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Entrevista realizada pelo autor O entrevistado se chama Geraldo Domingos da Silva A gravação foi realizada em 11 de outubro de 015, na cidade de São Bento-PB.

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2 Entrevista realizada pelo autor O entrevistado se chama Geraldo Domingos da Silva A gravação foi realizada em 11 de outubro de 015, na cidade de São Bento-PB.

133Geraldo.Op.Cit 134 Ibidem

tão bom, né. É um negócio pra ser passageiro porque a gente não aguentamo direto135.

As condições de transporte da mercadoria e a viagem, a má receptividade e a inconstância do lucro, são pontuadas como elementos que podem ocasionar a desistência do trabalho de ambulante. Quando estes trabalhadores não conseguem se firmar dentro do comércio, ou mesmo não se adapta as condições de trabalho e ao próprio trabalho que exige alguma desenvoltura para vendas. As diferenças culturais e ambientais entre o lá e o cá é outro fator ressaltado por Geraldo. Oriundo de São Bento, cidade do sertão paraibano e, portanto de temperaturas quente, ao chegar ao sul, deparam-se com um clima mais frio e com costumes que muitas vezes se dissociam dos que estão acostumados como culinária, o trato com as pessoas, a vestimenta, etc. O choque de costumes aliado às más condições de trabalho neste aspecto pode ser uma das causas do frequente retorno destes trabalhadores que de quando em quando retornam aos seus locais de origem.

Assim, perguntei a Geraldo Domingos, que alternativas de sobrevivência teriam os trabalhadores que retornam definitivamente para a terra natal. Ao me responder, ele apontou o comércio na cidade como alternativa e continuar fazendo a mesma coisa. Para Geraldo, o trabalho fora deve ser projetado para além do sustento da família, para comprar terra, casa, moto, loja dentre outras possibilidades. Segundo ele,

Eles têm que juntar o que ganhou lá fora. Porque aqui não tem muita opção e quando voltarem terem como se manterem aqui(...) abrindo seu próprio negócio (...). Tendo condição de comprar e fazer as próprias mercadorias pra viverem 136.

Portanto, Geraldo justifica o trabalho do redeiro com um trabalho temporário e como uma necessidade de arrecadar fundos para abrir seu próprio negócio em sua terra natal e, assim garantir um futuro melhor. Apesar dos pontos negativos que ele mesmo ressaltou, migrar tem esta finalidade.

Neste momento a migração não significa uma ida sem volta, mas no contexto aqui exposto, vem marcar o início de várias idas e vindas, um deslocamento para o trabalho, uma movimentação social que num constante

135 ibidem 136 Ibdem.

transitar de experiências demarcam e ampliam os horizontes de vida desses migrantes. Penso que além de proporcionar uma nova definição diante da comunidade de origem, a qual nunca deixarão de pertencer, e que estará sempre presente no seu cotidiano através das relações sociabilidade, constituídas a partir de relações baseadas no parentesco, amizade e conterraneidade como já destaquei em capítulos anteriores pelas narrativas desses trabalhadores.

Estas narrativas evidenciam um entrelaçamento de fatores que motivam o retorno à terra natal, sendo uma das características que definem o tipo de migração em estudo. A migração de retorno como aponta a narrativa de Geraldo fundamenta-se na ideia de um ponto de origem e um de retorno. Porém, o próprio trabalhador não identifica sua volta enquanto retorno. O migrante não abandona a origem para se integrar no destino, ao contrário, a migração representa um ponto de contato permanente entre um e outro local (SILVA, s/d, p.6). Ou seja, a relação estabelecida com o local de destino é demarcado pela sua origem. É esta origem, inclusive, como já mencionei no capitulo anterior que é acentuada na prática cotidiana desses trabalhadores: na sua identidade enquanto vendedor ambulante de mercadorias provenientes de suas cidades natais.

