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Ensino fundamental de nove anos: orientações para a inclusão da criança de seis

No documento 2014RaquelPaulaFortunato (páginas 64-69)

2 ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS: DETALHAMENTO DA LE

2.4 Publicações do MEC: orientações para reformulação do trabalho

2.4.1 Ensino fundamental de nove anos: orientações para a inclusão da criança de seis

de idade

A expansão do ensino fundamental, com a inserção da criança um ano antes na escola, busca assegurar um tempo mais longo de convívio escolar com maiores oportunidade de aprendizagem. No entanto, para que isso efetivamente se concretize, é preciso que as escolas e os sistemas tenham orientações pedagógicas que respeitem as crianças como sujeitos da aprendizagem. Em respeito a essa criança, o trabalho pedagógico deve proporcionar o estudo das diversas expressões e de todas as áreas do conhecimento (BRASIL, 2006b). O convívio escolar no ensino fundamental será cada vez mais eficaz, à medida que as crianças entrem em contato com diferentes culturas, com as diferentes possibilidades de criação e transformação. O tempo escolar precisa ser empregado de forma que desperte no aluno o gosto pelo saber, pela descoberta, pelo desafio e pela construção, pois, “as crianças produzem cultura e são produzidas na cultura em que se inserem (em seu espaço) e que lhes é contemporânea (de seu tempo)” (KRAMER, 2006, p.18). Assim, a proposta curricular das escolas e sistemas deve ser construída de forma que garanta com sucesso as aprendizagens das crianças e assim possibilite a continuidade dos estudos.

A mudança na estrutura do ensino fundamental, ao abranger todos os anos, não exclusivamente o primeiro, exige pensar condições pedagógicas, administrativas, financeiras, materiais e de recursos humanos, providências que são necessárias para o atendimento da criança ingressante no ensino fundamental, bem como para todas as demais. Nesse sentido, a

formação continuada em serviço deve ser uma política ativa e eficiente para assegurar que essa construção se estabeleça envolta em qualidade.

Ao construir novas propostas de ensino, adequadas ao contexto de ampliação do ensino fundamental, as escolas e os sistemas têm a oportunidade de rever os currículos, conteúdos e práticas pedagógicas, considerando que a criança de 6 anos passa a frequentar o ensino obrigatório e, por conseguinte, necessita ser atendida em conformidade com os parâmetros legais e pedagógicos para esta etapa de ensino. Assim, o trabalho com o primeiro ano requer objetivos próprios, isto é, o ensino nesta etapa não pode ser visto como aquele desenvolvido na antiga pré-escola, nem tão pouco como o da antiga primeira série do ensino fundamental de oito anos, é um novo ano, e como tal exige uma proposta curricular que atenda suas características, potencialidade e necessidades específicas. A aprendizagem das crianças de 6 anos de idade não pode estar restrita exclusivamente à alfabetização, deve ampliar as possibilidades de aprendizagem. Trata-se de construir uma proposta pedagógica coerente com as especificidades da segunda infância, observando, também, as necessidades de desenvolvimento da adolescência, enquanto continuidade dos estudos.

A partir do consenso da necessária reorganização curricular com vistas à infância e à sua pluralidade cultural, os textos contidos no documento buscam apresentar algumas orientações pedagógicas e possibilidades de trabalho nos anos/séries iniciais do ensino fundamental, focando especialmente nas crianças de seis anos de idade. O referencial apresenta nove artigos. Abaixo discorremos resumidamente sobre cada um deles (BRASIL, 2006b):

a) O primeiro estudo explora A infância e sua singularidade, texto escrito por Sônia Kramer, com abordagem especial as dimensões do desenvolvimento humano, a cultura e o conhecimento. O artigo apresenta a infância como eixo primordial para pensar a elaboração da nova proposta pedagógica e a reestruturação qualitativa do ensino fundamental, com especial atenção aos anos iniciais;

Numa sociedade desigual, as crianças desempenham, nos diversos contextos, papéis diferentes.

Sem conhecer as interações, não há como educar crianças e jovens numa perspectiva de humanização necessária para subsidiar políticas públicas e práticas educativas solidárias (BRASIL, 2006b, p.16-23).

b) Na sequência, o texto A infância na escola e na vida: uma relação

fundamental, de Anelise Monteiro do Nascimento, abre uma reflexão

importante sobre a experiência, vivenciada por crianças, ao chegar pela primeira vez na escola. O texto aborda o sentimento das crianças e as expectativas criadas em torno da escola, partindo do entendimento que essa criança traz muitas histórias, muitos saberes, jeitos singulares de ser e estar no mundo e viver a infância;

c) O brincar como um modo de ser e estar no mundo, de Angela Meyer Borba, privilegia um diálogo sobre o brincar, como próprio da natureza de ser criança e como uma expressão legítima e única da infância. Diante da oportunidade de revisão da proposta pedagógica nas escolas, o texto apresenta o brincar como uma das prioridades de estudo nos espaços de debates pedagógicos, nos programas de formação continuada, nos tempos de planejamento;

A brincadeira não é algo já dado na vida do ser humano, ou seja, aprende-se a brincar, desde cedo, nas relações que os sujeitos estabelecem com os outros e com a

cultura (BRASIL, 2006b, p. 41).

d) O quarto estudo faz um convite aos educadores, para um debate sobre a importância das Diversas expressões e o desenvolvimento da criança na

escola, texto de Angela Meyer Borba e Cecília Goulart. As autoras salientam

que para favorecer a aprendizagem, precisamos dialogar com o ser humano em todas as suas dimensões. A escola deve garantir tempos e espaços para o movimento, a dança, a música, a arte, o teatro, de modo a permitir que esse ser humano que carrega a leveza da infância ou a inquietude da adolescência vivencie, sinta, perceba a essência de cada uma das expressões que o torna ainda mais humano;

A produção artística oral, escrita e plástica que historicamente os grupos populares vêm produzindo faz parte do acervo cultural da humanidade e nos representa de modo legítimo.

