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5. FARMÁCIA CLÍNICA

5.1. Papel do Farmacêutico Durante a Dispensa de Medicamentos

Durante a dispensa de um medicamento, seja ele sujeito ou não sujeito a receita médica, o Farmacêutico deve estar ciente de toda a responsabilidade que nele se encerra. No caso da dispensa de um medicamento sujeito a receita médica, o Farmacêutico, como já referido, deve certificar-se de toda componente legal a ela inerente. É também da sua responsabilidade fornecer ao utente toda a informação necessária para que haja adesão à terapêutica. Neste âmbito, os parâmetros a ter em conta são:

 Posologia e Modo de Administração – Uma boa comunicação oral e escrita relativa ao modo como o medicamento deve ser tomado, é fundamental na promoção da adesão à terapêutica. Apesar do médico ter explicado ao utente como e quando tomar o medicamento, é necessário reforçar essa informação, com uma linguagem simples e que deve ser sempre escrita nas embalagens dos medicamentos. Por exemplo, no caso do medicamento Fosavance®, é necessário explicar o seguinte: cada caixa traz quatro comprimidos, o utente deve tomar um por semana, em jejum, e permanecer em repouso durante os 15 minutos seguintes à toma, para evitar lesões no esófago.

 Interacções Medicamentosas – Existem vários medicamentos que levam à ocorrência de reacções adversas quando administrados em simultâneo. O Sifarma 2000 detecta interacções medicamentosas e classifica-as como leves (L), moderadas (M) e graves (G), tratando-se, por isso, de uma ferramenta de excelência que o Farmacêutico pode utilizar, para evitar complicações na saúde do utente. Como exemplo de uma interacção grave, pode-se referir aquela que resulta da toma simultânea de Omeprazol e Clopidogrel. Neste caso, o Farmacêutico deve alertar o utente para tomar os referidos medicamentos em horas diferentes.

 Cuidados na Conservação Domiciliária do Produto – Existem vários medicamentos que necessitam de cuidados especiais de conservação e, como tal, é fundamental informar o utente, para que não ocorra deterioração do produto, o que poderia levar ao desenvolvimento complicações no estado de saúde do utente. Como exemplos de medicamentos sujeitos a condições especiais de conservação, posso referir as suspensões que contenham ácido clavulânico, insulinas, alguns colírios, vacinas, entre outros, os quais, devem ser dispensados ao utente em sacos térmicos, para garantir a sua boa conservação. Além disso, no caso da grande maioria dos colírios, é necessário informar o utente que o seu prazo de validade expira um mês após a abertura, sendo esse prazo de 15 dias no caso de determinadas suspensões de antibióticos.

5.2. Automedicação

A automedicação é um processo que leva a que o doente assuma a responsabilidade da melhoria do seu estado de saúde, previna e trate certos estados de doença sem recurso à consulta médica. Esta independência do doente permite-lhe resolver situações auto-limitadas e de curta duração, e reduz o número de consultas médicas e de gastos com a comparticipação dos medicamentos, por parte do Estado, dado que estes são suportados na totalidade pelos doentes.

Apesar do Utente pedir um determinado medicamento, não se deve assumir a priori que ele o conhece bem, a ponto de o utilizar correctamente, já que pode apenas ter ouvido falar dele sem que conheça com rigor os seus efeitos, reacções adversas, interacções, contra-indicações, como o deve tomar, durante quanto tempo deve fazer o tratamento, entre outras informações importantes para garantir a sua efectividade e

segurança. Daí a importância do papel do Farmacêutico, que deve colaborar na selecção do medicamento mais adequado a cada situação, tendo em conta o perfil do utente (idade, sexo e fisiologia), os seus sintomas e a sua situação de saúde actual (se tem alguma doença crónica, se está a tomar algum medicamento, etc), de forma a promover o uso racional do medicamento. Para isso, o diálogo entre o Farmacêutico e o Utente é da máxima importância, devendo o Farmacêutico colocar todas as perguntas necessárias de forma clara, usando designações compreensíveis e adequadas ao nível sociocultural do Utente. Após a análise das respostas, a decisão do Farmacêutico deve ser feita tendo em conta a duração e intensidade dos sintomas, bem como o estado geral do utente, nunca esquecendo de o informar de todas as medidas não farmacológicas passíveis de melhorar o seu estado de saúde.

O Farmacêutico deve ter sempre presente que existe um grupo particular de utentes, para os quais a automedicação está desaconselhada, nomeadamente doentes crónicos, idosos, lactentes e crianças, mulheres grávidas ou a amamentar.

No que diz respeito à minha experiência pessoal, muitas foram as situações em que os utentes se dirigiram à Farmácia para comprar antigripais. Existe uma grande variedade deste grupo de medicamentos no mercado e, como tal, o utente apresentava, muitas vezes, dificuldade em escolher apenas um. Neste sentido, cabia-me explicar que apesar de terem nomes diferentes, a grande maioria dos antigripais têm uma composição muito semelhante: um antipirético/analgésico (geralmente Paracetamol), um descongestionante nasal (um derivado da efedrina) e poderá, ou não, conter cafeína, um aspecto relevante no caso de doentes com hipertensão arterial, que deverão optar por um antigripal sem cafeína. Era também da minha competência informar o utente acerca da posologia, bem como da importância de não prolongar a terapêutica por mais de cinco dias, após os quais, na ausência de melhoria do estado de saúde, deveria consultar o médico.

Também pude constatar que a automedicação conduz, muitas vezes, à duplicação da medicação. Um dos exemplos que melhor espelha este fenómeno, é o de um doente que me pede para lhe vender Ben-U-Ron® 1g porque está com febre e Paracetamol Ratiopharm para atenuar os sintomas de gripe. Tendo em conta que estes dois medicamentos contém apenas Paracetamol, o mesmo princípio activo, a dispensa destes dois medicamentos levaria a uma situação de duplicação de medicação, o que acabou

por não se verificar, já que, de forma simples e clara, expliquei ao Utente o erro que este iria cometer ao comprar os dois medicamentos.

Resumindo, o Farmacêutico deve ter sempre um papel activo na Automedicação, prestando todo o aconselhamento necessário, de modo a promover o uso racional dos medicamentos, que é fundamental para prevenir a ocorrência de reacções adversas e interacções medicamentosas, bem como a educar a população no sentido de a sensibilizar para o facto de o Farmacêutico ser o profissional de saúde melhor posicionado para colaborar com os doentes na orientação da sua automedicação.