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Primórdios do Ensino Superior no Brasil

3.1 O Contexto Universitário e a Figura da Docência Superior

3.1.2 Primórdios do Ensino Superior no Brasil

A educação brasileira é marcada pelos diferentes momentos, pelos quais passa a história, mudando conforme o contexto. Por vezes, as alianças e interesses sobressaem-se das intenções explícitas. Isso é importante quando se fala da educação, e, em especial, da Educação Superior no Brasil.

O Brasil é descoberto na época das grandes invenções, do surgimento do comércio e da expansão das universidades. Portugal, com o capital acumulado através do comércio, financiava os descobrimentos. Essa burguesia mercantilista associa-se à Igreja Católica e chega ao Brasil para conquistar e converter. E passaram essa função aos jesuítas.

É neste contexto, que, no Brasil, a primeira vez que se concedeu grau universitário, foi em 1572, quando segundo Doria (1998), vários alunos do Colégio Jesuíta, sendo padres e poucos leigos, tornam-se Bacharéis em Artes. Convém ressaltar que os padres da Companhia de Jesus (Jesuítas) chegaram ao Brasil, em 1549, somente 9 anos após a fundação da companhia. O principal objetivo era a conversão dos índios e o apoio religioso aos colonos, porém ocorreu, inclusive, a fundação de colégios. O que é possível observar neste período é que se

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catequizava e educava-se ao mesmo tempo. O ato de conceder grau universitário se repete em 1578, 1583, 1590 e continua concedendo graus durante o século XVII, mas nunca se vê reconhecido como universidade durante todo o período colonial. E, para Doria (1998, p. 50), “não se origina aqui, a não ser talvez indiretamente, a universidade brasileira. Não há vínculos entre esse Colégio dos Jesuítas de Salvador e os cursos superiores brasileiros, que surgem nos fins do século XVIII, no Rio de Janeiro.”

Durante a terceira quadra do século XVIII, ocorre a expulsão da Companhia de Jesus do Brasil, que, de acordo com Rossato (1989), fez com que se desfizesse e desorganizasse a precária rede de ensino da época e, conseqüentemente, a desarticulação do sistema educacional escolar da colônia, abrindo perspectivas de novos currículos, novos métodos de ensino, nova estrutura da educação escolar.

Em 1808, quando o rei e a corte portuguesa transferiram-se de Portugal para o Brasil, fixando-se no Rio de Janeiro, então capital do Brasil, fugindo de Napoleão, foi necessário fundar o ensino superior da Colônia. Segundo Cunha (1986), o ensino superior nasceu sob o signo do Estado Nacional, dentro ainda do marco da dependência cultural a que Portugal está preso. Paralelo a isso, conforme Masseto (1998), os brasileiros que possuíam condições financeiras e tinham interesse por cursos universitários, viajavam para Portugal ou outros países europeus, para se graduarem. Por vezes, segundo Cunha (1986), a coroa cedia bolsas para brasileiros irem estudar em Coimbra. Entretanto, havia uma preocupação da Coroa em relação aos estudantes, já que eles preferiam manter o Brasil como colônia, “evitando qualquer possibilidade de desenvolvimento de ideais de independência” (Masetto, 1998, p. 09). Portugal bloqueava o desenvolvimento superior no Brasil com o objetivo de manter a colônia incapaz de cultivar e ensinar as ciências, as letras e as artes.

No período da transferência da corte portuguesa para o Brasil, houve também a interrupção das comunicações com a Europa, iniciando-se um processo de criação de cursos superiores que se responsabilizassem pela formação intelectual. Conforme Masseto (1998), na década de 1820, foram criadas as Escolas Régias Superiores: a de Direito em Olinda, Estado de Pernambuco, a de Medicina em São Salvador, na Bahia e a de Engenharia, no Rio de Janeiro. Outros cursos

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foram criados posteriormente tais como os de Agronomia, Química, Desenho Técnico, Economia Política e Arquitetura.