Nas narrativas dos entrevistados, percebi que a diminuição das possibilidades de sobrevivência em São Bento, devido às poucas oportunidades de trabalho e manutenção no local de origem, fez com que esses homens passassem a depender cada vez mais do trabalho temporário em outras regiões do país, como pontuei no primeiro capítulo desta tese. Ao comentar sobre a saída destes trabalhadores, em particular vendedores de redes e outros artesanatos na cidade de São Bento, apontados como a maioria dos migrantes da região, Maria Cristina, irmã de Geraldo, 32 anos, moradora de São Bento, dona de casa, casada e mãe de duas meninas diz: “É difícil

manter esses trabalhadores na terra aqui em São Bento, porque eles já pegaram uma ansiedade tão grande em viajar, que não tem jeito, embora ele tenha meio de sobreviver aqui”137.

137 Entrevista realizada pelo autor. A entrevistada se chama Maria Cristina da Silva. A gravação foi realizada em 11 de outubro de 2015, na cidade de São Bento-PB

Diante do exposto, perguntei a Maria Cristina quais seriam as possibilidades de sobrevivência na cidade de São Bento. A entrevistada respondeu de forma categórica:

O comércio aqui. É abrir um negócio e viver dele. Antigamente isso era mais difícil porque não tinha oportunidade nenhuma. Hoje em dia tem. É só ajuntar um dinheiro e vir pra cá. E tem outras coisas também. Se não abrir um negócio aqui já tem onde trabalhar. Vai fazendo a vida por aqui mermo. Faz uma coisa aqui e outra acolá e vai dando. É melhor do que tá no mundo (...). O problema é que o povo acostumou em ir embora e não ver a hora de ir simbora.138

Apesar de existirem outras formas de trabalho, o trabalho ambulante, parece ser ainda a atividade que oferece maiores expectativas de guardar algum dinheiro para se reinvestir na própria cidade. Fato que demonstra o próprio caráter transitório deste trabalho. Neste aspecto, Maria Cristina parte de duas realidades, uma anterior quando não existia uma possibilidade de se manter no local por falta de trabalho, e a atual, onde começa a existir outras possibilidades. Entretanto, a mesma assinala que uma das alternativas é a integração no mercado local a partir de condições obtidas pelo próprio trabalho ambulante. A migração ocorrida pelo trabalho ambulante neste sentido, surge nesta fala como elemento da cultura local, iniciada em tempos de grande dificuldade econômica, e que hoje, continua como prática entre aqueles que têm expectativas de melhorar os rendimentos ou mesmo abrir negócio próprio.

Ao mesmo tempo que Maria Cristina, indica que existe possibilidade de se manter na terra natal, reconhece a inconstância do trabalho que atualmente existe. Como ela relatou, aos trabalhadores que fazem opção de ficar existe trabalho aqui e acolá. Entretanto, a melhor alternativa continua sendo o trabalho ambulante, que poderia fornecer subsídios para a inserção no mercado interno a partir do dinheiro acumulado com a venda em outras regiões.

Nas duas circunstâncias em que fui ao encontro de Geraldo Domingos, em sua casa, procurei observar suas condições materiais. A construção da casa era recente, ele não migra e não trabalha como ambulante desde o início dos anos 2000. Em seu discurso sobre o trabalho fora, predomina a concepção de aproveitamento do tempo para o acúmulo de bens. No entanto, ele

comentou vagamente que, mesmo passados de uma década de trabalhador ambulante no Paraná, ele só fez duas viagens com um pequeno proveito financeiro. Perguntei, então, como ele construiu a casa onde mora com a família e ele me respondeu que seus filhos a construíram com o dinheiro obtido com o trabalho de ambulante no Sul.

A casa construída de alvenaria com uma arquitetura diferente e de primeiro andar destaca-se das outras existentes na mesma rua onde ainda existem casas feitas de pau-a-pique. A garagem da casa abrigava um carro popular e três motos à espera de seus donos, cada uma pertencente a um filho.

Segundo ele:

Eles têm uns contatos lá e vão por conta própria. [...]. Meus filhos estão viajando, trabalhando lá no sul, vendendo as coisas, dois no Paraná e um no Mato Grosso do Sul. Estou sozinho agora. Agora eu fico trabalhando por aqui e eles lá. No começo do ano eles voltam ficam por aqui um tempo e depois voltam de novo. Eles ligaram ontem, eles estão bem (...)139.

Pode até aparentar um tipo de trabalho sazonal que os redeiros realizam. Mas essas trajetórias são mais do que idas e vindas como tenho evidenciado nesta tese. A entrevista com Geraldo foi realizada em 2015, ele e seus filhos só retornariam para São Bento no início de 2016.

