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3.1 O Contexto Universitário e a Figura da Docência Superior

3.1.3 O Ensino Superior na Atualidade

Frente a tudo o que foi exposto, vale ressaltar que o ensino superior brasileiro foi organizado para atender a uma pequena elite econômica e cultural, mantendo-se distante das transformações sociais e demográficas pelas quais passava a sociedade.

Somente a partir do final dos anos 50 é que há maior acesso ao ensino superior. Houve uma reforma no regime militar, em 1968, em “conjuntura extremamente desfavorável ao incipiente movimento popular que preconizava mudanças no ensino superior brasileiro como uma das reformas de base” (Ministério da Educação, 2000). Após esses anos, seguiu-se um crescimento desordenado do ensino superior, normalmente em escolas isoladas ou faculdades, onde a autorização do referido ensino era um ato meramente burocrático. Segundo Morosini (2005, p. 316):

A partir da Reforma Universitária de 1968, a indissociabilidade de ensino, pesquisa e extensão, a estrutura departamental, o desenvolvimento da pós- graduação, a matricula por disciplinas e as gestões de racionalidade eficiente tornam-se modelares, embora não predominantes nas instituições de Educação Superior. Posterior ao período de abertura política, inúmeras tentativas de democratização e transformação da universidade são identificadas e eclodem na Constituição Federal democrática de 1988.

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Houve mudanças nesse sentido, especialmente a Lei n º 9.131 de dezembro de 95 que estabeleciam a necessidade do recredenciamento periódico das instituições. Porém, as mudanças mais profundas aconteceram na Lei de Diretrizes a Bases da Educação Nacional (LDBEN), aprovada em dezembro de 1996.

De acordo com a LDBEN (Lei nº. 9394/96), também conhecida como Lei Darcy Ribeiro, não há mais um modelo único de ensino superior, mas sim a universidade conta com um sistema de educação superior complexo, diversificado e expandido, sendo que segundo Morosini (2005, p. 317) em 2004, representavam cerca de 1632 Instituições de Ensino Superior. Destas Instituições de Ensino Superior, admite-se uma variedade de tipos de instituições, que se dividem, segundo a organização acadêmica, em universidades e não-universidades: Centro Universitário, Faculdades Integradas e Institutos ou Escolas Superiores.

A Universidade, que se caracteriza por possuir autonomia didática, administrativa e financeira, por desenvolver ensino, pesquisa e extensão, conta com número expressivo de mestres e doutores.

Há os Centros Universitários que se caracterizam por atuar em uma ou mais áreas, com autonomia para abrir e fechar cursos e vagas de graduação e ensino de excelência.

Há, ainda, as Faculdades Integradas, que reúnem Instituições de diferentes áreas do conhecimento, mas dependem do Conselho Nacional de Educação para criação de novos cursos. A criação dos Centros Universitários e das Faculdades Integradas tem o objetivo de propiciar a expansão do ensino superior com mais liberdade na criação de novos cursos, nas instituições não universitárias que se destaquem pela qualidade. Segundo Morosini (2000, p.14), “dos 973 estabelecimentos de ensino superior, 153 são universidades e 820 não- universidades.”

Referindo-me aos professores do Ensino Superior, preciso levar em conta as definições de IES para definir quem serão os professores que se vincularão a essa instituição e a produção específica que será exigida dele: docência, atividade de extensão e pesquisa, sendo a docência a atividade comum a todas as instituições que compõem o ensino superior.

Segundo Pimenta e Anastasiou (2002), a relação que o professor irá ter com essa instituição de ensino passa, também, pelo modo como nela ingressam.

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Nas universidades públicas, que são criadas e incorporadas, mantidas e administradas pelas esferas públicas, o ingresso ocorre por concurso público, em que conta ponto a titulação de mestrado e doutorado, e a experiência em pesquisa. Já, em instituição privada, será definido por estatuto próprio, e normalmente, o contrato ocorre por disciplinas ou horas/aula semanais. Porém, o que é possível de observar pela LDBEN, Lei nº. 9.394/96, é uma enorme exigência de titulação e regime integral de trabalho, acrescido pela pressão por titulação e melhoria das condições de trabalho.

Há ainda que se considerar, segundo o Ministério da Educação (2004), que o Brasil tem, hoje, 2.314 instituições de ensino, sendo 236 instituições federais de ensino superior, das quais 100 são federais, 78 são estaduais e 58 são municipais. As demais, 2.078 são privadas, segundo dados do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) e para mantê-las, o Ministério da Educação destinou, em 2000, o equivalente a 0,7% do Produto Interno Bruto.

Observo que o número total de programas de pós-graduação no Brasil, em 2002, era de 1.570, nos níveis de mestrado, mestrado profissionalizante e doutorado, sendo que 86% dos programas de pós-graduação estão em instituições públicas. As instituições privadas são responsáveis por 14% dos programas de pós- graduação no País, com cinco instituições de natureza confessional respondendo por 40% da oferta do setor privado. O quadro que se apresenta é exatamente o oposto do quadro do ensino de graduação, no qual a oferta de cursos das instituições privadas é muito maior do que a das instituições públicas10.

Por que isso é importante? Pelos dados acima, comprovei que é no sistema público de ensino que está ocorrendo a quase totalidade de pesquisa científica. A análise do quadro docente também é amplamente favorável ao sistema público de ensino superior. Para o Ministério da Educação (2000), os professores com doutorado ainda estão muito concentrados nas instituições públicas, que são as únicas que têm, igualmente, condições de manter amplos quadros de professores permanentes em tempo integral. Acrescido a isso, é possível observar, atualmente, uma busca desenfreada de produção científica em relação às atividades da docência.

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Devo acrescentar que os juros da dívida externa representam o dobro do que se gasta com educação. A situação do ensino superior federal, diminuindo os gastos e achatando os salários dos professores, os baixos investimentos no campo da ciência e tecnologia são explicados dentro da globalização, do neoliberalismo.

Apesar de todos estes condicionantes o sistema federal de ensino superior está presente em todo o território nacional. Em sete estados, por exemplo, a única universidade existente é a federal. Segundo o Ministério da Educação (2000), nos estados menos desenvolvidos, as instituições federais respondem sozinhas por toda a atividade de pesquisa científica e tecnológica e pelos programas de extensão universitária. São estes que garantem, sobretudo, a formação de quadro qualificado para ocupar postos no próprio setor público de seus estados, bem como a preparação de professores para todos os níveis de ensino.

Levando em conta o que foi colocado, o foco desta pesquisa, também se centra em uma instituição federal de ensino superior, dentro do programa de pós- graduação. Por ora, foco-me sobre o estado do RS.