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2. REVISÃO DA LITERATURA

2.3. Ensino de propriedade intelectual

Em um cenário de desenvolvimento baseado na economia do conhecimento, existe uma crescente valorização e ampliação dos ativos intangíveis. Na busca pela inovação, empresas estão cada vez mais investindo na geração desse tipo de produto. Segundo Idris (2003), na década de 80, cerca de 38% dos ativos das empresas estadunidenses eram intangíveis. Nos anos 2000, esse percentual avançou para mais de 70%. Essa tendência impulsiona o sistema de PI e naturalmente, aumenta a demanda por recursos humanos capacitados para gerar e fazer a gestão desses ativos. Outro aspecto a ser analisado é a necessidade de um sistema efetivo de PI que permita a apropriação do conhecimento gerado e, dessa forma, possibilite o retorno, financeiro ou não. Esse sistema necessita de um arcabouço legal e uma série de ações, a exemplo de elaboração de políticas públicas e sintonia com o sistema internacional para que possa operar em benefício do país, possibilitando a proteção e a comercialização dos ativos intangíveis, que podem ser traduzidas em agregação de valor ao produto de P&D e desenvolvimento econômico. Assim, o ensino de PI vem sendo cada vez mais difundido e considerado estratégico para a formação do profissional que produz e que faz a gestão de ativos intangíveis.

Historicamente, a oferta de disciplinas e cursos que envolvem o tema, somente estavam disponíveis na área de direito. Paralelamente, existiam os cursos de curta duração, oferecidos pelos escritórios nacionais de PI e os cursos “in company”, para os técnicos da área de gestão da PI.

Na década de 1990, os institutos nacionais de PI ampliaram suas ações de capacitação, criando programas que buscavam formar o profissional para atuar de forma a integrar as políticas nacionais de inovação e de desenvolvimento industrial. Por essa nova diretriz, foram criadas as Academias de Propriedade Intelectual, que seriam responsáveis pelas atividades de ensino e pesquisa em PI. Posteriormente, em 2007 foi criada a Rede Global de Academias de PI (GNIPA). As ações de capacitação do INPI e da Academia do INPI já resultaram em mais de 100.000 pessoas treinadas, sendo somente em 2011 realizadas 63 ações e o número de pessoas treinadas no INPI chegou a 2367, ultrapassando em mais de 47% a meta projetada para aquele período. Em 2012, até o mês de setembro, já haviam sido capacitadas mais de 1950 pessoas o que indicava que o resultado iria ser próximo ao período anterior, conforme a Figura 12.

Figura 12- Atividades e número de Alunos formados no período de Janeiro de 2011 a Setembro de 2012

Fonte: adaptado de ACAD/INPI (2012)

No ano de 2011, o curso Geral de Propriedade Intelectual (DL 101P), promovido pela OMPI, foi adaptado à realidade brasileira por membros do INPI e representantes do Ministério da Cultura, sendo denominado DL BR 101P. A primeira edição foi lançada em dezembro de 2011 e a segunda teve inicio em setembro de 2012, tendo demanda superior à oferta de 2500 vagas. No que se refere à pesquisa em PI, foram elaboradas diversos documentos pela Academia do INPI, sendo publicações, artigos nacionais e internacionais, relatórios técnicos e capítulos de livros. Em 2011 e 2012 foram produzidas, respectivamente, 36 e 58 publicações pelos docentes do Programa de Mestrado Profissional em Propriedade Intelectual e Inovação. 0 10 0 20 0 30 0 40 0 50 0 60 0 70 0 80 0 90 0 10 00 11 00 12 00 13 00 14 00 15 00 ATIVIDADES Cursos para Gestores de Tec (Básico,…

Oficinas de PI Cursos Customizados Concluintes do Mestrado Profissional…

Palestra sobre Ensino em PI PI em Questão Seminário sobre PI Encontro Acadêmico em PI, Inovação e…

Visita de alunos de Graduação Ensino à Distância* WIPO Summer School

2012 (parcial) 2011

Figura 13- publicações no período de janeiro de 2011 a setembro de 2012

Fonte: adaptado de ACAD/INPI (2012)

O INPI promoveu em 2011 o lançamento da revista científica “Propriedade Intelectual e Desenvolvimento”. Em 2012, houve a participação no Seminário Internacional de PI e Esportes além da sexta edição do Encontro Acadêmico de Propriedade Intelectual, Inovação e Desenvolvimento (ENAPID), demonstrando o comprometimento com suas novas atribuições de promover ações para disseminar e desenvolver o tema PI em âmbito nacional conforme a Portaria MDIC Nº 130, de 12/06/08.