Geraldo continuava trabalhando como comerciante. Ele e sua esposa tinham uma loja na cidade onde vendiam os mesmos produtos que ele comercializava quando era ambulante. O trabalho de seus filhos no Paraná e no Mato Grosso do Sul ajudava a sustentar e manter a casa, já que parte dos ganhos os filhos enviariam em espécie ao pai.

Geraldo foi trabalhador rural antes de trabalhar no comércio ambulante e ter ido para na cidade de Cascavel. Ao se referir aos demais moradores que migraram da cidade, comenta que: “todo mundo aqui é dono de seu negócio.

Ninguém é mandado por ninguém”140. Geraldo evidencia que aqueles que

retornaram do comércio, assim como ele, conseguiram ter seu próprio negócio. Conta também que, quando ainda criança e adolescente, ele viveu sob condição de morada com seus pais e irmãos na zona rural do município. Nesta

139

140Geraldo.Op.Cit. Ibidem.

época sua família vivia como trabalhador braçal e de aluguel como ele nos explicou:

Quando eu era menino eu morava com meus pais na Fazenda de Seu Ninão (...) dá quase uns 20km daqui. Lá a gente viveu no trabalho na roça (...) arrancando toco, limpando mato (...). A casa que a gente morava não era da gente. Só tinha aquilo pra viver e ainda ficava devendo favor ao dono. Meu pai nunca assinou carteira e trabalhava quiçó lá (...). Aí depois que a gente vê que pode ter outra vida a gente quer, né?!141

Submetidos a uma produção voltada para subsistência e com a utilização de instrumentos rústicos, estes trabalhadores viviam em sistema de patronagem. Neste sentido, a produção garantia acesso apenas o que era necessário para a sobrevivência e o trabalho duro e as condições de manutenção no campo, levaram a migração extensiva de trabalhadores do campo para cidade. Ao assinalar que, embora os pais tenham trabalhado muito tempo no campo, nunca tiveram os direitos considerados atualmente mínimos ao trabalhador, este parte da experiência vivida no tempo presente, quando o trabalho no comércio, permitiu garantir a sobrevivência, sem as determinações de um sistema autoritário de patronagem.

A primeira vez que cheguei à casa de Geraldo, ainda na calçada, ele me recebeu com a carteira de trabalho e CPF nas mãos. Perguntei-lhe sobre aquela documentação e ele me respondeu que era para sua aposentadoria. Entendo que, naquela circunstância, aquela documentação estivesse ali para obter de mim alguma informação ou ajuda, ou talvez ele aguardasse a chegada de um dos agentes do Governo que costumam circular pela região para fiscalização ou para prestar algum tipo de assistência comunitária.

Geraldo, quando o entrevistei, ainda não estava aposentado, mas não escondia a ansiedade para realizar tal desejo. Embora tenha a todo momento ressaltado que o trabalho ambulante e no comércio, havia oferecido melhores condições de vida, sua carteira de trabalho nunca foi assinada.

Durante a entrevista, ele demonstrou preocupação com o presente/futuro de seus filhos, mediante as condições de trabalho oferecida pelo comércio ambulante e diminuição da oferta de trabalho. Essa preocupação

ficou evidente ao comentar o caso de seu irmão, um dos homens que atua como um "gato” na região. Diz ele:

[...] Tenho um irmão que leva [trabalhadores] para o Sul. Mas nesse ano ele não levou ninguém. Até porque disse que por lá [Cascavel?] as coisas não estão tão boas. Não se vende mais como antigamente. Tem muita gente vendendo. Agora tem mais fiscalização. Lá em Cascavel mermo tem uma lei que não querem que a gente venda lá. Pedem papel e mais papel pra poder vender. O povo também não compra mais porque nas loja tudo tem, né. Tem coisa que até mais barato. O negócio, as vezes, é levar uma coisinha diferente pra ver se o povo gosta. Mas tem muita gente vendendo. Eu acho que o povo tá se enchendo de tanto negócio (...). Meu menino não estudaram, não sabem fazer outra coisa e aí fica difícil. A crise, meu fi, atingiu todo mundo. O povo tá é vindo simbora.142

A mudança do mercado e a instabilidade do trabalho ambulante aparecem como um elemento de preocupação. Dentro do quadro que Geraldo constrói, apesar do trabalho ambulante anteriormente ter permitido acesso a bens materiais (como casa de alvenaria e veículo), mediante a mudança das leis que regulamentam o trabalho dos ambulantes (como tratei no segundo capítulo) e a diminuição das vendas, existe um temor quanto ao futuro dos filhos.

