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Capítulo V – Estudo Empírico: Montalegre a Capital do Misticismo”: o papel dos media e

5.2. Metodologia: Opções e Percurso da Investigação

5.2.1. Entrevistas

A pesquisa qualitativa constitui-se como um modo de investigação utilizado sobretudo quando se procura aprofundar conhecimentos e experiências sobre uma determinada temática, abrindo espaço para a interpretação. Trata-se de uma pesquisa descritiva e indutiva, em que o investigador desenvolve conceitos e perceções, de acordo com determinados padrões constatados nos dados, em vez de se limitar à recolha de dados secundários para comprovar teorias e hipóteses. Na pesquisa qualitativa, os factos não são mensuráveis, não podendo, portanto, ser traduzidos em números, pelo que é dispensado o uso de métodos e técnicas estatísticas. No domínio social,

os fenómenos só podem ser compreendidos numa perspectiva holística, que leve em consideração os componentes de cada situação em suas interacções e influências recíprocas, o que exclui a possibilidade de se identificar relações lineares de causa efeito e de se fazer generalizações do tipo estatístico (Alves 1991:55).

Desta forma, o investigador estará em interação constante com a realidade devendo valorizar- se a sua imersão “no contexto, em interacção com os participantes, procurando apreender o significado por eles atribuídos aos fenómenos estudados” (idem). Situaremos esta pesquisa qualitativa no paradigma interpretativo (cf. Lessard-Hérbeert et al.1990).

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As entrevistas exploratórias, uma das técnicas inerentes à análise qualitativa, devem auxiliar na construção da problemática de investigação. De acordo com Raymond Quivy e Luc Van Campenhoudt (1998:69), as entrevistas exploratórias

têm como função principal revelar determinados aspectos do fenómeno estudado em que o investigador não teria espontaneamente pensado por si mesmo e, assim, completar as pistas de trabalho sugeridas pelas suas leituras. Por esta razão, é essencial que a entrevista decorra de forma muito aberta e flexível e que o entrevistador evite fazer perguntas demasiado numerosas e demasiado precisas.

Segundo os mesmos autores, “entrevistas, observações e consultas de documentos

coexistem frequentemente durante o trabalho exploratório” (idem, 83), cuja principal função é “alargar a perspectiva de análise, travar conhecimento com o pensamento de autores cujas investigações e reflexões podem inspirar as do investigador, revelar facetas do problema nas quais não teria certamente pensado por si próprio e, por fim, optar por uma problemática apropriada” (ibidem, 109). A entrevista é, em muitas investigações, a única técnica de recolha de dados, sendo agregada, com frequência, a outras técnicas de inquérito, como é exemplo o questionário. A população inquirida é habitualmente precedida de uma pequena entrevista, no sentido de contextualizar o estudo (cf. Albarello at al. 2005). Os mesmos autores acrescentam que a utilização desta técnica “pressupõe que o investigador não dispõe de dados ‘já existentes’, mas que deve obtê-los. Será inútil proceder por meio de uma entrevista para definir que parte da população utiliza a informática e com que fim se essas informações se encontrarem já disponíveis a nível das estatísticas oficiais” (idem, 86). De acordo com Raymond Quivy e Luc Van Campenhoudt (1998:192), “ao contrário do inquérito por questionário, os métodos de entrevista caracterizam-se por um contacto directo entre o investigador e os seus interlocutores e por uma fraca directividade por parte daquele”.

Numa entrevista pessoal, face-a-face, o entrevistador deverá conquistar e, ao mesmo tempo manter o distanciamento possível com o entrevistado, conforme elucida Silva e Pinto (2007:188): “na relação de entrevista face-a-face é exigido ao entrevistador que conquiste a cooperação do entrevistado e que, durante o decorrer daquela, evite o envolvimento pessoal de modo a obstar à sugestão e à indução de respostas e a contrariar os fenómenos psico-

sociais”. Em investigação social, aentrevista semidiretiva, ou semidirigida, é habitualmente a

mais utilizada. Designa-se por semidiretiva, por não ser totalmente aberta e por não ser constituída por um grande número de perguntas precisas. “Geralmente, o investigador dispõe de uma série de perguntas-guias, relativamente abertas a propósito das quais é imperativo

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receber uma informação da parte do entrevistado” (Quivy e Campenhoudt 1998:192). A entrevista semidiretiva permite um nível intermédio, por dar resposta a duas exigências aparentemente contraditórias:

Por um lado, trata-se de permitirmos que o próprio entrevistado estruture o seu pensamento em torno do objecto perspectivado, e daí o aspecto parcialmente «não directivo». Por outro lado, porém, a definição do objecto de estudo elimina do campo de interesse diversas considerações para as quais o entrevistado se deixa naturalmente arrastar, ao sabor do seu pensamento, e exige o aprofundamento de pontos que ele próprio não teria explicado, e daí, desta vez, o aspecto parcialmente «directivo» das intervenções do entrevistador (Albarello et al. 2005:87).

Para a realização deste trabalho, optou-se por entrevistas exploratórias e pela entrevista semidiretiva, por ser uma metodologia que se adequa aos objetivos previamente definidos. Importa sublinhar que a construção do quadro teórico, realizado na primeira etapa desta pesquisa, ajudou na preparação da segunda etapa: a “investigação focalizada” (cf.Alves 1991). Para o trabalho empírico, foram realizadas entrevistas exploratórias, enviadas por e-

mail, aos assessores de imprensa das Câmaras Municipais de Valpaços, Vinhais e Vila Pouca

de Aguiar, e entrevistas pessoais ao assessor da Câmara Municipal de Montalegre e aos jornalistas das três estações generalistas de televisão portuguesa que, habitualmente, fazem a cobertura do evento “Sexta 13-Noite das Bruxas”, acreditando que esta técnica se constitui como proficiente para a problemática desta investigação. Por razões temporais, optou-se por entrevistar apenas os jornalistas das três estações de televisão – RTP, SIC e TVI, por não ser exequível entrevistar os restantes jornalistas da rádio e imprensa escrita. Esta opção foi feita por se considerar que a televisão poderá ser mais representativa que os demais meios, na medida em que este medium continua a ser o que tem mais impacto, maior cobertura e maior audiência e, ainda, por se pretender indagar o seu poder a nível nacional sendo, assim, dispensada a imprensa regional, para o efeito. Foi ainda realizada uma entrevista ao padre Fontes, enviada por e-mail, conforme acordado pessoalmente com o mesmo no dia 13 de setembro de 2013 – dia da celebração de mais uma edição da “Sexta 13-Noite das Bruxas”.

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