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Capítulo IV – Metodologia da investigação científica

4.1 Opções metodológicas

4.1.1 Entrevista semiestruturada

No que concerne às entrevistas, vão ser feitas a vítimas, agressores/as e equipa técnica encarregue de um total de 25 processos de VD.

Segundo Moreira (2007) esta técnica é uma das mais utilizadas na investigação científica quando se opta pelos métodos qualitativos. Ainda de acordo com o mesmo autor “as entrevistas

adotam a maioria das vezes a forma de um diálogo ou interação. Permitem ao investigador e ao entrevistado mover-se no tempo em análise” (Moreira, 2007: 203). Do mesmo modo Marconi

e Lakatos (2011: 272) defendem que os meios qualitativos permitem ao investigador um contacto direto e próximo, não só com o entrevistado, como com o meio ambiente e a própria situação que está a ser investigada.

Segundo Guerra (2006) foi no início dos anos 70 do século passado que as metodologias qualitativas retomaram o seu interesse. Recorrendo aos pressupostos defendidos por Max Weber in Guerra (2006: 7) refere que o fundamental para a análise sociológica deveria ser os fundamentos e os sentidos expressos pelos atores estudados, reconhecendo a importância deste tipo de metodologia. A mesma autora refere ainda que os diferentes objetivos na utilização de entrevistas em investigações devem ter em conta e estar “harmonizados” quer com os contextos de recolha de dados quer com os e as intervenientes.

No entanto o alcance do ponto de vista relacional que este método pode obter, exige que seja possível entre investigador e entrevistado ou entrevistada, um nível de confiança, neutralidade, moderação nos juízos de valor e confidencialidade bastante considerável para que os dados e as ideias transmitidas possam chegar à investigação com nitidez (Guerra, 2006: 22). A utilização desta técnica privilegia e coloca o enfoque no significado das experiências e dos comportamentos sociais, recorrendo a lógicas de rigor e coerência na recolha e análise das informações. A grande maioria dos autores e autoras, inclusive Guerra (2006), defendem que na entrevista é fundamental a menor intervenção possível do entrevistador ou entrevistadora na condução da mesma porque “quanto menos for a intervenção do entrevistador, maior será

a riqueza do material recolhido” (Ibidem, 2006: 51). Mas para que a fluidez das informações

possam chegar ao entrevistador/a, é essencial uma boa explicação sobre os objetivos da entrevista e da própria investigação. É igualmente importante que o entrevistado ou entrevistada não encare a entrevista no sentido mais profundo do que esta representa, devendo

53 encara-la como uma conversa entre duas pessoas, não pensando que está a responder a perguntas formalmente estruturadas e organizadas previamente (Caplow in (Moreira 2007: 203)).

No tipo de entrevistas semiestruturadas, é relativamente comum a introdução de perguntas abertas, ou seja, permitem ao investigador e aos entrevistados determinada flutuação acerca do assunto em questão, não restringindo aquilo que possa ser expresso, o que nas palavras de Flick (2005:94) significa “esperar-se que o entrevistado responda livremente a essas

perguntas”, cabendo ao investigador decidir e estruturar a entrevista de acordo com a ordem

e o tipo de perguntas que deve incluir. No seguimento desta ideia, surgem outras opiniões a defender que este tipo de entrevista, à qual chamam despadronizada ou semifechada, pode ser igualmente chamada “assistémica, antropológica e livre – isto porque o entrevistador tem liberdade para desenvolver cada situação em qualquer direção que considere adequada. É uma forma de poder explorar mais amplamente a questão” (Marconi e Lakatos, 2011: 279).

Outros autores e outras reconhecem a importância da entrevista semiestruturada, isto porque “apesar de possuir alguma estruturação, principalmente a nível dos temas que

compõem o guião, dá liberdade ao entrevistado para falar sobre a temática” (Quivy L. C, 2008:

191).

No caso específico desta investigação o tipo utilizado é a entrevista semi-estruturada, pois obedece a uma lista ordenada de perguntas mas sem haver condicionamento nas respostas dos entrevistados e entrevistadas e funcionando o guião sobretudo para orientação do investigador. Não esquecer porém que deve existir coerência nas perguntas colocadas aos diversos entrevistados e entrevistadas para que não percam validade cientifica e possam ser comparadas entre si (Ibidem, 2006).

Tal como referido anteriormente, este é um método bastante utilizado na investigação cientifica e na sociologia, que tal como todos os outros apresenta vantagens e algumas lacunas. Uma das vantagens do método reside no fato de ser possível comparar os dados recolhidos e de uma melhor estruturação dos mesmos, isto se for seguido coerentemente o guião da entrevista (Flick, 2005). Outra vantagem que pode apontar-se a este método, e contrapondo os pressupostos dos métodos quantitativos nomeadamente o inquérito por questionário, a entrevista semiestruturada permite ao investigador e entrevistado um contacto direto entre ambos, permitindo a expressão dos sentimentos e perceções de uma forma mais explícita (Quivy L. C., 2008).

Moreira (2007) aponta identicamente vantagens deste método bem como desvantagens. Em relação às vantagens, o autor considera que devido à abertura das perguntas e respostas, obtém-se uma riqueza nas informações recolhidas. Permite ao investigador acompanhar as perguntas e respostas, contrariamente ao inquérito por questionário. Facilita a compreensão dos dados obtidos através dos métodos quantitativos devido à profundidade de análise dos

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métodos qualitativos. Este é um método que pode ser utilizado em todo o tipo de população, possibilitando a recolha e coleta de dados de informações que não constam em documentos (Marconi e Lakatos, 2011: 280).

Como forma de limitação deste método pode apontar-se a dificuldade que por vezes os dados recolhidos na entrevista não transparecerem imediatamente as informações, sendo necessária uma compreensão e análise mais profunda (Ibidem).

Para Guerra (2006) este tipo de entrevistas permite uma interação entre o investigador/a e os entrevistados/as, podendo gerar grande intimidade entre ambos pelo facto de se estar abordar temas profundamente íntimos e difíceis de partilhar com desconhecidos (Ibidem: 21), o que pode por vezes gerar enviesamentos.

O consumo de tempo é apontado por Moreira (2007) como um inconveniente desta técnica. A limitação na apreciação, devido à falta de observação direta e a situação do contexto atual em que se realiza a entrevista, são indicados também como desvantagem.

Para finalizar as limitações e desvantagens desta técnica, a falta de expressão, de comunicação e de passagem clara dos sentimentos por parte do entrevistado ou entrevistada, pode levar a falsas interpretações dos seus significados (Marconi & Lakatos, 2011).