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A Rede das Escolas Associadas da UNESCO: Cooperação com as escolas da CPLP

do Programa Escolhas

8. A Rede das Escolas Associadas da UNESCO: Cooperação com as escolas da CPLP

Fátima Claudino

“Que a difusão da cultura e a educação da humanidade para a justiça, a liberdade e a paz são indispensáveis à dignidade humana e constituem um dever sagrado que todas as nações devem cumprir com espírito de assistência mútua”1.

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) considera que a educação oferece respostas para muitos dos pro- blemas que a Humanidade enfrenta, e a educação é manifestamente a maneira eficaz de lutar contra a pobreza para a construção de uma cultura de paz. Pro- mover a educação como um direito fundamental, melhorar a sua qualidade e estimular a experimentação, a inovação e o diálogo são os três objetivos es- tratégicos desenvolvidos pela UNESCO, no âmbito educativo. A missão da UNESCO no âmbito da cooperação internacional permanece atual na sua po- livalência de atuação. Estimula e dissemina, aproxima os povos e motiva para a partilha do conhecimento, contribuindo através da educação para o aumento da solidariedade e da compreensão internacional.

A criação da Rede das Escolas Associadas da UNESCO foi aprovada pela Conferência Geral da UNESCO na sua 7ª sessão, realizada em 1952, e lançada posteriormente em 1953. Atualmente com perto de 10.000 estabelecimentos de ensino espalhados em 181 Estados-membros, e 74 em Portugal, prossegue de forma ativa o ideário e os princípios estabelecidos no Ato Constitutivo da UNESCO. A educação e as escolas associadas constituem áreas privilegia- das de promoção e de expansão de uma educação de qualidade como direito fundamental da pessoa humana e no diálogo entre os cidadãos, numa busca incessante de excelência, de valores e de ética.

A principal missão de uma escola associada da UNESCO é a de fomen- tar a cooperação internacional e a paz, e, no âmbito nacional, a de importar

1Ato constitutivo da UNESCO, 16 de novembro de 1945, Preâmbulo, Artigo 1 – Finalidades

e funções.

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inovações e boas práticas e as dinamizar no sistema educativo bem como di- fundir os resultados obtidos pelas suas congéneres nacionais e internacionais. Estas escolas, inseridas numa comunidade educativa alargada a outros estabe- lecimentos de ensino, comprometem-se a promover e a partilhar os ideais da UNESCO.

Escreveu Jacques Delors que “À educação cabe fornecer, de algum modo, os mapas de um mundo complexo e constantemente agitado e, ao mesmo tempo, a bússola que permite navegar através dele” (Delors, 1999). Delors aponta como inultrapassável a existência, na sociedade do conhecimento, da necessidade de uma aprendizagem ao longo da vida, fundamentada em qua- tro pilares, inseridos numa formação continuada: aprender a ser, aprender a conhecer, aprender a fazer e aprender a viver juntos.

Uma educação de qualidade prepara os alunos com competências de lite- racia para a vida. Assim, é fundamental o papel dos professores dos países da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) no desenvolvimento de competências dos seus alunos na construção de um futuro sustentável, e no agir com as comunidades locais, numa consciência de cidadania global e em parceria – aprender a viver juntos –, como sustentado no relatório Delors.

Encontramo-nos a celebrar a Década Internacional para a Aproximação de Culturas (2013-2022), com o firme propósito de promover a compreensão e o respeito pela diversidade, os direitos, igual dignidade entre os povos através do diálogo intercultural e iniciativas concretas onde o diálogo internacional atua como ferramenta fundamental para a construção da paz e o desenvolvi- mento sustentável, o desenvolvimento de uma consciência global universal, baseado no diálogo e na cooperação em ambiente de compressão mútua. As escolas associadas da UNESCO pretendem cumprir esta missão, mediante a inovação pedagógica, a melhoria dos processos de aprendizagem e a coopera- ção internacional.

No âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio, pós 2015, as Nações Unidas consideram fundamental a existência de uma maior promoção, estímulo e incentivo para a realização de parcerias e cooperação internacional. Também no objetivo estratégico da UNESCO se encontra o trabalho realizado em prol de uma educação inclusiva, como

“um processo de grande importância que procura responder às diver- sas necessidades de todos os estudantes através de práticas inclusivas a

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nível da aprendizagem, das culturas, da comunidade, e que reduz a ex- clusão na educação (. . . ), as escolas devem reconhecer e responder às diversas necessidades dos alunos, atendendo aos seus diferentes estilos, bem como ao seu ritmo de aprendizagem. Devem também assegurar a qualidade da educação para todos através de um currículo apropriado, adaptações institucionais, estratégias de ensino, aproveitamento de re- cursos e protocolos com as suas comunidades” (UNESCO, Declaração de Salamanca).

