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Entre o campo teórico e o empírico: algumas aproximações

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As incertezas organizacionais dos Institutos Federais

3.3. Entre o campo teórico e o empírico: algumas aproximações

O referencial teórico desenvolvido neste trabalho considerou as bases estabelecidas por Burrell e Mor- gan (1979) de que o debate das teorias sociais de aná- lise ocorre em espaço definido por quatro paradigmas sociológicos (funcionalista, interpretativo, humanista radical e estruturalista radical) com base em propos- tas mutuamente excludentes do ponto de vista teóri- co, com tese central de que todas as teorias das orga- nizações têm fundamento numa filosofia de ciência e numa teoria de sociedade, a partir das perspectivas de natureza: ontológica, epistemológica, humana e metodológica. Porém, a esse embasamento somou-se a linguagem metafórica das imagens das organizações, teoria proposta por Gareth Morgan (2002) que viabi- liza interpretações múltiplas da organização e dimen- sões diferenciadas de uma mesma situação, por meio de metáforas com a visão das organizações como: máquinas, organismos, cérebros, culturas, sistemas políticos, prisões psíquicas, fluxo e transformação, e instrumentos de dominação. A abordagem metafóri- ca rejeita uma percepção linear dos pressupostos de análise organizacional, considerando que cada abor- dagem ou metáfora proposta pode ultrapassar limi- tações de outra, bem como, embora parcialmente, a metáfora leva a compreender as situações organiza- cionais com mais eficácia.

Ademais, as teorias das organizações abrem espa- ço para os estudos sociológicos de compreensão crí- tica dos modelos da escola como organização. Lima (1992a) constrói um quadro teórico para as organiza- ções educativas, com respaldo nos modelos organiza-

cionais analíticos/interpretativos, com base nas pro- postas teóricas de estudo das “quatro faces das or- ganizações educativas” de Per-Erik Ellström (2007), que definiu os modelos denominados de: racional, po- lítico, de sistema social e anárquico. Por outro lado,

para descrever o modelo anárquico, Ellström (2007) recorre às metáforas da “anarquia organizada” e “cai- xote de lixo”, de Michael D. Cohen; James G. March e Johan P. Olsen (1972), e de “sistemas debilmente articulados” de Karl E. Weick (1976).

Lima (1992a) concluiu que a organização edu- cativa exibe duas faces distintas. De um lado, são respeitadas a conformidade e a conexão normativa, consequentemente, uma ordem burocrática; do outro lado, ela não é respeitada, provocando a desconexão, estabelecendo-se uma ordem anárquica.

Complementando o cenário de perspectivas teó- ricas de embasamento dos estudos, também são ob- servados os conceitos de imagens das organizações educativas de Tony Bush (1986), organizadas em cin- co propostas organizacionais de gestão educacional, os modelos: formal, democrático, político, subjetivo e de ambiguidade; para aplicação nas instituições de educação, em consonância com a sua abrangência e tipologia.

Em afinidade com todo esse contexto de repre- sentação híbrida e plural, a análise da macro-organi- zação Instituto Federal é adequada a partir da opção teórica do “modo de funcionamento díptico” definido por Lima (1992a), visando a uma compreensão ampla da organização, nas perspectivas analíticas do “plano das orientações para a ação organizacional” e do “pla- no da ação organizacional”.

No caso do “plano das orientações para a ação organizacional”, são consideradas as estruturas for- mais e orientações normativas oriundas dos órgãos superiores, tais como: legislação federal e normas ou regras formais-legais - instruções normativas e portarias ministeriais - frequentemente de nature- za impositiva e de caracterização jurídica, e outras produzidas no âmbito do próprio Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), como o arcabouço legal da organização, compreendendo estatuto, organogra- mas, regimentos (geral, dos colegiados, da reitoria e dos campi), com uma estrutura em nível superior organizacional, compondo uma imagem próxima das finalidades e objetivos oficiais da organização, inclu- sive estabelecendo uma hierarquia formal de compe- tências e atribuições.

Ainda cabe ressaltar outros normativos internos de regulação, tais como: o projeto político-pedagógi- co, a organização didática, resoluções e deliberações baixadas pelos órgãos colegiados, portarias emitidas pelo reitor e diretores-gerais, e orientações normati- vas ou notas técnicas definidas pelos órgãos executi-

vos da administração geral, de assessoramento e de controle geral. Assim, parece provável que os Insti- tutos Federais estejam submetidos a uma adminis- tração burocrática centralizada, cabendo avaliar essa concepção confrontada com outras perspectivas.