As novas atribuições são:

•Promover o ensino da PI evidenciando sua relação com o desenvolvimento tecnológico, econômico, social e cultural.

•Criar mecanismos de disseminação de conhecimentos relacionados com PI, inovação e desenvolvimento.

•Desenvolver recursos humanos por meio da coordenação, acompanhamento e avaliação de cursos de pequena, média e longa duração, em todo o território nacional.

•Desenvolver recursos humanos por meio da coordenação, acompanhamento e avaliação de cursos de capacitação e de formação acadêmica Lato e Stricto Sensu, promovidos pelo INPI, e em parceria com outras instituições de ensino e pesquisa.

• Criar, desenvolver e implementar mecanismos para a disseminação de conhecimentos por meio de estratégias de educação à distância.

0 5 10 15 20 25 30 Artigos em revistas

especializadas Capítulos de livros / livros Congressos com publicação

em anais Congresso – apresentação de trabalho Textos em jornais/revistas 2012 (parcial) 2011

• Discutir, definir e coordenar a implantação, estruturação e implementação de linhas de pesquisa em temas ligados à propriedade intelectual, inovação e desenvolvimento.

• Criar, desenvolver e implementar formas de disseminação de conhecimentos produzidos no âmbito desta Coordenação.

• Coordenar e acompanhar atividades de cunho acadêmico, tais como: seminários, ciclos de estudo, workshops, conferências, simpósios, congressos, entre outros.

• Promover e realizar intercâmbio com instituições de ensino e pesquisa, e instituições congêneres, em nível nacional e internacional, para o desenvolvimento de atividades de interesse comum.

O INPI busca disseminar o tema PI em eventos e palestras. Em 2012, cerca de 9.691 pessoas visitaram estandes do INPI e 1.349 participaram de eventos promovidos pelo Instituto.

Figura 14- Comparação entre o número de pessoas atendidas em 2009, 2010, 2011 e 2012 (até agosto), dividido por tipo de atividade

Fonte: Adaptado de CGAR e CONAC (2013)

Desde a primeira década do ano 2000 surgiram diversos cursos de capacitação e de formação, sendo dois cursos de mestrado, um deles profissional, e um doutorado na Academia do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) e um mestrado acadêmico e um doutorado na Universidade Federal de Sergipe (UFS). Além destes cursos foram encontrados diversos cursos em outras instituições:

- SENAI - SE Propriedade Intelectual (ON-LINE) - Competência Transversal - Especialização em Propriedade Intelectual - Agência de Inovação Inova Unicamp

0 1.000 2.000 3.000 4.000 5.000 6.000 7.000 8.000 9.000 10.000 Nº de participantes de eventos dirigidos ao SNI Nº de participantes em seminários organizados por parceiros Público atendido em estandes 2009 2010 2011 2012

- Programa de Pós-Graduação em Propriedade Intelectual - FAE Centro Universitário - Propriedade Intelectual e Novos Negócios FGV-SP

- Direito da Propriedade Intelectual - PUC RIO - Propriedade Intelectual e Inovação - PUC RS - Propriedade Intelectual e Inovação - IFSUL EAD

- Direito da Propriedade Intelectual - FADERGS Faculdade de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul

Após o surgimento do Mestrado Profissional INPI surge, em novembro de 2012, o Mestrado Acadêmico em Ciência da Propriedade Intelectual na Universidade Federal de Sergipe (UFS). É o segundo mestrado do país sob o tema, sendo o primeiro a possuir caráter acadêmico. A primeira turma se iniciou em março de 2013, sendo composta por 17 discentes. Em julho de 2014, a UFS, demonstrando comprometimento com o tema, apresenta o edital para seleção de alunos para o Programa de doutorado em Ciência da Propriedade Intelectual. Trata-se do segundo programa do país, tendo iniciado suas aulas no mês de agosto de 2014.

