a substância ligante foi desenvolvida com o objetivo de fixar os sais de prata na superfície polida do vidro. Contudo, existiram também outros processos como o ambrótipo que consistia na produção de positivos diretos obtidos a partir de colódio úmido sobre um fundo preto. O ambrótipo surgiu como uma possibilidade menos custosa frente ao daguerreótipo. Logo depois, outro processo, o ferrótipo, usava como suporte uma chapa de ferro esmaltada, tendo o cólodio como ligante e a prata como substância formadora da imagem. Esse processo era efetuado por fotógrafos nas ruas, não sendo necessárias técnicas refinadas para sua obtenção.

Inúmeros processos foram confeccionados utilizando diferentes tipos de suportes, ligantes, substâncias formadoras da imagem e tratamentos químicos

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visando baratear o custo, obter uma imagem de qualidade e de fácil reprodução. Todavia, pouco depois do desenvolvimento desses processos fotográficos, percebeu-se que apresentavam sérios problemas relacionados à instabilidade, visto que se degradavam com o tempo e, às vezes, perdiam-se por completo. Reilly afirma que a

“literatura dos fotográficos do período 1860-1895 contém inúmeras menções e reclamações sobre o amarelecimento dos destaques em papel albúmen [albumina], embora pareça claro que nem perto de 85% das impressões tinha amarelado a um "grau moderado a grave"

durante o período em papel albúmen ainda estava em uso geral”8.

Com o objetivo de tentar reverter esses problemas profissionais, quase sempre químicos empíricos, buscaram elaborar técnicas que conferissem mais estabilidade às fotografias. Instituições também buscaram desenvolver pesquisas que apontassem os mecanismos que davam início à deterioração.

“A partir de meados dos anos 1850, a Société Française de Photographie e a Royal Photographic Society de Londres encorajam

esses trabalhos. Nos dez anos que se seguiram, os principais fatores de deterioração das imagens à base de sais de prata foram

corretamente identificados e circunscritos.”9

Esses estudos constataram corretamente que a alta umidade causava o desbotamento e o amarelecimento das fotografias. Esse período foi de experimentação técnica em que também se consolidou a profissão do fotógrafo. Várias modificações químicas e métodos são desenvolvidos visando dissimular ou minimizar as imperfeições e prevenir a deterioração das espécies fotográficas. O dano potencial que afetava as fotografias acarretou uma busca permanente por processos mais duráveis, uma vez que era inegável a importância do registro fotográfico.

8REILLY, James M. The Albumen & salted paper book. The history and practice of photographic

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1.3. Utilização da albumina na fotografia

1.3.1. Negativos em vidro com meio ligante albumina

Os negativos em vidro utilizavam a clara do ovo branco de galinha como meio ligante visto que a camada de albumina fixava os sais de prata ao vidro. Processo desenvolvido por Niépce de Saint Victor (1805-1870) em 1848 consistia na utilização de uma chapa de vidro com a camada de albumina poderia permanecer guardada até quinze dias antes da exposição à luz. Essa técnica, como já foi mencionada, obtinha negativos bem mais nítidos do que com a utilização do calótipo. As placas de vidro eram cobertas com albumina contendo iodeto de potássio e sensibilizadas em uma solução de nitrato de prata. Esse processo foi muito utilizado para captação de imagens de monumentos, paisagens e também para a produção de diapositivos (positivo em vidro ou película transparente para projeção por meio de uma fonte luminosa). Não foi, contudo, uma técnica muito utilizada em retratos, pois requeria um tempo demasiadamente longo de exposição à luz.

1.3.2. Negativo em vidro com meio ligante de colódio úmido

Em 1851, Frederich Scott Archer (1813-1857) apresentou outro processo de confecção de negativos em suporte vidro. Ele substituiu a albumina pelo colódio como meio ligante. O colódio consiste em uma mistura de nitrato de celulose, álcool e éter. É uma substância de textura viscosa e que, depois de seca, dá origem a uma película transparente e impermeável. Archer observou que o colódio, depois de seco, não poderia ser utilizado para fins fotográficos visto que era impermeável, mas quando úmido era maleável. Era então necessário executar todo o processamento fotográfico (sensibilização da chapa de vidro, exposição à luz, revelação e fixação) de maneira rápida uma vez que o colódio precisava estar ainda úmido para ser trabalhado. Os negativos obtidos através da utilização dessa técnica apresentavam pormenores mais definidos e demandavam um tempo menor de exposição à luz.

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O daguerreótipo, considerado dispendioso, lento e não passível de fácil reprodução foi gradativamente abandonado. Os negativos em albumina por exigirem muito tempo de exposição à luz e serem inadequados para confecção de retratos não foram muito produzidos. Archer não patenteou sua descoberta e esse foi um dos motivos pelo qual esse processo foi largamente utilizado em fotografias comerciais visto que o retrato era largamente procurado. Para a obtenção de um bom retrato era necessário um tempo curto de exposição à luz e foi o colódio úmido que permitiu essa captação da imagem em poucos segundos.

1.3.3. Provas em albumina

As provas em papel salgado (cor castanha avermelhada e sem brilho) não conseguiam representar todos os detalhes que o negativo de colódio úmido obtinha. Foi Louis Désiré Blanquard-Évrard (1802-1872) que promoveu uma variação na confecção do papel salgado. Blanquard-Évrard anunciou sua nova técnica ao mundo em 27 de maio de 1850. Consistia na imersão de uma folha de papel de baixa gramatura numa mistura de clara do ovo branco de galinha com sal dando origem a uma camada brilhante que, em seguida, era sensibilizada numa solução de nitrato de prata. Nesse “banho de sensibilização que os sais de prata coagulam a albumina, tornando-a insolúvel.”10 A albumina coagula em temperatura acima de 65 º C e em contato com sais de metais. No momento em que a albumina coagula forma um novo complexo químico chamado albumenate prata, substância essa que é sensível à luz.

