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SEÇÃO II METODOLOGIA

2.5 Procedimentos de Produção de Dados

2.5.1 Instrumentos de Produção de Dados

2.5.1.2 Entrevista

Fidalgo (2006a, 2018) explana que o pesquisador, ao usar, em certos momentos, uma concepção descritiva em relação ao trabalho de campo, estará, de certo modo, ligado ao método etnográfico. Ainda que, a rigor, não se possa falar de etnografia em curto prazo, trata-se de um teor etnográfico quando se busca compreender o outro por meio de instrumentos como a entrevista, por exemplo. Dessa maneira, as entrevistas foram utilizadas inicialmente para compreender de forma mais aprofundada as implicações que levaram os participantes a se interessarem pela Libras, como era a relação com o filho surdo, quais expectativas tinham sobre o curso de Libras etc.. Nesse momento em específico, esse trabalho se guiou por aspectos da etnografia, ou do estudo do outro, como a etimologia da palavra indica.

Optou-se pela entrevista individual e semidirigida que, segundo Rizzini, Castro e Sartor (1999), é aplicada a partir de um pequeno roteiro de perguntas no qual apenas algumas questões e tópicos são pré-determinados. Nesse tipo de entrevista, o entrevistador usa as perguntas como norteadoras, a fim de fazer com que o entrevistado não fuja da temática, mas, ao mesmo tempo, tenha certa liberdade para relatar suas experiências.

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Esse roteiro não implica, de acordo com as teóricas, em uma sequência de perguntas fixas, pois no decorrer da entrevista o pesquisador deve perceber quais delas já foram respondidas durante o relato do entrevistado. Além disso, é importante trazer perguntas extras, caso o participante não tenha se aprofundado em algo que é importante de ser explorado na pesquisa (RIZZINI; CASTRO; SARTOR, 1999, p. 63-64). Esse tipo de questionamento é denominado perguntas de consequências ou aprofundamento que, de acordo com Fidalgo (2018, p. 89-90), refletindo Triviños (1987) e Szmanski et all (2002), são questões que surgem a partir do discurso do entrevistado que perpassa pelo foco de maneira superficial e, por isso, é preciso fazer mais interrogações em busca do aprofundamento desejado.

Também é necessário deixar uma margem de tempo na entrevista para se fazer alguma pergunta que talvez não tenha sido pensada pelo entrevistador a priori, mas que, em razão de alguma resposta recebida, tenha surgido como dúvida. Para tanto, foi utilizado o seguinte roteiro de perguntas que, no decorrer do diálogo e das respostas dos entrevistados, foram excluídas ou substituídas:

Quadro 4 – Roteiro de Perguntas Roteiro de perguntas Quantas pessoas compõem sua família? Fale um pouco do seu filho *****52 Como é a rotina da sua casa?

Como é a relação dele com os irmãos?

Como são as brincadeiras e a comunicação com os irmãos? Como é sua relação com seu filho ****?

Como são as conversas com seu filho ****? O(A) senhor(a) usa sinais? Quais?

Você participa da vida escolar do seu filho *****? Como? Com que frequência? Em que momentos?

Como é a personalidade do seu filho *****? Por que o Sr. / a Sra diz isso? Seu filho tem amigos(as) que frequentam sua casa?

Como ele é com os amigos?

Quais são as maiores dificuldades que você enfrenta ou enfrentou para criar seu filho *****?

Por que você veio frequentar o curso de Libras? O que você espera aprender no curso?

52 Roteiro construído antes da entrada em campo. Ao utilizá-lo para entrevistar os pais participantes, o ***** foi substituído pelo nome do filho surdo (Gustavo).

As entrevistas tiveram o intuito de compreender de modo mais detalhado como era o contexto familiar que buscou no curso de Libras melhoras no seu processo comunicativo e tudo o que este desencadeia e/ou sustenta. Não só as entrevistas, mas, também as sessões reflexivas53 foram todas gravadas em áudio, pois os participantes optaram por essa mídia de registro e seus desejos foram respeitados. A fim de registrar não somente o verbal, mas o extra verbal (gestos, movimentos, expressões faciais), foram feitos registros no diário de campo54.

