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Entre a opção e a necessidade, uma proposta de classificação das teorias de internacionalização

Percebe-se que as interpretações que tomam a internacionalização como uma opção endógena, resultado de uma decisão do agende econômico que é a firma, tem seu foco principal na análise dos capitais individuais. Se tomarmos isto como premissaparece perfeitamente lógico que o campo de estudo que melhor contribuirá para a explicação do processo de internacionalização é aquele que se debruça sobre a tomada de decisões.

Já para a corrente que assume a internacionalização como condição mínima de existência, ou expansão, do capital, parece ser imperativo se observar os fluxos mais amplos de capital. A instância da empresa desaparece como mera expressão particular e historicamente limitada da instituição capitalista, não a única e talvez sequer a mais importante; e isto permite, então, compreender porque as maiores firmas de uma indústria agem em bloco, ainda que por caminhos internamente distintos, em direção aos mercados externos.

Ainda é preciso destacar que, considerando as teorias neoclássicas, marxianas e comportamentais, as primeiras parece se preocupar exclusivamente com o porquê do processo de internacionalização da empresa e do capital; e as últimas, tomam os porquês como dado e se voltam exclusivamente para o como. A abordagem crítica marxiana, no entanto, parece se notabilizar por enveredar na resposta do porquê da internacionalização observando com particular interesse as condições institucionais, sociais e políticas do processo, o que acaba, inevitavelmente, levando foco em direção ao como. Ou seja, assume notadamente que o como e o porquê da internacionalização são inseparáveis e absolutamente necessários para o entendimento deste processo social.

Quadro 1: teorias de internacionalização.

Aporte teórico Contribuição p/ análise do

processo de internacionalização Crítica / Pertinência

Te oria s ne o clássica s e c o mporta menta is Inte rna cionaliza çã o c om o de cisão

Teoria da inovação Internacionalização é resultado da inovação na firma.

Foco na firma individual e no processo de inovação, do qual a

internacionalização faz parte

Teoria dos custos de transação / NEI

Internacionalização motivada pela necessidade de redução dos custos de transação nos mercados externos.

Também foca na firma individual, atribui a internacionalização à decisão

[simétrica] dos agentes econômicos envolvidos.

Escola de Upsala, ou escola nórdica

Resultado de um processo evolutivo linear condicionado pela curva de experiência.

Foca na decisão individual da firma, desprezando fatores ambientais e institucionais.

Teoria das redes de relacionamento

Internacionalização está condicionada à adesão em redes de cooperação.

Considera como principal variável externa as redes empresariais, mas deixa de lado os processos políticos e estatais.

Abordagem do empreendedorismo internacional

Internacionalização depende do empreendedor, deste localizar e aproveitar oportunidades.

Focaliza exclusivamente o gestor ou o empreendedor. Toma os fatores institucionais e/ou políticos como negligenciáveis. Inte rna cionaliza çã o c om o ne ce ssi da d e Teoria da acumulação- centralização Internacionalização é resultado da acumulação e da centralização de capital.

Foca no Capital em geral, e na internacionalização como advinda do processo de integração das indústrias no plano internacional de acumulação e centralização de Capital. Elemento político e estatal é tomado como central no processo.

Teoria do imperialismo

A internacionalização se dá graças a uma articulação Estado/Capital para dominar diretamente países que servem como mercado consumidor e fornecedor de matérias-primas.

A internacionalização se impõe como fase necessária à expansão capitalista.

Teoria do sistema- mundo

O capital é por princípio de natureza internacional.

O capital já nasce internacional. Sua expressão na firma é mera

contingencialidade.

Fonte: elaboração própria a partir de Bhowmick (2008), Braudel (1996), Coase (1932), Forsgren & Holm (2002), Hobson

(1988), Lenin (1979), Marx (1996), Schumpeter (1967), entre outros.

No quadro 1, anteriormente exposto, propomos uma classificação para as escolas teóricas da internacionalização em dois grupos amplos: as teorias que tomam a internacionalização como uma decisão, e aquelas que a veem como uma necessidade para o capital se manter.

Observa-se que, apesar desse diferenciarem exclusivamente no tratamento dado à opção de internacionalizar, a principal distinção entre estes arcabouços teóricos está em sua concepção ontológica para a compreensão do que vem a ser o Capital. Para os teóricos que servem de base para as escolas que acreditam ser a internacionalização uma opção, o Capital é visto como mero fator de produção cuja existência é isenta de significado sociológico, político ou simbólico; os teóricos classificados como participantes da concepção de que o Capital se internacionaliza como uma necessidade, partem da premissa de que o Capital é uma instituição cujas dimensões social e política representam um papel determinante na divisão social do trabalho como elemento estruturante de relações entre classes.

Esta distinção ainda pode ser percebida no nível de categorias empíricas utilizadas para evidenciar o processo de internacionalização. Os teóricos do primeiro grupo não tratam do Capital, sequer usam esta terminologia, mas sim da internacionalização da empresa — sempre como uma extensão, ou uma complexificação, da teoria neoclássica da firma. Já para o segundo grupo o foco está no Capital em geral, um processo social cuja natureza está para além da noção de fatores de produção ou das firmas. Assim, para estes é o Capital que se internacionaliza [ou é ontologicamente internacional] espalhando pelo mundo sua influência,

modus operandi e instituições. Obviamente, é exatamente por diferirem em sua concepção de

Capital que propõem distintas explicações para a internacionalidade deste.

O trabalho aqui concebido compreende que o objeto perseguido na presente pesquisa é mais bem explicado a partir do referencial classificado no segundo grupo. Admite-se que o conjunto de um setor produtivo compõe uma fração da classe capitalista, fração esta cujo comportamento parece melhor evidenciado pela ação conjunta do que pela explicação individualista que é premissa do primeiro grupo de teóricos. Desta forma, a partir de então se avança num aprofundamento das bases para compreensão da internacionalização de capital como uma necessidade.