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Transcrição da Entrevista ao Prof. Eliot Lawson (2 de Junho de 2015) Primeira Questão:

- Como vê as mudanças de posição em termos da preponderância que têm na carreira de um violinista?

Resposta: Repara, eu acho que mudanças de posição são um dos mais importantes aspetos técnicos de base, e porquê perguntas tu? Podemos começar por comparar com o canto. Os cantores quando mudam de uma nota para outra, realizam sempre mudanças de posição com a voz. Nós violinistas, não as realizamos sempre mas aparecem com grande frequência, e é muito importante realizar uma mudança de posição o mais musical possível porque faz realmente parte da música. Quando ouvimos um cantor como Pavarotti, ele tem sempre mudanças de nota com “ mudanças de posição” e todas elas são executadas de forma musical. Nós violinistas deveríamos fazer o mesmo, temos tantas formas diferentes de realizar mudanças de posição e todas elas fazem parte da música, devendo por isso ser musicais, desempenham um papel tão importante na música que a parte técnica das mudanças de posição torna-se também por isso muito relevante. Portanto eu diria que mudanças de posição, em comparação com por exemplo afinação, que também é um aspeto crucial da interpretação, são ambos de igual importância e também complementares. Portanto eu diria que um violinista que não realiza correctamente mudanças de posição não irá alcançar com sucesso um futuro como intérprete.

E. Sousa: Sim, seria então um fator que seria intransponível se não fosse bem realizado, correto?

E. Lawson: Sim, a única solução que vejo seria que apenas tocasse na primeira posição! Mas então tocaria apenas música irlandesa ou algo do género, que também poderia tocar muito bem! Não sei, apenas acho que mudanças de posição são mesmo um daqueles aspetos que são tão fundamentais como ser capaz de caminhar, sem poder andar consegues ainda ter alguma mobilidade, mas não deixa de ser uma capacidade importantíssima.

Segunda Questão:

- Sente que os alunos chegam a universidade com lacunas neste campo técnico? Ou seja, sente que este aspeto simplesmente não foi bem trabalhado ou que realmente existem verdadeiros problemas em termos do ensino?

Resposta: Eu penso que existem realmente problemas mas felizmente as mudanças de posição são um aspeto que pode sempre ser bem ensinado e retificado, deixando de ser assim um problema tão grave. Mas realmente vejo grandes problemas porque basicamente os alunos não sabem executar de forma correta mudanças de posição, eles não fazem ideia! Portanto, sim concordo.

E. Sousa: Mas sente que eles foram mal ensinados ou que se trata de..

E. Lawson: Eu não diria mal ensinados, eu diria que não foram ensinados de todo em determinados aspetos das mudanças de posição.

E. Sousa: E poderia talvez mencionar que aspetos sente que não foram tão tem trabalhados ou que noções faltam aos alunos?

E. Lawson: Os alunos, basicamente, quando perante uma mudança de posição vêm duas notas, um dedo e depois outro dedo, numa posição diferente. Mas esquecem-se de que não são os dedos que se mexem, mas sim um todo movimento da mão e braço, e os dedos apenas fazem parte deste todo, há uma espécie de alongamento da mão. E para todos os efeitos, quando eu vejo os alunos, eles estão concentrados nos dedos e esquecem-se das suas posições e posturas, que regra geral estão mal! Não digo que seja impossível conseguirem executar mudanças de posição com bons resultados, desta forma, mas é apenas mais difícil, também para a afinação. Portanto este é um dos aspetos que vejo muito. Também vejo por exemplo, alunos que mudam a forma da sua mão enquanto mudam de posição, o que eu acredito também ser uma péssima ideia, pelas mesmas razões, visto perderem a estrutura da mão e portanto prejudicarem a qualidade da afinação, mas também vejo alunos que nem sequer mudam de posição e portanto apenas saltam de uma nota para a outra, o que também é mau porque simplesmente não é musical. Da mesma forma que também vejo alunos que simplesmente as fazem muito rapidamente e musicalmente dão uma sensação de choque ao que estão a interpretar.

E. Sousa: Portanto o professor diria que os alunos se focam demasiado no ponto de partida e de chegada das mudanças de posição e não dão atenção suficiente ao processo de mudança que se situa entre as duas?

E. Lawson: Exatamente, totalmente correto. Eu penso que o processo técnico em si é muito importante mas também é um processo musical e que os alunos e as pessoas em geral simplesmente não pensam nisso dessa forma, pensam que começam num sitio e que têm de chegar a outro, a questão de como chegar lá não interessa, vamos apenas chegar lá. Mas as pessoas deveriam saber como o fazer claro, a chave sendo, apenas ouvir aquilo que estão a fazer e a audição tratará de os guiar mas será sempre mais fácil se estiver lá alguém para lhes dizer o que fazer, claro (ri-se).

