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ENTREVISTAS: INVENTÁRIO DE CRENÇAS

CAPÍTULO III 3 METODOLOGIA DE PESQUISA

4.5 ENTREVISTAS: INVENTÁRIO DE CRENÇAS

Deste instrumento final de pesquisa, pudemos perceber, quando das entrevistas, um pouco de apreensão por partes dos entrevistados – o que é comum acontecer quando se é submetido a questionamentos perante uma câmera. A entrevista foi gravada, após cada sujeito autorizar por escrito a captação de sua imagem e som.

Quanto às perguntas das entrevistas, pontuamos que durante a enunciação delas houve uma ou outra incompreensão por parte do entrevistado. Isso ocorreu por conta de nervosismo e também pela preocupação com o fato de a aula presencial no polo ter de começar enquanto ainda estávamos na metade de nossa interrogação.

As entrevistas foram muito úteis para confrontarmos os dados dos questionários para que nosso processo de triangulação pudesse ser bem sucedido.

Assistimos aos vídeos das entrevistas várias vezes. Fizemos nossas anotações nos guiando pelas respostas esperadas às nossas perguntas. Em seguida, transcrevemos alguns trechos mais relevantes. Analisamos os termos que se repetiram e os elencamos nas tabelas a seguir:

TABELA 5- INVENTÁRIO DE CRENÇAS DE ALUNOS DO CURSO DE LETRAS INGLÊS NA EAD DA UFSC.

Texto era:

Atividade de tradução para o português Atividade de cópia

Atividade de criação de diálogos Atividade que exigia descrição

Atividade que exigia transmitir uma mensagem Produção escrita com começo, meio e fim

Produção escrita assemelhada a textos clássicos

TABELA 6- INVENTÁRIO DE CRENÇAS DE ALUNOS DO CURSO DE LETRAS INGLÊS NA EAD DA UFSC.

Texto é:

Atividade que exige raciocínio lógico

Atividade que exige uso correto da gramática Uma frase

Deve transmitir uma mensagem

Produção escrita com começo, meio e fim

Produção escrita assemelhada a textos clássicos FONTE: O AUTOR (2011)

Os excertos que se seguem apresentam crenças sobre a PTELI convergentes com as crenças depreendidas dos outros dispositivos utilizados para gerarmos os dados dessa pesquisa. Observe também o uso de reticências entre parênteses; escolhemos esse uso com o fim de marcar, na transcrição, a pausa ou hesitação do entrevistado no decorrer do discurso dele. :

1º Entrevistado: Texto é tudo que a gente possa ler e compreender. Desde uma frase (...) ela pode te dizer muita coisa (...) até um parágrafo num livro, uma notícia de jornal. Tudo pra mim que eu possa ler e compreender (...) pra mim é um texto. 2º Entrevistado: Pra mim um texto (...) ele (...) é um (...). Bom, bom um texto pode ser uma frase só, né!? (...) Ah, silêncio, por exemplo, (...) Um assunto com objetivo, com os tópicos que (...) é (...) pra atingir um objetivo específico, no caso (...)

3º Entrevistado: Um texto é (...) uma produção escrita onde tem um início, meio e fim. Tem que ter uma argumentação geral e uma conclusão (...) O texto pode ser, por exemplo, uma resenha de um livro (...) é mais aprofundado (...)

5º Entrevistado: Olha! Eu acho que um texto é (...) uma produção escrita. Acho que (...)

em que a agente (...) passa uma informação; que a gente conta alguma coisa. E (...) que contenha (...) que tem algum conteúdo. Sabe!?, Nesse sentido assim. Pode ser um texto informativo (...) pode ter um conteúdo, um caráter informativo, ou contando alguma história, (...) alguma coisa assim (...) Um texto te dá muito mais liberdade pra escrever (...)

Tanto as crenças depreendidas do Questionário I, do Questionário II e do Questionário III – contrastadas com os dados acima transcritos - corroboram a afirmação de que a construção de conceito sobre PTELI está em pleno processo de formação, o que explica a flutuação de crenças acerca de PTELI ora tendendo para a crença tradicional, beletrista e de caráter propedêutico, ora relacionado à crença acerca de PTELI ligada à teoria dos gêneros textuais intimamente imbricada pelos conceitos de autoria-responsiva capaz de desvelar os embates ideológicos que permeiam as práticas sociais viabilizadas pela produção textual escrita em LI a partir dos diferentes gêneros textuais.

As linhas anteriores visam traçar uma retrospectiva do que era texto para esses sujeitos antes da graduação. Agora observe como realmente flutua tenuamente a definição atribuída ao termo texto nos excertos que se seguem - discurso metalinguístico sobre PTELI depreendido de entrevista realizada com eles na quarta fase do curso.

