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Entraves e facilidades à execução dos projectos

Falta de apoio do corpo docente e comunidade escolar

Bruno, do projecto Rádio e TV nas Escolas, fala da falta de apoio de alguns professores:

“por exemplo o ano passado tivemos de parar de pôr música por- que os professores não gostavam de ouvir música nos intervalos porque fazia muito barulho. Depois voltámos a pôr música, por- que conseguimos convencer esses professores, mas só podíamos pôr um determinado tipo de música (...) se calhar podíamos fa- zer muito mais coisas nesse ano [mas] nem sequer pensámos em fazer um programa porque não podíamos passar coisas na rádio, e isso vai-nos impedindo um pouco de ir mais além e tentar evo- luir”.

Este problema é igualmente apontado por João, do mesmo projecto, que faz referência à falta de apoio e de incentivo por parte dos professores à rádio da escola, das queixas sobre o barulho e sobre as escolhas musicais: “A escola está toda equipada com sistema de som em certos pontos, desde o bar de alu- nos, sala de professores, secretaria, até na própria direcção e o que é que nós nos apercebemos? Que esse sistema de som está constantemente desligado”. Assim, a falta de apoio por parte do corpo docente inviabiliza grande parte dos objectivos destes projectos uma vez que limita a acção e a liberdade dos jovens e coloca entraves ao progresso.

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Financiamento e apoio técnico por parte de entidades exteriores aos projectos

O financiamento e, por sua vez, a existência de programas e iniciativas que permitam a integração deste tipo de projectos na área da educação para os me- diasão a base de crescimento e disseminação dos projectos que, sem qualquer tipo de apoio financeiro, não têm capacidade de implementação.

Como facilidades para a realização do RadioActive, podemos referir o financiamento por parte do programa Lifelong Learning da Comissão Euro- peia, e do programa Escolhas aos centros de jovens, e ainda a capacidade de liderança de alguns jovens que se constituem como ‘peças’ fundamentais no desenvolvimento das actividades e no investimento na formação dos jovens do centro.

A professora Rosário, quando se fala em apoio financeiro, começa por di- zer que a rádio só existe devido à iniciativa da Câmara Municipal de Cascais, explicando: “São eles que nos apoiam, quer a nível financeiro, e isso é impor- tante, mas a nível técnico também têm uma equipa que vem às escolas e que nos apoia e que nos aconselha em determinados aspectos”.

Sustentabilidade dos projectos

Cabe aqui fazer referência a um dos maiores entraves que pauta estes projec- tos de rádio escolar – a sustentabilidade – como refere João Silva da Geração C: “Muitas vezes, uma das dificuldades que nós temos passa pelas equipas e pelos professores, é muito difícil contornar essa barreia (...) a tendência é que os professores cada vez tenham menos tempo para acompanhar as equipas, isso é muito complicado de gerir”. Perante este ponto de vista, é essencial ultrapassar a questão de renovação de alunos e professores que fazem com que os projectos nunca tenham uma continuidade e, deste modo, não atinjam o nível de desenvolvimento expectável. Esta questão pode ser ultrapassada através da formação de alunos cada vez mais novos para que, posteriormente, possam eles também formar outros colegas. Outra solução viável é a elabo- ração de manuais, por parte dos alunos, que permitam às novas equipas uma aprendizagem coesa. Em relação aos professores, é importante fomentar um espírito de abertura que lhes permita ver que a educação para os media não é um assunto marginal à realidade da escola e da educação.

Potencialidades educativas da rádio em ambiente digital 147

Conclusão

A familiarização dos mais novos com as práticas associadas à educação para os media torna-se favorável e fundamental para a construção de um meio de “iniciação à política e consciencialização do mediatismo e das práticas de valores democráticos, através da produção de media” (Gonnet, 2007 cit. por Silveira, 2011: 798).

Relativamente às competências, podemos apontar como valências do uso educacional da rádio a aquisição de técnicas e ferramentas provenientes dos programas que utilizam; a aprendizagem, muitas vezes, é de cariz autodidacta e daí surge a formação de jovens estimulados e com espírito de sacrifício; a entreajuda e o espírito de equipa que contribui para o empoderamento da rela- ção entre os jovens, colegas e comunidade; a motivação e satisfação fruto da visibilidade que os projectos proporcionam ao seu trabalho; e a aquisição de conhecimentos na área dos media que lhes permite a elaboração de entrevis- tas, de reportagens ou de notícias que ajudam a desenvolver capacidades orais e expressivas associadas à prática jornalística em rádio.

No que diz respeito aos entraves a este tipo de projectos, não são de ne- gligenciar as questões de sustentabilidade e continuidade e do apoio técnico e financeiro. A escola e o próprio corpo docente ainda se encontram reticentes ao investimento na educação para os media, prejudicando o desenvolvimento deste tipo de projectos. A falta de apoio e participação dos professores, a falta de liberdade para a escolha dos conteúdos, que são seleccionados pela direc- ção da escola ou por entidades que trabalham em parceria com a rádio, ou a falta de motivação que, muitas vezes, afecta os jovens por não se tratarem de temas do seu interesse ou por problemas de concentração e empenho, são factores que importa aperfeiçoar.

Relativamente ao financiamento destes projectos, este pode ser também entendido como um entrave, uma vez que seria necessário que fosse superior e por um maior espaço de tempo, pois torna-se impossível obter resultados sem uma formação e aprendizagem mais prolongadas. O interesse e envolvi- mento dos professores neste tipo de projectos seriam essenciais para que se assegurasse a sustentabilidade dos mesmos.

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Bibliografia

Carias, L.; Cilião, M. & Maia, A. (2012). Nas ondas da antena 23: A rádio escola e as suas interferências na formação dos alunos do Colégio de Aplicação João XXII. In: 17º Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Ouro Preto.

Gonnet, J. (2007). Educação para os media: As controvérsias fecundas. Porto: Porto Editora.

Leal, S. (2010). Encontros com a rádio: Um espaço de cidadania e trabalho com o oral e o escrito na escola. In: 2º Encontro Nacional Os Mass Media e a Escola – Ondas Rádio. Ponta Delgada.

Pereira, S.; Pinto, M.; Madureira, E.J.; Pombo, T. & Guedes, M. (2014). Re- ferencial de educação para os media para a educação pré-escolar, o ensino básico e o ensino secundário. Lisboa: Ministério da Educação e Ciência.

Silveira, A. (2011). A educação para os media: Uma abordagem teórica acerca do conceito e da sua aplicação no contexto educativo. In: Ac- tas do 1º Congresso Nacional “Literacia, Media e Cidadania”. Braga, Março 2011, Centro de estudos de Comunicação e Sociedade, Universi- dade do Minho.

14. A rádio, o som e a infância – o relato de

experiências de programas de rádio elaborados por