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A entrevistada fala do desmonte da área do Hospital do Jabaquara responsável pelo aborto legal, que se deu em 2009.

Objetivos e a pesquisa empírica

V. 2 A caracterização da amostra.

13. A entrevistada fala do desmonte da área do Hospital do Jabaquara responsável pelo aborto legal, que se deu em 2009.

dia foi referência para o atendimento às mulheres em situação de violência, parece continuar a fazer parte do imaginário dessas “militantes” e continua como referência entre os profissionais em geral, segundo elas. A implicação dos profissionais da assistência, a participação e tomada de decisão por parte de gestões comprometidas com a questão da violência contra a mulher, seja no nível da gestão macro, ou nos espaços da micropolítica, e por fim, a organização de fluxos e protocolos, os processos de sensibilização, tudo isso parece ter ajudado bastante nas experiências consideradas algo exitosas.

… o serviço aqui está no site como referência, então as mulheres continuam procurando e é muito… eu faço o acolhimento, claro e encaminho para lugares que eu sei que ela vai ser atendida, mas isso é desgastante para as mulheres, porque elas já vem aqui com uma expectativa… tem mulheres que choram muito… – não mas eu queria ser atendida aqui – fazer toda essa trajetória, para elas é muito difícil, muito complicado… muitas vezes são mulheres que não tem condições financeiras, nem para o transporte… (I.G./G2)

Considerando agora todos os gestores entrevistados, notamos que as redes de apoio reconhecidas pelos profissionais da gestão são as delegacias das mulheres e casas de apoio. São poucas as referências aos outros serviços de saúde, pouca relação de rede dentro e fora da saúde: “cada um é uma ilha”(informação verbal). Percebemos que na questão da violência dentro da gestão, muitas decisões pessoais são tomadas pelos gestores para realizar ou limitar as ações práticas, e essas estão impregnadas dos valores de cada um.

Todo mundo acha difícil atender a violência, abordar esse tema, para ser muito franca com você… até nós, profissionais, temos dificuldade para lidar com isso, até eu tenho… (M.D./G2)

Tem as UBS… as redes mesmo… tem casas especializadas… tem atendimento… por exemplo a Eliane de Grammont… em Diadema a Beth Lobo, e outras regiões… a gente encaminha… (I.G./G2)

… Tem a casa Zizi, o Pérola Byington, o Hospital Tatuapé, o Hospital do Jabaquara… (M.D./G2)

A sensibilização das equipes de saúde aparece como um importante papel da gestão, e foram apontadas várias sensibilizações realizadas. Esses momentos aparecem

nas entrevistas como de fortalecimento da gestão, do papel gestor que eles devem desenvolver.

A gente abre o olho pra tudo… é um crescimento, me faz pensar… o cansaço é físico e não mental… (M.M./G2)

Nós que trabalhamos na saúde não temos conhecimento quanto a questões de gênero e violência… (M.D./G2)

Tem coisa que só com treinamento… O olhar nosso… tem que ter treinamento para abordar as pessoas… porque… o que é para mim normal, para você não é… (M.M./G2)

A notificação da violência não aparece como ferramenta de gestão e apoio, mas como algo que muitas vezes é driblado e não é feito, pois, para eles é trabalhoso, não conseguem visualizar seu uso ou sua importância, além de parecer ser mais amedrontador do que uma ajuda e, em alguns casos, por acharem que a notificação pode significar uma revitimização das mulheres em situação de violência.

Nem sempre é fácil notificar a violência. As mulheres negam… nesses últimos quatro anos nessa unidade só tive um caso que conseguimos fazer a notificação da violência pelo NPV… (F.S./G2)

… eu acho que aqui tem notificação de violência contra as crianças… não tem de mulher… fazemos um trabalho importante… e ele fica meio que camuflado… porque não tem notificação… a gente não notifica… olha eu acho que falta de funcionário… (I.P./G2)

Eu acho importantíssimo notificar… se não você não tem o dado então está tudo bem… não está acontecendo nada… é importante para ter essa visibilidade e implantar políticas públicas onde elas forem mais ou menos necessárias… (M.D./G2)

Quando se trata de questões sobre o parto e nascimento tudo é mais fácil, os gestores do tipo 2 tem mais desenvoltura para falar, lidar com a situação e dizer como organizam as ações. É como se essas fizessem parte de um saber consagrado e tradicional em saúde, e então, já bem reconhecido como seu escopo de atuação profissional. Por outro lado, falar e pensar ações de gestão que versem sobre sexualidade e aborto não

é tão tranquilo. São medos, pré-juízos, concepções pré-formuladas. Assim, chama a atenção como a questão materno infantil ainda povoa o imaginário do gestor como de sua efetiva responsabilidade.

… Aqui tem parto humanizado, mas dá muita atenção só para a questão do parto, tá? Então eu acho que não dá para discutir a questão da sexualidade, do parto, de tudo, sem discutir também a questão do aborto, então são coisas de prevenção, da pílula do dia seguinte… este é um leque que a gente tem que falar sobre tudo isso… e não há espaço, não na maternidade… (V.B./G1)

Talvez por isso, para as crianças e adolescentes e os idosos também, as políticas para enfrentamento da violência parecem ser mais claras, mais estruturadas e mais aceitas socialmente para o atendimento das consequências da violência. Essas causam mais comoção. Quando se trata da violência contra as mulheres é diferente. Parece sempre haver dúvidas e desconfianças quanto à ocorrência do fato, e lança-se a culpa sobre a mulher por ter vivido aquela situação.

… Eu acho que isso (o atendimento às crianças em situação de violência) é muito bem visto aqui no hospital, é bem trabalhado, muito bem articulado… direito das crianças… dos adolescentes… tem a rede CRIAD… a gente está sempre muito atenta!… (I.P.G./G2)

Em relação à mulher tem toda essa questão associada a essa… a essa repressão… e essa maneira como o homem enxerga a mulher, como… algo… um objeto, algo como uma… algo que pode ser explorado, algo que pode ser… enfim… ser violentado… então, tem essa diferença bastante grande porque vivemos em uma sociedade machista… (C.M./G1)

3) A complexidade e a sensibilidade da questão e as políticas para atendimento