Inicialmente, todo o processo de produção de papel de albumina era realizado pelo próprio fotógrafo. Esse batia as claras até chegar em neve modificando sua consistência inicial e desnaturando as proteínas de diferentes densidades. Em seguida, era deixada voltar a seu estado líquido dando origem a uma camada homogênea. Com o procedimento de bater as claras, a camada de albumina produzida era mais brilhante e homogênea. Posteriormente era adicionado sal e a mistura permanecia nesse estado por algum tempo até fermentar. A folha de papel era posta para flutuar nessa solução ficando impregnada dela por alguns minutos, apenas um lado recebia a camada de albumina que, em seguida, era posta para secar. Esse papel albuminado poderia ser guardado por alguns dias até ser usado.

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As provas de albumina possibilitavam mais contraste e evidenciavam melhor os detalhes do que no papel salgado. A camada de albumina ocupava o papel de maneira a fechar seus poros e formar, sobre ele, uma camada separada onde a imagem de prata se formava sendo possível se ter maior densidade e contraste. O contraste da albumina se adequava ao do colódio úmido reproduzindo, de maneira detalhada, as sombras e as altas luzes. O sistema de negativo em vidro de colódio úmido foi largamente utilizado desde 1850 até 1890 para dar origem a provas positivas em papel albuminado. Cerca de 90% da produção fotográfica desse período são compostas por provas de papel albuminado.

Em decorrência da grande procura pelo público, foi desenvolvido em 1854, o papel albuminado produzido de maneira industrial tornando o processo mais prático. Ao fotógrafo restava apenas a tarefa da sensibilização com nitrato de prata antes da exposição à luz. As fábricas de papel albuminado espalhavam-se por toda a Europa e nos Estados Unidos, sendo que as mais famosas concentravam-se em Dresden, na Alemanha. O papel albuminado industrializado que era produzido era de alta qualidade e era confeccionado com trapos de linho ou algodão. Segundo Reilly apenas duas fábricas de papel conseguiram um padrão de qualidade alta

“produzindo o papel ideal para ser albuminado [...] livre de quaisquer resíduos decorrentes da matéria-prima (tais como os resíduos metálicos dos botões comumente deixados nos trapos reprocessados ou os fragmentos desprendidos do próprio maquinário) ou da água utilizada (tais como os resíduos minerais), [...]. Estas indústrias, [...] eram a Blanchet Frères et Kleber Co. (localizada na cidade francesa de Rives) que produzia o papel Rives e a Steinbach and Company (localizada em Malmedy Bélgica - região então pertencente à Alemanha) que produzia o papel Saxe”.11

Em outro momento, Reilly ilustra bem a escala de produção dessas fábricas

“uma empresa [...] chamada Dresdener Albuminfabriken AG, em 1888 produziu 18.674 resmas de papel albúmen. Cada resma consistiu de 480 folhas 46 x 58 cm de tamanho. Para revestir uma resma de papel necessários 9 litros de solução de albumina, obtidos a partir de 27

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dúzias de ovos. Assim, a produção total de um ano em que esta

fábrica uma consumidos mais de seis milhões de ovos”12

Essas fábricas ofereciam variedades de papéis de gramaturas e superfícies diferentes. Com a descoberta de corantes sintéticos, em 1860, tornou possível adicionar cor à albumina, antes do processo de revestimento do papel. Eram usadas as cores azul, rosa e violeta, visando, como já foi dito, disfarçar o amarelecimento freqüente da albumina.

Em 1855, o processo de papel de albumina já era a técnica mais usada para a impressão de negativos em processo de colódio úmido, já que tornava mais fácil a obtenção de imagens duplicadas. A união do negativo de colódio úmido e o papel de albumina foi o processo mais comum no mundo até 1880, diminuindo gradativamente até 1895. Porém, o papel albuminado só parou de ser fabricado definitivamente em 1930.

O papel de albumina foi utilizado na realização de retratos, cartões estereoscópicos e álbuns de fotografias. Freqüentemente as provas eram aderidas a um cartão onde se podia registrar o nome, o endereço do fotógrafo e decorações diversas.

O formato mais comum era o retrato criado em 1854, chamado cartão de visita (“carte de visite”) que teve seu apogeu em 1860 e 1870. O cartão de visita consiste numa prova albuminada no formato de 9x5,5 cm aderida a um cartão de dimensões 10,5x6,5 cm. Nos exemplares mais antigos, o cartão apresenta gramatura mais baixa, pouca decoração e as arestas retas. Já as provas da década de 1870 são características por conterem decorações elaboradas, cartão de maior gramatura e arestas arredondadas.

Outro formato de retrato é o cartão cabinet (“carte cabinet”) datado de 1860 e mais largamente utilizado de 1870 até o final do século XIX. Consiste numa prova de 14x10 cm aderida em um cartão com dimensões de 16,5x10,5 cm. Sua gramatura e decoração são mais numerosas se comparados com o cartão de visita.

O cartão estereoscópico foi um formato popular na década de 1860, sendo utilizado também em alguns períodos da década de 1880 e 1890. Era composto por duas provas de albumina iguais de dimensões, 11,4x17,8 cm, fixadas em um cartão lado a lado, de maneira que a imagem era vista em relevo quando observado

12REILLY, James M. The Albumen & salted paper book. The history and practice of photographic

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através de um estereoscópio. Outros formatos comuns são Victoria, de dimensões 8x12,5 cm; Promenade, de 10x18 cm; Boudoir, de 13,5x 21,5 cm, Imperial 17,5x 25 cm.

Os álbuns de fotografia, nesse período, retratavam, em sua maioria, lugares exóticos. Os editores enviavam seus fotógrafos para obterem imagens de lugares emblemáticos (pirâmides do Egito, Terra Santa, lugares históricos importantes entre outros) e tais imagens eram aderidas a um cartão formando álbuns que eram encadernados luxuosamente.

