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4.1. Entrevistas Iniciais

4.1.1. Entrevista Inicial – Mãe

A entrevista da mãe de Francine traz considerações importantes da maneira como a família lida com as dificuldades da criança. Ao longo da entrevista, ficou claro que a mãe sempre lutou pela qualidade de vida da criança e para que seus direitos fossem respeitados (desde os direitos ao ensino até a comunicação). O seu discurso é carregado de insatisfação em relação ao sistema educacional, a falta de adaptações físicas e pedagógicas. Acredita muito no trabalho desenvolvido na AACD e ainda ressalta que o trabalho individualizado traz benefícios ao desenvolvimento cognitivo da criança. A seguir apresentamos os principais aspectos desta entrevista:

 Características da Criança:

 Interesses: Francine é bastante ativa segundo a mãe. Gosta de fazer atividades que lembrem aquelas que poderiam ser desenvolvidas no ambiente escolar.

[Mãe]: “... ela gosta de brincar de rabiscar papel, massinha brincar de papel [...] ela até ganhou na festa dela um caderno, caderninho que ela gosta de pintar, cheio de lápis de cor...

 Escola:

 Interesses: a mãe de Francine relata que a menina gosta de frequentar a escola e que tem boa interação nesse ambiente.

[Mãe]: “... ela gosta bastante assim do que ela ta fazendo é educação física [...] ela interage bem, ela vai bem”

 Dificuldades: a criança apresenta dificuldades significativas no ambiente, as atividades não são adaptadas e por isso Francine passa grande parte do tempo “rabiscando” papéis sem qualquer função pedagógica. Ainda segundo a mãe, o trabalho realizado na AACD, com microcomputadores auxilia na adaptação das atividades de Francine e torna o momento do aprendizado mais prazeroso.

[Mãe]: “... ela não consegue escrever. Ela não tem uma coordenação então é complicado, fica difícil isso, mas ela compreende, se tivesse uma adaptação alguma coisa como um computador...”

 Entraves do Sistema Educacional: a falta de adaptação do material pedagógico parece ser o grande problema da instituição de ensino a qual Francine frequenta. A ausência de profissionais capacitados para lidar com necessidades educacionais especiais é outro ponto destacado pela mãe da criança.

[Mãe]: “...aqui se tivesse uma pedagoga adequada adaptada pra ela ou mesmo

professores que tivessem a mesma coisa que a Carol (pedagoga da AACD), lá tem, ela vai muito bem com a Carol lá...”

 Comunicação:

 Sistema Atual: utiliza o álbum de comunicação (chamado pela mãe de “pasta”) para as situações que deseja solicitar algo. A mãe acredita que a partir do momento que foi confeccionado o álbum permitiu uma melhor comunicação de Francine com as outras pessoas.

[Mãe]: “... se arrasta, então a gente sempre estimulava ela desde que a gente descobriu o que ela tinha [...] hoje em dia está tudo mais fácil pela pastinha, mas a gente sempre incentivou ela levando no lugar pra ver o que é que ela queria [...] hoje com a fala alternativa, a pastinha, ficou mais fácil [ ...] Oh ajudou! porque nessa avaliação que teve (na AACD) ela falou tudo sozinha, eu fiquei conversando com a psicóloga e ela conversando com as médicas lá então ela já conhece a equipe da AACD que é daqui de Rio Preto e com a de São Paulo ela abriu a pasta e se comunicou”

 Comunicação antes do Sistema Atual: apresentava muita dificuldade em se comunicar; utilizava gestos e também apontava aquilo que queria, mas nem sempre os familiares e pessoas que convivem com Francine eram capazes de compreender o que a menina tentava comunicar.

[Mãe]: “...[...] antes da pasta, era isso mesmo, de apontar [...] às vezes a gente não entendia, abria a geladeira abria armário”

 Preferências Comunicativas para uso do recurso de comunicação: sempre que a criança tenta se comunicar por meio de gestos e vocalizações e não é compreendida ela parte para a utilização do álbum de comunicação. Quando tenta comunicar algo que deseja comer ou sobre pessoas e sentimentos que não fazem parte do cotidiano familiar.

[Mãe]: “...quando ela quer alguma coisa que eu não entendo de comer que é o sorvete que eu não entendo né ela pede o sorvete...”

[Mãe]: “...outro dia ela tava falando do pai dela [...] eu não tava compreendendo, ela

apontou na pasta [...] eu entendi mas não o que ela tava querendo me falar ai ela veio aqui na pasta falou que tava triste com o pai dela...”

 Freqüência de uso do álbum comunicativo: em situações que a mãe não está presente para ser a intérprete da filha, o álbum de comunicação é então utilizado por Francine.

[Mãe]: “... quando assim mais pra sair, mas pra ir em algum lugar que ela vai comigo ou que as vezes ela não fica comigo então eu levo”

[Mãe]: “... ela usa a pastinha com a minha avó, tem o tio dela, que tem uma convivência e minha mãe [...] na escola, só a Tia Rô e o professor de educação física mesmo”

 Locomoção: a criança movimenta-se de joelhos no chão ou carregada pela mãe. A cadeira de rodas foi solicitada, porém ainda não foi obtida pela família. A mãe relata a dificuldade em convencer Francine a ficar sentada em cadeiras já que a criança prefere sentar no chão.

[

Mãe]:

“... a

cadeira de rodas a gente pediu, mas demora pra chegar eu estava com uma cadeirinha emprestada, mas a mãe pegou de volta então eu tenho que levar ela no colo [...] pra ir pra Rio Preto assim eu dependo da ambulância”

[

Mãe]: “... na escola é carteira normal [...] ela tem um bom controle quando ela senta em alguma cadeira que tenha braço ela fica. Agora a meta dela é sentar no banco, ela não quer sentar no banco pra poder trabalhar um pouco mais de equilíbrio, mas um pouquinho as pernas no chão porque ela tem aquela coisa de se jogar pra trás de medo”

 Ambiente Escolar: a mãe descreve as dificuldades que enfrentou quando levou Francine à escola, a resistência de alguns funcionários em aceitar um aluno com necessidades educacionais especiais. Além disso, alerta para a falta de acessibilidade que prejudica a locomoção não só de sua filha, mas de outros alunos, inclusive aqueles que estão por algum motivo momentaneamente com dificuldades de locomoção.

[

Mãe]: “... é tudo dificultoso, mas eles (funcionários da escola) não deixam de fazer, no começo foi complicado, a diretora não aceitava muito bem [...] eu tive que brigar primeiro e ir para o conselho pra diretora aceitar, é meio complicado a escola com ela [...] eles não querem se adequar, se tem escola especial, acham que deve levar pra escola especial [...] a escola não tem adaptação nenhuma pra ela e nem pra outras crianças, não tem professores capacitados”

 Expectativas para o futuro: a mãe de Francine tem expectativas plausíveis para a situação existente. Deseja um futuro melhor para sua filha, escolas com acessibilidade, consciência dos governantes e da população em geral sobre quem é a pessoas com necessidades especiais.

[

Mãe]: “eu espero tanta coisa que nossa! Eu espero assim o futuro dela que a população pensasse a respeito da deficiência que as pessoas tivessem um pouco menos de preconceito que os políticos pensassem em relação ao deficiente ao futuro deles...”