O que se observa é que a criação dos primeiros estabelecimentos de ensino superior que buscava formar quadros profissionais para os serviços públicos voltados à administração do país, o que Cunha (1986) chama de formar burocratas para o Estado e especialistas na produção de bens simbólicos, como subprodutos, formar profissionais liberais, porém, segundo Doria (1998), seria natural e compreensível no caso dos cursos de Direito, mas o autor afirma que também as faculdades de Medicina serviam de interface entre os senhores de engenho e a estrutura administrativa do estado do século XIX. Convém ressaltar que esse ensino superior foi estruturado em estabelecimentos isolados, entretanto tentativas procuravam reuni-los em universidades. Se até a época da vinda da corte para o Brasil o ensino público era estatal e religioso, agora as orientações eram novas: seria preciso secularizar o ensino público.

Só para situar, neste período do Império (1808 – 1889), continua a influência de Portugal até porque o primeiro imperador foi português, e isso repercutia na educação. Em contrapartida, é nesse período que inicia a influência cultural francesa devido, especialmente, à língua francesa e à língua portuguesa terem a mesma origem latina. A corte dos reis franceses era considerada como paradigma de vitória e a religião de ambas permanecia a mesma: a católica, entre outros fatores.

Dessa influência francesa adotada no ensino superior, talvez a primeira e a principal idéia, segundo Cunha (1986), tenha sido a recusa na criação de uma universidade, fundando-se escolas isoladas. De acordo com Teixeira (1988), quando em 1882, no Congresso de Educação, em seu discurso, o Conselheiro A. Almeida Oliveira se posicionava contra a universidade, argumentando que o Brasil, como país novo, não deveria voltar atrás implantando uma instituição medieval e obsoleta; deveria, segundo ele, “(...) manter suas escolas especiais porque o ensino teria de entrar em fase de especialização profunda, a velha universidade não pode ser restabelecida”. Justificando, afirmava que não poderia existir universidade porque não teríamos cultura para tal. A universidade seria a expressão de uma cultura do passado e seria necessário ter uma cultura do futuro.

Com a proclamação da República, em 1889, até a revolução de 1930, nesse período comumente chamado de república velha, ocorreram transformações e

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mudanças conjunturais, porém tímidas, até, porque, segundo Rossato (1989), dentre as forças republicanas, acabava ficando no poder o grupo mais conservador.

Observa-se que, nesse período, surgem as escolas superiores livres, isto é, não dependentes do Estado, empreendidas por particulares. Seu crescimento foi bastante grande, ocorrendo facilidade de ingresso no ensino superior. Para Wanderley (1985, p. 33), “as escolas superiores livres, transferiram modelos didáticos estrangeiros. As instituições católicas seguiam orientações doutrinárias do exterior”. Com essa ampla abertura, houve uma expansão/facilitação de aquisição de diplomas, sendo que, para Cunha (1986, p. 147), “os diplomas das escolas superiores tendiam a perder a raridade e, conseqüentemente, deixaram de ser um instrumento de discriminação social eficaz e aceito como legítimo.” A introdução de exames vestibulares nas escolas superiores foi uma tentativa de restabelecer o desempenho da função do sistema educacional escolar, nas sociedades capitalistas, aos cargos conferidos de maior prestígio e poder.

Para Cunha (1986, p. 147): “foi nesse período que surgem os primeiros estabelecimentos de ensino superior no Brasil com o nome de universidade, sendo a do Rio de Janeiro (1920) e de Minas Gerais (1927) as que vingaram”.

Antes de nomeá-las, gostaria de referendar que houve tentativas fracassadas na criação das universidades passageiras de Manaus (1909), São Paulo (1911) e Paraná (1912) e para Cunha (1986), essas tentativas, independentes e contrárias à orientação do poder central, embora sem sucesso, devem ter provocado uma reação no sentido do governo da União controlar a iniciativa de fundar a universidade.

Mesmo essas universidades tendo vida curta, sua importância para a história foi grande. A Universidade de Manaus, criada em 1909, no auge do Ciclo da Borracha, foi, para Cunha (1986), o fato que atraiu muitas pessoas para essa cidade. Conseqüentemente, com o fim da prosperidade, e devido à crise por falta de alunos e de subsídios estatais, em 1926, a Universidade de Manaus se dissolveu, fragmentando-se em três estabelecimentos isolados.