Apesar da grande popularidade, o papel albuminado já foi precocemente identificado como instável. O príncipe Alberto da Inglaterra (marido da rainha Vitória) formou o Fading Comitee, em 1855, com o objetivo de identificar os problemas que causavam a deterioração das provas albuminadas. Os motivos identificados foram a poluição, a umidade, fixação e lavagem de má qualidade. Tais conclusões, no entanto, não evitavam que as fotografias continuassem a se deteriorar. As provas de albumina que chegaram à atualidade são, em sua maioria, completamente amarelecidas e seus detalhes e contrastes foram irremediavelmente perdidos.

Essa instabilidade levou os fotógrafos a buscar novos processos menos suscetíveis à deterioração. Processos esses que não usavam mais sais de prata, utilizando outros compostos metálicos e posteriormente pigmentos sintéticos.

As provas albuminadas existentes hoje, em sua maioria, apresentam-se em avançado estado de degradação constituindo, de certa forma, “uma idéia totalmente falsa de sua aparência original.”13 Cartier-Bresson afirma que há pessoas que apreciam tais alterações, considerando-as como uma marca do tempo e até portadora de uma beleza plástica. No entanto, a deterioração pode acarretar a perda total das imagens e, conseqüentemente, de sua informação. Tendo em vista retardar tal processo é necessário que medidas sejam tomadas, medidas essas quase sempre são de natureza interdisciplinar, pois requerem conhecimentos específicos de várias áreas como química e biologia, por exemplo.

1.4. Constituição química da albumina

Proveniente da clara de ovo branco de galinha, a albumina é uma mistura de proteínas.

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1.4.1. Estrutura do papel albuminado

Uma prova de papel albuminado é composta por duas camadas: o meio ligante e o papel de suporte. O papel de suporte é caracterizado por sua alta qualidade, uma vez que, é produzido através da celulose obtida de trapos de algodão ou linho. A característica mais marcante em provas de papel de albumina é o brilho distribuído uniformemente por toda a superfície. As fibras do papel, que é muito fino, são facilmente notadas. A cor de uma prova, em bom estado, é castanha ou púrpura.

No meio ligante encontra-se dispersa a substância formadora da imagem que é a prata metálica. A prata metálica é o material fotossensível formador da imagem de todos os processos fotográficos do século XIX, logo, é utilizado nos papéis albuminados. Os sais de prata são sensibilizados à luz e, por sua ação, decompõem-se em prata metálica. A estrutura microscópica da prata é crucial para a determinação de sua cor e de sua resistência à degradação. A prata usada na fotografia albuminada é constituída de um pó muito fino chamado de prata fotolítica. A prata fotolítica (significa “prata batida pela luz”) tem como característica grãos de formatos esféricos e de tamanho diminuto sendo somente percebidos se observados por meio de um microscópio eletrônico. Esse é o tipo de prata que dá origem a provas de cores marrom ou vermelho. A imagem proveniente da prata fotolítica é formada com a exposição direta do sol não necessitando de revelação.

Podemos concluir, então, que as provas de papel albuminado são formadas por uma folha fina de papel recoberta por uma película uniforme de albumina onde os grãos de prata estão em suspensão. Nos casos em que a prova tenha sido virada em ouro, sua imagem é composta por grãos de prata e ouro em amálgama.

1.5. Papel

O papel é outro importante elemento constituinte da fotografia. É o papel que dá suporte para a substância química formadora da imagem e é ele que também pode ou não ser aderido ao verso da fotografia albuminada para conferir mais resistência.

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reagir com o ambiente absorvendo e expelindo a umidade que está presente no meio. Essa relação de absorção de água pode dar início a uma reação chamada hidrólise que consiste na quebra as cadeias de celulose, deixando-as mais curtas e com isso quebradiças, ocasionando assim a acidificação do papel. Esses processos serão mais esmiuçados no segundo capítulo.

1.5.1. Histórico

A origem da invenção do papel remete, provavelmente, à China, no século II d.C. Contudo, somente no século VII, os mouros trouxeram o processo para a Espanha, sendo então introduzido no mundo ocidental. Com o desenvolvimento da imprensa em meados do século XV, novas técnicas de fabricação foram desenvolvidas tendo em vista dar conta da demanda cada vez maior.

A matéria-prima do papel é a celulose obtida de fibras vegetais. Durante muitos séculos, a forma mais usada para a fabricação do papel foi extração da celulose de trapos, linho ou algodão que são ricos dessa substância. “Os papéis mais fortes e duráveis são obtidos a partir das fibras longas de linho, algodão ou cânhamo, muitas vezes derivadas de trapos.”14 Os trapos eram então cozidos numa mistura de cal e água com o objetivo de remover gorduras, amido e também amolecer a celulose. Essa mistura de cal e água era uma solução alcalina que, por si só, já conferia uma reserva alcalina ao papel. Era então realizado um processo mecânico de choque para reduzir os trapos a uma pasta. Essa mistura era peneirada extraindo-se as fibras de celulose que ficavam presas na trama da peneira. Posteriormente, essa massa era prensada e posta para secar.

No século XVIII, objetivando aumentar a produção e reduzir os custos, novas técnicas foram desenvolvidas. Pavão enumera algumas dessas inovações como, por exemplo, a encolagem com colofónia-alumina que iniciou a confecção de papéis ácidos. A substância anteriormente utilizada era a gelatina. Entende-se como encolagem a ação de adicionar cola ao papel tendo em vista impermeabilizá-lo e torná-lo mais apropriado para a escrita. Pavão assinala que

“A colofónia-alumina, adicionada à água da solução no momento do fabrico, ajuda a fazer a dispersão das fibras na água, precipita a cola

14RICKMAN, Catherine; BALL; Stephen.