A consideração feita, no parágrafo anterior, não nos autoriza a afirmar que esses alunos não sabem o que é PTELI. Somo autorizados sim, baseados em nossas observações, a afirmar que eles participam de práticas de PTELI – prova disso são os excertos dos fóruns em Inglês – mas que o conceito sobre PTELI está em processo de reconstrução e espraiamento de já que as crenças são fluidas, intrigantes, inconstantes, antagônicas; pois estão imbricadas na constituição de nosso ser. As crenças, como observamos, são contraditórias, dialógicas como é a própria natureza semiótica das pessoas e das cosias – pois são reificadas não por um processo homogêneo e pacífico, mas pelo embate entre os diferentes discursos ideológicos – que se modificam a todo instante, motivadas pelo constante

movimentar sociocultural e polissêmico que nos constitui. (SILVA, 2007, p. 5)

Os trechos transcritos a seguir podem auxiliar na compreensão das crenças elencadas nas Tabelas 5 e 6. Não citamos nomes. Os entrevistados são identificados por nós por números ordinários como forma de lhes garantir anonimato e lhes distanciar de constrangimento, caso a fala de cada um seja identifica por conhecidos que tenham acesso a esse trabalho.

Para finalizarmos essa seção, queremos tecer algumas considerações (derradeiras) acerca de alguns excertos de nossa entrevista: Entrevistador: O que é produzir um texto para você? R: 1º Entrevistado: “É passar uma mensagem”. Em relação a esse primeiro excerto da entrevista, afirmamos que por algum motivo desconhecido por nós, ainda persiste a crença tradicional a respeito da definição de PTELI.

2º Entrevistado: Então (...) produzir um texto em inglês (...) hoje não é tão (ênfase) complicado assim, mas ainda tenho certo

grau de dificuldade, porque (...) eu

praticamente comecei do zero, né!? (...) Foi muito pouca base antes de começar o curso. Mas hoje, assim a gente usa a ferramenta Google, né!? (...) que a gente não conhecia essas coisas assim. A gente se vale de alguns acessórios, digamos assim. (...) Então, já não fica tão difícil. Eu ainda (...) confesso que ainda uso o Google, tradutor Google (...), freedictionary (...) essas coisas assim, né!? (...)

A respeito da segunda resposta, percebemos a PTELI intimamente ligada ao ato de tradução. O entrevistado considera a PTELI como ato de versão de um texto do Português para o Inglês; ele reforça essa crença mencionado ferramentas da Internet que auxiliam no processo de tradução.

3º Entrevistado: Uhm!? (...) é (...) produzir um texto em inglês é conseguir introduzir um assunto, dar uma continuidade, dar uma conclusão e (...) um bom inglês (...) e bem escrito pra sê compreendido (...) pra sê saboreado no sentido da leitura.

O terceiro entrevistado permite que depreendamos de sua resposta a crença de que vocabulário e gramática perfeita são suficientes para se produzir um bom texto.

5º Entrevistado: Produzir um texto, uhm! (...) Tá! Acho que a parti do momento que tu senta (...) baixa a cabeça, concatena ali suas ideias e produz alguma coisa que (...) tem sentido (...) pra você não importa (...) Acho que a partir daí, acho que já pode pensar no que é produzir um texto, né!? (...)

Por fim, o último excerto centra-se em processos de concatenação de idéias, conceituando PTELI como processos cognitivos apenas. Não consegue realizar uma ligação com os estudos linguísticos que ofereceram bases para se compreender a PTELI escolarizada como prática social.

Quando do término do material sobre estudos linguísticos, intitulado Estudos linguísticos II (DELLAGNELO, Adriana Kuerten [et al.] – Florianópolis : LLE/CCE/UFSC, 2010), observamos que é desejo das autoras que os alunos sejam capazes de compreender produção textual escrita (discurso escrito) como prática de tomar parte ativa nas ações intrínsecas da sociedade, permeadas pelas ações linguajeiras - aquelas ações que servem de base para a existência dos textos escritos e orais dos quais se pode desvelar os axiomas sociais que são capazes de fazer surgir, sedimentar, perenizar e ou afrontar as práticas das quais tratamos nessas linhas – que são na realidade protótipos de relacionamentos, saberes, crenças; a materialização de nossa compreensão do mundo (DELLAGNELLO, 2010, p. 97). As proposições que seguem, dizem outra coisa. Revelam que ainda povoam a mente dos sujeitos dessa pesquisa antigos pressupostos baseados da noção de texto como produto; como ação de devolver a fala ao professor; como atividade motora que materializa esquemas mentais discursivos que higienizam o ato ativo-responsivo despertado pela existência do outro (materializado pelo elemento dialógico pulsante em qualquer ato comunicativo).

CAPÍTULO V