• Nenhum resultado encontrado

O entendimento é de que a taxa contratada mensalmente, multiplicada por doze, quando supera a taxa anual, tem-se como conclusão, que foram contratados juros capitalizados na forma mensal. Neste entendimento, é permitida a cobrança dos juros capitalizados na forma mensal, desde que haja a expressa pactuação, o que ocorre quando a taxa de juros anual é superior ao duodécuplo da taxa mensal. (ROMANO, 2017)

Entende-se, no direito brasileiro, que a capitalização de juros anual é permitida, podendo ser utilizada, mesmo por aqueles que não se configuram como instituição financeira, conforme o teor do artigo 591 do Código Civil. (ROMANO, 2017)

A jurisprudência do STJ já admitia a capitalização de juros por periodicidade inferior à anual, baseando-se no art. 5° da Medida Provisória 2.170-36/01, mas somente quando expressamente pactuada com total conhecimento pela parte contratante. (ROMANO, 2017)

Destaca-se ainda, que a necessidade de pactuação nos casos de capitalização de juros por período inferior a um ano, encontra-se sumulada pelo verbete 539 do STJ, agora, aumentando o entendimento através do tema 953 dos

recursos repetitivos, o STJ estendeu o entendimento no intuito de que independente da periodicidade, existe a obrigatoriedade de expressa pactuação entre os contratantes para a utilização da capitalização de juros. (FABRIS, 2017)

Mesmo assim, há casos recentes que vedam a capitalização de juros, como nos casos do FIES. O TRF da 3ª região deu provimento parcial a uma apelação7,

decidindo que não cabe capitalização de juros nos contratos de abertura de crédito para esta finalidade. (ROMANO, 2017)

Neste sentido, não seria correto permitir a manutenção da ocorrência automática da capitalização de juros por período superior ao anual, em razão do entendimento do STJ de que a capitalização por período inferior a um ano depende de acordo. (SOARES, 2017)

Deste modo, o entendimento da jurisprudência faz referência a necessidade de haver informação adequada ao consumidor quando existir norma permissiva que autorize a cobrança de juros capitalizados, simultaneamente com a existência de expressa previsão contratual, respeitando os princípios da adequada informação, da liberdade de contratar e da boa-fé. (BORTOLIN, 2017)

O Acórdão infra direciona ao entendimento atual da jurisprudência, no que se refere a utilização da capitalização de juros nos contratos bancários:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.

AÇÃO MONITÓRIA. FIADORES. LEGITIMIDADE.

CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS. JURO

REMUNERATÓRIOS. REVERSÃO DO JULGADO

IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA Nº 7/STJ. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. SÚMUL 284/STF.

1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do Código de Processo Civil de 2015 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ).

2. No julgamento do Resp. nº 973.827/RS, submetido à sistemática dos recursos repetitivos, restou decidido que nos contratos firmados após 31/3/2000, data da publicação da Medida Provisória nº 1.963-17, admite-se a capitalização dos juros em periodicidade inferior a 1 (um) ano, desde que pactuada de forma clara e expressa, assim considerada

quando prevista a taxa de juros anual em percentual pelo menos 12 (doze) vezes maior do que a mensal.

3. A Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Resp. nº 1.061.530/RS, Relatora Ministra Nancy Andrighi, submetido a regime dos recursos repetitivos, firmou posicionamento do sentido de

que: a) as instituições financeiras não se sujeitam à limitação dos juros remuneratórios estipulada na Lei de Usura (Decreto nº 22.626/1933) - Súmula 596/STF; b) a estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si só, não indica abusividade; c) são inaplicáveis aos juros remuneratórios dos contratos de mútuo bancário as disposições do art. 591, c/c o art. 406 do CC/2002; d) é admitida a revisão das taxas de juros remuneratórios em situações excepcionais, desde que caracterizada a relação de consumo e que a abusividade (capaz de colocar o consumidor em desvantagem exagerada - art. 51, §1º, do CDC) fique cabalmente demonstrada, haja vista as peculiaridades do julgamento em concreto.

4. Para se concluir em sentido contrário ao que restou expressamente consignado no acórdão recorrido, acerca dos juros remuneratórios, da capitalização mensal e da legitimidade passiva dos fiadores, seria necessário o revolvimento do conjunto fático-probatório dos autos, bem como interpretação da cláusula contratual, o que é vedado pelas Súmulas nºs 5 e 7/STJ.