(24)

de resina sobre as fibras do papel e retém as cargas minerais adicionadas ao papel e torna o papel mais impermeável. Contudo, a

sua presença é mais um contributo para a acidificação do papel”.15

Outra modificação importante na fabricação do papel foi a utilização da polpa de madeira para obtenção da celulose. Tal pasta é confeccionada a partir da trituração e cozimento de cavacos de madeira e todas as suas substâncias presentes (lignina, por exemplo) são utilizadas na produção do papel. A mudança da utilização do papel obtido através de trapos pelo papel confeccionado a partir da pasta de madeira, em 1850, marca o início da crise do papel ácido. RICKMAN e BALL afirmam que “os papéis derivados da polpa de madeira são mais reativos [...] quanto maior a quantidade de madeira não-tratada, maior sua reatividade.”16

Atualmente, existem métodos para remover as substâncias danosas presente na pasta de madeira levando a produção de papéis de qualidade muito variada (papéis sem qualquer tratamento, papéis tratados quimicamente entre outros).

1.5.2. Constituição química do papel

O principal elemento formador do papel é a celulose que é um polímero (substâncias de massa molecular elevada) de origem vegetal. As fibras da celulose são de tamanhos variados que dependem do tipo de planta da qual ela é extraída. De maneira geral, a fibra da celulose apresenta como estrutura básica a glicose (açúcar). A glicose é composta por carbono, hidrogênio e oxigênio e sua formação molecular é circular. Essa formação molecular se associa a outras dando origem a várias cadeias de glicose. A disposição espacial de cadeias de glicose é paralela onde há a sobreposição de vários planos de cadeias que dão origem à fibra do papel.17

O grau de resistência do papel está diretamente relacionado ao tamanho das fibras do papel. Quanto mais longas suas fibras, mais resistente será o papel uma vez que se manterão entrelaçadas.

15PAVÃO, op. cit., p. 141.

16RICKMAN, Catherine; BALL; Stephen, op. cit., p. 104.

(25)

Capítulo 2 – Fatores de deterioração e suas conseqüências

2.1. Deterioração – Conceito

Deterioração é o nome dado a toda e qualquer modificação química ou física que ocorrem nos objetos. No âmbito das espécies fotográficas, se entende como deterioração as transformações, posteriores ao processamento “motivadas por uso excessivo ou inadequado, por exposição a condições ambientais desfavoráveis ou decorrentes da instabilidade intrínseca dos materiais componentes [...].”18

“O estado de um objeto depende de dois fatores: dos materiais e

métodos de sua produção e do ambiente que a ele fica exposto durante sua vida. Na maioria dos casos, pouco se pode fazer para corrigir os resultados de materiais e técnicas de fabrico intrinsecamente precários; entretanto, muita coisa pode ser feita para se prolongar a vida de um objeto através do controle de seu ambiente.”19

Visto que muito pouco pode ser realizado com relação ao material que constitui o objeto, o controle ambiental é entendido como ação principal para salvaguardar sua existência em boas condições.

2.2. Fatores de deterioração

“Como objetos de natureza físico-química bastante complexa, as fotografias estão sujeitas a diversos mecanismos de deterioração. Dessa maneira, a preservação adequada de um grande número de fotografias em um acervo requer conhecimento especializado sobre os materiais fotográficos e sua interação com o ambiente – luz, umidade, temperatura e poluentes atmosféricos –após o processamento.”20

A esmagadora maioria dos materiais fotográficos tem em sua composição materiais higroscópicos. Os compostos orgânicos que possuem como característica a higroscopicidade são constituídos principalmente por carbono, hidrogênio e oxigênio. Por serem higroscópicos estão sujeitos às variações de temperatura e

18PAVÃO, op. cit., p. 155.

19BACHMANN, Konstanze; RUSHFIELD, Rebecca Anne.

Princípios de armazenamento. In: Conservação – conceitos e práticas. Organizado por Marylka Mendes; tradução de Vera L. Ribeiro. Rio de Janeiro. Editora UFRJ. 2001. p. 83

20BURGI, Sérgio; BARUKI, Sandra Cristina Serra.

(26)

umidade uma vez que absorvem e expelem a água contida no ambiente onde se encontram possibilitando alterações de dimensões, reações químicas de deterioração e ataque biológico que aciona o rompimento de emulsões.

“Todos os materiais higroscópicos, como madeira, papel [...] emulsões

fotográficas e sais têm um teor de umidade particular numa dada umidade relativa, o qual é chamado de teor de umidade em equilíbrio. Por si mesmas, as variações de temperatura não perturbam esse equilíbrio, mas qualquer oscilação da umidade relativa faz com que os materiais higroscópicos reajam. Quando a umidade relativa se reduz, esses materiais liberam umidade e encolhem, à medida que ela se

eleva, eles absorvem água e incham.”21

É importante observar que materiais compostos por camadas diversas têm teor de umidade em equilíbrio variada, absorvendo e expelindo quantidades diferentes de água movendo-se, assim, de maneira própria. Podemos citar, por exemplo, as diferentes camadas da fotografia albuminada, papel e emulsão reagindo cada uma à sua maneira e ocasionando danos.

Os átomos que constituem as moléculas procuram sempre atingir o nível mais baixo de energia, então, vários processos químicos ocorrem sempre buscando essa estabilidade energética. Os produtos finais desses processos químicos são sempre mais estáveis quimicamente, não necessariamente significando que o objeto permaneça em boas condições de conservação. Comumente essas modificações recebem diferentes nomes como envelhecimento e deterioração.22

Os reagentes são substâncias consumidas numa reação química dando origem a um produto. Enquanto que o catalisador é uma substância que acelera as reações químicas. Podemos citar como reagentes e catalisadores mais recorrentes o vapor d’água e o oxigênio, substâncias essas que estão sempre presentes no ambiente, tornando a tarefa de conservar mais difícil.

21CRADDOCK, Ann Brooke.

Controle de temperatura e umidade em acervos pequenos. In:

Conservação – conceitos e práticas. Organizado por Marylka Mendes; tradução de Vera L. Ribeiro. Rio de Janeiro. Editora UFRJ. 2001. p. 67

22TÍMÁR-BALÁZSY, Agnes; EASTOP, Dinah.