Não recusando a perspectiva anterior, cabe, tam- bém, salientar, “no plano das orientações”, outra con- dição de estruturas, em construção/desconstrução, menos visíveis, normalmente consideradas como es- truturas informais ou ocultas, cujo estudo terá focali-

zação interpretativa, encontradas nos níveis intermé- dio e/ou profundo (LIMA, 1992a). Como exemplo de

regra informal com reconhecida tradição no IFRN, é importante considerar a “rádio corredor” nos tempos atuais turbinada pelas listas de e-mails da internet, cujas informações, muitas vezes, são mais observa- das e consideradas pela comunidade acadêmica do que as comunicações realizadas pelos canais oficiais da organização.

Os tipos de regras não formais, com interpreta- ções sociais e simbólicas (BOURDIEU, 1989) resul- tantes das interações dos indivíduos e de grupos, são “produzidas na organização, mas não pela organiza- ção”. São realidades, de acordo com Lima (2011a, p. 58), que tomam por referência objetivos diversos dos oficiais,

interesses comuns e interesses antagô- nicos ou em conflito na organização, o poder e não tanto a autoridade, a hie-

rarquia sócio-organizacional e não a hierarquia formal representada no or- ganigrama, o ator social e menos o ator racional.

Em geral, as regras circunstanciais determinadas pelos interesses pessoais ou de grupos, com base em fontes de poder como informações, carisma e perícia, não são estruturadas; frequentemente são informais e não universalizadas na organização, bem como têm uma amplitude limitada e a sua existência, dificil- mente, se tornará visível por meio de documentos es- critos. Relativamente ao “plano da ação organizacio- nal”, são estudadas as regras efetivamente atualiza-

das, as estruturas manifestas e as ações dos atores.

As investigações rastrearão do domínio do que deve

ser, independentemente das normas tomadas como

base, até o domínio das regras efetivamente atualiza- das, ou daquilo que está sendo. Será vivenciada, na

verdade, um tipo de racionalidade a posteriori, de ex-

plicação ou de recurso. As ações organizacionais não

se caracterizam por um plano comum de reprodução das diferentes orientações consideradas, tampouco pela expressão predominante de um exclusivo tipo de orientação, especialmente da formal-legal.

Na composição da abordagem multifocalizada pro- posta, a opção teórica da investigação no tocante aos princípios que integram a face A (representativa de imagens da “anarquia organizada”) do modo de fun- cionamento díptico, recai sobre a metáfora da escola

como sistema debilmente articulado (Weick, 1976), situação que, para o Instituto Federal, vislumbra-se em consonância com os conceitos de falta de clareza organizacional, articulação fraca e ambiguidades. No contexto das “lentes” burocráticas, o Instituto Fede- ral de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN) é um modelo de organização de ad- ministração descentralizada, composto por uma rede de escolas (campi) com atuação nos diversos níveis da educação nacional, sob diretrizes políticas unificadas por um Projeto Pedagógico Institucional (PPI) e um Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI).

Na realidade, no que se refere à ação, esse modelo organizacional não tem demonstrado um desenvolvi- mento tão harmônico como esperado, concorrendo, para isso, conjunturas ambíguas de poder, de opção pela centralidade em determinados contextos e de descentralização noutras circunstâncias, entenden- do-se, no caso, como fonte de poder, o direito de auto- rizar e de executar e/ou controlar decisões e medidas efetuadas. Assim, identificam-se relações frouxas e debilidade em decisões tomadas em colegiados e pe- los dirigentes; frágeis articulações sistêmicas entre reitoria e os campi; falta de clareza organizacional quanto à identidade e objetivos do IFRN; além de am- biguidades no tocante aos espaços das autonomias de funcionamento. Essas situações de imprecisões são indicativos clássicos de um “sistema debilmente articulado”, independentemente de outras configura- ções que possam ser identificadas sob as “lentes” do

modelo anárquico, envolvendo membros da adminis- tração, servidores técnico-administrativos, docentes e estudantes.

A complexidade de estrutura das

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