Ninguém cria no vazio e sim a partir das experiências vividas, dos conhecimentos e dos valores apropriados (BRASIL, 2006b, p. 51-53).

e) A próxima abordagem traz como temática As crianças de seis anos e as áreas

conhecimento e a relação delas entre si em uma perspectiva de menor fragmentação dos saberes no cotidiano escolar, considerando as inúmeras possibilidades por elas apresentadas para o desenvolvimento curricular das crianças dos anos/séries iniciais do ensino fundamental;

É importante organizar os tempos e os espaços da escola para favorecer o contato

das crianças com a natureza e com as tecnologias (BRASIL, 2006b, p. 62).

f) O sexto tema traz como reflexão a alfabetização nos anos/séries iniciais, um debate sobre Letramento e alfabetização: pensando a prática pedagógica, texto escrito por Telma Ferraz leal, Eliana Borges Correia de Albuquerque, Artur Gomes de Morais. Os autores destacam alguns tópicos de estudo aos professores, tais como: a importância da relação das crianças como o mundo da escrita; a incoerência pedagógica da exclusividade de alfabetização no primeiro ano em detrimento das demais áreas do conhecimento; a importância da formação de leitores; e a relevância do papel do professor como mediador de leitura. O texto apresenta como urgente, garantir que os estudantes tenham o direito de aprender a ler e escrever de maneira contextualizada, visando ampliar a interpretação, compreensão, bem como o uso social desses saberes;

Por meio da oralidade, as crianças participam de diferentes situações de interação social e aprendem sobre elas próprias, sobre a natureza e sobre a sociedade.

A leitura do texto literário é fonte de prazer e precisa, portanto, ser considerada como meio para garantir o direito de lazer das crianças e dos adolescentes. (BRASIL, 2006b, p. 72-74).

g) A temática A organização do trabalho pedagógico: alfabetização e letramento

como eixos orientadores, de Cecília Goulart, apresenta como fundamental que

as escolas e seus educadores se sensibilizem com as especificidades, necessidades e potencialidades de seus estudantes para o direcionamento da organização do trabalho escolar. Cada escola está inserida em uma realidade com características específicas, assim não há um único modo de organizar as escolas e as salas de aula. No entanto, são necessários eixos norteadores comuns para a reestruturação escolar;

Às vezes, preocupadas em demasia com os conteúdos de ensino, não paramos para conhecer nossos alunos.

h) A ampliação do ensino fundamental também requer das escolas e dos sistemas de ensino uma revisão das concepções e práticas de avaliação do processo de ensino-aprendizagem. Assim, o texto Avaliação e aprendizagem na escola: a

prática pedagógica como eixo de reflexão, de Telma Ferraz Leal, Eliana

Borges Correia de Albuquerque, Artur Gomes de Morais, apresenta como proposta uma avaliação inclusiva, a qual exige rever e mudar as concepções de avaliação que se traduzem e perpetuam em práticas discriminatórias e redutoras de possibilidades de aprender. A escola não pode ficar limitada a resultados finais traduzidos em notas ou conceitos, precisa compreender que o ser humano é singular na forma, na “quantidade” do aprender e em demonstrar suas aprendizagens, por isso precisam de diferentes oportunidades, procedimentos e instrumentos para explicitar seus saberes;

É preciso não perder tempo, não deixar para os anos seguintes o que devemos assegurar desde a entrada das crianças, aos seis anos, na escola.

A diversidade dos instrumentos avaliativos, por sua vez, viabiliza um maior número e variedade de informações sobre o trabalho docente e sobre os percursos de aprendizagem (BRASIL, 2006b, p. 103-105).

i) O último texto, Modalidades organizativas do trabalho pedagógico: uma

possibilidade, de Alfredina Nery, apresenta algumas propostas de trabalho

cotidiano. A autora enfatiza que as atividades apresentadas no estudo não são modelos, e sim subsídios ao planejamento da prática docente, pois considera que o professor tem uma infinita capacidade de reinventar o já pronto, o já posto. O texto visa encorajar os professores na elaboração de atividades para a aprendizagem dos estudantes, de forma a superar e criar novas referências pedagógicas e metodológicas com vistas a um ensino fundamental de qualidade.

Os textos evidenciam o quanto é profunda e complexa a tarefa dos educadores em buscar assegurar uma aprendizagem com qualidade, o quanto temos ainda para avançar, criar, desatar as amarras e reinventar a educação brasileira. As reflexões apresentadas apontam para a reconstrução desse novo momento, porém, sem dúvida, não bastam, por si só, para garantir mudança na realidade existente, servem como referencial para o debate necessário às escolas e sistemas de ensino.

No documento 2014RaquelPaulaFortunato (páginas 64-69)