(27)

2.2.1. Ação humana

Muitos danos têm sido causados às provas em nome da preservação por pessoas com pouco conhecimento das conseqüências de suas ações. Sem muito esforço é possível encontrar evidências de estragos causados por ações indevidas. São exemplos de ações humanas inadequadas citadas por Pavão: impressões digitais (provenientes da manipulação da prova sem a utilização de luvas), manchas de gordura; aplicação de selos de correio e de carimbo; rasgos (dobras nos vértices entre outros); restos de elásticos e corrosão metálica (clipes de papel e grampos que dão origem à ferrugem) e abrasão (desgaste provocado por atrito).

As impressões digitais causam manchas de gordura incolor ou castanha que, posteriormente, ocasionam amarelecimento e espelhamento da prata no local afetado.

“O suor dos dedos contém água, cloreto de sódio e cloreto de

potássio, numa solução entre 0,7% e 3% e ainda outros compostos em menor quantidade. Uma impressão digital é inicialmente uma camada líquida (que pesa 1/10mg) a qual pode ser limpa apenas

nos minutos seguintes à impressão.”23

Há ainda as ações realizadas por pessoas sem instrução suficiente que causam danos com tentativas de conservação desastradas ou sem informação. Freqüentemente, nessas tentativas, são utilizados materiais que não devem ser usados em acervos. Podemos citar, como exemplo, a utilização do durex ou fita adesiva semelhante para unir duas partes gastadas de um documento que, com o passar do tempo, ocasionará manchas por conta da substância adesiva que contem.

2.2.1.1. Condições ambientais

As condições ambientais irão sempre afetar a coleção de maneira permanente e simultânea. Deve-se ter em mente que os danos causados pelas condições ambientais inadequadas são, quase sempre, irreversíveis. Segundo Pavão “um dado material a preservar, se manuseado com cuidado e não excessivamente, verá o seu tempo de vida apenas determinado pelas condições ambientais do arquivo.”24

(28)

Existe uma hierarquia dos efeitos danosos que um ambiente de armazenamento inadequado pode causar às fotografias. Primeiramente, o efeito mais prejudicial é a oxidação de imagens de prata, que causa esmaecimento (perda de contraste) e mudanças na cor da imagem. Em segundo lugar, o dano químico e biológico do meio ligante à descoloração do papel, fragilização, o amarelecimento da albumina. Em terceiro lugar, a alteração das dimensões devido às variações da umidade.

2.2.1.1. Umidade relativa

Entende-se como umidade absoluta o valor de água que se tem em um metro cúbico de ar (g/m³). A partir desse princípio, a umidade relativa é a relação entre a umidade absoluta e à proporção de quanto de vapor de água que um metro cúbico de ar suporta com a mesma temperatura.

A quantidade máxima de vapor de água que pode ficar suspensa no ar depende diretamente da temperatura. Quanto mais elevada a temperatura mais água consegue permanecer retida em forma de vapor no ar. Existe uma quantidade máxima de água que o ar pode suportar. Logo, a alteração na temperatura indica alteração da umidade relativa. A quantidade de água absorvida pelos materiais higroscópicos depende diretamente da umidade relativa do ar.

“A umidade relativa depende da temperatura. Se a água não for

acrescentada ou retirada intencionalmente do ar em um espaço vedado, a umidade poderá migrar de um objeto para o ar, quando a temperatura subir; se a temperatura baixar, a umidade poderá retornar

ao objeto.”25

Em um metro cúbico de ar existem moléculas de oxigênio (quase 20%), hidrogênio (cerca de 80%), e uma pequena parcela de outros gases dentre eles água em forma de vapor.

Deve ser assinalado que a água é essencial para que ocorram reações químicas que produzem ácidos e, quanto maior o nível de umidade, maior o dano. A umidade relativa acima de 50% causa danos em todas as espécies fotográficas. A prata sofre o processo de oxidação e sulfuração, amarelece e esmaece; o papel

25Projeto Conservação Preventiva em Bibliotecas e Arquivos.

(29)

sofre a hidrólise ácida e a oxidação provocando a quebra das cadeias da celulose e, conseqüentemente, a perda de sua resistência. Enquanto que a albumina também amarelece e esmaece. Quando a umidade relativa está acima de 60% provoca o crescimento de bolores, em especial no papel, e, quando se encontra abaixo de 20%, ocasiona tensões nos materiais laminados, como o enrolamento em provas albuminadas não montadas e as rachaduras.

“O excesso de umidade favorece alterações químicas na camada de

emulsão e o desenvolvimento de mofo; umidade baixa demais faz com

que emulsões, papéis e plásticos fiquem quebradiços e rachem.” 26

A grande variação da umidade relativa pode provocar tensões e deformações nas fotografias. Nas provas em albumina não montadas, como o suporte da imagem é composto por um papel extremamente fino, pode ocasionar um acentuado enrolamento, deformidade difícil de reverter.

A umidade relativa sempre é bastante variável e está relacionada com muitos outros fatores como entorno do prédio, sua arquitetura, época do ano, incidência de luz solar entre outros. Essa variação implica que, para que seja possível conseguir um valor quase constante de umidade relativa, é necessário um controle ambiental. “No Brasil, próximo do litoral temos umidade relativa média de 80 a 82%. Ou seja, em condições normais estamos em risco de proliferação de fungos.”27 Daí a necessidade de baixar a umidade e a temperatura, pois com o passar do tempo as condições de conservação geral vão melhorando, minimizando a deterioração química (oxidação e hidrólise).

As mudanças nas dimensões ocasionadas por variações de umidade são grandes. A albumina tende a se expandir uniformemente em todas as direções, quando a umidade aumenta, contudo, sua expansão é maior que a do papel. Quando a albumina perde umidade, a retração de suas proteínas também é maior que a do papel. Em situações extremas de umidade relativa, as diferenças de expansão e contração podem ocasionar fissuras e empenamentos irreversíveis.