- Sente que as mudanças de posição têm mais ou menos impacto nas fases mais tardias da carreira de um violinista? Ou seja, sente que existem profissionais da área cujas mudanças de posição não foram bem trabalhadas e que portanto tiveram as suas carreiras afetadas por causa disso?

E. Lawson: Eu suponho que se as mudanças de posição não forem aperfeiçoadas…É óbvio que é preferível que estejam bem trabalhadas e executadas com mestria, porque dessa forma será sempre um violinista mais estável e quando se toca em concertos a solo e tudo isso e tem de se ter o reportório muito bem assimilado é melhor ser- se um violinista estável.

E. Sousa: E sente que se verifica essa instabilidade em violinistas de maior maturidade?

E. Lawson: Eu não iria tão longe e insinuar que não existe qualquer estabilidade em determinado violinista, porque senão ele nem estaria a tocar a um bom nível! Mas sim, constato que existem violinistas profissionais que poderiam ter conseguido um maior nível de mestria nesse âmbito de forma a serem mais estáveis e claro, afeta a sua forma de tocar e também a sua confiança.

Quarta Questão:

- Qual é para si a melhor forma de praticar mudanças de posição?

E. Lawson: Bem, realmente depende da peça que estiver a ser trabalhada, sendo claro que se eu realmente precisasse de praticar mudanças de posição, eu iria para os básicos, como estudos como Kreutzer ou outro tipo de estudos, para que me possa focar exclusivamente no trabalho desse aspeto, que por sinal, não é assim tão fácil por si só. Inclusivamente hoje em dia, uma vez ou outra, eu volto a pegar num estudo de Kreutzer apenas para rever, reavivar as bases. Quando se trata de interpretar música a sério, como concertos a solo e assim, já vou abordar de forma diferente, porque irá ser uma parte constituinte da música.

E. Sousa: E se por exemplo se deparar com um salto de posição de uma das primeiras para as últimas posições?

E. Lawson: Até um salto assim se deve encarar como sendo música, vai-se tentar fazer algo de musical com ele e depois ao praticar, iria ser executado de uma forma que soe bem (musicalmente) e seja fisicamente agradável (confortável), essa é a essência do estudo deste aspeto. O conforto tem a mesma importância que o resultado final, a mesma! Se o conforto não estiver lá no estudo, vai fazer falta no momento do concerto, será sempre um risco fazer algo que não está confortável em público. Portanto, o conforto, a sensação de execução, acaba por ter a mesma preponderância que o resultado final.

E. Sousa: Diria que existe diferença entre uma mudança de posição com um salto grande e uma mudança de posição com um salto grande cuja nota de chegada é um harmónico?

E. Lawson: Sim, a técnica é completamente diferente. Quer dizer, não é uma técnica completamente diferente pois a base é a mesma, pois o movimento acontece sempre com o braço, mas as mudanças de posição normais, regra geral requerem que o novo dedo, na nota de chegada, pise a corda rapidamente, como uma bomba, de forma a articular bem a nota, enquanto num salto para um harmónico regra geral não vamos mudar o dedo e portanto não haverá esse problema e portanto apenas se fica com o mesmo dedo na corda. Eu diria que esta é a única diferença porque se olharmos para os outros aspetos que são importantes, o movimento, a velocidade da mudança, são em ambos os casos iguais, começa-se devagar e acabam em velocidade. Em suma, existe sim uma diferença, mas em geral a base das mudanças de posição é sempre a mesma.

Subir é sempre mais fácil do que descer neste tipo de processo técnico, pois ao descer temos sempre mais uma coisa em que pensar, o dedo que estava pousado na corda tem de se levantar antes de se pousar o dedo que o vai substituir, é uma coisa que complica mais o gesto de descida. Mas em geral é sempre o movimento do braço que deve começar devagar e ir acelerando para não haver um choque. A forma de finalizar o movimento é que estará sempre dependente do que se estiver a tocar e das características da passagem em questão.

E. Sousa: Já teve um caso de um aluno a quem fosse muito difícil ensinar de forma correta a execução de mudanças de posição?

E. Lawson: Executar bem mudanças de posição não é algo muito fácil, em especial se existem práticas erradas que se prolongaram ao longo de anos, portanto, sim, claro que encontrei dificuldades em ensinar de forma correta, mas não diria que é algo difícil como o vibrato, por exemplo, que é algo muito pessoal e especifico…eu apenas acho que mudanças de posição são um aspeto que poder sempre ser retificado, independentemente do resto. Óbvio que alguns alunos terão mais facilidades que outros, mas diria que não é algo que está dependente de talento para ser bem assimilado, até pessoas sem talento poderiam aprendê-las de forma correta.

E. Sousa: Então acredita que será sempre possível retificar casos de más práticas de mudanças de posição?

E. Lawson: Repara, se eu não pensasse dessa forma, eu não seria professor, Eduardo. É muito importante acreditar sempre que é possível, e na minha experiência de ensino, foi sempre possível. Fácil não diria, mas possível, sempre.

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