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Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, de de

6. Ensaios Clínicos

A Lei nº 46/2004, de 19 de agosto, atribuiu aos serviços farmacêuticos hospitalares a função de armazenar e ceder os medicamentos experimentais, os dispositivos utilizados para a sua administração e os demais medicamentos já autorizados eventualmente necessários ou complementares à realização dos ensaios.

Para tal, existe nos SF do CHSJ uma Unidade de Ensaios Clínicos, responsável pelo circuito do medicamento experimental. No CHSJ decorrem atualmente ensaios aleatórios e cegos, de fase II e III, mas também ensaios abertos e/ou não aleatórios. Os ensaios englobam participantes doentes, divididos por grupos cujos resultados se pretendem comparar – tratamento em estudo versus tratamento instituído para a patologia ou placebo – ou são de braço único, para estudo da segurança de um fármaco, por exemplo. Os fármacos em estudo são essencialmente antineoplásicos, antiretrovíricos, fármacos do aparelho cardiovascular e sistema nervoso.

6.1. Espaço Físico

A UEC possui um espaço próprio e de acesso restrito, cuja temperatura e humidade são controladas. Este espaço está dividido numa área de trabalho, numa zona de atendimento aos intervenientes e numa área de armazenamento. Nesta última distinguem-se:

 armários de armazenamento da medicação dos ensaios clínicos (EC) em curso e respetiva documentação;

 frigoríficos de armazenamento da medicação conservada a 2-8ºC e armário para a documentação respetiva;

 armário de “quarentena” para medicamentos não rececionados ou devolvidos mas ainda não contabilizados;

 armário para os medicamentos devolvidos ou expirados;

 armário para arquivo dos registos de temperatura e humidade dos armários/frigoríficos, dos certificados de calibração dos equipamentos e dos comprovativos de formação dos farmacêuticos;

 armário com a documentação relativa aos EC já encerrados (que deve ser mantida até pelo menos 15 anos após o encerramento do EC).

6.2. Intervenientes

A Lei nº 46/2004 define a responsabilidade de cada uma das partes intervenientes na realização de um ensaio clínico e determina as entidades reguladoras com responsabilidade na

sua autorização e inspeção, detalhadas no Decreto-Lei n.º 102/2007, de 2 de Abril. (ver Tabela 3 e Tabela 4).

Tabela 3. Intervenientes na realização de um ensaio clínico, segundo a Lei nº 46/2004, de 19 de agosto.

Interveniente Definição legal

Promotor «Pessoa, singular ou coletiva, instituto ou organismo responsável pela conceção,

realização, gestão ou financiamento de um EC.»

Monitor

«Profissional, dotado da necessária competência científica ou clínica, designado pelo promotor para acompanhar o EC e para o manter permanentemente informado, relatando a sua evolução e verificando as informações e dados coligidos.»

Investigador

«Médico ou uma outra pessoa que exerça profissão reconhecida em Portugal para o exercício da atividade de investigação, devido às habilitações científicas e à experiência na prestação de cuidados a doentes que a mesma exija, que se responsabiliza pela realização do EC no centro de ensaio e, sendo caso disso, pela equipa que executa o ensaio nesse centro; neste caso, pode ser designado investigador principal.»

Participante «Pessoa que participa no ensaio clínico quer como recetor do medicamento

experimental quer para efeitos de controlo.»

Tabela 4. Responsabilidades de entidades reguladoras da realização de ensaios clínicos, segundo a Lei nº

46/2004, de 19 de agosto, e o Decreto-Lei n.º 102/2007, de 2 de abril.

Entidade reguladora Responsabilidade legal

INFARMED Entidade que concede autorização para a realização do EC.

Comissão de Ética para a Investigação Clínica

(CEIC)

Organismo constituído por profissionais de saúde e outros, incumbido de assegurar a proteção dos direitos, da segurança e do bem-estar dos participantes do EC. Recebe e valida o pedido de parecer apresentado pelo promotor e acompanha a atividade das CES no que concerne aos ensaios.

Comissão Nacional de Proteção de Dados

(CNPD)

Entidade que vela pela confidencialidade dos dados coligidos.

6.3. Procedimentos

A primeira etapa de um EC é a sua aprovação por parte das entidades reguladoras. Assim, é necessário obter um parecer positivo da CEIC, autorização do INFARMED e notificar a CNPD. De facto, qualquer EC deve respeitar as Boas Práticas Clínicas, os direitos, segurança e bem-estar dos participantes, bem como a credibilidade dos dados.

Contudo, para que o EC se realize no centro hospitalar, é ainda necessário autorização do CA. Na primeira visita, o monitor reúne com o investigador e o farmacêutico responsável para explicar o protocolo do ensaio e entregar documentação respetiva, incluindo contactos de todos os intervenientes, protocolo do ensaio, aprovações de todas as entidades reguladoras, brochura do investigador (com informação relativa a propriedades físico-químicas e farmacêuticas, formulação, estudos pré-clínicos, farmacocinética, toxicologia, efeitos em humanos, segurança e eficácia), informação do medicamento e/ou dispositivo médico em estudo, procedimentos, documentação para registo da medicação nos SF.