26CLARK, Susie; WINSOR, Peter; BALL, Stephen.

Conservação de material fotográfico. In: Conservação de coleções / Museums, Libreries and Archives Council; [tradução Maurício O. Santos e Patrícia Souza]. Museologia, Roteiros Práticos 9 – São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo. Fundação Vitae. 2005. p.40.

27GÜTHS, Saulo.

(30)

2.2.1.1.2. Temperatura

A temperatura atua na velocidade de reações de quebras das moléculas e a água age como catalisador dessas reações.

“O calor acelera a deterioração: a velocidade das reações químicas

em sua maioria, inclusive a deterioração, aproximadamente dobra a

cada aumento de temperatura de 10ºC.”28

Especificamente na celulose do papel, testes de envelhecimento indicam que o “aumento de 5ºC quase dobra a taxa de deterioração, mesmo na ausência de luz, poluentes e outros fatores”.29 Apesar disso, não se pode diminuir muito a umidade relativa porque ocasiona problemas relacionados à contração higroscópica no material. Contudo, baixar a temperatura prolonga o tempo de vida do objeto. Deve- se advertir o quão custoso é manter a temperatura baixa em uma sala de guarda em um país tropical como o Brasil.

2.2.1.1.3. Luz

Todos os materiais orgânicos, em diferentes níveis, são suscetíveis à luz. O que compreendemos como luz é somente uma pequena parte visível ao olho humano do espectro magnético. A luz é uma forma de energia eletromagnética denominada radiação e faz parte do espectro contínuo de energia. Entende-se como luz visível a radiação que a visão humana consegue perceber.

“O espectro visível abarca desde aproximadamente 400 nanômetros (nm, a medida aplicada à radiação) até aproximadamente 700nm. Os comprimentos de onda ultravioleta ficam logo abaixo da extremidade

curta do espectro visível (abaixo de 400 nm).”30

Os comprimentos de onda mais curtos do que a luz visível são chamados de radiação ultravioleta, enquanto em comprimentos de onda mais longos, são denominados de radiação infravermelha. Quanto menor o comprimento de onda mais energético ele é e mais propenso a causar reações químicas nos objetos que atingem. A luz então fornece energia que ocasiona reações químicas de deterioração nos objetos. A luz ultravioleta apresenta o comprimento de onda mais

28Projeto Conservação Preventiva em Bibliotecas e Arquivos, Meio Ambiente. op. cit., p.7. 29Idem, Ibidem, p.23.

(31)

curto e, conseqüentemente, emana mais energia. A energia proveniente da luz é absorvida pelo objeto podendo dar início a várias reações químicas prejudiciais, tal processo pode ser chamado, de maneira geral, de deterioração fotoquímica. Cada objeto, para dar início à reação química, precisa de uma quantidade mínima de energia chamada de energia de ativação que varia de acordo com o material. Quando uma luz incide sobre um dado objeto, parte é refletida e parte é absorvida em forma de fóton. Caso a energia fornecida pela luz iguale-se ou seja superior à necessitada pelo material, a molécula fica suscetível a reações diversas. A energia em excesso pode romper as cadeias da celulose tornando o papel mais enfraquecido e modificando sua estrutura molecular acidificando-o. Os átomos do objeto recebem mais energia num espaço de tempo curto podendo, assim, atingir rapidamente ou exceder sua energia de ativação.

“Embora todos os comprimentos de onda de luz sejam danosos, a

radiação ultravioleta (UV) resulta especialmente prejudicial [...] por conta de seus altos níveis de energia. O sol e o vapor de mercúrio, o haleto de metal e a iluminação artificial fluorescente são algumas das mais danosas fontes de luz por causa dos altos níveis de energia UV

que emitem.”31

Em contrapartida, os comprimentos de onda mais longos apresentam menos energia, menor freqüência e têm pouca capacidade para agitar as moléculas do objeto. Porém, também causam danos no papel e nos diversos materiais. A energia proveniente da luz infravermelha é capaz de aumentar a temperatura aumentando a rapidez das reações químicas.

Toda a fonte de luz emite radiações de cores variadas. A luz solar decompõe-se em todas as cores do arco-íris e as não perceptíveis ao olho humano que são a radiação ultravioleta e infravermelha. Dentro do espectro visível, a luz azul tem mais energia. Pavão assinala que

“as radiações ultravioletas e a luz azul são as que provocam mais estragos nas espécies fotográficas. Elas correspondem a comprimentos de onde mais curtos, com mais energia química e

capazes de uma acção mais destruidora.”32

A luz e as radiações ultravioletas não interferem diretamente na estrutura do papel, no entanto, reagem com outras substâncias presentes como a lignina do

31Projeto Conservação Preventiva em Bibliotecas e Arquivos, Meio Ambiente. op. cit., p.9.

(32)

papel da celulose de madeira, decompondo-a e provocando assim o processo de acidificação. As substâncias formadas a partir dessa reação atuam na fibra do papel decompondo suas cadeias, amarelecendo-o, escurecendo-o, enrijecendo-o as fibras da celulose enfraquecem e se tornam quebradiças pela perda de flexibilidade provocada pela acidificação.

A luz divide-se em artificial e natural. A luz natural, solar, contém uma proporção muito maior de radiação UV do que a luz artificial. É extremamente difícil de usar luz natural, de maneira segura, como fonte principal de iluminação, uma vez que os níveis de luz que entram numa sala por uma janela ou clarabóia variam muito. A posição do sol muda e há mudanças nas direções de iluminação e em termos de intensidade.

