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O início do ensino da arte na Rede Municipal Ensino de Uberlândia: 1989 a

4 GRUPOS DE ESTUDOS DO CEMEPE E DO NUPEA: UM POUCO DA HISTÓRIA DA FORMAÇÃO CONTINUADA DOS PROFESSORES DE ARTE DE UBERLÂNDIA

4.1 O início do ensino da arte na Rede Municipal Ensino de Uberlândia: 1989 a

O ensino da arte na Rede Municipal de Educação de Uberlândia teve início em 1989, com o trabalho de uma professora de Educação Artística que atuava de primeira a oitava séries em uma das escolas municipais da zona rural. A atuação dessa professora foi uma primeira tentativa da Secretaria Municipal de Educação em atender à LDB nº 5.692/71, oferecendo atividades voltadas para a Educação Artística, porém sem uma sistematização como disciplina escolar (MACÊDO, 2003).

30 No presente capítulo, quando apresentarmos comentários ou opiniões de docentes, estaremos referindo-nos aos

Conforme Macêdo (2003), a administração municipal que governou a cidade entre 1983 e 1988 construiu e administrou, nesse período, creches e pré-escolas, salas de ensino seriado na zona rural que contavam, inclusive, com transporte coletivo para as crianças e programas comunitários de educação de adultos orientados pela filosofia de Paulo Freire. Assim, a Prefeitura buscava antecipar-se ao processo de municipalização do ensino determinado pela Constituição de 1988, que estabelecia para os municípios a prioridade do atendimento à educação infantil e fundamental.

Em 1989, como resultado das mudanças constitucionais de 1988, que destinaram recursos financeiros para a municipalização da saúde e da educação, a administração que assumiu a Prefeitura Municipal de Uberlândia iniciou um processo de expansão física e funcional da rede municipal de educação, construindo e reformando escolas nos diversos bairros da cidade, além de assumir a sua manutenção e o seu funcionamento (MACÊDO, 2003).

Nesse contexto, a Escola Municipal Afrânio Rodrigues da Cunha, situada no bairro Jardim Brasília, é considerada o início da emancipação do sistema municipal de ensino, ampliando a municipalização do ensino de primeiro grau, prevista pela constituição vigente em 1989 (MACÊDO, 2003)

Em relação à inserção do ensino da arte nas escolas municipais,

Os professores de arte da Rede Municipal de Ensino de Uberlândia consideram como marco inicial para o Ensino de Arte nas escolas municipais o ano de 1989 quando a professora Cesária Alice Macêdo propõe ao então secretário de educação, Dr. Afrânio de Freitas Azevedo, um projeto extra-curricular na área de música na Escola Municipal Afrânio Rodrigues da Cunha. (TINOCO, 2003, p.17).

Inicialmente, em 1989, o Projeto de Arte-Educação foi desenvolvido apenas na Escola Municipal Afrânio Rodrigues da Cunha em forma de oficinas, uma vez que essa era a única escola municipal da zona urbana de Uberlândia e, até aquele momento, a prefeitura de

Uberlândia contava com apenas duas professoras de Arte: a professora Cesária, que passou a coordenar o referido projeto, e outra professora de Arte, que atuava na zona rural. Para serem executadas, as oficinas de arte do Projeto de Arte-Educação contaram com a contratação temporária de oficineiros, sendo estes arte-educadores conhecidos pelo trabalho desenvolvido em outros projetos culturais da cidade ou região e moradores do próprio bairro onde o projeto estava sendo implementado (MACÊDO, 2003).

A respeito desse trabalho inicial, temos o seguinte:

Naquele momento, as oficinas de Arte-educação foram a forma encontrada para um possível começo. Estas Oficinas tinham como objetivo geral o “resgate” da Arte na escola, por meio do teatro, das artes plásticas, da música, da dança, da capoeira e da literatura, acontecendo durante um mês (setembro) com apresentação dos resultados na semana da criança (de 09 a 13 de outubro de 1989). (MACÊDO, 2003, p.53).

De acordo com Macêdo (2003), podemos entender que o Projeto de Arte-Educação contemplava oficinas de música, mas também outras áreas artísticas, porém, sem caracterizar o ensino da arte polivalente, que prevalecia desde a LDB nº 5.692/71, pelo qual o professor de Arte deveria trabalhar, ao mesmo tempo, com todas as linguagens artísticas.

