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Entrevista ao professor do Ensino Secundário realizada no dia 16 de Março de

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Entrevistador (E) – Sr. Professor, de acordo com a sua experiência, como é que os professores encaram/lidam com casos de violência nas escolas?

Professor (P) – Da experiência que eu tenho, e também de acordo com a maioria dos casos

que tenho conhecimento, há tendência para os professores reagirem dentro daquilo que cada regulamento interno de cada escola permite, ou seja, fazerem participação à direcção da escola de casos pontuais e muitas poucas vezes resultam em queixas às autoridades (à polícia).

E – Por parte da direcção da escola, qual é o acompanhamento dado nestes casos? P – Quando as participações chegam à Direcção da escola, normalmente faz-se queixas às

autoridades, nomeadamente à Escola Segura, que se desloca ao local e que tenta resolver a situação da melhor forma possível.

E – Quando a polícia é chamada à escola, como é que ela actua?

P – Olhe, na minha situação, na situação que eu vivi e que já foi há alguns anos, e que eu

apresentei queixa enquanto vítima de violência, que não chegou a ser violência física, foi de ameaças e de algumas injúrias, a polícia, nomeadamente os agentes actuaram segundo um papel formativo/educativo, mais pedagógico em relação à família que tinha sido violenta comigo, através das ameaças e das injúrias. Os agentes chamaram os intervenientes e falamos todos e as coisas resolveram-se sem qualquer procedimento. Actualmente, daquilo que eu tenho conhecimento da escola onde estou a exercer é que há uma participação muito activa da Escola Segura e normalmente actuam chamando também à atenção dos encarregados de educação e dos próprios alunos, interagindo de maneira a controlar as saídas e as entradas dos alunos da escola nas horas mais críticas e tem sido essa resposta dada normalmente, mais de prevenção.

E - As situações de violência na escola têm vindo a agravar-se e a aumentar ou tem havido mais sensibilidade perante este fenómeno?

P – Desde há alguns anos a esta parte, tanto pelo conhecimento adquirido por quem está

nas escolas, como é o meu caso, como pela atenção despertada pelos meios de comunicação social, é que existe algumas formas de violência nas escolas, quando falamos em formas de violência falamos em violência física, violência verbal, moral, e que a visibilidade do fenómeno não reflecte o que se está a passar. O que é certo é que parece que a violência está a aumentar com o passar dos anos.

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E – Então considera que as acções de sensibilização e de presença junto à entrada dos estabelecimentos de ensino, tem sido a actuação mais importante da polícia como forma de prevenção da violência nas escolas?

P – Eu penso que uma forma única de prevenção, só por si não resolve, mas eu penso que é

uma das formas de persuadir, uma vez que dentro e fora da escola não é a mesma coisa. Os alunos saem da escola com uma disposição que não têm dentro da escola, muitas vezes violentas e de facto a presença dos agentes vem prevenir e atenuar que determinados actos acabem por acontecer.

E – Na sua opinião, e tendo em conta que já foi vítima de violência na escola, como é que os professores encaram o imediato desse tipo de situação?

P – Olhe, eu quando eu fui vítima acho que agi de uma forma que não é o habitual nos

professores. Portanto a minha resposta vai-se dividir em duas situações diferentes: Eu acho que os professores normalmente, por aquilo que eu tenho observado em colegas meus que têm sido vítimas de violência tendem a deixar esquecer o problema. Embora inicialmente façam a participação na escola para tentar fazer tudo para resolver a situação, depois reagem de uma forma que eu considero um bocado passiva, isto também porque muitas vezes os próprios regulamentos não permitem que nós possamos ir mais além. Se nós tivermos em conta que a medida mais punitiva que a escola pode ter em relação a um aluno é uma suspensão de dez dias na escola e que muitas das vezes nem os próprios encarregados de educação nem as famílias chegam a ter conhecimento dessa suspensão, os efeitos da punição acabam por ser reduzidos.

Eu pessoalmente apresentei queixa e estava disposto a ir mais longe, mas as coisas resolveram-se pela melhor via, também na altura com a ajuda da PSP e do mediador da escola que nós tínhamos. Mas eu considero que a denúncia às autoridades não é a forma mais frequente dos professores reagirem à violência de que são vítimas nas escolas.

E – Mediante todo este fenómeno que se tem vindo a debater, qual é a sua opinião sobre a existência de uma norma que viesse criminalizar a violência em ambiente escolar, que visasse proteger toda a comunidade educativa?

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P – Penso que poderia ser uma boa medida porque mesmo a própria sociedade tem uma

visão actual dos professores que não acontecia há uns anos atrás, ou seja, não há respeito pela profissão e pela função que um professor tem na sociedade. A função exercida pelos professores deveria ser suficiente para haver uma atenção diferenciada em relação à criminalização deste tipo de situações.

E – Então se os professores ficassem isentos do ónus da apresentação da queixa, cabendo ao Ministério Público a legitimidade para promover o processo penal e carrear toda a prova para o processo, haveria mais professores a denunciar os factos ou não?

P – Penso que sim, porque, nas nossas vidas, a burocracia acaba por travar as nossas

acções, e há pouco quando eu disse que os professores têm tendência de denunciar pouco às autoridades, nesse sentido a minha resposta é afirmativa. Se realmente o Ministério Público tomasse a violência contra o professor como uma violência contra o próprio Estado digamos assim, eu penso que poderia ser uma forma por um lado, de os professores acreditarem mais que as coisas poderiam ser resolvidas, e por outro haveria mais formas de dissuadir possíveis actos de violência contra os professores, ou contra a comunidade educativa seja ele professor, auxiliar ou outro profissional qualquer da escola, e até contra outro aluno ou encarregados de educação como também já tem acontecido, e portanto via essa medida com bons olhos e penso que os professores, em geral, iriam ter essa visão.