5. Não havendo nas razões de recurso especial indicação de qual dispositivo legal do Código de Defesa do Consumidor teria sido malferido, com a consequente demonstração da eventual ofensa à legislação infraconstitucional, aplica-se, por analogia, o óbice contido na Súmula nº 284 do Supremo Tribunal Federal.

6. Agravo interno não provido. (BRASIL, 2017)

Também no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul já existe acórdão no mesmo sentido:

APELAÇÃO CÍVEL. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. AÇÃO

REVISIONAL. DECISÃO MONOCRÁTICA. ART. 932, IV, ‘A’ e B’, DO CPC.

JUROS REMUNERATÓRIOS. Limitação dos juros ao percentual da taxa média do mercado, quando forem abusivos, tal como publicado pelo BACEN em seu site. Posição do STJ consubstanciada no acórdão paradigma - RESP 1.061.530/RS. Inexistência de abusividade no caso concreto.

CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. A incidência da capitalização de juros é permitida, mas desde que conste sua pactuação de forma expressa no instrumento contratual, nos termos do Resp. nº 973.827-RS, de relatoria da Min. Maria Isabel Gallotti. Como este é o caso dos autos, a capitalização é mantida.

COMPENSAÇÃO DE VALORES E REPETIÇÃO DO

valores a serem compensados ou restituídos em favor do autor. DA MORA E DA TUTELA ANTECIPADA. Ausente a abusividade nos encargos previstos para a normalidade contratual, a tutela antecipada deve ser indeferida.

APELO DESPROVIDO, MONOCRATICAMENTE. (Rio Grande do Sul, 2018)

Assim, conclui-se que, se não houver expresso acordo do encargo entre as partes, a cobrança de juros capitalizados por prazo anual não é devida. Mesmo permitida em períodos distintos, a capitalização de juros não incide de forma automática, e mesmo autorizada por lei sua cobrança não poderá ser imposta ao mutuário. (BUZZI, 2017).

O acórdão foi proferido no campo dos recursos repetitivos, em acordo com o artigo 1.036 do CPC, juntamente com o disposto no artigo 927, III, do CPC, com isto, o entendimento nele definido deverá ser observado por juízes e tribunais, contribuindo para a celeridade no julgamento de processos que discutam a mesma matéria. (BUZZI, 2017).

Por ser um tema de enorme importância, atingindo uma quantidade considerada de pessoas, a Seção de Direito Privado do STJ, ao lidar com a controvérsia, demonstrou a necessidade de se observar os princípios norteadores do direito contratual atual, no que se refere as relações privadas, para que o consumidor, ao firmar um contrato, tenha conhecimento das repercussões econômicas firmadas com a instituição bancária, para não correr o risco de contrariar, o princípio da boa-fé objetiva. (BUZZI, 2017)

A consequência disto, é que para a instituição financeira provar que tem o direito de cobrar juros capitalizados, precisará juntar cópia do contrato celebrado com o mutuário aos autos, demonstrando que a capitalização dos juros foi expressamente firmada no contrato de mútuo. (BORTOLIN, 2017)

Com isso, pode-se afirmar a capitalização de juros é sim permitida nos contratos de mútuo bancário, seja por qualquer periodicidade, desde que contenha expressa previsão contratual, sem a qual não terá validade.

CONCLUSÃO

A capitalização de juros, conhecida também por anatocismo, acontece quando o cálculo dos juros é feito sobre os próprios juros devidos. Estes, normalmente, são encontrados nos contratos de mútuo bancário.

Esta prática foi vedada em nosso ordenamento jurídico através do Decreto lei 22.626/33, Lei de Usura, que em seu art. 4º estabeleceu que: “É proibido contar juros dos juros” esta proibição não abrange a acumulação de juros vencidos aos saldos líquidos em conta corrente de ano a ano”.

No entendimento do STJ, a ressalva existente na segunda parte do art. 4º quer dizer que para a Lei da Usura é permitida a capitalização de juros anual, proibindo apenas a capitalização com periodicidade inferior a um ano.

Assim, a capitalização de juros anual foi sempre permitida para todos os tipos de contratos. Lembrando que, mesmo permitida por lei, a capitalização de juros por periodicidade anual deve estar prevista no contrato.

A capitalização de juros de forma anual é permitida, tanto para contratos bancários como não-bancários. O que se proíbe é a capitalização de juros por período inferior a um ano, como a capitalização mensal de juros, onde a cada mês incidem juros sobre juros.

