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2 ENSINO SUPERIOR

2.2 Ensino superior brasileiro

2.2.2 Ensino superior no período republicano

Em consonância com modelo cultural da época houve resistências das oligarquias mais conservadoras em relação à formação de universidades

não enquadradas nos moldes da colônia (jesuítas). Por isso, durante a Primeira República, as tentativas de reformas não obtiveram êxito (SAMPAIO, 2000; ROMANELLI, 2003).

Basta considerar que as elites oligárquicas defendiam a manutenção da escola conservadora com apoio da burguesia industrial e da classe média, sendo que esta última almejava o status de elite e não tinha um novo paradigma de ensino, além de não ser interessante entrar em conflito com os conservadores e os burgueses. Enquanto isso, para a população rural, majoritária na época, a educação não era concebida como necessária (ROMANELLI, 2003, p.45).

Portanto, observamos a perpetuação da mentalidade escravocrata, ainda calcada no Império, distante da realidade social concreta.

A permanência, portanto, da velha educação acadêmica e aristocrática e a pouca importância dada à educação popular fundavam-se na estrutura e organização da sociedade. Foi somente quando essa estrutura começou a dar sinais de ruptura que a situação educacional principiou a tomar rumos diferentes. (ROMANELLI, 2003, p.45)

Somente em 1920 surge de forma estruturada a Universidade do Rio de Janeiro, que se configurou a partir da união de cursos isolados que se ligavam entre si por meio de uma reitoria. Esta universidade foi implantada em meio a críticas ao seu modelo, pois ela passou a incorporar as Escolas Politécnicas e de Medicina e as Faculdades Livres de Direito, ou seja, três instituições com características próprias reunidas sem maior integração entre elas e cada uma conservando suas características (FÁVERO, 2006).

Na década de 1930 houve um aumento no Brasil das universidades em Minas Gerais (1927); no Rio Grande do Sul, em São Paulo (1934) e no Distrito Federal (1935). Apenas as duas últimas incorporaram o espírito liberal- progressista e inovador de Fernando Azevedo e de Anísio Teixeira, que refletiam os anseios de uma sociedade que estava se tornando mais complexa

e que os modelos tradicionais de universidade não podiam mais atender (FÁVERO, 2006).

A este respeito, Fávero (1980) entende que após a Revolução de 1930, mesmo o país necessitando empreender uma transformação em suas instituições privadas e públicas para atender as demandas da modernidade, essa transformação não foi concretizada.

Em 1931 foi aprovado o Estatuto das Universidades Brasileiras, com a promulgação do Decreto nº 19.851 (CUNHA, 2007). Segundo Fávero (1980, p. 45) o Estatuto “pode ser considerado o marco estrutural da concepção da universidade em nosso país”, pois nele foram fixadas as finalidades do ensino superior.

Novamente, há um fosso entre o idealizado e o realizado. As premissas legais como: estimular a investigação científica, elevar o nível da cultura geral, direcionar as atividades universitárias para a grandeza da Nação e o aperfeiçoamento da humanidade foram relegadas, limitando-se à formação técnica e científica que já mantinham (FÁVERO, 1980). Tal fato não necessariamente ocorreu por pressão do Estado, mas sim pela cultura medieval portuguesa impregnada na elite universitária.

Na rotatividade do poder de Estado, em suas instituições, inclusive nas universidades, a “cultura cabocla”5 (Junquilho, 2002) de gestão não se alterava, com forte enraizamento nos moldes da cultura medieval portuguesa incorporada pelos senhores de engenho e pelas oligarquias no período republicano: o Estado percebido como esfera privada (feudo), e local de clientelismo, burocracia, favoritismo, “cordialidade” (para os amigos as brechas com o jeitinho brasileiro e para os inimigos os rigores da lei e a perseguição), autoritarismo, corrupção, nepotismo e principalmente a resistência às mudanças (JUNQUILHO, 2002). Pelo exposto, o Estatuto das Universidades

5 Junquilho (2002) realizou estudo sobre comportamento gestores em face da administração pública gerencial. Neste estudo é destacado que a gestão pública se materializa em práticas sociais ancoradas na realidade cultural brasileira e se configura em um modelo de gerente híbrido cujos modelos de gestão burocrática e gerencial coexistem.

Brasileiras de 1931 não significou nenhum tipo de avanço, por ser culturalmente viciante no Brasil que as mudanças na esfera pública servem justamente para não mudar.

Outro fato histórico importante ocorrido em meados da década de 1930 foi a criação da União Nacional dos Estudantes – UNE (1937 – 1945) com princípios como: universidade aberta; liberdade de pensamento; autonomia universitária; eleição para dirigentes das universidades; livre associação dos estudantes e participação na elaboração das matrizes curriculares (UNE, 2010).

Com o crescimento da industrialização o país passa a necessitar de força de trabalho, e surgem novos espaços como Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI – e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – SENAC, ambos mantidos pela iniciativa privada. O governo de Juscelino Kubistchek (1956-1961), cuja meta focava a “institucionalização de uma educação para o desenvolvimento, ou seja, o incentivo ao ensino técnico- profissionalizante” deu continuidade ao ensino profissionalizante nos moldes do SENAI e SENAC (GHIRALDELLI JUNIOR, 2006, p.112).

De acordo com Ghiraldelli Junior (2006) no período de Juscelino Kubistchek a intenção era transferir os cursos profissionalizantes das universidades para escolas em nível médio, para que o ensino superior se dedicasse a “vocação intelectual”. Porém, o pano de fundo dessa assertiva era econômico, pois visava a profissionalização dos trabalhadores em áreas que as universidades não ofertavam cursos - e se ofertavam era para formar mais rapidamente a força de trabalho – além de atender os interesses da iniciativa privada, pois ao substituir um funcionário graduado por um técnico com formação específica para a função, isso significaria qualidade de produção e redução das despesas com salários (GHIRALDELLI JUNIOR, 2006).

No Brasil, o período de 1945 a 1964, foi predominantemente marcado pelo desenvolvimento, modernização e expansão do ensino motivada principalmente pela transferência da população da zona rural para a zona

urbana e pela escolarização das mulheres que contribuíram para o aumento da demanda escolar. Em 1963, com João Goulart na presidência, admitia-se um quadro da educação brasileira muito preocupante: “7% dos alunos do curso primário chegavam à quarta série; o ensino secundário acolhia apenas 14% [...], somente 1% dos estudantes alcançava o Ensino Superior” (GHIRALDELLI JUNIOR, 2003, p.114).