Já, em São Paulo, 20 profissionais de nível superior uniram-se a Luís Antônio dos Santos, sócio capitalista, e fundaram uma sociedade civil, que denominaram Universidade de São Paulo, aos 19 de novembro de 1911, com o objetivo de fornecer ensino em todos os graus. Em 1915, a universidade chegou a ter cerca de 700 alunos e 100 professores, sempre com o ensino pago e adotando

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métodos novos de ensino. É possível que a Universidade de São Paulo não tenha durado muito tempo após 1917.

Enquanto isso, no Paraná, o processo de criação da Universidade ocorreu quando um grupo de profissionais liberais e altos funcionários dos governos do estado do Paraná reuniram recursos do governo estadual, dos professores e seus próprios, possibilitando, aos 19 de dezembro de 1912, a sessão solene, que criava a Universidade do Paraná. Porém, em 1915, com a reforma Carlos Maximiliano que impedia que houvesse escolas superiores em cidades com menos de 100 mil habitantes, a Universidade do Paraná não teve alternativa senão dissolver-se.

Como já mencionado, a primeira instituição de ensino superior do Brasil, foi a Universidade do Rio de Janeiro em 1920, que, por iniciativa do governo federal, reuniu a Escola Politécnica, a Escola de Medicina e uma das escolas de Direito, sem antes ter um empurrão, que segundo Cunha (1986), foi a vinda do Rei Alberto da Bélgica, para lhe conferir o título de doutor honoris causa. Para isso foi criada essa universidade.

Essa mesma aglutinação de faculdades foi seguida em Minas Gerais, recebendo generosos subsídios do governo estadual.

No Rio Grande do Sul, ocorre um processo inverso: a Escola de Engenharia vai fazendo surgir vários institutos sendo chamada mais tarde de Universidade Técnica do Rio Grande do Sul.

Das universidades citadas, onde elas se basearam para criá-las? Posso dizer que houve influência dos modelos europeus: o Jesuítico, o Francês e o Alemão. Segundo Pimenta e Anastasiou (2002), a idéia do modelo Jesuítico era criar escolas que iniciavam com o ensino das primeiras letras, chegando até as escolas superiores. Nelas havia um programa básico de estudos, compostos pelo Trivium, que abrangia a Gramática, a Retórica e a Dialética, e o Quadrivium, que abrangia a Aritmética, a Geometria, a Astronomia e a Música. Devo observar o uso do Latim e aos alunos cabia fazer anotações para serem memorizadas em exercícios. O professor era um sacerdote, considerado elemento fundamental para a eficácia do método jesuítico, e era sua função a abordagem exata e analítica dos temas a serem estudados, a clareza nos conceitos e definições, argumentação precisa e sem digressões, expressão rigorosa, lógica e silogística.

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Já, o modelo Francês e Alemão se “caracterizava por uma organização não universitária, mas profissionalizante, centrado em cursos e faculdades, visando à formação de burocratas para o desempenho das funções do Estado.” (Pimenta e Anastasiou, 2002, p.148) O que pude observar foi que o modelo jesuítico era mais voltado ao ensino do que à pesquisa.

No decorrer dos anos, vão-se formando outras universidades e, em 1930, ocorre a Revolução, levando Getúlio Vargas à chefia do governo provisório, o que determinou o início de uma nova era na História do Brasil, só terminando em 1945, quando ele foi deposto pelo golpe militar.

Resumindo, posso dizer que, no campo político houve transformações importantes as quais mexeram na política educacional, entre elas a drástica redução do poder por parte de representantes do latifúndio, à sujeição política das classes trabalhadoras, a eliminação do setor insurgente da burocracia do Estado, aos “tenentes”, o aumento do poder da burguesia industrial e a montagem de um regime autoritário, uma espécie de fascismo sem mobilização de massas. Além disso, para Rossato e Magdalena (1990), houve rápida modernização do sistema de produção nacional, via uma política de industrialização.

Segundo Cunha (1986), é frente a esse contexto que surgem duas políticas opostas: a liberal e a autoritária. A política educacional liberal, por ter no liberalismo seu sistema de idéias, baseando-se em cinco princípios: o individualismo, a liberdade, a prosperidade, a igualdade e a democracia, comandada por Fernando de Azevedo, que demonstrava interesses sociais e pedagógicos das oligarquias, convergentes com os interesses das classes trabalhadores e das camadas médias. O que se buscava era a independência da escola, diante dos interesses particulares de classe, de credo religioso ou político. Através do pensamento liberal, no campo educativo, há a influência do pensamento do filósofo norte-americano John Dewey, que propõe uma nova pedagogia, a pedagogia da

escola nova. Enquanto isso, a política educacional autoritária, predominante a nível

federal, tentava impedir contestações à ordem social pelos trabalhadores e por setores da própria burocracia do Estado, e, neste contexto, criou-se uma entidade para congregar os estudantes das escolas superiores de todo o país, que hoje é conhecida como União Nacional de Estudantes (UNE).

