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Ensino de Geografia: considerações necessárias

No documento LIDIANE PATRÍCIA DE ARAÚJO SALES (páginas 38-42)

3 A GEOGRAFIA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: UMA

3.1 Ensino de Geografia: considerações necessárias

3 A GEOGRAFIA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: UMA

Tradicional, Geografia Quantitativa e Geografia Crítica. O bojo das renovações tinha, portanto, “a preocupação de ampliar a discussão sobre o ensino de Geografia para além da simples definição dos conteúdos” (CAVALCANTI, 2010, p. 25).

Pois, nesse contexto, o ensino da Geografia revestia-se de cunho positivista e tradicional, com enfoque na memorização de dados e conteúdos. Logo, as modificações que se almejavam visavam um ensino que perpassasse o aprendizado dos conteúdos geográficos, devendo ser, portanto, crítico e contextualizado com a realidade dos discentes. De modo a fazer sentido para estes o entendimento do espaço geográfico socialmente construído e transformado pelas gerações.

Diante das transformações que permearam o campo de ensino da Geografia escolar, reportar-nos-emos às modificações ocorridas no cenário educativo brasileiro, considerando, para tanto, o período a partir da Constituição Federal de 1988. No geral, surgiram documentos elaborados pelos órgãos institucionais da educação nacional com o intuito de acompanhar as reformulações pedagógico-didáticas propostas para o ensino-aprendizagem dos conteúdos e conceitos da Geografia Escolar, a saber: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (DCNEB).

O artigo 32 da LDB 9.394/96, da educação nacional está diretamente ligado ao ensino da Geografia quando ressalta, no inciso III, que, no processo educativo, devemos assegurar aos sujeitos da aprendizagem “a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores que se fundamenta a sociedade”

(BRASIL, 2013, p.233).

Na década de 1990, foram lançados os PCN e neste o de Geografia. Este documento traz os seguintes objetivos de ensino para a disciplina de Geografia:

 Reconhecer, na paisagem local e no lugar em que se encontram inseridos, as diferentes manifestações da natureza e a apropriação e transformação dela pela ação de sua coletividade, de seu grupo social;

 Conhecer e comparar a presença da natureza, expressa na paisagem local, com as manifestações da natureza presentes em outras paisagens;

 Reconhecer semelhanças e diferenças nos modos que diferentes grupos sociais se apropriam da natureza e a transformam, identificando suas determinações nas relações de trabalho, nos hábitos cotidianos, nas formas de se expressar e no lazer;

 Conhecer e começar a utilizar fontes de informação escritas e imagéticas utilizando, para tanto, alguns procedimentos básicos;

 Saber utilizar a observação e a descrição na leitura direta ou indireta da paisagem, sobretudo por meio de ilustrações e da linguagem oral;

 Reconhecer, no seu cotidiano, os referenciais espaciais de localização, orientação e distância de modo a deslocar-se com autonomia e representar os lugares onde vivem e se relacionam;

 Reconhecer a importância de uma atitude responsável de cuidado com o meio em que vivem, evitando o desperdício e percebendo os cuidados que se deve ter na preservação e na manutenção da natureza. (BRASIL, 1997, p.

130/131).

O ensino direcionado por tais objetivos oportuniza aos alunos aprofundar o que já sabem sobre o lugar onde vivem, comparar as diferenças e semelhanças dos diferentes espaços e paisagens, possibilitando-os também fazerem relação do local com o global, entenderem a dinâmica de ocupação dos territórios e saberem se localizar espacialmente.

Além de se alfabetizarem geograficamente e serem capazes de entender as relações socioespaciais tecidas pelo homem com o meio ambiente, ao transformar o espaço natural, adequando-o as suas necessidades físicas e biológicas para vida em sociedade.

Fortalecendo esse entendimento, o PCN de Geografia estabelece ainda que:

Desde o primeiro ciclo, é importante que os alunos conheçam alguns procedimentos que fazem parte dos métodos de operar da Geografia.