No entanto, esta capitalização por período inferior a um ano, não é proibida para instituições bancárias. A Medida Provisória n.º 1.963-17, de 31 de março de 2000, permite que as instituições financeiras utilizem a capitalização de juros por período inferior a um ano.

Enfim, permite-se a capitalização de juros por período inferior ao anual nos mútuos bancários formalizados a partir de 31 de março de 2000, quando foi publicada a MP 1.963-17/2000, atual MP 2.170-36/2001), desde que esteja expressamente pactuada.

Este entendimento foi sumulado pelo STJ, súmula 539, permitindo a capitalização dos juros por periodicidade inferior à anual em contratos celebrados pelas instituições que integram o Sistema Financeiro Nacional desde 31/03/2000.

Assim, as instituições bancárias podem utilizar a capitalização de juros com período inferior a um ano, desde que previamente pactuada.

Deste modo, a pactuação da capitalização de juros será sempre exigida, inclusive para período anual, não sendo possível sua incidência de forma automática, conforme prevê o art. 591 do Código Civil.

O tema foi analisado pela 2ª Seção do STJ, REsp. 1.388.972-SC, sob a sistemática de recurso repetitivo, e resumiu o entendimento com a tese de que a capitalização de juros nos contratos de mútuo é permitida desde que haja expressa pactuação.

Com isso, pode-se dizer que é autorizada a capitalização de juros nos contratos bancários, seja por periodicidade anual, semestral ou mensal, mas somente terá validade se estiver previamente expressa no contrato.

REFERÊNCIAS

BORGES, Valéria. Contratos Bancários. 2016. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/40637/contratos-bancarios. Acesso em: 22/10/2017

BORTOLIN, Marco Aurélio, Previsão contratual é exigida para capitalização de juros em qualquer periodicidade. 2017. Disponível em: http://www.marcobortolin.com.br/var/www/html/marcobortolin.com.br/web/noticias/ite m/66. Acesso em 21/01/2018.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial Nº 1.388.972 - SC. Números Origem: 20110851504 - 436019620128240000. Pauta: 23⁄11⁄2016 Julgado em 23⁄11⁄2016. Relator Exmo. Sr. Ministro Marco Buzzi, Disponível em: https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/437753650/recurso-especial-resp-1388972- sc-2013-0176026-2/inteiro-teor-4ecurso 37753652?ref=juris-tabs. Acesso em 27/01/2018

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça, AgInt no AREsp 1102962 / MG

Agravo Interno no Agravo em Recurso Especial

2017/0114161. Disponível em:

http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?livre=capitalizacao+de+juros&b=A COR&p=true&l=10&i=2. Acesso em 29/01/2018

BRASIL, Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. RS Nº 70076375500 (Nº CNJ: 0002762-52.2018.8.21.7000) 2018/Cível. Disponível em:

http://www1.tjrs.jus.br/site_php/consulta/consulta_processo.php?nome_comarca=Tri bunal+de+Justi%E7a&versao=&versao_fonetica=1&tipo=1&id_comarca=700&num_ processo_mask=70076375500&num_processo=70076375500&codEmenta=761046 9&temIntTeor=true. Acesso em: 26/01/2018

BUZZI, Marco Aurélio, Capitalização anual em mútuo: presunção de incidência ou necessidade de pactuação? 2017. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2017-mar-20/direito-civil-atual-capitalizacao-anual-mutuo- presuncao-incidencia-ou-necessidade-pactuacao. Acesso em 23/01/2018

______. Capitalização anual em mútuo: presunção de incidência ou necessidade de pactuação? 2017. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2017-mar-20/direito- civil-atual-capitalizacao-anual-mutuo-presuncao-incidencia-ou-necessidade-

CANHEDO, Jackeline Couto. Julgamento do recurso repetitivo: por dentro do dia a

dia do STJ. 2017. Disponível em:

http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI256211,101048-

Julgamento+do+recurso+repetitivo+por+dentro+do+dia+a+dia+do+STJ. Acesso em 30/03/2018

CASTRO, Marília Cabral de. Contratos Bancários. 2005. Disponível em: https://mariliaccastro.jusbrasil.com.br/artigos/315408047/contratos-bancarios.

Acesso em: 02/11/2017.

