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Trilogia processual: ensino aprendizagem – cognição

3.4. Ensino e pedagogia diferenciada

A educação de alunos com défice cognitivo abrangidos pelo ensino regular constitui, segundo Costa (1998), um dos maiores desafios à capacidade das escolas de se instituírem como escolas inclusivas. A educação desta franja populacional constitui, na perspetiva do autor, um desafio à capacidade de aceitar a diferença e de simultaneamente respeitar as exigências que a mesma implica na forma de proporcionar a igualdade de oportunidades sem desistir da meta de inclusão, na máxima expressão em que ela se torne possível.

Diferenciação pedagógica deve, segundo Perrenoud (2000a), romper com a pedagogia magistral caracterizada pela uniformização do processo de ensino, sendo solicitados os mesmos exercícios de igual forma e a todos ao mesmo tempo. Diferenciar pedagogicamente consiste em pôr em funcionamento uma organização de trabalho que integre dispositivos didáticos, de forma a colocar cada aluno perante a situação educativa mais favorável. Perrenoud (2000b) propôs 10 novos tipos de competências para ensinar tendo por base uma pedagogia diferenciada, as quais estão representadas, de forma sucinta, na tabela 10.

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Tabela 10 – Listagem das Dez Novas Competências para Ensinar, adaptado de Perrenoud (2000a, 2000b). 1ª Competência Organizar e dirigir situações de aprendizagem

C om p e n ci as a tr ab al h ar e m fo rm ão c o n n u a

 Promover e manter um positivo clima de aula que proporcione um sentimento de segurança, de bem- estar e de tranquilidade.

 Conhecer os conteúdos programáticos respeitantes a cada disciplina e os respetivos objetivos de aprendizagem.

 Valorizar e trabalhar com os alunos a partir das suas representações.

 Valorizar e trabalhar com os alunos a partir dos erros e dos obstáculos à aprendizagem.

 Fomentar um positivo grau de envolvimento dos alunos na realização das suas tarefas.

 Construir e planear dispositivos e material didático de apoio à prática pedagógica.

 Incentivar hábitos e métodos de trabalho e de estudo.

 Envolver os alunos em atividades de pesquisa, projetos de conhecimento, entre outros, de forma a promover o espírito de curiosidade e de iniciativa.

2ª Competência Administrar a progressão das aprendizagens

 Conceber e administrar situações/problema face aos alunos, de forma ajustada ao seu nível cognitivo, às suas capacidades, aos seus interesses e ao contexto educativo.

 Adquirir uma visão longitudinal dos objetivos do ensino.

 Revelar um domínio satisfatório sobre as teorias refentes ao processo de ensino-aprendizagem.

 Observar e avaliar os alunos em situações de aprendizagem, com um objetivo formativo.

 Fazer balanços periódicos de competências e tomar decisões de progressão.

 Organizar a aprendizagem de forma a estabelecer um ciclo evolutivo ou progressivo com sequência no ciclo seguinte.

3ª Competência Conceber e fazer evoluir dispositivos de diferenciação

 Administrar a heterogeneidade existente na sala de aula, de forma a promover a diversidade em termos de caraterísticas e de riqueza de pensamento de cada um dos alunos.

 Aplicar, incentivar e administrar trabalhos de cooperação entre os alunos mais eficazes e reveladores de melhor produtividade e rendimento escolar e os alunos com maiores dificuldades de aprendizagem.

 Incentivar a colaboração entre alunos através de uma graduação de dificuldades de realização de tarefas.

 Proporcionar um apoio pedagógico individualizado aos alunos que revelem maiores dificuldades de aprendizagem.

 Valorização de todos os alunos independentemente das suas caraterísticas, ritmos de trabalho e ritmos de aprendizagem.

4ª Competência Envolver os alunos nas aprendizagens e trabalho

 Promover o gosto pela aprendizagem e conhecimento.

 Valorizar o saber prévio dos alunos.

 Explicar o valor, o sentido e a importância do trabalho escolar em termos de formação pedagógica e pessoal.