A Rede das escolas associadas da UNESCO em Portugal compõe-se de um universo de 74 escolas (desde o ensino pré-primário ao ensino superior, passando pelos Centros de Formação de Professores e escolas profissionais), em Portugal Continental, e Ilhas. Porque a cooperação no âmbito da CPLP é fundamental no fortalecimento das áreas de atuação da UNESCO, a quase totalidade destas escolas mantém parcerias e trabalho de colaboração, nome- adamente com as escolas destes países. A presença de alunos oriundos de ou- tras nacionalidades, especialmente originários da CPLP, é muito expressiva. Grande parte das escolas da Rede em Portugal recebem alunos provenientes de mais de quatro dezenas de nacionalidades diferentes. O papel fundamental que a escola desempenha enquanto espaço de integração social é crucial para o desenvolvimento de aptidões curriculares e afetivas no meio escolar, tanto mais que se considera que a diversidade cultural é por si enriquecedora para o conhecimento do outro.

São vários os projetos que se encontram a ser implementados na Rede, no âmbito das áreas de atuação da UNESCO e que são dinamizados em parceria em escolas de países de língua portuguesa. De entre eles, o Kit Educativo “O Património Mundial nas Mãos dos Jovens”, que se destina a auxiliar os professores e formadores na missão de salvaguardar o património, tomando como ponto de partida e exemplo a Convenção para a Proteção do Patrimó- nio Mundial, Cultural e Natural, e os bens inscritos na Lista do Património Mundial da UNESCO.

O Kit Educativo “Património Cultural Subaquático” (PCS) é um projeto que tem como principal objetivo sensibilizar para o significado de preservar o PCS, conhecer a Convenção 2001 da UNESCO sobre a proteção do patrimó- nio cultural subaquático, e estimular atividades que fomentem a participação

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ativa e cívica na vida comunitária, partilhar e disseminar boas práticas no âm- bito da preservação do património.

Foi experimentado, em 2010/11, numa escola portuguesa da Rede e pos- teriormente oficialmente lançado, com o apoio da UNESCO, em 2012, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

No mesmo ano, após a realização de ação de formação levada a cabo pela signatária junto das escolas associadas da UNESCO, na Cidade da Praia, uma escola da Cidade Velha – a primeira escola do espaço lusófono a trabalhar esta temática, no âmbito educativo – candidatou-se à Rede de escolas associadas com um projeto baseado neste Kit Educativo. No corrente ano letivo foi ob- jeto de uma ação de formação pioneira, intitulada: “O Mar é o maior Museu do mundo”, levada a efeito num centro de formação de professores também pertencente à Rede de escolas associadas da UNESCO. Com esta ação de for- mação pretendeu-se que os professores trabalhassem esta temática em sala de aula, no âmbito do programa curricular de alunos desde o 1º ciclo ao ensino secundário.

Em 2015, está previsto o lançamento pela UNESCO de um Kit Educativo, uma brochura para crianças e o lançamento de um concurso internacional, no âmbito da Evocação do 1º Centenário da 1ª Guerra Mundial 2014-18. É recomendada pela Organização a dinamização de eventos de evocação ao pa- trimónio cultural submerso – que a partir de 2014 passa a estar protegido pela Convenção 2001 da UNESCO. É também sugerida a preparação de atividades de sensibilização que levem a consciencializar para os aspetos humanitários do conflito, prevenir e defender da pilhagem e a exploração comercial dos sí- tios, a fomentar relações pacíficas e de compreensão cultural e a preparação de propostas de atividades diversas, especialmente no âmbito das escolas as- sociadas da UNESCO. Uma escola da Rede portuguesa criou um blogue2que

servirá de repositório de todas as atividades e projetos levados a cabo pela Rede das escolas associadas da UNESCO de Portugal e de países de língua portuguesa que entretanto já se associaram a este projeto.

A Rede continua a dinamizar o projeto educativo no âmbito da Rota Tran- satlântica do Escravo “Quebrar o Silêncio”. A Conferência Geral da UNESCO aprovou, em 1993, o lançamento deste projeto que foi oficializado em 1994, em Oudah, no Benin. Trata-se de um projeto intersectorial e transdisciplinar

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da UNESCO, que se encontra ligado a todos os domínios de competência da Organização. O setor da educação da UNESCO, através da Unidade de Co- ordenação da Rede das Escolas Associadas, é responsável pelo programa, em relação com a Divisão do Diálogo Intercultural.

Pretende-se promover as atividades culturais, artísticas e as manifesta- ções espirituais nascidas nas interações do comércio negreiro nas Américas e no Caribe e as tradições africanas, ou seja, o património comum e mate- rial dos povos africanos, ameríndios e europeus e que o comércio negreiro levou à existência de sociedades plurais. Quebrar o silêncio sobre a tragédia do tráfico de escravos e contribuir, através da realização de trabalhos cientí- ficos multidisciplinares, para uma melhor compreensão dessa tragédia, suas causas profundas, suas problemáticas e suas modalidades de operação. Con- tribuir com a cultura da paz e a coexistência pacífica dos povos, promovendo a reflexão sobre o pluralismo cultural, a construção de novas identidades e cidadanias, e o diálogo intercultural. As escolas interagem entre si na partilha de trabalhos, investigação, trocas de experiências e exposições itinerantes.

