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O ano de 1929 ficou marcado na história da Associação dos Funcionários de Bancos do Estado de São Paulo pelo início, no âmbito da Câmara Municipal, da busca pelo seu reconhecimento como sendo uma instituição de utilidade pública. Houve ainda a fundação dos cursos de contabilidade e línguas, de uma sucursal em Santos e da Liga Bancaria de Esportes Atheticos. Como já explicitado no capítulo anterior, a L.B.E.A. foi fundada sob patrocínio da Associação, para organizar o campeonato de futebol de clubes formados por funcionários de bancos e casas bancárias. Os jogadores não precisavam ser filiados à Associação para tomarem parte nos campeonatos, o que pode indicar que, ao contrário do que acontecia em outros contextos – como o da juventude comunista do Rio de Janeiro dos anos 1930102 ou da Inglaterra com a British Workers’ Sports Federation (BWSP)103 – não havia nesse momento uma tentativa explícita de arregimentar sócios para a Associação através da prática esportiva.

No plano nacional as transformações políticas ocorridas durante a década de 1920 ajudam a compreender o momento pelo qual o país passava. Era uma fase de transição política que se concretizaria a partir do movimento de 1930. Aconteceram também ampliações dos setores urbanos e das camadas médias, que impulsionariam alterações no campo político, como “o questionamento das bases do sistema oligárquico da Primeira República”104. Isso porque, até

o momento, vivia-se a política de governadores, ou política dos estados. Ela tinha como objetivo manter os conflitos intraoligárquicos no interior dos estados, de modo que essas disputas não causassem instabilidade nacional. Tradicionalmente a historiografia produzida sobre a Primeira República coloca a aliança entre os estados de Minas Gerais e São Paulo como elemento sustentador dessa política. No entanto, estudos mais recentes apontam para a instabilidade da aliança entre mineiros e paulistas, além da forte presença do estado do Rio Grande do Sul – que muitas vezes foi um parceiro comercial preferido pelos mineiros – sugerindo que essa aliança, conhecida como política do café com leite, não ajudou na diminuição dos conflitos da política nacional105.

102 GÓIS JUNIOR; SOARES, Os comunistas e as práticas de educação física dos jovens na década de 1930 no Rio

de Janeiro.

103 JONES, Sport, politics and the labour movement.

104 FERREIRA, Marieta de Moraes; PINTO, Surama Conde Sá, A crise dos anos 1920 e a Revolução de 1930, in:

FERREIRA, Jorge Luiz; DE ALMEIDA NEVES DELGADO, Lucilia (Orgs.), O tempo do liberalismo excludente: da Proclamação da República à Revolução de 1930, 9. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017, v. 1, p. 390.

Fato é que no ano de 1929 começaram as movimentações pela disputa da presidência da República, que se daria no ano seguinte. A sucessão presidencial exaltou ânimos de políticos por todo o território brasileiro, que ambicionavam ocupar o principal posto da política nacional. São Paulo sofreu ainda mais com essas movimentações, uma vez que era Washington Luís, um representante seu, que ocupava o posto de presidente naquele momento. Ao indicar Júlio Prestes para o cargo, Washington Luís quebrou o acordo com Minas Gerais, o que deu espaço para que conflitos anteriores, não muito bem resolvidos, fossem reavivados. Nesse contexto Getúlio Vargas, um gaúcho, foi indicado como candidato da oposição, representando a Aliança Liberal. A situação vence as eleições, mas os líderes da Aliança Liberal, inconformados com a derrota, se juntam com lideranças do movimento tenentista e a articulação entre eles faz com que estoure uma conspiração em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul no início de outubro, que logo se alastraria para os estados do Nordeste. Em 24 de outubro Washington Luís é deposto do cargo de presidente e é instalada uma Junta Governativa, que não teve sucesso em sua manutenção devido a pressões populares. Foi então, em novembro de 1930, que Getúlio Vargas foi empossado Presidente da República106, dando início ao que ficou conhecido na historiografia como Era Vargas, período que vai de 1930 a 1945, e que é abordado neste trabalho.

