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CAPITULO IV AS POSSIBILIDADES DA POLITICA DE ESPORTE NO BRASIL NUM PERÍODO DE TRANSIÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS

3. CAPITULO II ESPORTE, CONFERÊNCIAS NACIONAIS E LUTA DE CLASSES.

3.4 Os sujeitos envolvidos na política de esporte

3.4.2 Entidades Esportivas: Comitês, Confederações, Federações e Clubes;

Os Comitês

São entidades não-governamentais de direito privado, que devem ser sem fins lucrativos. Compostos por um grupo de dirigentes que em grande proporção são ex- atletas e que se perpetuam no poder por muitos anos. No caso da maior entidade do esporte brasileiro Comitê Olímpico Brasileiro (COB), ligada ao Comitê Olímpico Internacional, o seu atual presidente, Carlos Arthur Nuzman, assumiu pela primeira vez a entidade em 1º de julho de 1995 e desde lá quase 18 anos depois continua no poder até o ano de 2016. O mesmo já tinha sido dirigente da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) por 20 anos, desde 1975 até assumir o COB. Sobre o qual pesam uma série de denúncia. Tais dados demonstram quanto não democrática é a gestão do esporte no país.

Segundo dados retirados do site do COB, Nuzman a frente da entidade,

[...] imprimiu um modelo de gestão profissional à entidade, atraiu patrocinadores para os esportes olímpicos, participou diretamente da criação de leis que hoje são fundamentais para o esporte brasileiro, tais como a Lei Agnelo/Piva e a Lei de Incentivos ao Esporte, e conquistou para o Brasil a sede dos maiores eventos multiesportivos do mundo, como os Jogos Pan-americanos (Rio 2007) e os Jogos Olímpicos (Rio 2016). (COB, 2012)

Dessa forma, Nuzman figura com um dos homens mais influentes do esporte brasileiro, mantendo sobre sua tutela um número significativos de atletas, dos quais falaremos mais adiante, mas que participam do Conselho Nacional de Esporte (CNE) sintonizado com os interesses do COB.

As Confederações e Federações

O modelo implementado pela CBV é bem ilustrativo dos interesses de classe que boa parte das Confederações e Federações defende no âmbito do esporte. A CBV foi fundada em 1954, entidade maior do vôlei brasileiro, é filiada ao COB e à Federação Internacional de Voleibol (FIVB). A instituição é organizada por unidades de negócios,

onde cada estado brasileiro recebe uma competição oficial por ano organizada pela entidade.

Nas características da entidade colocada nos seu site está o de ―possuir finanças equilibradas, não devendo nenhum tributo a qualquer órgão governamental‖. Chegar a soar como ironia, entidade que sobrevive à custa do estado e do povo brasileiro para beneficiar um número muito pequeno de atletas de alto rendimento.

Outro elemento que merece destaque é a estrutura organizacional da CBV que foi aprovado pela (FIVB), servindo de exemplo pro mundo. É uma administração baseada em resultados, comandada por Ary Graça, desde 1997, implementando no ano seguinte a ―Era Empresarial na CBV‖ com implementação das já citadas unidades de negócio, onde ações devem obedecer aos padrões de qualidade exigidos.

Sobre os recursos é bem ilustrativo o que cabe ao COB administrar: as verbas oriundas da Lei Agnelo/Piva, dos patrocinadores e dos convênios firmados com os governos. Segue a arrecadação total bruta, declarada no site do comitê, por ano em milhões de reais: 2001 (R$17,4); 2002 (R$ 50,7); 2003 (R$ 55,8); 2004 (R$ 70,0); 2005 (R$ 70,5); 2006 (R$ 67,4); 2007 (R$ 84,9); 2008(R$ 91.9); 2009 (R$ 113,4); 2010 (R$ 142,7); 2011(R$ 156,9). Fica claro pela evolução anual do montante de recursos que a Lei de Incentivo ao Esporte foi à grande responsável pelo aumento da arrecadação do COB. São muitas verbas destinadas ao esporte para poucos, mais adiante veremos em termos de execução orçamentária para as outras expressões do esporte.