Observar, descrever, representar e construir explicações são procedimentos que podem aprender a utilizar, mesmo que ainda o façam com pouca autonomia, necessitando da presença e orientação do professor. (BRASIL, 1997, p. 128).

Destaca-se, assim, a relevância da observação, descrição, representação e explicação dos fatos e acontecimentos do espaço vivido e de tudo que o constitui no processo de ensino e aprendizagem dos conhecimentos da Geografia enquanto disciplina escolar, uma vez que a adesão de tais procedimentos possibilita aos educandos fazerem, de acordo com o seu potencial cognitivo, uma comparação crítica da realidade vivida resultante das ações do homem no meio, permitindo-os compreenderem e pensarem o espaço geográfico em sua concretude.

Seguindo nessa linha de raciocínio, o PCN de Geografia (1997) alerta-nos também que é relevante, no processo de ensino e aprendizagem nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, o trabalho com os conceitos de paisagem e espaço vivido, de modo a levar os discentes a fazerem relações do lugar onde residem com outros lugares, estabelecendo associações e comparações entre eles, seja de semelhanças, diferenças, permanências e/ou transformações dos espaços.

Não obstante, esse mesmo documento assegura que, no processo de ensino e aprendizagem dos conteúdos geográficos, é preciso ir além do que os discentes já sabem.

Evitando restringir o estudo diante do que eles já dominam, de modo que seja possibilitado a eles ampliarem o leque de conhecimentos a respeito do espaço geográfico e das vinculações que o envolvem, e que foram primordiais para a organização e constituição do espaço vivido pelas gerações através das ações individuais e/ou coletivas.

Grosso modo, as sugestões apresentadas pelo PCN de Geografia para os Anos Iniciais do Ensino Fundamental trazem em seu contexto elaborações da geografia escolar, no que concerne ao aporte teórico e metodológico, subsidiando ao docente explicar os assuntos, considerando o espaço construído pelos homens e o espaço em que os alunos se encontram inseridos.

Nunes (2012, p. 05) informa que a esse documento foram tecidas várias críticas, sendo a principal pelo caráter autoritário e centralizador da proposta do PCN de Geografia, haja vista que houve pouco debate e participação dos professores do Ensino Fundamental.

Nesse contexto, ficou implícita uma concepção de educador como mero executor de tarefas, formulador, sendo, portanto, incapaz de propostas de ensino e aprendizagem.

Apesar das críticas, de fato, não podemos negar, o quão relevante é a compreensão desses pontos elencados no PCN em foco para o ensino da Geografia Escolar, pois viabilizará ao aluno ampliar os saberes tão necessários e pertinentes à sua formação, tendo em vista que este precisa saber entender e comparar o que se constrói e se descontrói nas espacialidades locais/globais através da interação homem-espaço vivido, seja por meio das formas tecnológicas, das esferas governamentais e/ou pelos procedimentos artísticos.

As Diretrizes Nacionais para o Ensino Fundamental apresentam que os três anos iniciais do Ensino Fundamental devem assegurar: “o desenvolvimento das diversas formas de expressão, incluindo o aprendizado da Língua Portuguesa, a Literatura, a Música e demais artes, a Educação Física, assim como o aprendizado da matemática, da Ciência, da História e da Geografia” (BRASIL, 2013, p. 122).

Nessa perspectiva, entendemos que, nos primeiros anos do Ensino Fundamental, é essencial o discente ser alfabetizado em todas as áreas do conhecimento, sendo a alfabetização geográfica o foco do nosso interesse. Pois esta é relevante para o desenvolvimento cognitivo do educando, bem como para a formação do sujeito cidadão, participativo, crítico e questionador dos diferenciados aspectos que compõem o espaço geográfico, tendo em vista que é a partir do entendimento dos conteúdos e dos conceitos geográficos que o discente conseguirá compreender a organização do espaço, o

desenvolvimento das atividades econômicas que são mais propícias em um determinado lugar do que em outros, a dinâmica social, as transformações da paisagem, a organização da sociedade local/global e as influências que o espaço vivido recebe de outros territórios.

No documento LIDIANE PATRÍCIA DE ARAÚJO SALES (páginas 38-42)