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Capítulo II A Informação

2.1.1. A Televisão em Portugal

Dos vários media existentes, destaca-se aquele que é mais pertinente para esta pesquisa: a televisão. Optou-se por este medium por não ser exequível um estudo alargado a todos os media, por questões de espaço e de tempo e, ainda, por se considerar a televisão o meio com maior cobertura a nível nacional.

A palavra televisão provém do grego tele (distante) e do latim visione (visão) e

construi-se como a principal fonte de informação e de entretenimento da atual sociedade

portuguesa. Os avanços tecnológicos, depois da Segunda Guerra Mundial, impulsionaram o uso deste medium, cujos avanços têm vido a ser progressivos ao longo dos tempos e que nos permitiram a atual qualidade no que concerne ao som, à diversidade de canais e da imagem que é, atualmente, de alta definição. Além de referir a multidimensionalidade que reveste a comunicação, importa sublinhar que as técnicas de apresentação da atualidade são mais acessíveis e cativantes do que há alguns anos atrás. A televisão constitui-se como o “ponto- chave” da grande transformação dos nossos tempos (cf. Álvarez 2006). Conforme enfatiza Balle (2003), esta “janela aberta para o mundo” está cada vez mais difundida, devido ao crescente aumento das redes por cabo e por satélite.

A televisão constitui-se como um medium de extrema relevância na vida dos portugueses, fazendo parte do seu dia-a-dia. Segundo Eduardo Marçal Grilo (2006) a influência deste meio sobre a sociedade é notória, na medida em que faculta aos

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telespetadores uma panóplia de programações que reproduzem panoramas consternadores, muitas vezes ética e esteticamente pouco instrutivos. A televisão institui-se como um modelo na sociedade atual, auxiliando a determinar a relevância das notícias e a fincar os temas de interesse da atualidade. Este detalhe, encarado como norma, enfatiza a sua importância e “força” a imprensa escrita, em particular, a segui-la A televisão distingue-se dos restantes media sobretudo pela particularidade da sua imagem julgando-se que, o que não é observável através de imagens, não deverá ser considerado alvo de informação não sendo, portanto, televisivo deixando, por conseguinte, de existir do pondo de vista mediático (cf. Ramonet 2000). Já há muito que o valor da imagem é reconhecido, para Pierre Sorlin (1997:75) os meios de comunicação “têm vindo a divulgar o conhecimento científico (…) e despertaram também a imaginação sobre os mistérios do mundo animal em pessoas cujo interesse é habitualmente mais excitado por imagens sensacionais do que por inquéritos científicos” A imagem foi ganhando um poder crescente, tendo-se revelado a preferência de um público cada vez mais acomodado, inativo e muitas vezes desinteressado. A imagem é “literalmente inegável” e acreditamos, com extrema facilidade, naquilo que os nossos olhos vêem, quer seja num filme, fotografia ou televisão. Mais do que as palavras, a imagem dirige-se às massas, por ser de fácil compreensão, reprodução passando a ser, facilmente, tema de conversa (cf. Volkoff 2000).

É inegável que a televisão exerce uma forte influência sobre os seus telespetadores, no entanto é de salientar que esse efeito é muito maior em públicos menos instruídos. Uma vez que em Portugal os níveis de literacia são ainda muito baixos, onde cerca de 70% da população não possui a escolaridade básica, o impacto da televisão é naturalmente maior comparativamente com países cujo nível de formação seja superior. Assim, a televisão pode constituir-se como um meio de deseducação e de perda de alguns valores elementares na formação e desenvolvimento das crianças e adolescentes (cf. Grilo 2006).

Em Portugal, o setor audiovisual é constituído por canais públicos e privados em sinal aberto, por cabo e através de plataformas online, tornando possível uma resposta mais fragmentada, a públicos cada vez mais segmentados. Por um lado, é oferecido aos telespetadores uma televisão generalista, e por outro, as ofertas diversificadas no mundo televisivo por cabo ou pelas plataformas online, permitem ao telespetador uma seleção autónoma e individualizada dos conteúdos que pretende ver. Francisco Cádima (2011) refere- se a este facto como “híbrido pós-televisivo” e Eduardo Torres (2011) chama-lhe a “era pós- generalista”. A televisão é um meio em constante mudança, tendo passado de um “medium de

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canais” para um “medium de conteúdos e de busca” e prevê-se que, num futuro próximo, permita a disseminação de conteúdos de forma transversal, através de suportes cada vez mais modernos (cf. Torres 2011).

Importa sublinhar que, neste contexto mediático audiovisual, os avanços tecnológicos obrigam a uma atenção redobrada, por parte do universo televisivo, no que concerne às plataformas de difusão e, por outro lado, perante públicos cada vez mais exigentes, cabe a este setor a produção de conteúdos que se ajustem às suas exigências, conforme enfatiza Eduardo Torres (2011:30) quando afirma que “os conteúdos têm de renovar-se para servir novos

públicos”, fruto das mutações do novo mundo da tecnologia digital.

A televisão generalista mantem-se, para já, à frente da televisão por cabo, no que respeita à preferência dos telespetadores, no entanto esta realidade está a sofrer alterações. Embora a televisão generalista seja muitas vezes eleita pela sua função de “cimento social” (cf. Torres 2011), existem dados que comprovam o aumento crescente do consumo de televisão por cabo, conforme esclarece Francisco Cádima (2011:9) que acredita que “a televisão generalista continuará inevitavelmente a perder público”. Atualmente, em Portugal, existem quatro canais generalistas em sinal aberto: a RTP 1 e RTP 2 (Rádio e Televisão Portuguesa), a SIC (Sociedade Independente de Comunicação) e a TVI (Televisão Independente). Para Martins Lampreia, a televisão é um “importante meio [que] cobre todo o País, continental e insular, e é o veículo ideal para as comunicações a nível nacional” (Lampreia 1999:58).

As primeiras emissões experimentais de televisão em Portugal iniciaram-se em 1956, pela Radiotelevisão Portuguesa, SARL (Sociedade Anónima de Responsabilidade Limitada), sendo o seu maior acionista o Estado. Esta fase experimental caraterizou-se por apresentar uma programação baseada em filmes, música e teatros de revista filmados (cf. Santos 2007). Foi numa conjuntura política de ditadura que se iniciaram as emissões regulares da RTP, em1957, fator que condicionou fortemente a atividade desta estação de televisão. Torres (2011) afirma que, antes de 25 de abril de 1974, a televisão promovia uma visão pastoral, além de operar como “megafone” do regime salazarista-marcelista. Na mesma linha de ideias, Cádima (1999) sublinha que a RTP, nos seus primeiros tempos, se constituiu como o principal

porta-voz do governo da altura que era de ditadura. Com a Revolução de 25 de abril de 1974,

a RTP foi nacionalizada, após ocupação militar (idem, 1999).

A RTP 2, o segundo canal do serviço público, iniciou as suas emissões em 1968, tendo sido na década de 90 que acabou o monopólio televisivo, década em que apareceram duas

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novas estações de televisão, ambras privadas: a SIC em 1992 e a TVI em 1993. O aparecimento destas duas novas estações de televisão revolucionou o sistema televisivo português, designadamente através do aumento da oferta de programas e de novas formas de se “fazer televisão”. A Televisão Digital Terrestre (TDT), atualmente em todo o território português, veio melhorar, de forma significativa, a qualidade de som e imagem através de emissões em alta definição.

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