• Nenhum resultado encontrado

CAPITULO IV AS POSSIBILIDADES DA POLITICA DE ESPORTE NO BRASIL NUM PERÍODO DE TRANSIÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS

3. CAPITULO II ESPORTE, CONFERÊNCIAS NACIONAIS E LUTA DE CLASSES.

3.3 O Ministério do Esporte

O ME foi criado no ano de 2003, logo após a eleição de Luís Inácio Lula da Silva, com uma característica mais de gestão do que formulação e manutenção da política de esporte. Na lógica imperativa da divisão, rateio, das pastas e cargos com a dita base aliada, o presidente entrega a gestão do ME ao PC do B, aliado histórico do PT e que compõem diversos governos estaduais e municipais juntos.

52 Podemos resumir que a Frente Única (FU) consiste em encontrar o caminho de unificar a massa

trabalhadora (divida em partidos, organizações diferentes) em prol dos seus interesses, necessidades, reivindicações, para agir unificada na luta de classes contra a burguesia.

53 Lula ganhou a primeira eleição sem o apoio do PMDB, partido que para reeleição de Lula e a eleição

de Dilma passaram a ser parceiro de primeira ordem. O PT foi construído na luta contra esse partido e os demais representantes da burguesia. Para quando chegar ao poder ter que tê-los como aliados?

O PC do B assume o Ministério e fica à frente de duas das três secretarias, a Secretaria Nacional de Alto Rendimento (SNEAR) e Secretaria Nacional de Esporte Educacional (SNEE). A outra secretaria, a Secretaria Nacional de Desenvolvimento do Esporte e Lazer (SNDEL) é ocupada pelo PT por seus intelectuais ligados à área da Educação Física e com experiência em gestão na área de esporte e lazer. Segundo Castellan (2010),

[...] o PT possuía à época um setorial nacional de Esporte e Lazer, fundado em 1998. Antes mesmo de possuir um Setorial de Esporte e Lazer, o Partido dos Trabalhadores já tinha alguma formulação sistematizada sobre o tema, pelo menos desde 1992, quando o partido publica o caderno ―O Modo Petista de Governar‖ (Secretaria Nacional de Assuntos Institucionais do PT, 1992), com um capítulo intitulado ―Direito ao ócio‖.

O grupo do PT era um grupo experiente e progressista, porém ficou isolado na SNDEL, dentro do ministério que foi entregue ao aliado PC do B ―em troca de apoio a um governo majoritariamente, mas não hegemonicamente, petista‖ (CASTELLAN, 2010, p. 29). Vale salientar que o PC do B era um partido sem acúmulo na área do Esporte.

Na tentativa de justificar as decisões do governo Lula de entregar o setor do esporte nas mãos do PC do B, mais uma vez surgem os argumentos ligados a concepção de governabilidade e de inevitabilidade da divisão dos ministérios e cargos ser do jeito que foi e é, corriqueiramente, no Brasil.

Segundo Castellani Filho (2007), o PC do B para manter-se nas estruturas do ME e fazer oposição ao grupo que poderia ser um empecilho, passou a contar com o apoio dos setores mais conservadores do esporte brasileiro, como a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e Comitê Olímpico Brasileiro (COB).

É preciso observar também que não houve um movimento por dentro do PT amplo, democrático, que poderia ter sido puxado por esse grupo, chamado por Castellan (2010) de experiente e progressista, e que daria força ao conjunto dos petistas para exigir outros rumos na política de esporte, o que ocorreu foi uma disputa estéril por dentro do próprio setorial de esporte do PT. Os problemas internos do PT e a disputa com o PC do B limitou-se a uma ―briga‖ interna dentro do próprio Ministério e nas Conferências, distante de uma articulação maior com os movimentos sociais, sindicais e da juventude e de suas reivindicações. Em certa medida, os petistas no Ministério abriram mão de ter um posicionamento político mais crítico ao governo e optaram pelo

distanciamento das lutas – do Movimento Estudantil de Educação Física e do Movimento Nacional Contra Regulamentação – contra a divisão da área de Educação Física (Licenciatura e Bacharelado) e contra a regulamentação da profissão de Educação Física, optando pela negociação e o consenso por dentro das conferências, como veremos mais adiante, e nas instâncias governamentais.

Tal análise não desmerece a importância das contribuições feitas pelos petistas, passível de ser verificada, principalmente, no tema e texto-base da I CNE e no documento a Política Nacional de Esporte do Conselho Nacional de Esporte, aprovado em 2005, mas que não saíram do papel frente às demandas e prioridades do governo Lula/Dilma de sediar os megaeventos esportivos e patrocinar os interesses do capital.

O grupo petista que compunha a SNDEL até início de 2006 foi o setor do ME que teve condições de fazer disputa clara de concepção, expressa nos documentos da época. Era o grupo reconhecidamente com maior propriedade dentro do ME para debater e propor políticas públicas contra-hegemônicas de esporte e lazer. O grupo sai da Secretaria no início de 2006, sendo substituído por outros quadros petistas com menos legitimidade interna no partido do que o grupo anterior, apesar de contar com intelectuais da área de esporte e lazer e pessoas com experiência em gestão na área. A mudança ocorrida dentro da SNDEL se reflete nos documentos da área que não apresentam mais tensionamentos ou debates aprofundados. A fração contra-hegemônica perde força nas estruturas internas do ME com a alteração dos quadros desta secretaria. Cada uma destas três secretarias possuía pelo menos um programa inscrito no Plano Plurianual 2004-2007. Os principais programas de cada secretaria (em volume de recursos públicos aplicados) são:- Brasil no Esporte de Alto Rendimento e Rumo ao Pan 2007(Secretaria de Alto Rendimento); - Segundo Tempo (Secretaria de Esporte Educacional);- Programa Esporte e Lazer da Cidade (Secretaria de Desenvolvimento de Esporte e Lazer). (CASTELLAN, 2010, p. 30)

A justificativa apresentada para a perda de forças da ―fração contra-hegemônica‖ do grupo petista no ME, fundamenta-se apenas pela alteração dos quadros dessa secretaria que não teriam a legitimidade interna no PT e a mesma capacidade do grupo anterior. Cabe aqui um parêntese: ―Como é que o grupo foi indicado para substituir o grupo anterior se não tinha legitimidade?‖. O PT foi, paulatinamente, sufocando os seus setoriais, os espaços coletivos de discussão, e ambos os grupos não tiveram força (ou interesse) para fortalecê-lo jogando o campo da ―legitimidade‖ para proximidade do poder.

As análises de Castellan (2010), muitas com base nas entrevistas realizadas para pesquisa, entre elas a feita com o professor Lino Castellani e outros gestores do período do ME, caem numa análise da micro-política sem estabelecer nexos e relações com as mudanças ocorridas no âmbito mais geral da política do governo Lula e dos interesses de classe em disputa.

Não é possível responsabilizar apenas o PC do B, nem o novo grupo petista à frente da SNDEL a partir de 2006 pela derrota das propostas contra-hegemônicas, a própria aplicação de recursos, inclusive de outros ministérios para favorecer o esporte de alto rendimento, desde o início do governo, os megaeventos esportivos a partir da metade do primeiro mandato, a Lei de Incentivo ao Esporte, Bolsa-atleta, entre outros exemplos, demonstram que estávamos perdendo há muito tempo de 10 X 0 para os interesses setores do reacionários e privatizantes do esporte, mesmo que o discurso de democratização do acesso e participação popular estejam expressos até hoje nos documentos do ME.

Passaremos a tratar separadamente dos sujeitos que fazem parte dessa arena do esporte brasileiro.