Segue-se o recrutamento de doentes pelo investigador, que seleciona aqueles que cumprem os critérios de inclusão e lhes dá a informação acerca do estudo, do tratamento e dos procedimentos a cumprir. Assim se inicia o EC propriamente dito, sendo nesta fase que o papel dos SF se torna fundamental, atuando no circuito do medicamento experimental.

Ao longo do EC, é da responsabilidade do promotor fornecer aos SF os medicamentos experimentais e, salvo autorização do CA, os dispositivos utilizados para a sua administração e os demais medicamentos eventualmente necessários ou complementares à realização dos ensaios.

Periodicamente, decorrem visitas de monitorização nas quais o monitor verifica o cumprimento do protocolo e das Boas Práticas Clínicas. Para além disso, o promotor e as entidades reguladoras, incluindo autoridades do medicamento estrangeiras, podem agendar auditorias e inspeções, respetivamente.

No fim do EC, o promotor recolhe toda a medicação sobrante e a documentação é arquivada. No entanto, segundo a Lei n.º 46/2004, de 19 de agosto, se o investigador considerar que a continuação do tratamento é indispensável e não existirem alternativas terapêuticas para um dado participante, o promotor deve disponibilizá-lo gratuitamente até à sua introdução no mercado. Neste caso, o medicamento “de uso compassivo” será dispensado na UFA.

6.4. Circuito do Medicamento Experimental

Aquando da receção da medicação, o farmacêutico comprova a identificação e integridade das embalagens, os lotes e prazos de validade, as condições de transporte e se as quantidades específicas na guia de remessa coincidem com a quantidade recebida. É necessário um particular cuidado com a medicação de frio. Esta é, geralmente, acompanhada, durante o seu transporte, de um dispositivo registador de temperatura, que é parado no momento da receção. Caso se verifique algum desvio ao esperado, o promotor é contactado e a medicação é colocada em quarentena até decisão pelo promotor da atitude a tomar.

Até que o procedimento de receção seja executado a medicação permanece “em quarentena”, finda a qual se procede ao armazenamento nos armários ou frigoríficos respetivos da unidade, de acordo com as condições de conservação adequadas. A receção da medicação é reportada ao promotor por via telefónica (IVRS – Interactive Voice Responsive System), ou via internet (IWRS – Interactive Web Responsive System), ou email, ou outro procedimento pré-definido.

A dispensa da medicação faz-se nos dias marcados após a entrega da prescrição, a qual especifica o código do participante e as embalagens que lhe são atribuídas. No ato da dispensa, o farmacêutico comunica ao participante toda a informação relativa ao cumprimento do tratamento, como posologia, modo de administração, modo de conservação e possíveis

efeitos adversos, além de informar da necessidade de devolver todas as embalagens dispensadas na próxima visita, inclusive as vazias.

No caso dos medicamentos que necessitam de manipulação, nomeadamente os citotóxicos, estes são enviados à UCPC, que os prepara, dispensa e faz os devidos registos.

Todas as devoluções são contabilizadas pelo farmacêutico para que seja possível avaliar a adesão à terapêutica. Se a taxa de adesão do participante for inferior a 80% ou superior a 120%, o promotor e o investigador são contactados.

Toda a medicação (devolvida, com prazo de validade expirado, imprópria para dispensa, sobrante no fim do EC) é recolhida pelo promotor exceto os casos em que é solicitada a sua destruição local.

Todas as ações do circuito do medicamento experimental têm de ser devidamente registadas, de acordo com o protocolo definido pelo promotor. Geralmente os registos englobam a data, as quantidades, o lote, o prazo de validade, o código do produto e do participante e são arquivados no dossier do ensaio. É também necessário um registo dos movimentos da medicação (nomeadamente receção e dispensa), para efeitos de gestão de stocks.

Em alguns EC a gestão das existências é feita da seguinte forma: o promotor define um stock mínimo e, quando este é atingido, o farmacêutico solicita o envio de mais medicamentos. Noutros EC, a gestão das existências é automática, graças a um sistema informático de interação por telefone (IVRS) ou internet (IWRS) ao qual farmacêutico e médico acedem para registar a medicação rececionada e prescrever a medicação ao interveniente, respetivamente.

É de salientar que todos os procedimentos relativos à realização de EC foram harmonizados nas normas orientadoras da ICH (Harmonised Tripartite Guidelines for Good Clinical Practice 1997).

Durante o tempo passado na UEC do CHSJ foi possível colaborar nas diversas fases do circuito do medicamento experimental, além de assistir a uma primeira visita de monitores. Através do diálogo com os monitores, houve ainda oportunidade de aprender sobre esta que é também uma opção profissional para os farmacêuticos.

7. Informação sobre medicamentos e outras atividades de Farmácia Clínica