Já com relação à iluminação artificial, as lâmpadas mais utilizadas em museus, arquivos e bibliotecas são as de tungstênio (lâmpadas incandescentes) e fluorescentes. A lâmpada incandescente é produzida a partir de uma corrente elétrica que percorre o filamento de tungstênio aquecendo-o até 2.700ºC, pequena parte dessa eletricidade produz luz e o restante dá origem a calor. Lâmpadas de tungstênio produzem pouca radiação ultravioleta (menos de 4%) e sua saída de luz azul também é menor. Já as lâmpadas de tungstênio-halógeno (também conhecida como quartzo-iodo) é uma variação das lâmpadas de tungstênio que contém gás halógeno dentro da lâmpada de quartzo dando origem a uma luz mais intensa e prolongada. Esse tipo de lâmpada produz acentuada quantidade de luz ultravioleta.

(33)

“A luz é ao mesmo tempo a origem e o pior inimigo das imagens

fotográficas. Nenhum material usado em imagens fotográficas é realmente permanente, logo, a exposição continua à luz resulta na perda de contraste, cor, estabilidade e, por fim, conteúdo de

informações.”33

A albumina está presente entre os meios ligantes mais sensíveis à luz, logo, as provas, mesmo expostas à luz incandescente, sofrem danos. Sua emulsão sofre transformações químicas irreversíveis que acentuam o amarelecimento e o esmaecimento. A luz contribui com a energia necessária para desencadear reações químicas que causam a deterioração e descoloração. A celulose é fragilizada (e descolorida caso a lignina esteja presente) por exposição à luz. As proteínas também são afetadas, a albumina é muito sensível à degradação fotoquímica causando seu amarelecimento. Reilly afirma que o mais fotossensível de todos os componentes das fotografias do século XIX são corantes orgânicos, principalmente aqueles utilizados com o objetivo de conferir cores às provas albuminadas e também às aquarelas das provas coloridas a mão. Uma vez que o corante esmaece, a prova não é mais tão sensível à luz, estando sujeita apenas aos danos fotoquímicos. Deve ser observado que mesmo com níveis recomendados de iluminação, as fotografias albuminadas coloridas, quando expostas, sofrem danos dentro de algumas semanas. Em situação de papéis de má qualidade, a lignina, quando sofre a ação da luz, produz substâncias que causam mancha e ataques às imagens34.

2.2.1.1.4. Poluentes

A ameaça da poluição do ar está em sua forma sólida de poluição as chamadas partículas e gases oxidantes. As partículas são fragmentos sólidos em suspensão no ar, seu tamanho pode variar, mas, de maneira geral, as maiores tendem a permanecerem perto de sua fonte de origem.

A combustão produz a maior parte das partículas sólidas da atmosfera que são a fuligem, a fumaça e os gases oxidantes. Esses hidrocarbonetos (composto químico constituído por átomos de carbono e de hidrogênio, mas que podem se

33CLARK; WINSOR; BALL, op. cit., p.40.

(34)

juntar a átomos de oxigênio, azoto ou nitrogênio e enxofre) e partículas de cinzas que são gordurosas, sujas e podem reagir com outros compostos presentes no ar.

Os gases oxidantes agem como catalisadores de reações químicas que levam à formação de ácidos nos materiais. O papel é vulnerável aos danos causados por esses ácidos ficando descolorido e rígido. Os mais maléficos para as espécies fotográficas, salientados por Pavão, são os gases oxidantes: ozônio, peróxido, dióxido de nitrogênio e o enxofre. Em condições de umidade relativa elevada, uma pequena quantidade de um desses gases oxidantes é capaz de produzir a oxidação da prata.

O ozônio presente na atmosfera funciona como uma barreira contra os raios ultravioletas sendo benéfico para os seres vivos. Entretanto, em uma sala de guarda o ozônio é altamente prejudicial. Ele pode ocorrer naturalmente, mas também ser formado por ação da luz sobre o óxido de azoto que é eliminado pelo escapamento dos automóveis. Outras fontes produtoras de ozônio são maquinaria elétrica pesada e alguns tipos de lâmpadas usadas em máquinas copiadoras. As moléculas de ozônio são compostas por três átomos de oxigênio.

Os peróxidos têm, em sua composição, uma grande quantidade de oxigênio e, por isso, reagem com os materiais que estão mais próximos, provocando oxidação. Pavão evidencia que “a madeira e os cartões de má qualidade são materiais ativos que se encontram em decomposição e que são fonte de liberação de peróxidos”.35 Os peróxidos são produzidos também durante a secagem de tintas à base de petróleo. Já o dióxido de nitrogênio é gerado, principalmente, pelo funcionamento de motores de automóveis.

Outro composto danoso é o enxofre que, após a combustão, libera para a atmosfera o dióxido de enxofre. Esse composto não ataca diretamente a imagem de prata das fotografias, mas sua absorção tende a promover o esmaecimento, contribuindo para a fragilização e a descoloração do papel. O dióxido de enxofre pode também modificar-se na presença de umidade e dar origem a uma névoa de ácido sulfúrico provocando decomposição acelerada do papel que estiver em contato direto.

Ainda há o caso dos gases que são produzidos na própria sala de arquivo e pelos objetos nela guardados. Há uma grande variedade de substâncias químicas

(35)

que podem ser produzidas pelos materiais impróprios como madeiras, vernizes, produtos de limpeza ou tintas a óleo que podem liberar gases oxidantes. Madeira e cartões de má qualidade são materiais que se encontram em decomposição e produzem ácido acético, aldeídos e ácido fórmico. Aglomerados são ainda mais danosos que a madeira, pois são compostos por colas altamente nocivas para espécies fotográficas. Além de outros materiais que produzem compostos voláteis como “vapores ácidos (orgânicos ou inorgânicos), os vapores alcalinos (amônia), os aldeídos (principalmente o formaldeído e o acetaldeído) e os peróxidos”.36 Infelizmente, existem ainda poucos estudos sobre os efeitos desses compostos sobre as coleções.

