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A autora afirma, entretanto, que apesar do Estado apresentar um dos mais baixos índices de desigualdades de distribuição da posse da terra do Brasil, deve-se ressaltar que isto não significa que a posse da terra não

aves (81%), suínos (80%), e bovinos (57%). Observa-se a importância da agricultura familiar no Estado ao se verificar que produtos tradicionalmente cultivados em grandes propriedades em outros Estados brasileiros, como a cana-de-açúcar, o milho e a criação de bovinos, em Santa Catarina são produzidos predominantemente por agricultores familiares.

Mas, conforme poderemos observar, toda essa estrutura é reflexo da forma como foram divididas as terras do Estado. Assim como no restante do país, a posse da terra em Santa Catarina se efetivou pela concessão de sesmarias aos fidalgos e imigrantes europeus que possuíam uma situação financeira privilegiada, o que caracterizou a formação espacial inicial do Estado baseada no latifundio. No entanto, segundo Corrêa (1999, p. 16), essa situação fundiária não se perpetuou já que a grande massa de imigrantes que ajudou a povoar o Estado era composta de imigrantes detentores de poucos recursos técnicos e financeiros, insuficientes para a manutenção do domínio do latifundio e da mão-de-obra escrava, a exemplo do que aconteceu em outras regiões do país onde esse sistema foi determinante na sua formação territorial e social.

Aos açorianos e madeirenses que foram trazidos para Santa Catarina com o intuito de servirem de povoadores-soldados, foram concedidas terras que ainda não haviam sido distribuídas pelos governantes do Estado. No entanto, estes povos receberam as sesmarias ñum processo muito lento e, muitas vezes, com áreas muito menores do que as prometidas. Para Corrêa foi “nesse processo que surgiu no litoral catarinense a pequena propriedade fam iliar e fo i nessa base que se desenvolveu a economia ” (CORREA, 1999, p.30).

No Planalto Catarinense, as terras também foram distribuídas em sesmarias. Mas os imensos campos de pastagens que formavam a paisagem de cidades como Lages e São Joaquim, acabaram por acompanhar o desenvolvimento da criação extensiva de animais (gado para a produção de came e couro), e mais tarde, a exploração da erva-mate e as reservas florestais para extração de madeira, atividades econômicas que caracterizaram essa região como uma área de grandes propriedades rurais, bem diferentes das áreas do litoral.

A Lei de Terras de 1850 proporcionou um novo quadro no panorama fundiário do Estado. O contingente de imigrantes alemães e italianos que aportaram em terras catarinenses, através de acordos entre o governo e as companhias colonizadoras, pôde tornar-se proprietários de pequenos lotes de no máximo 30 hectares, que segundo Câmara (1948) seriam pagos conforme a terra lhes fossem conferindo rendimentos. Assim como no

caso dos imigrantes que colonizaram o município de Antônio Carlos, a maioria dos estrangeiros, alemães e italianos, basearam sua organização econômica nas atividades agrícolas, que eram calcadas então na pequena propriedade e trabalhada exclusivamente com mão-de-obra familiar. As atividades praticadas por esses imigrantes, em particular, foram de extrema importância para o desenvolvimento econômico do Estado.

A diversificação das atividades econômicas ocorrida nas três primeiras décadas da colonização alemã e italiana, associada à geração de excedentes, fez a economia catarinense penetrar numa nova fase de desenvolvimento, impulsionando as exportações, tanto para o mercado interno do país, como para o exterior (CORREA, 1999, p.38).

Portanto, foi desta forma que a pequena propriedade rural alcançou significativa importância no Estado de Santa Catarina, assim como o foi no Estado do Rio Grande do Sul, ambos fruto dos processos colonizadores, e se tornou conforme as palavras de Lago “...condição fundam ental da evolução cultural, social, econômica e política do próprio Estado ” (LAGO, 2000, p.256).

Embora o Estado tenha acompanhado um tímido processo de industrialização chegando aos anos 1950 com um parque industrial diversificado e bem estruturado, distribuído por várias regiões de Santa Catarina2, ainda dominavam no território catarinense as atividades agrícolas voltadas ao abastecimento do mercado interno.

Mas, para que o desenvolvimento econômico do Estado se constituísse objetivo atingido foi dada prioridade a superação da precariedade de infra-estrutura que predominava nas terras catarinenses. Esta foi gradativamente superada, como é o caso da conclusão da BR-101 (liga SC ao norte e ao sul do país), assim como estradas internas asfaltadas interligando todas as regiões do interior aos portos de escoamento da produção (CORREA, 1986). Houve também a ampliação da eletrificação, das redes de comunicação e a atualização das estruturas portuárias. A estruturação do Estado permitiu que se abrissem portas para a obtenção de financiamentos agrícola e industrial que impulsionaram o desenvolvimento da economia catarinense (CORREA, 1999). Mas, para garantir esse desenvolvimento era necessário também garantir a sobrevivência da pequena produção

2 Segundo Corrêa (1999, p.39) o Estado nos anos 1950 destacava-se nos setores, alimentar, têxtil, madeireiro, metal-mecânico e elétrico, ervateiro e carbonífero sendo as maiores concentrações industriais coincidentes com as primeiras zonas coloniais instaladas em Santa Catarina.

familiar, já que a estrutura fundiária do Estado estava baseada nesta estrutura e grande parte da população catarinense encontrava-se instalada no meio rural.

O primeiro passo para garantir a manutenção da instituição pequena propriedade em SC foi a criação da Secretaria da Agricultura, desmembrada da Secretaria de Viação e Obras Públicas, ainda nos anos 1950, e sob o governo de Irineu Bomhausen, assim como da criação do Laboratório de Pesquisa Agrícola em um dos setores administrativos e a execução do Projeto Gado Leiteiro3, instalado na área que mais tarde tornou-se o campus da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Porém, a ação de maior importância e que atingiu diretamente a pequena propriedade familiar concretizou-se com a criação da Associação de Crédito e Assistência Rural de Santa Catarina - ACARESC4 que passou a elaborar pesquisas acerca das reais condições das famílias rurais catarinenses, assim como foi fundamental na disseminação da cultura extensionista através dos escritórios locais, cujos técnicos se tomaram agentes de mudanças no sistema produtivo junto às comunidades, assim como participaram ativamente da formação de lideranças locais.

Nesse sentido, é contundente o depoimento de Lago (2000) a respeito da ideologia imposta pelas lideranças agronômicas do Estado, no sentido de atacar o “problema” do minifundio antieconômico.

O problema (...) teria que ser enfrentado à partir de, entre outros fatores, mudanças comportamentais do pequeno agricultor para assimilar novas tecnologias agrícolas, desde as infra-estruturais, como a conservação dos solos e fertilização adequada, às que dizem respeito à seleção de cultivares de maior rendimento e produtividade, assegurado por

“demonstrações de resultados ” (LAGO, 2000, p.267).

O extensionismo rural que ditava às comunidades o nível de aperfeiçoamento técnico a ser alcançado passou a fazer parte da rotina rural catarinense, disseminando-se

3 O Projeto destinou-se a imprimir progressiva mudança na constituição de planteis de origem crioula, vacas

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