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Capítulo II – Metodologia de Investigação

3. Procedimentos de Recolha e Análise de Informação

3.3. Entrevistas

“ […] [entrevistas] permitirão ao pesquisador fazer uma espécie de mergulho em profundidade, coletando indícios dos modos como cada um daqueles sujeitos percebe e significa sua

realidade” (Duarte, 2004, p. 2015).

A entrevista é uma técnica fundamental de investigação que é utilizada nos mais diversos campos, uma vez que “ […] caracterizam-se por um contacto direto entre o investigador e os seus interlocutores” (Quivy & Campenhoudt, 1995, p. 192), isto é, este método diferencia-se pela a utilização de processos de comunicação e interação criando uma “ […] atmosfera de influência recíproca entre quem pergunta e quem responde” (Ludke & André, 1986, p. 33).

As entrevistas qualitativas como referem Bogdan e Biklen (1994) variam segundo o grau de estruturação. Estas são, frequentemente, classificadas em não estruturadas ou não diretivas, estruturadas ou diretivas e semiestruturadas ou semidiretivas. A entrevista não estruturada, assim como o nome indica, não possuí uma estrutura, isto é, não dispõe de um roteiro de questões pré-estabelecidas, mas sim uma lista de tópicos de acordo com o tema a ser estudado (Quivy & Campenhoudt, 1995). A entrevista estruturada, é semelhante a um questionário, uma vez que se trata de um conjunto de questões pré-estabelecidas, que podem ser abertas ou fechadas e são aplicadas aos entrevistados de uma forma idêntica e seguindo a mesma ordem. Por norma, estas são utilizadas “ […] quando se visa à obtenção de resultados uniformes entre os entrevistados” (Ludke & André, 1986, p.34). Entre estes dois tipos de entrevistas, situa-se a entrevista semiestruturada que não é totalmente aberta, nem possuí um grande número de questões (Quivy & Campenhoudt, 1995). Vários autores consideram-na como um dos principais instrumentos de pesquisa de natureza qualitativa, isto devido, especialmente, por não existir, por parte do investigador, rigidez na colocação de questões, o que possibilita que o entrevistado possa “distanciar-se” ao abordar o tema, mas sempre respeitando os seus quadros de referência.

Para compreender a importância que as educadoras atribuem às brincadeiras e às aprendizagens das crianças e, por conseguinte, as suas conceções relativamente às brincadeiras ao ar livre, recorri à entrevista semiestruturada individual, pois esta é um método que serve para recolher dados descritivos, permitindo ao investigador estudar e

compreender o ser humano, nomeadamente no que diz respeito aos seus pontos de vista e opiniões sobre o objeto de estudo.

Foram realizadas entrevistas individuais às duas educadoras de infância, tendo por base um guião estruturado em quadro blocos – legitimação e incitação; a importância e influência do brincar no desenvolvimento da criança; o agir profissional: perspetivas e procedimentos utilizados pelas educadoras; representação de si enquanto gestora do seu currículo – e delineado objetivos específicos e questões, de modo a estruturar uma entrevista concisa e precisa (v. Apêndice 2).

Numa investigação, o entrevistador deve pautar as suas ações numa base conceptual de comprometimento e compromisso em relação ao entrevistado. Desta forma, foi necessário garantir o anonimato no que concerne à identificação dos intervenientes e das instituições, solicitar permissão para gravar a entrevista em formato de áudio e informar as entrevistadas que toda a entrevista seria transcrita e, posteriormente, fornecida para verificar a sua precisão, e se necessário incluir e/ou retificar novas informações pertinentes para o estudo. Todas as entrevistas foram devolvidas às entrevistadas, sendo que não existiram alterações na sua transcrição. (v. Apêndice 3). Por fim, é importante frisar que foi previamente acordado com as entrevistadas a data, o local e as horas, sendo o espaço um local sereno, tranquilo sem perturbações.

Partido da premissa que a criança é capaz de exprimir as suas opiniões, conceções, ideias e reconhecendo que a criança deve estar no âmago do currículo, considerei também implementar uma entrevista às crianças, colocando assim, os processos de escuta das suas vozes como um dos principais instrumentos de recolha de dados para a investigação. Para Vasconcelos (2016):

“ [… ] a investigação com crianças é antes de tudo dar voz às crianças, criar contextos em que elas possam falar de si, de modo a que a investigadora possa devolver à comunidade científica os pontos de vista dessas mesmas crianças sobre o problema em estudo, através do espelho que é a interpretação da investigadora” ( p. 97).

Os protagonistas desta entrevista foram as crianças do contexto jardim de infância. Participaram na entrevista vinte crianças, todas elas com cinco anos de idade. Com o propósito de assegurar a confidencialidade e privacidade dos participantes, e em simultâneo a sua identificação, referir-me-ei a cada criança apenas com a inicial do seu nome. Na perspetiva de Ludke e André (1986) esta estratégia é bastante relevante, pois

para além de garantir o anonimato das crianças, impossibilita que seja realizada qualquer referência que as possa identificar.

Depois de garantir a autorização dos responsáveis pelas crianças, foi necessário obter o consentimento das próprias crianças, sendo elas as protagonistas da entrevista. Como tal, no momento da rotina do conselho da manhã foi explicitado às crianças que ao longo da semana iriam ser realizadas entrevistas para uma investigação. As crianças já estavam conscientes desta investigação, uma vez que ao longo do período de estágio já tinha sido explicitado do que se tratava e que ao longo do mesmo iriam ser realizadas várias intervenções sobre a temática da investigação. Também foi dada a oportunidade de as crianças decidirem se queriam ou não participar.

Ficou evidenciado na postura de atenção e de envolvimento ao longo da entrevista que as crianças estavam motivadas e empenhadas para responder às questões que lhe iam sendo feitas. Por isso, o facto de as crianças terem consciência que estavam a participar num projeto de investigação permitiu que ficassem entusiasmadas, fazendo-as sentir-se como capazes e valorizadas.

Todas as entrevistas foram transcritas e analisadas, sendo que dessa análise resultou um quadro (v. Apêndice 4) com a sistematização da informação recolhida pelas crianças. Considerei optar por sintetizar a informação desta forma, pois colocar os protocolos na íntegra de todas entrevistas, seria massivo para o presente relatório.