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Entre a obrigatoriedade e a participação efetiva: a consolidação do Grupo de Estudos de Professores de Arte

4 GRUPOS DE ESTUDOS DO CEMEPE E DO NUPEA: UM POUCO DA HISTÓRIA DA FORMAÇÃO CONTINUADA DOS PROFESSORES DE ARTE DE UBERLÂNDIA

4.4 Entre a obrigatoriedade e a participação efetiva: a consolidação do Grupo de Estudos de Professores de Arte

No início de 1997, a SME de Uberlândia voltou a promover reuniões mensais de quatro horas cada, porém sem remuneração específica para tal, para que professores de todas as áreas de ensino participassem de estudos relacionados a suas áreas de atuação no CEMEPE. Como a SME tinha interesse de que a Proposta Curricular, elaborada no ano anterior, fosse adotada como norteadora das práticas educativas em todas as Escolas Municipais, a participação dos professores nas reuniões mensais tornou-se obrigatória. Além disso, a SME manteve a assessoria da UFU e criou o cargo de coordenador para cada área de ensino. De acordo com os critérios estabelecidos pela SME, o cargo de coordenador de área deveria ser ocupado por um professor efetivo com apenas um cargo na Rede Municipal, sendo o mesmo remunerado pelas quatro horas semanais trabalhadas no CEMEPE. Sua função era atender os professores de sua área, auxiliando-os em suas dificuldades teórico-práticas, preparar as reuniões mensais do grupo de estudos de acordo com assuntos relevantes para a área de ensino, além de participar de reuniões de caráter administrativo e pedagógico com a direção do CEMEPE. No caso do Grupo de Estudos de Professores de Arte, esse cargo foi ocupado pela professora Waldilena Silva Campos, escolhida pelo grupo por meio de voto, sendo tal conduta permanente no grupo, enquanto a SME manteve o cargo de coordenador de área.

A obrigatoriedade de participação nas reuniões não garantiu a presença de todos os professores nas reuniões mensais de área, visto que muitas escolas não ofereciam condições para que os professores tivessem acesso às datas de reuniões ou os liberassem para comparecer aos encontros. Dessa forma, os professores que não participavam das reuniões mensais no CEMEPE, cumpriam o horário referente a essas reuniões na própria escola, sem prejuízo financeiro ou punição por parte da SME.

Tinoco (2003, p.20) comenta que, “Durante todo esse ano [1997]57 os professores estudaram a Proposta Curricular e parte da bibliografia de apoio utilizada para escrever a Proposta”.

Esse estudo da proposta e retorno à leitura, ao estudo e à discussão da bibliografia de apoio utilizada pela comissão na elaboração da Proposta Curricular de Educação Artística de 1996 foi importante, porque muitos professores de Arte que não participaram do processo de elaboração dessa proposta, dentre estes, aqueles professores que ingressaram na Rede Municipal entre 1995 e 1997, interpretaram que os conteúdos que constavam na tabela deveriam ser trabalhados apenas seqüencialmente, ou seja, na ordem em que foram relacionados.

Com os estudos realizados, ficou esclarecido que o professor poderia partir de qualquer conteúdo que constasse da tabela da Proposta Curricular de Educação Artística de 1996, ficando a critério do docente escolher a seqüência de conteúdos com os quais trabalharia em sala de aula, sendo que a tabela serviria como referência para que o professor soubesse com que aprofundamento poderia abordar cada conteúdo, isso de acordo com o nível de compreensão dos alunos e a série em que estivesse atuando.

Além disso, nas reuniões do Grupo de Estudos de Professores de Arte do CEMEPE, realizadas em 1997, as discussões e trocas de experiências que tinham como referência essa Proposta Curricular de 1996 revelaram que existiam lacunas na formação dos professores de Arte, especialmente em relação ao conhecimento e à aplicabilidade da Proposta Triangular.

Por outro lado, como relataram as professoras na entrevista coletiva, o retorno das reuniões de estudos foi importante para mostrar que, apesar de não serem amplamente socializadas nos anos de 1994, 1995 e 1996, as práticas dos professores de Arte da Rede Municipal continuavam absorvendo, mesmo que lentamente, as leituras e mudanças

metodológicas que tinham ocorrido nos últimos anos, particularmente em relação às metodologias contemporâneas voltadas para o ensino da arte.