Para Castellan (2010) não podemos falar de campo esportivo se falar das confederações, federações e clubes.

Com imenso poder e prestígio desde o início da institucionalização do esporte nacional, estas estruturas detém muito poder e formam a base do esporte nacional de alto rendimento, do esporte espetáculo, que move a paixão de milhões de pessoas e um volume altíssimo de dinheiro público e privado. São entidades que organizam e mantém as estruturas do esporte nacional, recebem dinheiro público, subsídios fiscais, receita fixa em loterias federais, possuem a maioria dos assentos do Conselho Nacional do Esporte, estabelecem interlocução com dirigentes do Estado, possuem bancada no Congresso Nacional e que ampliaram poder após a escolha do Brasil como sede da Copa do Mundo FIFA 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016.

Apesar de receber tantas benesses do Estado são entidades de direito privado e reconhecidas pela falta de democracia interna e de transparência na gestão. Sobre a falta de gestão democrática nestas entidades, os jornalistas Bruno Doro e Felipe Munhoz publicaram, em abril de 2010, um quadro com o tempo que cada dirigente de Confederação Esportiva permanece nos seus respectivos cargos. Neste

quadro fica patente a necessidade de modificar a forma como o esporte vem sendo gerido no país, principalmente se considerado que muitos recursos públicos são colocados nestas entidades. Segundo a reportagem alguns dirigentes estão há mais de 20 anos à frente de suas entidades, um cargo praticamente vitalício. Os casos mais notáveis são os da Confederação Brasileira de Atletismo, de Desportos Aquáticos, de Futebol e de Handebol, que somados passam dos 108 anos no poder [...].

Os dados citados pela autora foram retirados da reportagem intitulada ―Com quinteto de 108 anos, dirigentes ficam ao menos dois ciclos no Brasil Olímpico‖, publicada no site ―UOL Esporte‖59

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Ainda nesse tópico poderíamos discorrer sobre o papel da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que foi por anos liderada por Ricardo Teixeira, envolvidas em inúmeras denúncias, inclusive com a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI da Nike/CBF) e depois abafada, mas como não é objeto de estudo não iremos nos ater.

Os Clubes60

Os clubes têm sua origem como associações, agremiações, ligadas inicialmente a classe dominante, para reunião de pessoas com interesses comuns, convívio social, lazer, esporte. Porém as características dos clubes foram se modificando ao longo da história.

Hoje para Battaglia (2003), os clubes mesmo que amadores inserem-se no mercado em crescimento, gerando empregos diretos e indiretos. Além de gestão técnica de aportes financeiros advindos de patrocinadores, os clubes devem aprimorar sempre os serviços oferecidos aos sócios, voltados ao esporte, lazer, cultura e convivência social, para atender às demandas dos associados cada vez mais exigentes.

Podemos compreender ainda os clubes e seus dirigentes, como parte do mesmo sistema de entidades esportivas (Confederações e Federações). Contudo os grandes clubes mais funcionam como uma empresa com fins lucrativos, o que as mudanças pretendidas pelo artigo 27 da Lei Pelé (Lei Nº 9.615/98) queriam legalizar e que

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Dos repórteres Bruno Doro e Felipe Munhoz. Disponível em http://esporte.uol.com.br/ultimas- noticias/2010/04/27/com-quinteto-de-108-anos-dirigentes-ficam-ao-menos-dois-ciclos-no-brasil-

olimpico.jhtm Acesso em 12 de dezembro de 2012.

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Vale frisar a dificuldade de encontrar trabalhos científicos que tratem do tema numa dimensão sociológica ou histórica mais ampla. Apontamos a necessidade de mais estudos sobre a temática.

alterações ocorridas pela Lei nº 9.981/2000 não permitiram, deixando-se facultativa a natureza jurídica dos clubes para que possam continuar como associações.