Apesar de ter consciência de que o vídeo é a mídia ideal para registrar o extra verbal dos dados, a pesquisadora participante aceitou o pedido dos pais para gravação de áudio, pois receava perder os participantes de pesquisa. Como o extra verbal surgiu como fundamental na construção de sentidos dos discursos dos participantes e estes se negaram a fazer as gravações em vídeo, o diário de campo surgiu como instrumento viável para o registro desse aspecto. Mesmo sabendo que ao catalogar o extra verbal pelo diário estaria, consequentemente, atravessando esse ponto por suas representações e interpretações (mais fortemente que se produzida em vídeo), a pesquisadora decidiu aceitar a condição de gravação em áudio dada pelos participantes e, nesse sentido, respeitar o direito deles de participar das decisões e construção da pesquisa, algo importante para uma pesquisa que segue a PCCol (MAGALHÃES, [1994] 2007a, [1998] 2007b; NININ, 2009).

Depois da gravação, houve a transcrição dessas entrevistas para o português escrito. Assim, certos momentos das falas dos participantes foram marcados por alguns símbolos que representavam aspectos de entonação, sobreposição de vozes, pausas etc.. Para tanto, utilizamos a tabela de transcrição adaptada de Preti (2001) pelos Grupos de Pesquisa GEICS – Estudos sobre Identidade e Cultura Surdas (da UNIFESP) e ILCAE – Inclusão Linguística em Cenários de Atividades Educacionais (da PUC-SP e da UNIFESP), dos quais a participante pesquisadora faz parte.

Quadro 5 – Normas para Transcrição

Ocorrências Sinais Exemplos

Incompreensão de palavras ou segmentos

(( )) Nina 28: [...] quando o Médico me chamar aqui eu levar tudo vou apresentar

53 O instrumento sessão reflexiva será detalhado no item 2.5.1.4. 54 O instrumento diário de campo será detalhado no item 2.5.1.5.

tudo então ((trecho

incompreensível)) aqui assim assado...

Hipótese do que se ouviu (hipótese) Nina 28: [...] quando o Médico me chamar aqui eu levar tudo vou apresentar tudo então (que é) aqui assim assado...

Entonação enfática Maiúscula Pedro46: sim... tem um painelzinho com o nome DELE

Prolongamento de vogal e consoante (como s, r)

:: Val4: É:::: vou começar com

a pergunta com a primeira pergunta

Qualquer pausa55 ... Nina10: então a gente vem de uma família bem humilde... e a gente...

Silabação - Nina27: é isso aí:: NA-DA!

Interrogação ? Val3: Tá bom?

Comentários descritivos do transcritor

((comentário)) Nina2: pode ser ((sorri)) Comentários que quebram

a sequência temática da exposição; desvio temático

-- comentário -- Nina15: [...] na Bahia em creche... só que creche de criança norMAl... todo mundo era normal... -- normal assim... por que Gustavo é normal... o problema dele é só surdo mas... -- num é igual aQUI! Superposição,

simultaneidade

As duas falas entre colchetes [ ]

Nina4: então HOJE na minha CASA só mora EU e o meu filho... é:::: eu morava com minha MÃE... naSCI minha MÃE sempre criou a gente sabe? [Val4: SEi] Interrupção Tab S1: __________________ D1:___________ S1: __________________

Val48: a gente já tá saindo. Prof1: *DESCULPA* não sabia que a sala tava ocupada.

Citações literais ou ― ― Val3: você disse na

leituras de textos, durante a gravação

entrevista ―falar normal‖... Tradução de Sinal /palavra/ Val41: agora se ele faz o

sinal

*BANHEIRO*/BANHEIRO/ Transcrição de Sinal *palavra* Pedro40: agora eu sei

banhe:::iro *BANHEIRO*

Adaptado de Pretti (2001) pelos grupos de pesquisa GEICS e ILCAE.

As entrevistas foram registradas do seguinte modo:

Quadro 6 – Registro das Entrevistas

Participante Local da entrevista Data da entrevista Tempo de entrevista

Nina Sala de aula 12/06/2018 56 minutos

Pedro Sala de aula 28/08/2018 19 minutos

Essas datas foram escolhidas por Nina e Pedro, pois foram dias em que estavam com horário disponível para gravação das entrevistas.