 Fomentar a capacidade de o aluno aprender e desenvolver processos de autoavaliação.

 Negociar com a turma as diversas regras e contratos de comportamento, logo no início do ano letivo.

 Discutir ―prémios‖ ou ―sanções‖ em conjunto com a turma de forma a regular atitudes e comportamentos e a atingir um positivo nível de sucesso.

 Definir com os alunos os objetivos de aprendizagem; estabelecer os conteúdos; a forma de os abordar e o tempo necessário para a sua concretização.

 Fomentar o sentimento de autoestima nos alunos.

 Incentivar a motivação escolar e o apreço pelo valor do trabalho realizado. Incentivar e auxiliar a construção de um projeto pessoal com cada aluno.

5ª Competência Trabalhar em equipa

 Elaborar um projeto com a turma, no qual estejam representadas as propostas de todos os alunos.

 Criar e fomentar o espírito de equipa através da realização de trabalhos de grupo.

 Criar e fomentar com regularidade, reuniões de trabalho temáticas.

 Analisar as situações problemáticas e agir em conformidade, espírito democrático e sentido de justiça.

 Ser capaz de administrar crises ou conflitos interpessoais.

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Desenvolver uma prática avaliativa com intencionalidade reguladora nem sempre é fácil, refere Santos (s/d), já que isso implica diversos tipos de mudança no trabalho da sala de aula como sejam a natureza das tarefas a propor, o método de trabalho e o repensar do papel do professor e do aluno. Cada vez mais, os professores são confrontados com a diversidade de alunos que lecionam, diversidade não só nas aprendizagens realizadas mas também na forma de pensar e de aprender, já para não falar das distintas culturas, valores e domínios da língua portuguesa, em presença. Assim, a criação de momentos de diferenciação pedagógica torna-se cada vez mais um imperativo pedagógico.

A este propósito Santos (s/d), adverte para o facto de que colocar em prática a diferenciação pedagógica é uma tarefa exigente para o professor. Exigente, não porque roube tempo para o cumprimento do programa, mas sim porque requer um conhecimento profundo dos alunos. Para além disso, o professor necessita que lhe seja disponibilizada toda a informação necessária ao apoio da sua prática docente. De facto, não se trata de um processo rigoroso, do certo ou errado, mas antes de um processo que se vai progressivamente melhorando, muitas vezes através da tentativa e erro.

(cont.) C om p e n ci as a tr ab al h ar e m fo rm ão c o n n u a

6ª Competência Participar na administração da escola

 Levar a turma a participar e a colaborar em projetos escolares.

 Colaborar, enquanto recurso humano da escola.

 Estabelecer trabalho cooperativo com parceiros comunitários.

 Organizar e fazer evoluir, no âmbito da escola, a participação dos alunos. 7ª Competência Informar e envolver os pais

 Dirigir reuniões de informação e de debate.

 Envolver os pais na colaboração e na participação de projetos escolares ou comunitários.

 Envolver os pais na construção de saberes dos seus educandos. 8ª Competência Utilizar as novas tecnologias

 Utilizar as ferramentas multimédia no ensino.

 Utilizar os programas de texto.

 Explorar as potencialidades didáticas dos programas em relação aos objetivos de ensino.

 Comunicar à distância por meio da videoconferência.

9ª Competência Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão

 Prevenir a violência na escola e fora dela.

 Não permitir preconceitos e discriminações sexuais, étnicas e sociais.

 Participar na criação de regras de conduta e sanções referentes à disciplina na escola.

 Estabelecer e manter uma positiva relação pedagógica, de autoridade e de comunicação com todos os alunos.

Desenvolver o sentido de responsabilidade, de solidariedade de entreajuda e de justiça. 10ª Competência Administrar a própria formação contínua

 Manter uma formação contínua adequada ao seu âmbito de docência e grupo-alvo de trabalho.

 Ser autocrítico em relação ao seu desempenho profissional.

 Ser capaz de realizar uma autoavaliação assertiva.

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3.5. A problemática do processo de ensino-aprendizagem no