No que se refere ao mundo futebolístico paulistano, o ano de 1929 ficou marcado pela unificação das duas ligas que comandavam o futebol na cidade, a LAF e a APEA. O C. A. Paulistano – veterano fundador de ambas as ligas – decide por abandonar a LAF e fechar o seu departamento de futebol quando a discussão sobre a profissionalização desse esporte começa a ficar mais séria. A partir daí, até meados da década seguinte, a discussão sobre amadorismo e profissionalismo seria ponto de destaque entre cronistas esportivos que publicavam nos principais jornais da cidade.

Havia grande resistência dos clubes em regulamentar a profissionalização do jogo, no entanto, ela passa a ser apoiada por boa parte dos cronistas esportivos da época por diversos motivos. O primeiro deles seria a necessidade de se impedir a evasão dos bons jogadores paulistas, que estavam sendo levados por times europeus, principalmente italianos, que já adotavam o futebol profissional. Os jogadores que mais interessavam a esses clubes eram os descendentes de imigrantes europeus107. Assim, o futebol era visto como forma de retorno à pátria de origem, e como forma de ascensão social, pois pagava-se muito pelos direitos do

106 Ibid.

jogador e pelo seu salário. Outro motivo que fez com que a imprensa apoiasse a profissionalização foi a prática do falso amadorismo, que consistia no pagamento de recompensas – conhecido como bicho – aos jogadores pelo seu desempenho e pelo resultado do time no jogo. A imprensa defendia que, com o profissionalismo institucionalizado, os clubes teriam que pagar aos jogadores um preço mais justo, pois já era observado o aumento no público dos estádios, e consequentemente, no lucro do clube108. Apesar disso, muitos dos clubes e cronistas que se colocavam como contrários à institucionalização do profissionalismo no futebol paulista o faziam reivindicando questões relacionadas ao espírito esportivo e ao amadorismo puro, defendendo o esporte apenas como forma de deleite e de treinamento do corpo, seguindo as visões higienistas que eram importantes no período109.

Com o apoio do governo e dos higienistas, houve a inauguração de diversos cursos de Educação Física e a organização de livros e periódicos sobre o assunto110. Um dos cursos de Educação Física fundados nesse momento foi o da Escola Superior de Educação Physica de S. Paulo, que iniciou suas atividades em 1934. A busca de uma educação que estava ao mesmo tempo preocupada com a formação da identidade nacional e com a preparação dos jovens para o mercado de trabalho havia encontrado um aliado no ensino de Educação Física nas escolas. Ela era vista como forma de regeneração do povo, sempre atrelada ao discurso de “fortalecimento da raça”. Assim, para transformar os trabalhadores brasileiros “a imprensa aludia à formação de corpos racionalizados, disciplinados, marcados pela representação de uma raça forte e saudável.”111 No entanto, era necessário que o esporte fosse bem orientado, caso

108 CALDAS, Waldenyr, O Pontapé Inicial: contribuição à memória do futebol brasileiro (1894-1933)., Tese

de Livre Docência apresentada ao Departamento de Comunicação e Artes da Escola de Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1988, p. 63.

109 O movimento higienista começou a ter relevância no Brasil entre o final do século XIX e o início do século

XX. Nesse momento, a grande preocupação dos médicos higienistas e dos engenheiros sanitários consistia na alteração das habitações populares, de maneira que houvesse maiores condições de higiene para a população trabalhadora que habitava cortiços, estalagens, hospedarias e casas de dormir nas maiores cidades do país. Em um primeiro momento, o pensamento higienista enfocava questões relacionadas à higiene do ambiente em que as pessoas moravam e frequentavam, de modo a evitar que doenças fossem contraídas. Esse movimento se constituiu no Brasil com uma série de correntes de pensamento. Havia os eugenistas, que acreditavam na existência de raças superiores e inferiores e, influenciados por teorias como o darwinismo social, pregavam que o problema da raça do Brasil só seria resolvido através da regulamentação do casamento entre pessoas de raça superior. Isso, juntamente com a alta mortalidade dos negros, faria com que o país conseguisse resolver esse problema de maneira mais ou menos rápida. Havia ainda outros grupos de intelectuais, que Edivaldo Góis Junior divide entre deterministas e intervencionistas. Ver: BRESCIANI, Maria Stella, Da cidade e do urbano: experiências, sensibilidades, projetos, São Paulo: Alameda, 2018, p. 385–388; GÓIS JUNIOR, Edivaldo, Os higienistas e a Educação Física: a história de seus ideais., Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Educação Física da Universidade Gama Filho., Rio de Janeiro, 2000.

