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Entrevista com Professor Padre José Carlos Brandi Aleixo 15 de abril de 2009.

No documento O BRASIL NO MUNDO E O MUNDO NO BRASIL (páginas 162-165)

CRIAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA GRADUAÇÃO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS NO BRASIL

Anexo 4. Entrevista com Professor Padre José Carlos Brandi Aleixo 15 de abril de 2009.

1. De quem foi a idéia de abrir o curso de Relações Internacionais na UnB? Pouco depois que cheguei à UnB, em fevereiro de 1969, apresentei ao reitor Caio Benjamin Dias os contatos da UnB com a área de Relações Internacionais (RI). A questão da casa de estudantes para hospedagens de estrangeiros que vinham fazer cursos, e a presença nos prédios de estudantes, vários estrangeiros.

Formulei um curso de especialização em América Latina (AL) em 1980, que se repetiu a cada dois anos até 1990. Este curso foi anterior ao mestrado em RI e seguia a lógica do MRE - antes de abrir um mestrado específico, abrir uma especialização. No total foram realizados seis cursos de especialização em AL, composto por metade brasileiros e metade estrangeiros. No final, eram oferecidas cerca de 30 vagas.

A proposta de um curso de RI foi apresentada ao reitor Caio. O curso seria vinculado diretamente à diretoria do Instituto de Ciências Humanas (IH). O Diretor do IH de 1974 era o prof. Roque Laraia. Participamos de reuniões, convidando pessoas para dar sugestões, entramos em contato com o pessoal da Economia. Havia uma referência, o doutorado em Georgetown nos Estados Unidos e a graduação, ambos muito famosos, voltados à preparação de quadros para a diplomacia. Não existia o Rio Branco em Brasília, ele estava no Rio de Janeiro. Em 1974 foi realizado o primeiro vestibular.

A UnB teve um departamento de Política. Em 1970 a reitoria fundiu o departamento de Política com os já existentes em Antropologia e Sociologia, fundando o Departamento de Ciências Sociais. Em 1976 é fundado o Departamento de Ciência Política e Relações Internacionais. Eu fui o primeiro Chefe desse departamento.

2. Qual o modelo adotado?

O curso de RI se baseia muito nesta experiência do curso de Ciências Sociais, tendo como base o tripé Direito, Economia e Política. Havia conhecimento de cursos de RI em outros países, mas não havia tanto contato. Sei que na América Latina a iniciativa pioneira é da Universidad de Rosário, na Argentina. Eu estive lá posteriormente a abertura do curso da UnB e soube do pioneirismo deles.

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Atender uma demanda que já era existe no mundo econômico de empresas estrangeiras no Brasil e empresas brasileiras no estrangeiro, além das organizações internacionais. No governo Geisel havia uma prioridade para as relações com a América Latina e a África; portanto, precisávamos de pessoas que entendesse desses continentes, além de quadros para trabalhar nas embaixadas em Brasília. Havia também uma demanda por jornalistas voltados a temas internacionais.

4. A iniciativa pioneira tinha algo relacionado ao perfil arrojado e novo da proposta da UnB?

Não houve contato com militares, ainda que as escolas militares trabalhassem a parte internacional. O reitor Azevedo, que era militar, tinha doutorado na MIT e, portanto, tinha uma sensibilidade maior ao mundo das RI. Ele foi receptivo à idéia.

5. Alguma outra universidade se interessou pelo projeto?

Sei que existiram dois cursos, não reconhecidos, em universidades particulares, um no Rio de Janeiro e outro em Belém. Nós tivemos um contato preliminar com eles. Também tivemos contato com a diplomacia, com a experiência da diplomacia. E havia a simpatia do MRE com relação ao curso.

6. Qual era a relação efetiva da UnB com o MRE?

Não encontrou acolhida no MRE a idéia de inserir o Instituto Rio Branco dentro da UnB, parecido com o modelo dos Estados Unidos. Antes era possível entrar no Rio Branco dois anos após ter iniciado qualquer curso reconhecido, e por isso também houve um esforço para que o curso de Relações Internacionais da UnB fosse reconhecido rapidamente.

Ocorreu também um entendimento com MRE, especificamente com o Rio Branco, de cooperação, com diplomatas como professores do curso da UnB, e professores da UnB lecionando do Rio Branco. Isso ocorreu quando o Rio Branco foi transferido para Brasília em janeiro de 1976.

Pensamos em convidar um diplomata para lecionar a disciplina de Política Externa Brasileira, mas havia muita prudência de seguir a linha geral do governo da época. Eu acabei assumindo esta disciplina. No curso de especialização convidamos diplomatas brasileiros e estrangeiros residentes no Brasil para proferir palestras, cursos. Havia cooperação mútua. Chamávamos cinco ou seis diplomatas para expor sobre a política externa do seu país.

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Há uma diferença de momentos da própria política externa brasileira e como isso repercutia nas atividades do curso. Em 1976/77, as relações do Brasil com a Argentina estavam difíceis por causa de Itaipu. Assim, quando convidamos o embaixador argentino para dar um curso, ele alertou que trataria de qualquer tema, exceto relações bilaterais Brasil-Argentina. Já na década de 1980, em um curso de especialização, novamente convidamos o embaixador argentino, que era outro naquele período, que sugeriu o tema bilateral para a palestra. Naquele momento o Brasil e a Argentina viviam um bom momento nas suas relações exteriores. Também foram realizados cursos de extensão. Eu participei da organização de três deles.

O Rio Branco trazia muitos benefícios. Havia ajuda-moradia, e a possibilidade de terem alunos estrangeiros regulares. Os primeiros estrangeiros a cursarem o Rio Branco – eu dei aula a eles - foram um aluno da África e um do Equador.

7. Qual é a avaliação atual do senhor sobre o curso, após quase 35 anos?

Há uma presença maior do Brasil no mundo. Com a atual política do MRE o número de embaixadas cresceu. Brasília é segunda cidade do mundo que mais possui residentes de embaixadas. Isso significa que há uma presença mútua do Brasil em outros países, e de outros países no Brasil.

Há também as empresas, a Odebretch, a Camargo Correa, participando de obras importantes em outros países. Isso coloca uma demanda maior de conhecedores de Relações Internacionais.

As Relações Internacionais hoje encontraram sua singularidade enquanto curso. Temos menos direito que um advogado, menos economia que um economista, menos política que um cientista político, mas a vantagem de ter uma base nas três áreas. Isso torna a formação relevante para certos trabalhos, certas missões. Ter o conhecimento histórico e político dos países... O Direito não trata disso, com raras exceções. O aluno tem uma visão sobre tudo isso e ainda o domínio em línguas estrangeiras.

Na prática, há uma demanda real, no mundo político, da literatura, da cultura, da diplomacia. É importante ter diversos centros, com ênfases regionais. É importante essa geografia especializada.

No documento O BRASIL NO MUNDO E O MUNDO NO BRASIL (páginas 162-165)