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Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, de de

5. Produção e Controlo de Medicamentos

5.7. Reembalagem e Fracionamento

A necessidade de reembalar especialidades farmacêuticas advém do facto de a indústria nem sempre as disponibilizar sob a forma de unidose, o que é essencial para o funcionamento do sistema de distribuição do medicamento em dose unitária no hospital. Esta necessidade

dias de terapêutica. De facto, a reembalagem permite diminuir o desperdício e aumentar o controlo sobre as existências e o orçamento.

Ao proceder à reembalagem de medicamentos é necessário garantir que a nova embalagem é adequada às suas características e que está devidamente rotulada, com identificação da substância ativa e dosagem, além do número de lote e prazo de validade atribuídos. Este corresponderá a 25% do prazo atribuido pela indústria, até um máximo de 6 meses, quando o medicamento é retirado da sua embalagem primária.

No CHSJ, a reembalagem de formas farmacêuticas orais sólidas unitárias é maioritariamente feita com recurso ao sistema automático FDS (Fast Dispensing System). O sistema consiste num conjunto de cassetes que contêm comprimidos, cápsulas, etc., os quais são dispensados, de acordo com a informação do software, através de um rotor. Este está calibrado para um dado medicamento, de uma dada marca e com uma certa dosagem. A forma farmacêutica é lançada num canal comum e embalada individualmente numa fita, onde é impresso o rótulo. Ao serem lançados no canal, os comprimidos não revestidos libertam pó, de acordo com a sua friabilidade (desgaste mecânico), mas considera-se que as perdas não são significativas para a maioria dos medicamentos.

Por um lado, o FDS tem as vantagens da rapidez e da diminuição de erros, constituindo uma garantia de qualidade e segurança, além de permitir reembalar os medicamentos necessários para cada cama e SC, facilitando a distribuição em dose unitária. Por outro lado, tem as desvantagens de o custo de calibração ser elevado (condicionando o número e a variedade de medicamentos disponíveis para reembalagem) e de não permitir a reembalagem de certos medicamentos, nomeadamente:

 termolábeis, pois o sistema não é refrigerado;

 fotossensíveis, uma vez que não são produzidas fitas fotoprotectoras compatíveis com o sistema;

 higroscópicos;

 citotóxicos e anti-infeciosos, devido ao desgaste mecânico associado ao funcionamento do sistema. Note-se que o pó resultante da queda dos comprimidos é libertado para o ambiente e conduz ao aparecimento de contaminações cruzadas, o que, no caso dos citotóxicos, pode levar a efeitos nefastos na saúde de operadores e doentes e, no caso dos anti-infeciosos, favorecer o aparecimento de resistências cruzadas.

Para além do FDS, os SF do CHSJ dispõem ainda de um sistema semi-automático de reembalagem para o qual existe fita fotoprotetora disponível, pelo que permite reembalar medicamentos fotossensíveis. Este sistema também é usado para reembalar os medicamentos que não têm cassete calibrada no FDS e as frações de comprimidos.

A reembalagem de citotóxicos é um caso especial, dados os riscos associados a este tipo de fármacos e os cuidados que são necessários na sua manipulação. A utilização de máquinas de reembalagem automáticas não é, como se viu, uma opção viável, visto haver risco de contaminação cruzada e de produção de pós, com potenciais perigos para a saúde de doentes e operadores. Assim, no caso de ser necessária, a reembalagem de citotóxicos é realizada em câmara de fluxo laminar vertical, sendo que o operador usa todo o equipamento de proteção individual atrás descrito e manipula as cápsulas ou comprimidos com pinça de metal, observando os supramencionados procedimentos inerentes à manipulação de citotóxicos.

Geralmente, os medicamentos citotóxicos reembalados destinam-se à UFA, onde há a necessidade de dispensar embalagens com um número de unidades ajustado ao mês ou à data da próxima consulta. Portanto, distribui-se um determinado número de comprimidos ou cápsulas da embalagem industrial por frascos de vidro âmbar, que são devidamente rotulados e identificados como CTX.

Por último, há que referir que na unidade de reembalagem também se procede ao fracionamento (e reembalagem) de comprimidos quando é comum o uso de dosagens inferiores às disponibilizadas pela indústria. Também há casos mais específicos ou menos usuais em que são os enfermeiros que fracionam os comprimidos antes da sua administração. O fracionamento pode ser executado pela técnica da mão dominante, com bisturi ou com aparelho próprio. Por princípio, não se fracionam os seguintes comprimidos: multifármaco, revestidos, de libertação modificada, espessos e gastrorresistentes.

Durante o estágio realizado no CHSJ foi possível conhecer as diferentes áreas da UMC, observando e colaborando nas diferentes atividades efetuadas e acima descritas. No caso da unidade de reembalagem, foi possível observar o funcionamento do FDS (reembalagem de medicamentos por cama e SC), constatando as suas vantagens e desvantagens.

Na UMMNE houve ainda oportunidade de preparar, com supervisão farmacêutica, uma suspensão oral, e de se proceder à resolução de casos clínicos, com recurso a fontes bibliográficas, pesquisando-se por exemplo formulações, usos off-label e a fisiopatologia e terapêutica de algumas das doenças em que é mais comum recorrer-se aos serviços prestados pela unidade.

Na UCPC houve também oportunidade de conversar com um dos enfermeiros responsáveis pela sala de tratamento de quimioterapia dos adultos, permitindo uma visão mais humana do destino dado aos CTX preparados, bem como uma maior compreensão da ligação entre o medicamento e a enfermagem. Nesta conversa, foi mostrada a organização e o funcionamento da sala de tratamentos e foram explicados aspetos relacionados com a administração dos CTX

preparados nos SF. Houve ainda possibilidade de analisar mais pormenorizadamente prescrições de ciclos de quimioterapia, mais concretamente o papel da terapêutica adjuvante.