Para Geraldo, o problema se apresenta de outra forma: a ameaça da diminuição das vendas prejudicando o trabalho dos filhos e seu próprio negócio, não tendo como se manter. Esse quadro seria agravado devido a insegurança por não se apresentar no presente outras possibilidades para garantir a sobrevivência. Como ele ressaltou os filhos não estudaram e por

isso, não sabem fazer outra coisa.

A diminuição da demanda, representa assim para estes trabalhadores uma insegurança quanto ao futuro e as possibilidades de trabalho. As formas de trabalho que se circunscrevem parecem superar esses estranhamentos, essas humilhações e a marginalização que esses trabalhadores possam sofrer em outros locais que não sejam os seus de origem, como foi discutido no primeiro capítulo.

Por ocasião da primeira entrevista que realizei com Geraldo, conheci Aparecida de Jesus, sua vizinha que é casada com João Paulo. Ele é um dos

trabalhadores que vivem em Cascavel e região. Foi com João Paulo, que eu tive a primeira conversa sobre o trabalho e as condições de vida dos ambulantes na região. O primeiro contato que tive com ele foi na rodoviária de Guaíra-PR.

Desde o primeiro contato, Aparecida manifestava ansiedade em falar sobre as viagens de seu marido. Embora, a princípio, eu não tivesse como objetivo entrevistá-la, sua fala aparece como intervenções na fala de Geraldo, seu vizinho. Aparecida relatou questões ligadas à migração, ao ritmo de trabalho ao qual o marido se submete, seus desejos, doenças, a sobrevivência da família no lugar de origem. A noção de tempo que aparece na fala de Aparecida é o tempo de vida, organizado a partir de seu casamento, o nascimento do primeiro de seus três filhos, a primeira e a última migração de seu marido. Na ausência do marido, o sustento da família é mantido pela roça, na qual planta arroz, feijão e milho. A pequena produção é destinada ao consumo.

Ela me chamou para ir até sua casa. Uma construção bem diferente da de Geraldo, possui apenas uma sala, um quarto e uma cozinha. Ela me relatou que, além de manter a roça na zona rural de São Bento, no tempo de inverno trabalha na indústria têxtil143, na fabricação de redes na cidade. Também aproveita parte dos tecidos das sobras das redes para fazer artesanatos que tem em casa. Como ela me contou:

(...) com esses pedaços de tecido de algodão que trago das sobras das rede eu faço essas boneca aqui que você está vendo e aí vendo por aqui mesmo. Tem gente que leva pra Patos, Campina Grande e até pra João Pessoa. O povo gosta de artesanato da terra144.

Aparecida é também uma artesã. Ela faz bonecas de pano e outros produtos com fios do algodão, conhecido como algodão cru (também conhecido como algodão mais escuro, sem ter passado pelo processo químico de tingimento ou clareamento do fio). Ela afirma que tal atividade como um dos suportes essenciais para a sobrevivência de sua família, assim como de muitas famílias da região, sendo também uma atividade que atravessa seu cotidiano,

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144 Entrevista realizada pelo autor. A entrevistada se chama Aparecida de Jesus. A gravação foi realizada em 11 de outubro de 2015, na cidade de São Bento-PB

toma em sua fala ares de rotina. Assim, ela articula trabalho no roçado, nas oficinas têxteis e de artesanato. O roçado oferece produtos de subsistência e a produção de redes e artesanato gera renda para a manutenção dos outros gastos domésticos.