Para Cunha (1986), em termos de ensino superior, foi em 1931 que a política educacional autoritária começou sua atuação. Francisco Campos, líder para-

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fascista e primeiro Ministro da Educação, elaborou o Estatuto das Universidades Brasileiras, vigente por 30 anos.

Referindo-me ao Estatuto, segundo Oliven (1990), a universidade poderia ser oficial quando era mantida pelo governo federal, estadual ou municipal, ou livre, quando deveria ser mantida por fundações ou associações particulares.

Para a criação de uma universidade, seriam necessárias, pelo menos, três faculdades, dentre as seguintes: Direito; Medicina; Engenharia; ou a faculdade de Educação, Ciências e Letras. O que posso constatar é que a criação das universidades ocorre pela justaposição de cursos superiores, apesar da “universidade se constituir numa figura que paira sobre os cursos que a compõem, estes se mantêm autônomos nas questões de ensino e isolados uns dos outros” (Morosini, 2005, p.310).

No início da era de Vargas, em 1930, havia, no Brasil, três universidades: a do Rio de Janeiro, criada em 1920; a de Minas Gerais, criada em 1927 e a Escola de Engenharia de Porto Alegre, criada em 1896, esta sem o nome da universidade. Já, em 1945, eram cinco: Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro; em Porto Alegre, a Escola de Engenharia passou a denominar-se Universidade Técnica do Rio Grande do Sul em 1932, e, a partir de 1934, Universidade de Porto Alegre. Ainda, a Universidade Católica do Rio de Janeiro, em 1940, que vai dar origem às Pontifícias, e as Universidade de Minas Gerais e a Universidade de São Paulo em 1934.

Acredito que é preciso referendar a reforma de 1931 a qual alterou as formas de recrutamento. Um deles refere-se à categoria de catedrático, onde o concorrente deveria submeter-se a concurso de provas e títulos, sendo que o resultado seria submetido à congregação da faculdade. Essas provas incluíam defesa da tese, prova escrita, didática e prática ou experimental. Apesar disso, muitas faculdades preencheram a vaga de docente catedrático somente através da análise dos títulos, levando em conta um invento de alta relevância ou que tenha escrito uma obra doutrinária de excepcional valor.

Sem ter a pretensão de compreender o clima político da época da queda do Estado Novo, em 1945, ao golpe de Estado que veio implantar um regime autoritário no Brasil, em 1964, o que pude observar é que nesse período houve mudanças significativas no aparelho escolar, particularmente no que se refere ao ensino superior. O Brasil passa por transformações, havendo um rápido processo de

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urbanização, acompanhado por um crescimento demográfico sem precedentes. O êxodo rural intensifica o ritmo da urbanização e, como conseqüência, a industrialização leva a um novo modelo de sociedade. Assim, para Rossato (1989), as escolas devem adaptar-se às novas condições sociais, e aos novos modelos da sociedade industrial. É neste contexto que surge a Lei Orgânica do Ensino Primário e Secundário, conhecida como Reforma Capanema, criando o SENAI e o SENAC, intensificando o ensino voltado para o trabalho. Isso quer dizer que aumenta a procura pelo ensino secundário, exercendo uma enorme influência em termos de demanda por educação superior, tanto para a classe média quanto às parcelas das camadas populares que começaram a ver no ensino secundário uma forma de ascensão social ou uma forma de acrescentar prestígio ao seu status.

Pela aglutinação de escolas isoladas, em 1954 havia 16 universidades no Brasil, e, no ano de 1964, já havia 39 universidades. É neste período que ocorre a federalização das universidades, isso, segundo Cunha (1983, p. 97), “fez com que as matrículas oferecidas pelo setor público mantivessem sua participação em torno de 81%, compensando a criação das universidades católicas.”