110 GÓIS JUNIOR, Os higienistas e a Educação Física: a história de seus ideais., p. 154.

111 GÓIS JUNIOR, Edivaldo, A institucionalização da Educação Física na imprensa: a construção da Escola

contrário, não alcançaria seus objetivos. O valor da boa orientação esportiva pode ser analisado em uma passagem de Octávio Resende:

Para o adestramneto physico, tomado como meio de melhor servir à sociedade, devemos, pois, dar preferência aos jogos que desenvolvam o espírito de corporação, de muito auxilio, bem caracterizado no vocabulo ‘association’ como que é conhecido, na Inglaterra, o football112.

Esse foi um debate acalorado entre os médicos, educadores e cronistas esportivos no Rio de Janeiro e em São Paulo, como demonstraram André Dalben e Edivaldo Góis Junior113. Segundo os autores, as críticas ao esporte vinham de diversos setores da sociedade, como socialistas, nacionalistas e comunistas. Os contrários à prática esportiva defendiam que o seu incentivo deixava de lado o estímulo à formação intelectual. Além disso, acreditavam que os esportes poderiam favorecer o embrutecimento do corpo, aumentando a agressividade e a competitividade, levando à desintegração social. Fernando de Azevedo, por exemplo, muda de postura com relação ao esporte entre 1915 e 1920. Primeiramente acreditava que não havia comprovação de que a prática de exercícios físicos fizesse bem. Porém, seu discurso é alterado e passa a afirmar que, caso não fossem praticados de maneira abusiva, eles teriam grande valor moral. O movimento eugênico também contribuiu muito para a mudança na forma como os esportes eram vistos no país, já que os via como forma de possibilitar o desenvolvimento de “um vigor moral e uma personalidade forte, afastando os indivíduos de vícios”114.

Apesar dos argumentos contrários, a prática esportiva estava difundida na população. Assim, os esportes serviram de combustível para os intelectuais que o viam como benéfico: uma vez que seria impossível combatê-lo, já que se encontrava muito difundido, o mais certo seria seu controle e regulamentação para que se tornasse utilitário. Dessa forma, as modalidades esportivas que pudessem de alguma maneira servir para a educação da juventude passaram a ser aceitas e incentivadas por aqueles que almejavam o controle sobre a ela115.

Meily Assbú Linhales também aponta para as discussões acerca da finalidade do esporte, visto por muitos intelectuais como forma de “energização do caráter”116. Tentando

112 RESENDE, Octávio. Os sports colletivos como arma de combate aos instinctos egoisticos. In: Revista Educação

Physica. Rio de Janeiro, Cia Brasil Editora, n.5, 1932, p.15, apud GÓIS JUNIOR, Os higienistas e a Educação Física: a história de seus ideais., p. 158.

113 DALBEN, André; GÓIS JUNIOR, Edivaldo, Embates esportivos: o debate entre médicos, educadores e

cronistas sobre o esportee e a educação da juventude (Rio de Janiero e São Paulo, 1915-1929), Movimento (ESEFID/UFRGS), v. 24, n. 1, p. 161–172, 2018.

114 Ibid., p. 166.

115 DALBEN; GÓIS JUNIOR, EMBATES ESPORTIVOS.

116 LINHALES, Meily Assbú, A escola, o esporte e a “energização do caráter”: projetos culturais em

circulação na Associação Brasileira de Educação (1925-1935), Tese de Doutorado, Faculdade de Educaação da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2006.

compreender o fenômeno da febre esportiva, esses intelectuais realizaram exercícios de apropriação e recriação de sentidos, estabelecendo “polêmicas, críticas e explicações de divergências”117.

A partir do panorama sobre a política nacional, a situação do esporte oficial em São Paulo, e as ideias higienistas em voga no início dos anos 1930, vejamos agora de que maneira se organizava o esporte bancário nesse contexto.

