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O “instituto debilmente articulado”

No documento ORGANIZAÇÃO ESCOLAR.pdf (2.595Mb) (páginas 194-199)

O Instituto Federal do Rio Grande do Norte em ação

ESPECIFICAÇÃO 2009 2010 2011 2012 2013 2014 TOTAL

5.3. O “instituto debilmente articulado”

A concepção estrutural do IFRN se assemelha a uma “federação interdependente de campi” relativa- mente autônomos quanto à conformidade e atuação regional, vinculados à realidade social dos respectivos territórios, integrados por acoplamentos frouxos (OR- TON E WEICK, 1990) com a reitoria (sede). Essa ima- gem é coerente com a compreensão exposta por Weick (1976) de que, em contraste com a imagem predomi- nante, que os elementos nas organizações são acopla- dos através de ligações densas e apertadas, esses ele- mentos são frequentemente vagamente acoplados.

Por outro lado, essa condição representativa de dé- bil articulação é confrontada com o Projeto Político-Pe- dagógico (PPP), com o Plano de Desenvolvimento Ins- titucional (PDI) e com o quadro de pessoal unificado, além dos marcos legais da estruturação burocrática de constituição e funcionamento da organização. Isso vem caracterizar a existência, de fato, de uma situação de planejamento, de consensos na busca por objetivos gerais, ou seja, que a estrutura e ações organizacio- nais, mesmo que debilmente, estejam submetidas a articulações de caráter burocrático.

A vocação burocrática das regulações regimentais, dos atos normativos e diretivas dos órgãos colegiados superiores e reitoria, tem sua força enfraquecida por articulações e acoplamentos que se concretizam frá- geis junto aos campi, pelo confronto com as realidades e interesses das comunidades locais. Isso significa que

as orientações elaboradas, no âmbito dos referidos ór- gãos colegiados, devem ser avaliadas e reinterpretadas sob o referencial da conjuntura real do ambiente de efetivação da ação organizacional.

No âmbito desse contexto, para o caso concreto do projeto de escola, Costa (2003, p. 1329) explicita:

a questão da imposição normativa – por meio da aplicação obrigatória e genera- lizada a todas as escolas e centralmente decretada – parece assumir mesmo uma certa contradição com a própria noção de projecto, já que, nesse caso, perder- -se-ia aquilo que lhe é mais intrínseco: a iniciativa, a intenção, a adesão natural e voluntária, o relevo dado ao actor como autor do seu próprio projecto.

A reitoria e os campi desenvolvem uma dinâmica de equilíbrio entre as estruturas formais e as regras e mecanismos informais, originando consequentes arti- culações débeis entre a autonomia e o controle, e in- teresses e coordenação, numa relação de coexistência. Essa realidade é atestada por situações de dificuldades no processo relacional de rotinas e funcionalidades en- tre as estruturas das diversas Unidades Administra- tivas. Na prática, quanto mais poder for delegado aos

campi, maior será a independência deles para com a

reitoria, independência essa que deveria ser correta- mente exercitada.

Essa situação conceitual é própria para o desen- volvimento de sistema de controle de desempenhos, contudo essa realidade não é identificada na ação me- todológica organizacional. É possível perceber que ní- veis de independência, nas relações entre a reitoria e os campi, estão associados a condições de autonomia que, nos sistemas de ensino, conforme o entendimento de Magalhães (2001, p. 138), parece ter caráter para- doxal, ambíguo, “que dá a autonomia conferida pelo sistema político às instituições escolares o caráter hí- brido, isto é, de mistura de regulação estatal e de lógi- ca de auto-regulação”.

No desenvolvimento da ação acadêmica, não se ob- serva uma prática coesa na aplicação dos princípios de integração ensino, pesquisa e extensão. Ademais, é possível identificar, por exemplo, na normatização de execução do regime de trabalho docente de 40 (qua- renta) horas-aula, das quais 26 (vinte e seis) foram re- servadas e vinculadas, formalmente, às atividades de ensino, que não existe previsão funcional de espaço e/ ou tempo para as atividades da extensão e pesquisa, desenvolvidas em decorrência de projetos apresenta- dos por parte de servidores interessados e/ou motiva- dos por razões específicas. Em trânsito entre prescrito e modelo de ação não consolidado, extensão e pesquisa enfrentam um desafio de hibridismo no espaço insti- tucional.

As dificuldades, na forma de organização do traba- lho acadêmico, têm levado os docentes, na quase tota- lidade, nomeados em regime de dedicação exclusiva, a

um compromisso de frequência parcial na organização de, apenas, 3 (três), entre os 5 (cinco) dias úteis sema- nais de desenvolvimento da ação acadêmica.

Tratando da autonomia da escola num contexto de dependências, Torres (2011a, p. 107) entende que o aprofundamento da sua democraticidade

estará sempre condicionado às especifi- cidades culturais dos seus contextos de acção, à matriz axiológica que orienta e dá sentido às práticas dos actores, desig- nadamente dos professores e gestores. A autora também considera que a condição sociopro- fissional dos professores torna-os naturalmente os

principais veículos do processo demo- crático nas escolas, com mais ou menos autonomia democrática. Por isso, o sen- tido das suas práticas [...] e como recon- textualizam as próprias imposições cen- trais, acaba por ser determinante no de- senvolvimento da cidadania democrática da instituição escolar. (TORRES, 2011a, p. 107).

No contexto geral, verifica-se, na estruturação or- ganizacional do IFRN, a prevalência da racionalidade da ordem e da intencionalidade de objetivos, quando comparada à flexibilidade das conexões, proporciona-

da pelas estruturas de autonomias dos campi, que, apesar das especificidades de atuações com base em territórios diversos, também agem contribuindo para o alcance das finalidades gerais, estabelecidas para a organização.

Assim, concretamente, os interesses dos atores e suas propostas de ação terminam se subordinando às normas e aos princípios da cultura organizacional constituída e sustentada em fundamentos legais e nas políticas governamentais, que, ao mesmo tempo que se caracterizam como sistemas impositivos e de con- trole da ordem, funcionam como proteção das pessoas contra a possibilidade da prática de abusos e injusti- ças aos seus regulares direitos. Considerando que a racionalidade continua sendo uma das características necessárias das organizações modernas, Silva (2004, p. 84) entende que as organizações acadêmicas conti- nuarão a possuir um alto grau de racionalização, “to- davia, isso não afectará a flexibilidade organizacional necessária à adaptação dessas organizações aos novos contextos sociais”.

Num contexto organizacional geral, de superação de oposições teóricas e dicotomias analíticas fraciona- das, associadas a uma perspectiva de complementa- ridade de imagens próprias das organizações educati- vas, é oportuno recorrer ao “modo de funcionamento díptico da escola como organização” para compreender as tensões e procedimentos resultantes da dinâmica complexa do IFRN.

5.4. O “instituto sob a perspectiva do modo de

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