Foi neste contexto que, em 1961, foi aprovada a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº. 5.540/68, que foi considerada um grande marco na história das universidades brasileiras. Mas o que ocorreu antes disso?

A Constituição Federal de 46 já determinava que a União deveria legislar sobre as diretrizes e bases da Educação Nacional, sendo que, em 1947, uma comissão inicia os estudos que, em 1948, são encaminhados à câmara. Tais estudos só serão aprovados em dezembro de 1961, tornando-se a Lei nº. 4.024, isso devido, especialmente, a dois fatores, segundo Rossato e Magdalena (1990): em primeiro, a educação não é tida como prioridade e o segundo é a questão ideológica.

Em termos legais, a Lei nº. 4.024, a LDB de 1961, manteve a cátedra vitalícia, as escolas isoladas, as universidades compostas pela simples justaposição de escolas profissionais, sem a maior preocupação com pesquisa. Para Morosini (2005, p.313), a “LDB de 1961 restringiu-se a determinar que a fixação dos currículos mínimos e a duração dos cursos caberiam ao Conselho Federal de Educação – CFE, mantendo a hierarquia docente com a figura do catedrático”. Além disso, essa lei delegou às universidade as normalizações sobre os concursos, as

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questões relacionadas aos docentes conforme as disciplinas e os cursos, pois partiam do pressuposto de que deveriam ser atendidas as peculiaridades de cada órgão.

Data desse período, que teve influência nas decisões da época, inclusive a fundação da Universidade de Brasília, em 1961, as reuniões da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), como também a representação estudantil.

Com os acontecimentos políticos que o movimento militar de 1964 trouxe, foi abalado profundamente o direcionamento das discussões sobre a Universidade.

A partir de então (período autoritário pós-64), passa-se a um enfoque estritamente técnico, reunindo comissões de especialistas. Esses, devido especialmente ao clima de descontentamento, em questão de mais de 2 meses apresentaram a lei 5.540 de 1968, a qual foi assessorada pelos Estados Unidos da América, a partir de acordos do MEC-USAID (United States Agency for International Development), introduzindo um modelo norte-americano de organização universitária a partir de um projeto "tecnocrático-empresarial" para a universidade. O objetivo era modernizar a universidade para o projeto econômico em desenvolvimento, seguro, tanto para a ditadura quanto para os interesses do capital que estava representando. Conforme Arapiraca (1982), o objetivo maior dos convênios de ajuda da USAID, era o fornecimento de mão-de-obra necessária à implementação do modelo econômico que se implantava.

Entre as medidas tomadas para atingir as metas estava a unificação do vestibular por região, o ingresso por classificação, o estabelecimento de limite no número de vagas por curso, a criação de curso básico que reunia disciplinas afins em um mesmo departamento, o oferecimento de cursos em um mesmo espaço, com menor gasto de material e sem aumentar o número de professores, a fragmentação e dispersão da graduação, o estabelecimento de matrículas por disciplinas.

Iniciou, com essa reforma, o controle sobre os currículos e a separação entre a pesquisa e o ensino, a expansão da rede privada do ensino superior e o fim das cátedras que foram substituídas pelos departamentos com chefia, estes de caráter rotativo.

Houve muitas outras mudanças, mas as mais significativas foram a introdução da relação custo-benefício e do capital humano na educação, direcionando a universidade para o mercado de trabalho, ampliando o acesso da

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classe média ao ensino superior e cerceando a autonomia universitária. Segundo Rossato e Magdalena (1990, p. 28), “deixa de ser educação do indivíduo para ser educação para o trabalho”.

Com a entrada dos anos 80, apesar de todo o processo de modernização, para Rossato e Magdalena (1990), permanece no Brasil, contudo com indicadores educacionais próprios de países atrasados. As mudanças ocorridas nos demais continentes, em especial com o término da bipolaridade, as mudanças que vinham ocorrendo no Brasil, fazem com que as idéias neoliberais sejam revigoradas. Passa-se da modernidade para a pós-modernidade através da racionalidade absoluta no trabalho e superação dos conflitos ideológicos. Ocorre o enfraquecimento do estado, pois o crescimento do país é deixado para a iniciativa privada. Implanta-se o processo de privatização e o estado submete-se aos interesses dos grandes grupos transnacionais.