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3.2 O ENSINO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA NO BRASIL: BREVE

3.2.2 Ensino de ELE no Brasil

No quesito espanhol como língua estrangeira, o boom da língua espanhola em território brasileiro, podemos dizer que se deu a partir dos anos 90, com um crescimento expressivo do interesse pelo idioma.

Numa análise geral, um dos fatores que contribuiu para o aumento desse interesse pela língua foi devido à expansão das relações comerciais entre Brasil e

nossos vizinhos hispano-falantes, firmando o tratado do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), em 1991.

Além disso, a difusão da língua espanhola pelo país está ligada aos interesses de investimentos por parte da Espanha, a partir do ano 2000 com mais força e a chegada do Instituto Cervantes, com centros disseminados por todo o país, o que deu lugar ao aumento do estudo da língua no Brasil.

O surgimento de Associações de Professores de Espanhol também contribuiu bastante para o desenvolvimento de programas relacionados ao ensino/aprendizagem de ELE e sua valorização pelo país.

O Brasil, ao comprometer-se a promover a integração entre os povos do bloco, compromete-se, também, com a divulgação e a expansão em território nacional da língua espanhola, decisão que impulsiona a abertura em diversas universidades de licenciaturas em espanhol, de cursos de espanhol em tradicionais escolas de inglês e repercute, diretamente, na mais recente ação de política e planificação linguística no Brasil, a lei 11.161/2005. (DAY, 2012, p.8)

Estabelecendo um panorama atual da presença do espanhol no currículo brasileiro, acima destacamos alguns marcos que possibilitaram o crescimento do ensino de ELE. Ademais, um dos passos mais recentes foi a promulgação da Lei Federal nº 11.161, de 5 de agosto de 2005, conhecida como Lei do Espanhol, que determina a obrigatoriedade da oferta da língua espanhola no ensino regular.

Por sua vez, os professores brasileiros enfrentam o desafio de tentar cumprir por lei o ensino do espanhol como língua estrangeira, pois ainda se trata de um tema que não se cumpre efetivamente.

A maioria das escolas opta por dar prioridade ao inglês, não que não seja importante, mas não deveria ser a única opção oferecida ao aluno. Quanto a isso, uma provável justificativa para que o espanhol não tenha sido com o passar do tempo escolhido pelas escolas, quiçá, se deva à equivocada impressão de que o espanhol para o brasileiro pareça-lhe uma língua que não merece relevância de estudo, devido às semelhanças entre o português e o espanhol. Ou seja, esta falsa percepção dos brasileiros, de alguma forma ou outra, pode ter atrasado por um bom tempo o estudo do idioma. O fato é que, “não podemos ignorar que no contexto global o inglês impõe-se pelo que representa política e economicamente no mercado mundial (DAY, 2012, p.10)”.

O desafio para os professores os acompanha dia a dia, no sentido de criar condições favoráveis ao desenvolvimento e à valorização do ensino de ELE no país. Outra questão é a contratação de professores que não possuem formação específica na área, o que consequentemente faz com que esses professores de espanhol tenham a tendência a “apenas reproduzir/seguir o modelo de ensino de LE que crê ser correto e que advém de suas experiências anteriores de aprendizagem, experiências estas quase sempre fundadas em abordagens gramaticalistas (CAMARGO, 2004, p.146)”.

Além dessas dificuldades, atualmente o Brasil está vivenciando um conflito com relação à Lei específica para o ensino de espanhol, sancionada ainda pelo então presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, em 5 de agosto de 2005. Dita Lei que tornava obrigatória a oferta da língua espanhola nas escolas públicas e privadas no ensino médio, sendo facultativo no ensino fundamental sofreu retirada do currículo escolar nacional devido à revogação da Lei no atual Governo.

Aos poucos, o espanhol vinha recebendo mais atenção no Brasil, o que está (estava?) permitindo que a língua ganhe mais visibilidade e importância. A Lei, que significava um passo importante, agora se encontra diante de uma luta para permanecer obrigatoriamente no currículo como o era antes.

Em relação a esta discussão, cabe o questionamento: se o Brasil está rodeado por países de língua espanhola, por que não aprendê-la?

Já se passaram 13 anos após a promulgação da Lei do espanhol, e a questão é: o que aconteceu com o ensino do espanhol no Brasil depois dessa Lei?

De um modo geral, podemos dizer que a Lei chegou como uma confirmação esperançosa para o contexto brasileiro de educação, ou seja, o momento em que finalmente a língua espanhola entraria na matriz curricular nacional, ganhando espaço nas instituições de ensino de rede privada e pública, e não mais estaria apenas ofertada em cursos livres de idiomas etc.

Os alunos, então, poderiam usufruir de outra perspectiva de aprendizado por meio da língua espanhola. E assim, de alguma forma ou de outra, pouco a pouco, o espanhol estava crescendo, ganhando espaço na elaboração e publicação de livros didáticos de ELE para a educação básica, também a presença do estudo do idioma aumentou o número de cursos de licenciatura nos âmbitos público e privado, por exemplo.

Os professores, então, vislumbravam bons caminhos e avanços no ensino/aprendizagem da língua espanhola pelo país, mas mesmo com toda a importância que o idioma representa globalmente, “a Lei 11.161 e a realidade que ela nos proporcionaria não era assim tão ideal (PONTE, 2016, p.15)”.

A sanção da Lei 11.161 é um gesto de política linguística. No entanto, qualquer Lei, neste caso de cunho linguístico, só existe de fato quando se coloca em prática.

O que fica claro é que a Lei do Espanhol:

se constitui em mais uma tentativa de fazer prosperar seu ensino no contexto do século em que vivemos. Certamente, “gestos firmes e legítimos” e, sobretudo, “trabalho sério” são as formas de colaboração para o sucesso desse processo que se esperam das instâncias políticas, mas também de pesquisadores e professores de espanhol, em todos os níveis de ensino (RODRIGUES, 2010, p.24).

Se pararmos para refletir, ensinar espanhol não se trata apenas de levar um idioma a mais para a sala de aula, trata-se de levar outras perspectivas culturais que são alternativas ao que é dado em sala de aula. Além disso, existe toda uma perspectiva global por trás dessa retirada do espanhol currículo, que está sendo comprometida também. Ou seja:

A aprendizagem de outras LEs pode colaborar para fornecer mais espaço na escola para se garantir acesso às diferenças que constituem a vida humana. Se o mundo tem que ser globalizado, é crucial que as diferenças de que somos feitos não sejam apagadas. Tal tarefa pode ser sobremodo facilitada pela aprendizagem de LEs. (MOITA LOPES, 1999, p.433)

Do ponto de vista da formação do indivíduo, o ensino de LE é tão importante como qualquer outra disciplina do currículo, pois permite que o aluno se aproxime de outras culturas, que reconheça e respeite identidades diferentes da sua, assim como integrar-se e interagir no mundo globalizado.

Qual será o futuro do ensino de ELE no país diante da atual situação da reforma do sistema de educação nacional, após sua retirada da matriz curricular? Pois bem, quanto a esta temática, não nos alongaremos, pois ainda temos um percurso a cumprir na proposta deste presente trabalho.

3.3 METODOLOGIAS PARA O ENSINO DE LÍNGUAS: CONCEITOS E