Nesse sentido, o Projeto de Arte-Educação destaca-se como marco inicial da inclusão do ensino da arte nas escolas da Rede Municipal de Ensino de Uberlândia, visto que foi por intermédio desse trabalho com as várias linguagens artísticas que se pôde atestar a importância da presença da arte na escola, abrindo campo de trabalho para profissionais formados nos cursos superiores de Educação Artística.

No entanto Macêdo (2003) relata que, ao avaliar as oficinas realizadas no Projeto de Arte- Educação em 1989, constatou que, apesar da repercussão positiva junto à comunidade do bairro, apenas duzentos alunos tinham sido contemplados com o projeto, fato que estimulou a mudança de rumos deste.

Em 1990, O Projeto de Arte-Educação foi reformulado e encaminhado à SME como proposta que incluía o ensino da arte na estrutura curricular das escolas municipais. A Prefeitura Municipal de Uberlândia era responsável, nesse momento, por treze escolas situadas na zona rural e uma escola na zona urbana, todas elas oferecendo ensino de 1ª a 8ª séries do 1º Grau, além de sete pré-escolas também situadas na zona urbana (MACÊDO, 2003). No início desse mesmo ano, aconteceu o primeiro concurso público municipal para professores de várias áreas de ensino, entre as quais, a área de Educação Artística foi incluída, porém sem constar do edital o número de vagas específicas para essa área.

Nesse concurso, realizado em 1990, dos quinze candidatos inscritos para a área de Arte, sete foram aprovados e apenas quatro tomaram posse e se propuseram a trabalhar com o Projeto de Arte-Educação em vigor (MACÊDO, 2003).

Na entrevista coletiva que realizamos, a professora Carmela31comentou que foi uma das aprovadas nesse primeiro concurso, mas não tomou posse de seu cargo porque: “eu me assustei muito com o lugar, com o espaço...” Disse que a escola onde iria trabalhar era muito distante de sua residência e pensou que “como eu estava numa escola particular e não pretendia sair, na época não achei muito viável para mim”. Na sua opinião, não valeria a pena deixar a escola particular onde atuava para trabalhar na Rede Municipal de Ensino, cuja escola ficava num bairro periférico da cidade.

Isso revela que, naquele contexto, as escolas públicas municipais ainda não eram vistas como campo de atuação profissional para os professores de Arte, porque, ao contrário da maioria das escolas estaduais e particulares, que se localizavam nas áreas centrais da cidade, as escolas municipais situavam-se na zona rural e num bairro afastado do centro. Assim, a

31 Como já assinalamos antes, os nomes das professoras que participaram da entrevista coletiva também foram

trocados pela pesquisadora por nomes de artistas plásticas brasileiras, todas elas mulheres, sendo que o nome escolhido para cada professora entrevistada corresponde ao primeiro nome de uma dessas artistas: Lygia (Lygia Clark), Leda (Leda Catunda), Maria (Maria Bonomi), Carmela (Carmela Gross), Tarsila (Tarsila do Amaral),

Anita (Anita Malfati), Djanira (Djanira) e Regina (Regina Silveira). Tal procedimento foi adotado para preservar a identidade das profissionais que participaram da entrevista coletiva. Já os depoimentos das professoras entrevistadas passaram por pequenas correções para poderem ser mais bem compreendidos.

professora Carmela preferiu manter-se na escola particular, porquanto o acesso e as condições de trabalho, considerados por ela melhores, se comparados às escolas municipais, davam-lhe mais segurança para a realização de seu trabalho.

Desse modo, devido ao número reduzido de profissionais, o Projeto de Arte-Educação continuou sendo executado, em 1990, na forma de oficinas, ou seja, como atividade extra- curricular, sendo que, nesse momento, tais oficinas passaram a ser oferecidas também em algumas escolas municipais da zona rural, de acordo com o interesse da escola em participar do projeto e com a possibilidade da presença de um professor de Arte.

4.2 A inserção do ensino da arte no currículo das escolas municipais de Uberlândia e a