No ano de 1998, a Secretaria de Educação desobrigou os professores da Rede Municipal de comparecer às reuniões, mas manteve os coordenadores de cada área de ensino, porém, sem a assessoria dos professores da UFU. Mesmo assim, grande parte dos professores de Arte que participou do Grupo de Estudos de Professores de Arte do ano anterior (1997) manteve as reuniões mensais do grupo até o fim de 1999, entendendo que não podiam perder esse importante espaço de discussão. Entre as ações do grupo em 1998, podemos destacar o aprofundamento das leituras e dos estudos sobre as referências utilizadas na elaboração da Proposta Curricular de Educação Artística de 1996, notadamente sobre a Proposta Triangular, em função das experiências que eram relatadas pelos professores de Arte e que tinham como referência essa abordagem metodológica.

No final de 1998, os professores de Arte apresentaram como resultado dos encontros, retomados desde 1997, uma Proposta Curricular de Educação Artística para ser implementada em 1999. Na verdade, essa proposta, tal como se apresentava, era uma versão revisada da Proposta Curricular de 1996, constando poucas modificações e algumas complementações. No entanto, essas complementações esclareceram a fundamentação metodológica adotada a partir da Proposta Curricular de 1996 e também revelaram um aprofundamento das leituras sobre a Proposta Triangular, realizadas pelo Grupo de Estudos dos Professores de Arte do CEMEPE nos anos de 1997 e 1998.

Nessa Proposta Curricular formulada em 1998, afirmava-se que a função e a importância da arte remetiam à Educação Estética, sendo esta entendida como “[...] o desenvolvimento da capacidade de perceber e analisar não apenas as obras de arte, mas também, e a partir delas, uma infinidade de elementos estéticos que compõem o cotidiano da sociedade de consumo em que se está mergulhado” (Proposta Curricular de Educação Artística, 1998, p.9).

Dessa forma, reafirmava-se a idéia, já expressa mediante a citação de Barbosa (1991), de que o professor de Arte deveria preparar o aluno não apenas para a leitura de obras de arte, mas também para a leitura de imagens de outros ambientes de seu cotidiano, como imagens de desenhos animados e filmes veiculados pela TV, imagens de propaganda veiculada pelas mídias impressas como cartazes, out doors e revistas, além das imagens dos livros didáticos e do ambiente escolar.

À tabela criada pela Proposta Curricular de 1996, contendo os Conteúdos Específicos de Artes Plásticas, acrescentaram-se, na Proposta Curricular de 1998, conteúdos relacionados à História da Arte, Artistas e Movimentos Históricos, indicando que o conteúdo Artistas iniciava-se desde a idade de 0 a 6 anos, indo até a 8ª série, e o conteúdo Movimentos Históricos estava relacionado ao trabalho da 5ª, 6ª, 7ª e 8ª séries.

Na Proposta Curricular de 1998, foi adicionada a seguinte a observação:

Considerando que o aluno deve dominar a manipulação dos materiais utilizados na pesquisa e na elaboração de seus trabalhos, as técnicas, quando apresentadas como recursos específicos na elaboração de imagens visuais, podem ser entendidas e trabalhadas como conteúdo. (Proposta Curricular de Educação Artística, 1998, p.16).

Assim, a inserção das técnicas como conteúdos passíveis de pesquisa, e não apenas como meios para desenvolver o potencial criativo do aluno, sinalizava que o foco dessa Proposta Curricular já não era mais da atividade plástica como exercício expressivo, mas da compreensão da arte como conhecimento que se constrói nas dimensões intelectual, sensível e plástica.

Essas idéias foram discutidas nas reuniões do Grupo de Estudos dos Professores de Arte que participavam das reuniões do CEMEPE, colaborando no fortalecimento dos argumentos dos professores de Arte, que, constantemente, tinham que defender o espaço do ensino da arte

na escola, mostrando que essa era uma área de conhecimento tão importante quanto as outras disciplinas escolares.

Nas reuniões dos professores de Arte que aconteceram entre 1998 e 1999, permanecia o caráter de formação continuada que permeava as ações e as reflexões do grupo desde seu início em 1991, sendo caracterizadas, nesse momento, pela troca de experiências que tinham como referência os conteúdos da Proposta Curricular de Educação Artística de 1998 e pela leitura e pelo estudo de textos, como, por exemplo, o livro Tópicos Utópicos de Ana Mae Barbosa (1998), que esclareciam e ampliavam os referenciais teóricos e metodológicos contidos nessa Proposta.

4.5 O amadurecimento do Grupo de Estudos de Professores de Arte: a tomada de