Dentre os materiais com alto índice de emissões de compostos voláteis, segundo TÉTREAULT, estão as tintas, adesivos e produtos de limpeza, uma vez que, após a aplicação sua concentração é reduzida rapidamente, ou seja, volatizam para o ambiente.

Há também partículas como a poeira, fibras têxteis, pedaços de pele, cabelos e a fuligem que são transportados através do ar ou comumente encontrados em ambientes internos, causando abrasão e sujeira. Essas partículas também são responsáveis por atrair elementos químicos em suspensão no ar. A poeira também é causadora de grandes danos, risca suportes e emulsões e potencializa a capacidade de higroscopicidade dos materiais orgânicos.

O processo de oxidação sempre está acontecendo, utilizando o oxigênio do ar e quebrando as moléculas dos materiais sensíveis. “Todos os objetos estão em degradação devido à presença do ar”.37

Há ainda, numa cidade como o Rio de Janeiro, o problema da maresia. King e Pearson afirmam que as partículas de sal podem ser transportadas pelo ar até um quilômetro de distância do mar a não ser que sejam barradas por vegetação.

2.2.1.1.5. Fatores biológicos

A degradação biológica é quase sempre muito rápida e é muito freqüente em países tropicais por causa da temperatura e umidade elevadas que criam condições

36TÉTREAULT, Jean.

Materiais de exposição: os bons, os maus e os feios. In: Conservação – conceitos e práticas. Organizado por Marylka Mendes; tradução de Vera L. Ribeiro. Rio de Janeiro. Editora UFRJ. 2001. p. 101

(36)

para o crescimento de insetos (baratas, cupins, traças, piolhos de livro), microorganismos (fungos ou bolor) e animais, sobretudo os roedores como ratos.

Pavão aponta como danos provocados por insetos “[...] as emulsões ruídas, superfície de papel e cartão roídos, sujidades e excrementos.”38 Excrementos de insetos, por exemplo, podem deixar manchas e a atuação de roedores podem causar grandes perdas.

Ao encontrar um ambiente adequado, os fungos, inicialmente, compõem teias muito ramificadas e desenvolvem-se na superfície. Em um processo mais avançado, penetram mais fundo no substrato produzindo manchas cinzentas e esverdeadas. Quanto mais fundo, mais difícil se torna sua remoção chegando, inclusive, a um ponto de ser impossível de remover sem comprometer o papel.

Fungos não são vegetais uma vez que não possuem clorofila e por isso não podem sintetizar seu alimento, mas também não são animais, logo, integram um reino à parte. Vivem como parasitas em função da decomposição da matéria orgânica. Proliferam-se apenas na presença de água e ambiente com níveis de ventilação reduzido, ou seja, com pouca troca de ar e ambientes escuros. “A temperatura e a umidade definem o crescimento de microorganismos”.39 A água não precisa estar no estado líquido para que o fungo se prolifere podendo estar absorvida no substrato. Quanto mais água absorvida no objeto, mais fungos se proliferam produzindo enzimas que geram ácidos orgânicos destruindo os objetos. Os fungos são gerados a partir de esporos que podem ficar dormentes por longos períodos, mas quando caem em um substrato e encontram as condições ambientais adequadas, eclodem. Um ambiente onde já houve infestação de fungos tem muitos esporos espalhados pelo ar e sempre há maior probabilidade de reincidência. Pavão evidencia como sendo o bolor (fungo) que mais pode prejudicar os arquivos e bibliotecas uma vez que eles lançam sobre o substrato que se alimentam segmentos semelhantes a raízes e, em sua parte superior, formam-se uma grande quantidade de esporos que podem dar origem a outras infestações.

“As enzimas produzidas pelas bactérias, microorganismos e insetos

são catalisadores biológicos, produzidos pelos organismos vivos para facilitar a digestão e outros processos de degradação; as enzimas são catalisadores ativos nos meios aquosos [...]. Na presença das

38PAVÃO, op. cit., p.219.

(37)

enzimas, é necessária uma energia de ativação muito menor para dar

início aos processos químicos de deterioração.”40

Embora os esporos das plantas sejam encontrados praticamente em todos os ambientes, eles não irão germinar em umidade relativa inferior a cerca de 65%. Eles crescem em ambiente de umidade relativa alta e, especialmente, onde não há ventilação.

Os insetos precisam de aquecimento no ambiente para acionar o seu metabolismo, assim se reproduzem rapidamente em temperatura acima de 25º e muito lentamente, em temperatura de 15 a 20º. Em geral, abaixo de 10º eles não se proliferam.

2.3. Deterioração do papel

A deterioração mais freqüente é a decorrente do manuseio. A resistência mecânica do papel, com o passar do tempo, diminui e o manuseio constante, mesmo com cuidado, pode gerar abrasão e rasgos.

A hidrólise é a deterioração química que ocorre quando a celulose do papel sofre a ação de ácidos que atuam sobre a cadeia de glicose quebrando-as e, assim, diminuindo seu comprimento. Assim o papel fica fragilizado, acidificado e quebradiço. A temperatura e a umidade são fatores importantes que, se controlados, permitem reduzir esse processo. O papel também sofre o processo de oxidação uma vez que tem contato com o oxigênio do ar.

Os ácidos que iniciam essa reação de acidificação podem ser procedentes do meio externo ou ter origem no próprio papel. Beck afirma que “a tinta pode ser considerada como um dos elementos externos de degradação, porque interage com os elementos do papel formando ácidos e promovendo sérios danos.”41

Como causa de acidez intrínseca ao papel podemos salientar a lignina, substância encontrada nas plantas. Essa substância envolve as fibras dos vegetais e é responsável por dar a rigidez aos caules das plantas. A lignina, com o tempo, decompõe-se dando origem a subprodutos ácidos que são responsáveis pela cor

40TÍMÁR-BALÁZSY; EASTOP. op. cit., p.153. 41BECK, Ingrid.

Imagem

Foto esmaecida e amarelecida. Nota-se o  retoque realizado para reavivar olhos.

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