Aparecida diz que nos últimos tempos tem dias de muita angústia, enquanto marido está fora. Teme, sobretudo, não ter como manter sua família. Ela comentou:

Eu não aguento mais ficar aqui sozinha, esperando uma notícia de alguém que venha de lá, ou esperando uma ligação, ou esperando que ele venha simbora. É muito difícil. Quando engravidei do meu filho mais novo, de dois anos, ele viajou para o Mato Grosso, e quando voltou o menino já tinha seis meses. Passei um sufoco sozinha. Já disse pra ele, eu não quero mais ficar sozinha. Casamos em 98, e desde esse tempo ele vive viajando. Ele tá ficando velho (...).145

Aparecida narra sua história a partir dos períodos que o marido passa longe de casa. Entre as idas e vindas, ela fica encarregada com os afazeres da casa, trato dos filhos, e garantir o sustento de todos. Os grandes períodos de ausência do marido são vistos como momentos de insegurança e temor: pelo que pode acontecer com marido em locais distantes onde não consegue ter notícias com grande frequência. A circulação de pessoas entre a região e sul, como podemos observar é uma das formas de ter notícias do marido, e assim, trazer maior tranquilidade quanto às condições de vida que este tem vivido.

Além da distância do marido, a insegurança da Aparecida e refere-se à própria manutenção da família. A remessa de dinheiro enviada pelo esposo, ou trazida por ele após o término da empreitada, não é suficiente para o sustento da família, e por isso, tem que realizar outras atividades na indústria, no roçado para subsistência e como artesã. Diferentemente de Geraldo, pude observar que o marido da Aparecida não conseguiu acumular bens materiais com o trabalho ambulante. Sua casa muito simples e pequena quando comparada com a de Geraldo, indicam a diferença entre os dois vendedores ambulantes. Observei entre os entrevistados que estes se diferenciam: enquanto alguns viajavam na perspectiva de acumular algum capital e conseguem ao retornar abrir pequeno negócio (loja, bar, etc.), outros talvez tenham viajado nesta

mesma perspectiva, entretanto, mediante a diferentes fatores não conseguiram tal feito. No caso de Geraldo e do esposo de Aparecida, a diferença das condições financeiras deva-se ao fato de não apenas Geraldo ter saído, mas também os dois filhos. O que permitiria ter uma sobra maior em relação às economias que por ventura tenham sido feitas na tentativa de guardar algum dinheiro.

A narrativa de Aparecida demonstra frustração pelas suas condições de vida e a dependência criada em relação ao trabalho fora: “Ele viaja, passa um

bom tempo por lá, e quando chega é muito magro e doente. Aí, fica triste pelos cantos, doente e magro. Eles dizem que lá não é bom, mas na hora de voltar, vai todo mundo alegre"U6

Voltei a entrevistar Aparecida em outra circunstância, dessa vez na presença do marido, foi quando descobri que o marido dela tivera sido aquele homem que conversei na rodoviária de Guaíra em 2011. Assim, quando perguntei se o trabalho do marido traz compensação financeira para a família, ela evidenciou a existência de relação combinada de trabalho:

[...] ele trabalha para um lado, eu para o outro. Aí eu estou aqui, ele manda cem reais. Tudo ajuda. Aí eu faço uma feira, aí eu vou trabalhar para arrumar cinquenta reais, pra quando aquela feira que ele arrumou acabar, eu já ter aqui já, para comprar a

147 carne e o arroz .

Apesar do trabalho como ambulante ter sido pontuado pelos entrevistados como algo que tem maior rentabilidade, podemos observar que no caso de Aparecida, o mesmo não tem garantido vida com "folga”. Desta forma, os ganhos do marido têm que ser combinado com um esforço pessoal em gerar parte da renda e assim garantir a sobrevivência da família que ficou no local de origem. Tomando como base sua fala, o modo como administra os gastos com alimentação, perguntei a Aparecida se ela e o marido possuem vontades e sonhos em comum. Ao me responder, ela ensaiou um sorriso encabulado e traçou o perfil do marido como um homem vaidoso. Ao narrar sobre o destino de seu ganho, comentou: 146 147

146 ibidem

147 Entrevista realizada pelo autor. A entrevistada se chama Aparecida de Jesus. A gravação foi realizada em 20 de janeiro de 2016, na cidade de São Bento-PB

Ele é uma pessoa que não gosta de andar sem as coisas dele, o perfume bom dele, a roupa, o calçado, ele não gosta não. Aí ele