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Dentre as várias definições possíveis de desenvolvimento, uma das mais professadas foi cunhada pelo economista indiano Amartya Sen. Para ele, desenvolvimento requer a expansão das liberdades de escolha – que, por sua vez, exigem não apenas a possibilidade de fazer uma escolha (ou seja, ela estar disponível),

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como também ter a capacidade de refletir a respeito do que se quer escolher, ao invés de escolher o que os outros (a mídia, a opinião pública, a crítica especializada) nos levam a querer.

Essa questão se reflete na política (não apenas poder votar, mas votar de forma consciente), no consumo (não apenas ter dinheiro e acesso aos produtos e serviços que se quer consumir, mas consumi-los de modo consciente) e também na esfera cultural. Ora, como podemos falar de desenvolvimento cultural, se nos deparamos com tantos gargalos na cadeia econômica da cultura? Como podemos defender a liberdade de escolhas, diante de concentração tão acirrada da circulação de bens e serviços culturais, de um peso mediático excessivo, da falta de acesso pela simples inexistência de equipamentos culturais básicos (cinema, teatro, salas de concerto) na maioria absoluta dos municípios brasileiros. Em última instância, como podemos defender o desenvolvimento cultural, se tantos de nossos talentos acabam não se dedicando à cultura como profissão, pela impossibilidade de sobreviverem financeiramente disso?

É exatamente a fortalecer a liberdade de escolhas das pessoas que atuam na esfera cultural e a concretizar o potencial econômico da produção cultural, que se dedica a economia da cultura. Ela oferece elementos que explicitam a análise das relações econômicas da cultura, destrincha os gargalos das cadeias econômicas dos bens e serviços culturais e utiliza mecanismos de remuneração e acesso a bens e serviços culturais,

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que envolvem os direitos de propriedade intelectual , para mencionar apenas alguns aspectos. Disciplina nova no Brasil mas existente no mundo desde a década de 1960, a economia da

cultura apresenta enorme potencial para facilitar o atingimento dos objetivos de política pública – não apenas cultural, mas de desenvolvimento.

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Entre as diversas possibilidades de tratamento do tema proposto, aliás, conceitualmente ainda pouco desenvolvido, o enfoque central pretende contextuar esta discussão no novo cenário que a maior parte do mundo vive, hoje, no novo padrão de desenvolvimento do processo democrático, que exige cada vez mais transparência, e por isso, maior nitidez da identidade que é a diversidade. Isto redesenha o cenário mundial, colocando no centro a potencialidade dos assim chamados países em desenvolvimento.

O enfoque em pauta caracteriza-se pelos aspectos – impactos da economia da cultura na gestão pública, com ênfase nos dois últimos mandatos do Ministério da Cultura do Brasil.

A inversão (revolução) que ocorre hoje, no Brasil, no campo de gestão territorial, isto é, da interação e integração dos entes federados, Município, Estado e União, sintomatizando, de umlado, o avanço na construção de uma nova política pública decultura, incentivada, especialmente, pelo MinC, no governo Lula, que acredita na participação da sociedade, quando direito e É outra – e é nova – a visão que o Estado brasileiro tem, hoje, de cultura. Para nós, a cultura está revestida de um papel estratégico, no sentido da construção de um país socialmente mais justo e de nossa afirmação soberana no mundo(...) Ou seja, encaramos a cultura em todas as suas dimensões, da simbólica à econômica.

Luiz Inácio Lula da Silva

Presidente da República

INTRODUÇÃO E CONTEXTO

Adair Rocha

ECONOMIA DA CULTURA E

DESENVOLVIMENTO

I

acesso são pressupostos da política pública e de uma política cultural, calcada nos esteios da representação simbólica, da cidadania e da economia. De outro lado, a resposta positiva de estados e municípios que vêm entendendo a cultura como sistema de representação pública, isto é, tudo que adquire significação passa pelo estatuto da cultura, que se desdobra na seleção pública, por sua vez um instrumento de escolha dos melhores projetos e iniciativas para promover o desenvolvimento econômico, social e cultural de uma população específica.

Ele possibilita também o maior conhecimento e aproximação de pessoas, instituições e entidades com objetivos comuns, ao mesmo tempo em que incentiva e possibilita a descentralização de investimentos. De quebra, elimina a prática do balcão no serviço público, ao ampliar o acesso a partir do pressuposto do direito, com regras claras e critérios de avaliação divulgados previamente, com inscrição aberta a todos, com objeto específico e presença de comissão de seleção.

Estimulam-se, assim, a criatividade, a diversidade, e o protagonismo dos agentes culturais, fortalecendo o diálogo entre Estado e sociedade civil, dando portanto ao Estado a possibilidade de cumprir e descobrir o seu papel.

Enquanto se constrói uma política cultural para o Brasil, desbanca-se, na mesma dimensão, a cultura reduzida ao papel de apenas evento.

Naturalmente, isso requer tratamento minucioso e rigoroso dos instrumentos legais, portanto, reguladores da estrutura institucional que deve criar condições de valorização da cultura; não algo que se reduz apenas a sintomas do mercado, mas como processo cultural, político e econômico que dá

significado às relações complexas, contraditórias ou lineares que geram significação a cada ato de labor, de criação, invenção, representativo da vontade e da preferência diversa, plural e cidadã da população brasileira e mundial.

Portanto, estudar e entender a economia da cultura como estratégia para o desenvolvimento requer, cada vez mais, definir orçamentos e regulação das suas ampliações, sejam via fundos (Municipal, Estadual e Federal) de cultura, ou por diferentes formas de incentivo, como motor da economia e não somente como agregador de valor. Insere-se aqui a necessidade de Reforma da Lei Rouanet, em curso no Brasil, num debate amplo e bem sucedido, após consultas públicas e discussões com absorção de novas propostas do projeto.

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