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Esta é uma questão antiga que envolve inúmeras demandas judiciais, estando presente na maioria dos contratos e transações bancárias, fazendo parte do dia a dia dos contratantes. (FABRIS, 2017)

No julgamento do Resp. 1.388.972/SC, no qual foi relator o Ministro Marco Buzzi, discutiu-se a possibilidade da cobrança anual de juros capitalizados independentemente de haver expressa pactuação entre os contratantes, sendo recebido no STJ como o Tema nº 953. (MADUREIRA, 2017)

A utilização de serviços bancários ou de instituições financeiras é cada vez mais frequente e, por vezes necessárias. Muitas contratações ocorrem pela necessidade e urgência, sem a devida e necessária análise das condições e consequências do contrato que se está assinando. (SOARES, 2017)

O caso ocorreu devido a um recurso interposto pelo banco HSBC, o qual questionava a obrigação de haver previsão contratual para a capitalização de juros anual, pois no entendimento do banco, para a cobrança de juros capitalizados nos contratos bancários, não seria necessário haver expressa pactuação. (FABRIS, 2017)

Na origem, a microempresa Usinagens Carneiro Ltda, havia ajuizado ação revisional em contratos de conta corrente, de capital de giro e de crédito com pedido de tutela antecipada de exibição de documentos, em face do Banco HSBC, tendo como objetivo, a revisão do acerto firmado entre os contratantes com a alteração dos encargos cobrados como juros sobre juros, juros remuneratórios, e comissão de permanência, e da decorrente duplicação do indébito nos valores estabelecidos de forma indevida e a maior. (BOROLIN, 2017)

4Art. 927, III - os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos;

Os fundamentos do recurso especial promovido pelo réu, HSBC Bank Brasil S/A consistiu nas teses de que a legitimidade da capitalização anual e mensal de juros caberia independentemente de haver pactuação entre as partes, com argumento de que esta afirmação seria aceita no artigo 4º do Decreto 22.626/33 (Lei de Usura) e artigo 5915 do Código Civil; não sendo possível a repetição de indébito,

tanto na forma simples como em dobro; e na necessidade do afastamento da multa constante do artigo 538, § único6, do Código de Processo Civil de 1973. (VILAR,

2015).

Recurso especial 1.388.972/SC:

EMENTA: RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA - ARTIGO 1036 E SEGUINTES DO

CPC⁄2015 - AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATOS

BANCÁRIOS - PROCEDÊNCIA DA DEMANDA ANTE A

ABUSIVIDADE DE COBRANÇA DE ENCARGOS -

INSURGÊNCIA DA CASA BANCÁRIA VOLTADA À

PRETENSÃO DE COBRANÇA DA CAPITALIZAÇÃO DE JUROS

1. Para fins dos arts. 1036 e seguintes do CPC⁄2015.

1.1 A cobrança de juros capitalizados nos contratos de mútuo é permitida quando houver expressa pactuação.

2. Caso concreto:

2.1 Quanto aos contratos exibidos, a inversão da premissa firmada no acórdão atacado acerca da ausência de pactuação do encargo capitalização de juros em qualquer periodicidade demandaria a reanálise de matéria fática e dos termos dos contratos, providências vedadas nesta esfera recursal extraordinária, em virtude dos óbices contidos nos Enunciados 5 e 7 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça.2.2 Relativamente aos pactos não exibidos, verifica-se ter o Tribunal a quo determinado a sua apresentação, tendo o banco-réu, ora insurgente, deixado de colacionar aos autos os contratos, motivo pelo qual lhe foi aplicada a penalidade constante do artigo 359 do CPC⁄73 (atual 400 do NCPC), sendo tido como verdadeiros os fatos que a autora pretendia provar com a referida documentação, qual seja, não pactuação dos encargos cobrados.

5 Art. 591. Destinando-se o mútuo a fins econômicos, presumem-se devidos juros, os quais, sob pena de redução, não poderão exceder a taxa a que se refere o art. 406, permitida a capitalização anual.

6Art. 538, § único. Quando manifestamente protelatórios os embargos, o juiz ou o tribunal, declarando que o são, c ondenará o embargante a pagar ao embargado multa não excedente de 1% (um por cento) sobre o valor da causa. Na reiteração de embargos protelatórios, a multa é elevada a até 10% (dez por cento), ficando condicionada a interposição de qualquer outro recurso ao depósito do valor respectivo.

2.3 Segundo a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, é possível tanto a compensação de créditos quanto a devolução da quantia paga indevidamente, independentemente de comprovação de erro no pagamento, em obediência ao princípio que veda o enriquecimento ilícito. Inteligência da Súmula 322⁄STJ.

2.4 Embargos de declaração manifestados com notório propósito de prequestionamento não têm caráter protelatório. Inteligência da súmula 98⁄STJ.

2.5 Recurso especial parcialmente provido apenas para afastar a multa imposta pelo Tribunal a quo. (Santa Catarina, 2017)

Embora as inúmeras divergências sobre os distintos capítulos existentes no acórdão, apenas a questão relacionada a não dependência de acordo entre as partes foi aceita como repetitiva, formando assim o Tema 953: “a cobrança de juros capitalizados em periodicidade anual nos contratos de mútuo é permitida quando houver expressa pactuação”. (VILAR, 2015)

Após a configuração das manifestações da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), como amicus curiae, e da Defensoria Pública da União (DPU), bem como de representantes do Ministério Público Federal, o Recurso Especial 1.388.972/SC foi submetido à apreciação da 2ª Seção do Superior Tribunal de Justiça. (VILAR, 2015).

O julgamento do Tema 953 analisou a forma de incorporação dos juros simples ou compostos, também chamados de capitalizados ou juros sobre juros, além de outras denominações. (RUTHES, 2017)

Existia conflito sobre a capitalização de juros, no entendimento das instituições bancárias e financeiras, estes juros poderiam ser cobrados sempre independente do conhecimento do tomador do crédito ou da previsão prévia no contrato. (RUTHES, 2017)

Contudo, após inúmeras discussões judiciais, o entendimento Jurisprudencial foi consolidado e acabou sendo sumulado no ano de 2015, através da ementa nº 539 do STJ. No dia 08 de fevereiro de 2017, a 2ª Seção do STJ, sob a relatoria do Ministro Marco Buzzi, foi julgado o Recurso Especial 1.388.972 em sede de recursos repetitivos. (MELO, 2017)

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