Prevê-se que em 2015 seja lançado o Kit Educativo “Educar para a Água”, onde é proposto proceder à elaboração de um quadro de valores partilhados entre a Rede das Escolas Associadas dos países dos PALOP, e no âmbito das Comissões Nacionais da UNESCO, para o fortalecimento de uma educação de qualidade nas competências interculturais e no fomento do diálogo e na partilha de experiências e de projetos para o desenvolvimento sustentável, ou seja, promover e incentivar a troca de experiências e boas práticas no domí- nio da formação e da aprendizagem. A água é essencial à vida – à terra e sua sustentabilidade, ao corpo humano. A gestão dos recursos hídricos é um problema nacional, mas que deve ser uma responsabilidade de cada um e de todos.

Em 2015, a UNESCO celebra o 10º aniversário da Convenção sobre a Pro- teção e a Promoção das Expressões Culturais, especificamente na semana de 18 a 22 de maio. Nesta semana, a Rede das escolas associadas, em articulação com a rede das bibliotecas associadas, promoverão iniciativas de educação e sensibilização do público, propiciando programas educativos, de formação e de intercâmbios no domínio das indústrias culturais, respeitando as formas de produção tradicionais, tal como proferido na Convenção. A 21 de maio é celebrado o Dia Mundial da Diversidade Cultural.

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Na persecução destes projetos, o professor possui também a oportunidade de aperfeiçoar métodos de ensino, aplicar materiais inovadores, e fazer da escola um laboratório de ideias, que partilhará com o mundo.

Mas as escolas da Rede das Escolas Associadas da UNESCO também dinamizam projetos em outras áreas de atuação da UNESCO: grande parte fazem parte da Rede Eco-Escolas – programa internacional que pretende en- corajar ações e reconhecer o trabalho de qualidade desenvolvido pela escola, no âmbito da Educação Ambiental. Este Programa desenvolvido em Portugal desde 1996, fornece a metodologia, formação, materiais pedagógicos, apoio e enquadramento ao trabalho desenvolvido pela escola. Ao transpor este projeto de cariz ambiental e de cidadania para outras realidades, encontramos o com- bate à desertificação e no âmbito de uma educação para o desenvolvimento sustentável, estão escolas portuguesas a trabalhar em parceria com escolas da CPLP – “descobrir” as diferentes realidades de desertificação em cada país.

A Comissão Nacional da UNESCO promove, todos os anos, encontros nacionais das escolas associadas em diferentes cidades do país. São também convidados a participar professores e os responsáveis pela Rede das escolas associadas dos países lusófonos. Este Encontro é um tempo e um espaço de- dicados à partilha e troca de experiências e realização de parcerias. O trabalho cooperativo é reforçado e os laços são fortalecidos. As dinâmicas são revigo- radas entre os países e sempre a certeza existente de que todos os participantes regressam às suas escolas com muito mais para partilhar e oferecer às comu- nidades educativas onde estão inseridos.

A UNESCO é a única Organização das Nações Unidas especializada em educação. A Rede das Escolas Associadas da UNESCO insere-se profunda- mente no espírito da UNESCO. Os educadores que trabalham com a Organi- zação têm produzido novos debates, ideias e sugestões relativamente à educa- ção dos jovens no âmbito da compreensão e da cooperação internacional. Ao mesmo tempo que identifica e difunde os exemplos de uma educação de quali- dade, chama a atenção para os quatro temas de trabalho inspiradores da Rede: o papel do Sistema das Nações Unidas; a educação para um desenvolvimento sustentável; a paz e os direitos humanos; e a aprendizagem intercultural. Afi- nal, os temas aglutinadores dos projetos que as escolas dinamizam.

Desde a sua constituição em 16 de novembro de 1945, após a humani- dade ter assistido à mais devastadora guerra da história, foi do consenso geral que a solidariedade humana seria encontrada através da aproximação entre as

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comunidades humanas unidas em torno do lema: “As guerras começam na mente dos homens, é na mente dos homens que os baluartes da paz devem ser construídos”.

Referências

ABAE (s.d.) Eco-escolas. Consultado em www.abae.pt a 16 de outubro de 2014.

Delors, J. (1999). Educação, um tesouro a descobrir. Relatório para a UNESCO da Comissão Interministerial sobre Educação para o Século XXI. Porto: Edições Asa.

Declaração de Salamanca e Enquadramento da Acção na área das necessi- dades educativas especiais, in Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais: Acesso e Qualidade, Salamanca, Espanha, 7-10 de junho de 1994.

Legal Texts of National Commissions for UNESCO: Article VII of UNES- CO’s constitution, the charter of national commissions for UNESCO and the relevant resolutions of the general conference adopted since 1978. UN (s.d.) United Nations. Consultado em www.un.org a 16 de outubro de

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