Verificou-se que existem iniciativas de absorção de profissionais com formação em propriedade intelectual nos quadros fixos de empregados, em instituições de ensino e pesquisa. Na Embrapa, os Editais 05/2006 e 01/2009, dispunham de cargos para gestão da inovação e transferência de tecnologia, com ênfase em PI. No Instituto Federal do Espirito Santo (IFES), o Edital 02/2014 teve o cargo de Professor de Propriedade Intelectual. Para os concursos da Embrapa foram definidos critérios de formação em alguns cursos de graduação, além de especialização em determinadas áreas do conhecimento, direcionados com a atividade fim da empresa e, no IFES, prevendo a possibilidade do candidato ter graduação em qualquer área e especialização, mestrado ou doutorado em PI. Como se observa, as iniciativas de criação de cursos de mestrado e doutorado já estão impactando efetivamente no mercado e, certamente, será cada vez mais uma opção de carreira para empreendedores, formadores de políticas públicas, técnicos e pesquisadores.

A partir da implementação da lei da inovação em 2004, que institucionalizou o Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT), a necessidade de recursos humanos (RH) para trabalhar com PI definida para todas as Instituições de Ciência e Tecnologias (ICT´s), essa nova realidade implicava na contratação de técnicos que iriam trabalhar na gestão de ativos de PI. Inicialmente a capacitação deveria ocorrer na própria instituição, já que era de se esperar que

não haveriam profissionais formados no mercado. Com a criação da academia de propriedade intelectual, pelo INPI, e alguns cursos de pós-graduação, o mercado começou a receber profissionais de diversas áreas, com formação em PI.

O treinamento em propriedade intelectual requer uma estrutura multidisciplinar para atender a implementação, tanto de programas de treinamento de curto prazo, quanto de programas de pós-graduação, lato e stricto sensu. Tal demanda relaciona-se aos temas sobre a dinâmica competitiva, a estrutura de acordos internacionais, o uso de informação tecnológica, a gestão da inovação, em geral, e de propriedade intelectual, em particular, o licenciamento de tecnologia, entre outros. Esses pontos ampliam o escopo da capacitação para além da ótica do direito (BORHER et al, 2007).

Como destacou Borher (2007), existe uma demanda crescente por profissionais que tenham competências multidisciplinares, que possam fazer a integração dos requisitos técnicos, da tecnologia, do direito, da economia, da gestão da PI, e outras áreas do conhecimento. Isso não significa que a importância da área do direito esteja sendo preterida. Pelo contrário, deve ser ainda mais intensificada, já que num ambiente de forte dinamismo, globalizado, onde as ações devem ser tomadas com conhecimento amplo das mudanças, das características geopolíticas dos mercados em que deseja atuar e, mesmo, em mercados em que os direitos de PI estão sendo infringidos. Empresas e instituições de ciência e tecnologia precisam de recursos humanos com formação multidisciplinar.

O processo de produção dessas instituições pode ser descrito de forma macro e muito simplificada pela busca da demanda concreta ou na demanda tecnológica, pela prospecção e busca de anterioridade, análise de viabilidade, pela geração da tecnologia, sua proteção, desenvolvimento, transferência e retroalimentação do sistema com a análise de adoção e de impacto.

Como exemplo pode-se destacar o processo de produção da Embrapa:

Macroprocesso de produção da Embrapa–Integra as vertentes de P&D, TT e ADM, e compreende o conjunto dos processos da Empresa viabilizadores de produtos, serviços e informações para o mercado de inovações tecnológicas e para a sociedade. Para isso, o Macroprocesso de Produção da Embrapa é operacionalizado em coerência com as Políticas Corporativas de P&D, Transferência Tecnológica/Negócios e Administração, e é fundamentado (suportado) nos processos transversais de inteligência estratégica; de estratégia corporativa; de gestão da programação, de competências, da qualidade, da informação, da comunicação e da tecnologia da informação (EMBRAPA, II PDTI, 2012).

Como visto, é primordial a ação de profissionais de diversas áreas da instituição, atuando dentro da sua especialidade, com relativo conhecimento sobre o tema PI, para que se possa gerar e fazer a gestão da inovação dos ativos intangíveis produzidos.

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