No início do ano de 1929 a Liga Bancaria de Esportes Athleticos era apenas uma ideia. Defendendo a importância da existência de uma instância de organização esportiva para a classe bancária, L. C. escreve:

A mais simpels analyse, resalta que, entre os bancarios, a propensão para os esportes não é das mais acentuadas. Como que a querer destruir esta asserção, poderiam nos apontar as muitas esquadras de futebolistas que existem pelos bancos, algumas já de antiga fundação. [...]

Para os bancarios, a educação physica é uma questão de capital importancia e, como tal, deve ser encarada. Passando longas horas arcados sobre uma escrivaninha, na árdua tarefa de enfileirar algarismos, dispendendo com isso grandes reservas de energia, todo o organismo reclama, depois, a pratica salutar dos esportes, para refazer- se dessas perdas de vitalidade. [...]

Urge, em nosso meio, mover-se uma intensa propaganda esportiva, concitando os nossos colegas a aderirem aos clubes internos que, com esse fim, já existem em muitos de nossos bancos para que possamos, dentro em pouco, contar com um grande contingente de esportistas. [...]

Julgamos imprescindivel a creação de uma Liga, essencialmente bancaria, á qual os clubes internos ficassem subordinados. [...]118

Para ele os bancários deveriam se juntar nos clubes já existentes para praticarem algum exercício físico. Provavelmente ele seria o futebol, o esporte mais popular entre os bancários do período. E deveriam fazê-lo para recuperação das energias dispendidas no trabalho. Foi esse o pensamento impulsionador da criação da L.B.E.A.

Criada a Liga, seus diretores foram logo tratando de organizar o Torneio Início. Ele teve grande sucesso, e, contando com assistência numerosa – composta de funcionários bancários e suas famílias –, apresentou boa técnica e cavalheirismo por parte dos participantes. Contrariando as expectativas dos entendidos do esporte bancário, o quadro que levantou a taça Bancários, oferecida pela Associação dos Funcionários de Bancos do Estado de São Paulo foi o do Banco Noroeste do Estado de São Paulo. O vice-campeonato ficou com o time do Esporte Clube Sudameris, que contava com um quadro com possibilidades de vencer o campeonato da

117 Ibid., p. 50.

Liga. Logo após o final do Torneio Início começou o campeonato. É bem verdade que ele não foi dos mais disputados. O C.E. Induscomio disparou na frente dos adversários, e, fortes concorrentes ao título, como London Bank Club, E. C. Sudameris e Clube Banco Noroeste – campeão do Torneio Início – não tiveram grandes chances de sucesso. Este último, inclusive, terminou o campeonato em último lugar, com apenas 8 pontos ganhos, contra os 25 do campeão C. E. Induscomio.

Apesar da pouca competitividade entre os concorrentes, os campos bancários não ficavam atrás dos campos de oficiais no que se refere às discussões e incidentes. Os “casos”, como se referiam os cronistas aos desentendimentos no interior dos campos, se avolumavam rodada após rodada do campeonato. Sobre o assunto P. N. M. escreve: “[...] a educação esportiva em nossa terra ainda está longe de atingir o grau em que ella merecia estar, atendendo- se ao nosso progresso techinico”119. Para ele, os desentendimentos que ocorriam entre os

futebolistas bancários tinham ainda menos razão de ser do que os que se davam nos campos do futebol oficial. Isso porque:

[...] Em primeiro logar, os jogos da Liga não têm renda de bilheteria e, por conseguinte, não possuem uma assistência numerosa e partidária, capaz de influir no animo do jogador. Em segundo lugar, os elementos que actuam nos campos da Liga, são elementos de uma mesma classe, absolutamente homogêneos, e que, nós o supomos, não são desconhecedores da educação esportiva.120

Por “educação esportiva” o autor provavelmente entendia os preceitos defendidos pelo amadorismo, que consistiam no cavalheirismo, no respeito ao adversário, no deleite da prática do jogo e no respeito às regras previamente acordadas. Se era possível supor que essa “educação esportiva” era dominada pelos bancários, não se pode dizer o mesmo da “educação do corpo”. Nesse momento havia uma necessidade grande de se ensinar os trabalhadores bancários sobre os benefícios que a prática de exercícios físicos poderia lhes trazer. Assim, diversas advertências sobre o assunto foram feitas através das páginas da Vida Bancária. Yapo escrevia que “deitar cedo, levantar cedo o mais possivel e não usar nunca o fumo e o minimo possivel as bebidas alcoolicas são as solidas bases de quem deseja ser um bom athleta”; ou ainda que “todo esportista, á proporção que melhora o seu physico, deve envidar todos os esforços para que as suas qualidades moraes tambem se elevem e se nobilitem”121 . Yapo, aliás, era um dos maiores propagadores das práticas que um sujeito

