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Entrevista face a face com produtores dos sites das escolas

1 EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA: CAMINHOS METODOLÓGICOS

1.3 Entrevista face a face com produtores dos sites das escolas

A entrevista tem sido utilizada para estudos mais complexos, isto é, para o estudo de instrumentos mais padronizados. Inclui também estudos a serem investigados, como “fatos, sentimentos, planos de ação, condutas atuais ou do passado, entre outras” (SZYMANSKI, 2004, p. 10). A entrevista é como uma “arena de conflitos e contradições”, observando medidas de representatividade da conversa e da “interação social que está em jogo na interação pesquisador-pesquisado” (SZYMANSKI, 2004, p. 11). Nesse sentido, nas relações de interação, todo estado do ser proporciona uma ação. Sendo assim, o cruzamento de emoções nas interações humanas influencia o ato da entrevista. Por isso, serão focalizadas algumas questões, como “as condições psicossociais presentes numa situação de interação face a face, a relação de poder e desigualdade entre entrevistador e entrevistado, entre outros fatores” (SZYMANSKI, 2004, p. 12).

Com relação ao momento da entrevista, espera-se que o entrevistado responda as questões com facilidade e com fidedignidade. O momento da entrevista é aquele em que o entrevistado pode ser ouvido e se expressar, em que ele pode fazer uma ponderação sobre sua pessoa, e também pode querer agradar ou desagradar o entrevistador por sua invasão. A saber, há uma organização no processo de interação que traduz significados referentes ao conteúdo da

entrevista. Sendo assim, pode ocorrer situações em que o entrevistado se ache invadido, o que pode prejudicar a entrevista, ou pode também se sentir bem por se lembrar de algo importante que ocorreu em sua vida. Por isso, o simples ato do entrevistador escutar o entrevistado já se torna uma “ajuda”.

Quanto ao desenvolvimento da entrevista, os seus objetivos devem ser claros, para que as informações coletadas também sejam. O primeiro momento da entrevista é o contato inicial, com o intuito do fornecimento de dados pessoais, institucionais e esclarecimentos da própria pesquisa. Além disso, estabelecer uma linguagem equivalente à do entrevistado deixa a conversa mais próxima de sua realidade, o que favorece a entrevista. O segundo momento é a condução da entrevista, uma espécie de “aquecimento”. Nessa etapa, é importante criar um ambiente favorável à entrevista. Em estudos com famílias, por exemplo, buscar informações de sua origem, composição, idades, rotinas diárias. Consequentemente, recomenda-se falar de modo amplo sobre o objeto da pesquisa para estabelecer uma relação mais próxima com o entrevistado.

Com relação à questão desencadeadora da pesquisa, na entrevista reflexiva, os objetivos serão a base. Dessa forma, essa pergunta geradora irá inicializar a fala do participante para o desenrolar das questões. As perguntas geradoras não são fáceis de ser elaboradas e requerem a consideração de alguns critérios, como considerar os objetivos da pesquisa e evitar induzir as respostas, entre outros. Já quando se fala em “expressão da compreensão”, isso quer dizer o momento da entrevista em que o entrevistador vai exibindo o entendimento do discurso do entrevistado. Esse entendimento é de caráter descritivo e imprime a capacidade de se colocar no lugar do outro, porém, não assume a forma de uma avaliação pessoal. Sendo assim, além de indicar sua compreensão, preservar o foco do problema estudado na sua pesquisa é fundamental. “Sua participação pode ocorrer de diferentes formas: elaborando sínteses, formulando questões de esclarecimento, questões focalizadoras, questões de aprofundamento” (SZYMANSKI, 2004, p. 41).

As sínteses são importantes para que o entrevistado veja que suas falas estão sendo compreendidas de tempo em tempo. Essa é uma forma de se aprofundar no discurso de quem se entrevista. Ademais, é essencial utilizar falas e o vocabulário de quem se interroga. Já os esclarecimentos, no ato da entrevista, buscam esclarecer uma ideia ou fala confusa para o entrevistador. Isso porque uma expressão mal compreendida poderia prejudicar as análises dos dados posteriormente. Outro item da entrevista é a focalização do assunto, especialmente quando há dispersão das falas, sendo preciso reverter a situação e, com cautela, voltar ao tema

principal. Por sua vez, o aprofundamento deve acontecer quando o assunto central da pesquisa é tocado de modo superficial. Para aprofundar o tema, faz-se necessário utilizar perguntas que instiguem a fala do entrevistado, bem como fazer comparações e relações para entender o fenômeno em questão. Por fim, a devolução é a exposição, aos entrevistados, das reflexões feitas por meio da conversa na entrevista. Esse momento é de extrema importância, pois o entrevistado se sente valorizado e compreende que seu tempo de conversa não foi perdido e terá um retorno para seu próprio trabalho ou para sua vida.

Nessa linha de pensamento, para responder os anseios do problema da pesquisa e os objetivos, realizamos entrevistas face a face com os produtores dos sites do Colégio Providência e do Centro Educacional Arte do Saber. Na primeira visita que fiz às escolas, perguntei às respectivas direções quem produziu o site e cada uma entrou em contato com os produtores para solicitar que me ajudassem na pesquisa. Assim, ambos prontamente se dispuseram a contribuir com o estudo. Logo, marcamos a data para as entrevistas nos prédios das escolas e a realizamos.