CAVALCANTI, Thainá da Silva. A (des)necessidade de contratação expressa de capitalização de juros. 2012. Disponível em: http://www.gazetadopovo.com.br/vida- publica/justica-direito/a-desnecessidade-de-contratacao-expressa-de-capitalizacao- de-juros-32ai1o0jeqvn5zwh8uxv1i4b2. Acesso em: 04/11/2017

COLLAÇO, Bianca. Particularidades dos contratos bancários: tipos e

obrigações bancárias. 2015. Disponível em:

https://direitodiario.com.br/particularidades-dos-contratos-bancarios-tipos-e- obrigacoes-bancarias. Acesso em: 03/11/2017

CRUZ, Delizaine Oliveira da. Contratos Bancários – Breve Reflexão. 2016 Disponível em: https://delizaine.jusbrasil.com.br/artigos/359236209/contratos- bancarios-breve-reflexao. Acesso em: 21/10/2017.

DALLAGNOL, Deltan Martinazzo. Contratos bancários: conceito, classificação e características. 2002. Disponível em: <http://www.ambito- juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=4608>.

Acesso em: 21/11/2017

FABRIS, Maridiane. Capitalização de juros, em qualquer periodicidade, deve estar expressamente prevista em contrato. 2017. Disponível em: http://jaimedaveigaadvocacia.adv.br/capitalizacao-de-juros-em-qualquer-

periodicidade-deve-estar-expressamente-prevista-em-contrato/. Acesso em 19/01/2018

FERREIRA NETO, Flávio. O contrato de mútuo bancário. 2009. Disponível em: http://judictio.blogspot.com.br/2009/04/o-contrato-de-mutuo-bancario.html. Acesso em: 02/11/2017

MADUREIRA, Marcelo. STJ pacifica questão sobre cobrança de capitalização de juros sem pactuação contratual. 2017. Disponível em: https://mmadureira.jusbrasil.com.br/noticias/432876841/stj-pacifica-questao-sobre- cobranca-de-capitalizacao-de-juros-sem-pactuacao-contratual. Acesso em 16/01/2018

MELO, Gilberto. Previsão contratual é exigida para capitalização de juros em qualquer periodicidade. 2017. Disponível em: http://gilbertomelo.com.br/stj- previsao-contratual-e-exigida-para-capitalizacao-de-juros-em-qualquer-

OLIVEIRA, Bruno Eduardo Araújo Barros de. Limites dos juros remuneratórios

nos contratos bancários. 2014. Disponível em:

https://jus.com.br/artigos/26687/limites-dos-juros-remuneratorios-nos-contratos- bancarios/1. Acesso em 22/11/2017

RIOS, Eduardo Higino. Contratos Bancários. 2015. Disponível em: https://eduhrios.jusbrasil.com.br/artigos/324869950/contratos-bancarios. Acesso em: 19/10/2017

RODRIGUES, Itamar de Souza. Recursos extraordinário e especial repetitivos. 2016. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/51335/recursos-extraordinario-e-especial- repetitivos. Acesso em 31/03/2018

ROMANO, Rogério Tadeu. A capitalização de juros. 2017. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/58375/a-capitalizacao-de-juros. Acesso em: 10/10/2017

RUTHES, Rodrigo. Sem a ciência do consumidor não se pode cobrar juros

capitalizados. 2017. Disponível em: http://editorajotage.com.br/blog/1680- capitalizacao-de-juros-bancarios-somente-com-expressa-previsao-contratual.

Acesso em 15/01/2018

SANTOS, Henrique Carlos Paixao dos. Contratos bancários. 2015. Disponível em: https://henricatzo.jusbrasil.com.br/artigos/241911480/contratos-bancarios. Acesso em: 23/09/2017

SOARES, Gustavo Gomes.Direito Bancário: STJ define que previsão contratual é exigida para capitalização de juros em qualquer periodicidade. Disponível em: https://gustavogomessoares.jusbrasil.com.br/noticias/444647441/direito-bancario-stj- define-que-previsao-contratual-e-exigida-para-capitalizacao-de-juros-em-qualquer- periodicidade. 2017. Acesso em 12/01/2018

VILAR, Alice Saldanha. Capitalização de juros no direito brasileiro: quando é

admitida? 2015. Disponível em:

<https://alice.jusbrasil.com.br/artigos/235944698/capitalizacao-de-juros-no-direito- brasileiro-quando-e-admitida. Acesso em 12/09/2017

WANDERLEY, Maira Cauhi. A autonomia da vontade. 2014. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/34446/a-autonomia-da-vontade. Acesso em: 02/112017

Documentos relacionados