119 PMN, No ardor da contenda, Vida Bancaria, 56. ed. p. 4, jun. de 1929. 120 Ibid.

deveria adotar para se tornar um bom atleta. Ele, em outra edição do jornal, afirmava ser necessário que:

abandonemos e combatamos o álcool, o fumo, o jogo e os excessos viciosos que são o cancro horrendo que suga as energias moraes e physicas dos nossos jovens patrícios e portanto consomem as forças da Nação. Cultivemos o esporte sem excessos e pelo amor ao esporte!122

No entanto, esse discurso adotado pelo órgão oficial da Associação dos Funcionários de Bancos do Estado de São Paulo não parece ter muita conexão com a realidade das disputas futebolísticas. Um exemplo disso é o encontro amistoso que se deu entre C. E. Induscomio e E. C. Sudameris, em outubro de 1929, como parte de um Convescote Bancário. O evento reuniu quase 700 pessoas, contando bancários e seus familiares, no parque da Villa Galvão, e teve como ponto alto o encontro entre os dois times. Antes do início de um jogo bastante movimentado – com direito a um gol marcado por jogador próximo à linha de fundo, com a bola resvalando na trave antes de entrar, e outro em que a bola bateu no travessão e entrou apenas parcialmente, dando a impressão de que o ponto não havia sido marcado – os quadros se alinharam no gramado para um troca de gentilezas. O Sudameris ofereceu uma corbélia de flores ao Induscomio, que retribuiu o gesto oferecendo “aos capitães, juízes, representante da Liga Bancaria e diretores de ambos os clubes, um delicioso cópo de vinho espumante”123. O consumo de álcool, demonizado por Yapo, esteve presente antes do início do jogo sem nenhuma cerimônia.Outro caso emblemático para demonstrar o descolamento entre o discurso de ideal esportivo e a prática da L.B.E.A. é a cerimônia de premiação do campeonato de 1931.

Realizada em 21 de janeiro de 1932, essa cerimônia contou com a presença de um grande número de bancários reunidos no salão nobre da Associação dos Bancários de São Paulo – órgão sindical. Havia ainda representantes da imprensa escalados para cobrir a reunião, o que demonstra certa distinção da Liga Bancaria perante os veículos de imprensa. Na ocasião, o Dr. Francisco de Paula Reimão Hellmeister, presidente da Liga, fez um discurso de saudação às equipes vencedoras do campeonato, Induscomio e British Bank. Após os capitães das equipes terem recebido os respectivos troféus, era hora de começar a festa. “Aos presentes foi offerecido grande quantidade de ‘crystallino’ chopp Antarctica o que, naturalmente, veio augmentar o seu enthusiasmo”124.

122 YAPO, Athletismo, Vida Bancaria, 64. ed. p. 5, fev. de 1930. 123 Match amistoso, Vida Bancaria, 61. ed. p. 4, nov. de 1929.

Novamente, contrariando a representação de bons atletas veiculada pela Folha Bancaria, o que a Liga Bancaria faz é oferecer bebida alcoólica, dessa vez em grande quantidade, aos presentes na solenidade de premiação do campeonato. Veremos ainda, no quarto capítulo, que o consumo de álcool era comum em um dos clubes analisados, o Satelite F. C. Essas práticas nos dão indícios de que, ao contrário do que pregava o ideal higienista de formação de atletas, em que seria preciso cuidar do corpo e da alimentação para se tornar um ser humano moral e fisicamente mais habilitado, não encontrava eco nas práticas dos esportistas bancários do período. Ou seja, a experiência desses sujeitos aparecia distante das representações sobre a prática esportiva vigentes naquele momento. Acreditamos que, para eles, mais do que

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