No Colégio Providência, entrevistei6 E17, formado em Pedagogia e é técnico em

Processamento de Dados, e que, atualmente, atua como instrutor de Informática nessa escola. Não foi E1 que produziu o site, no entanto, hoje é ele que alimenta a página. Vejamos seu comentário no excerto abaixo:

Quando entrei, o site já existia. Pelo que sei, já existia há uns dois anos. Desde 2012 ou 2014 que existe o site. Então, a criação foi pela necessidade da divulgação dos procedimentos escolares, através do site. Então, o site está ligado à plataforma do Anglo, que é o método de ensino que a gente utiliza (E1, 2017).

E1 contou que o site surgiu por uma solicitação do Grupo Anglo feita à direção, pois a plataforma já existia e seria necessário, então, apenas que alguém iniciasse o trabalho de produção do site. E1 disse que, após o Grupo Anglo ter sugerido o site para a escola, a direção e outros dois funcionários deram início a ele.

Foi uma solicitação da direção. Daí, juntaram dois funcionários da secretaria da […]. Então, tanto que a visão do site é bem básica. Porque não houve uma pessoa que tinha uma formação para realmente elaborar aquele site, criativo […]. Ele é básico. Então,

6 As perguntas geradoras e a entrevista estão nos Apêndices.

7 Essa sigla foi criada para preservar a identidade dos pesquisados. Assim, E1 se refere ao Entrevistado 1 e E2 ao

foi esse tipo de alimentação, que não tem muitas instruções, nem nada, nele (E1, 2017).

E1 é funcionário da escola (técnico em Informática), cuida do Laboratório de Informática e instrui os professores e alunos quando esses fazem uso dele. Além disso, faz a alimentação do site. Ele nos contou que o site foi criado com o intuito de divulgar as atividades, informações básicas e os eventos realizados na escola. Além disso, quando o questionei sobre o contexto de criação, se houve ou não conversa e planejamento com os membros escolares (pais, professores, alunos e outros funcionários), E1 disse que não. De acordo com ele, o site foi criado de modo simples, pela direção e por outros dois funcionários a fim de dispor informações básicas.

No Centro Educacional Arte do Saber, entrevistei E2. Ele é sócio da escola e também atua como tatuador na cidade onde mora. Além disso, é formado em Administração e se aperfeiçoou em Marketing. Eu o questionei se, nesse curso, aprendeu a criar sites e ele respondeu que:

Então, na disciplina… sobre produção de site propriamente, não. A gente teve conhecimentos em mídias digitais, teve uma abordagem. Mas fiz, por fora, alguns cursos para aperfeiçoamento nessa questão de criação de sites.

[...] existem algumas plataformas, como o Wordpress, que é uma plataforma que muitas pessoas utilizam pela praticidade e funcionalidade. Dentro dela, me aperfeiçoei um pouco nessa plataforma. E é através dela que desenvolvi o site (E2, 2017). E2 nos contou que fez o site pela plataforma Wordpress e que fez alguns cursos para se aperfeiçoar na área. Quando questionei se o site era uma forma de comunicação importante para a escola, ele disse que sim e que, para

[...] desenvolver essa ferramenta, nós buscamos alguns layouts que tivessem a ver com o tema, você tem que encaixar um tema bem legal. No caso, a gente foi buscar um tema que tivesse a ver com o universo infantil e que pudesse levar de maneira bem prática a informação, que os pais pudessem gostar do layout. Eu creio que depois de muita procura, muita pesquisa, a gente achou um layout que fosse, mais ou menos, a “cara” da escola (E2, 2017).

É importante destacar que essa escola foi criada em 2014 e que o site foi lançado na web assim que a escola foi inaugurada. Por isso, os pais, professores e funcionários não

participaram ou deram sugestões para a página antes de ser feita. E2 nos disse que eles fazem isso agora: quando pais, professores ou funcionários oferecem sugestões, a escola leva em conta e busca reformular o site sempre que possível. Então, sabemos que as pessoas que participaram do planejamento e produção do site foram os donos da escola.

No caso, eu e a diretora somos proprietários da escola. Eu separei vários layouts que fui pesquisando e poderiam ser interessantes. Fui analisando, mais ou menos, a funcionalidade de cada um. Vimos o que poderíamos adequar para ficar mais personalizado e fomos escolhendo. Chegamos nesse que estamos usando hoje, e fui fazendo alguns acréscimos e alterações para ficar mais personalizado (E2, 2017).

Também questionei E2 sobre qual o objetivo principal de se criar o site:

Na verdade, o que eu acho imprescindível, são as mídias sociais. Eu queria interagir a escola com as redes sociais, este que era o nosso interesse, basicamente. Então a gente buscou algo que pudesse criar essa junção. E o site foi legal porque fica algo mais personalizado, você pode criar... Você pega algo mais personalizado e coloca as outras mídias dentro dele. Fica muito mais fácil para interagir, a pessoa com a escola e até os pais, entre si. Porque eles chegam no site da escola e, ali, podem interagir por meio das mídias... Eles estão conectados nas mídias (E2, 2017).

Sendo assim, entendemos que as entrevistas face a face nos proporcionaram entendimento sobre o contexto de produção dos sites e de sua formatação atual. Portanto, notamos que essa metodologia revelou novas possibilidades na apreensão das manifestações que se deseja averiguar, bem como o levantamento de dados relevantes sobre o assunto pretendido. Para isso, é importante fazer um treinamento, pois esse método requer estudo e planejamento prévio para uma pesquisa efetiva. Nesse sentido, as análises foram feitas mediante interpretações e pressupostos do material coletado (em forma de áudio e transcrição do material), baseada no corpo teórico que escolhemos para essa pesquisa. Salientamos que, nos próximos capítulos, virão outras reflexões e articulações sobre os resultados das entrevistas face a face.