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Capítulo III – Caraterização dos Contextos Educativos

2. Instituição A – Contexto de creche

2.6. Organização do Espaço e dos Materiais

• 1.º momento de estágio

Antes de mais é importante referir que “ […] se a educação é uma preocupação básica da creche, se o educador educa e não é apenas um guardador de crianças […] importa que haja um currículo, isto é um plano de desenvolvimento e aprendizagem a levar a cabo” (Portugal, 1998, p. 79). Ou seja, a organização dos espaços e a forma como estão dispostos os objetos são da responsabilidade do educador, enquanto gestor do currículo. Assim, a disposição do espaço da creche deve ter em conta as necessidades específicas de cada idade. De uma boa organização da sala depende todo o funcionamento diário da mesma (atividades, repouso, etc.) e, consequentemente, o bem-estar das crianças e dos adultos.

A sala do contexto A era retangular, com bastante iluminação natural e com uma porta de acesso para o espaço exterior do piso superior. A estruturação da sala tem por base as linhas orientadoras do MEM e, por isso, o espaço encontra-se, segundo a educadora, dividido por diferentes áreas de trabalho/brincadeira. Cada uma dessas áreas é facilmente identificada pelos materiais que a compõem, pelas possibilidades da sua exploração e pelas atividades que podem surgir. Segundo Cairuga, Castro e Costa (2014) “ […] um ambiente assim estruturado propícia diferentes interações entre os bebés e com adultos, bem como a independência deles, respeitando-se as necessidades de movimentação, de diferentes interesses e tempos de permanência em cada área” (p.157). Eis algumas áreas que compunham a sala: área das construções; área da casinha; área da biblioteca; área dos jogos e, por fim, área dos materiais recicláveis.

A sala não era o único espaço utilizado pelas crianças. Tal como exigido, o almoço e o lanche realizavam-se no refeitório da creche, no piso inferior. Outro espaço que era comum às duas salas era o fraldário.

Partindo do pressuposto que qualquer espaço é promotor de interações e brincadeiras “ […] é primordial organizarmos contextos significativos para as crianças também nos espaços externos, onde elas possam colocar-se em relação umas com as outras e sintam-se desafiadas a interagir com diferentes materiais” (Horn, 2017, p. 87). Desta forma, existia ainda dois espaços exteriores que também eram comuns às duas salas.

O primeiro espaço localizava-se no 1 piso e tinha acesso direto à sala. Este era revestido por azulejos, continha uma rampa e alguns degraus. Apesar de as crianças já dominarem a marcha, de acordo com a educadora, estes aspetos apresentavam desafios para as crianças:

o pavimento, as escadas é tudo desafiador para eles. Eu entendo que as pessoas que vêm cá pela primeira vez que se possam assustar, aliás, eu assustei-me quando cá vim, mas não, eles mostram-nos que não. […] temos é de confiar neles garantido a segurança é claro (Entrevista Educadora A, 2020).

Desta forma, e consoante estes desafios, as crianças iam progressivamente criando estratégias como forma de as superar, a título de exemplo, as crianças nos degraus apoiavam as mãos no muro para auxiliar na subida e na descida.

A respeito dos materiais lúdicos, na perspetiva da educadora é importante:

[…] ir rodando os brinquedos e as oportunidades, porque ao fim de algum tempo de as crianças utilizarem esses utensílios que já os conseguem explorar deixam de ser desafiantes. Por isso, temos que constantemente estar inquietos, trazer novas oportunidades, novos desafios (Entrevista Educadora A, 2020).

Desta forma, sempre existiu na prática da educadora uma rotatividade nos materiais, sendo que, muitas das vezes os materiais da sala iam para o espaço exterior para serem explorados de diversas formas. Algo também muito importante para a educadora é o:

[…] estado dos materiais porque nós sabemos muitas vezes que os materiais acabam por se degradar e nós temos de ter atenção e identificarmos esses materiais e retirá-los e substituí-los

(Entrevista Educadora A, 2020).

Assim, neste 1º piso existiam alguns triciclos que causavam diversos conflitos a nível de posse, um escorrega e dois pneus, que permitiam desenvolver a coordenação motora, e ainda a existência de uma casa, que era bastante utilizada pelas crianças. Contudo, esta última encontrava-se a servir de barreira para a zona destinada ao contacto com a natureza. Esta zona era revestida por um pavimento de terra, continha um limoeiro e permitia o contacto com água.

Ainda neste espaço existia um lago que se encontrava salvaguardado com uma cerca, onde possuía uma tartaruga, sendo esta da responsabilidade do grupo. O facto de este espaço estar interdito às crianças, dava origem às constantes tentativas das mesmas a tentarem explorar este espaço, que possuíam diversas potencialidades. Também ainda neste espaço existia uma pequena horta. Todavia, nunca fora utilizada com as crianças. Aliás, também este espaço era interdito às crianças e, por norma, apenas a equipa poderia frequentá-lo. De acordo com White (2014) os materiais naturais, como são materiais abertos, contribuem para as principais áreas de desenvolvimento e, por isso, podem ser utilizados com várias finalidades. Desta forma, o espaço exterior deve conter espaços livres para que as crianças consigam descobrir e explorar o ambiente à sua volta.

No que concerne ao piso 0, tinha o piso em tartan, e era constituído por um cesto com bolas e alguns brinquedos, triciclos e um escorrega. No entanto, este espaço não era tanto utilizado pelas crianças. Desta realidade surgiu então necessidade de questionar a educadora, atentemos na seguinte nota de campo:

Contudo, apesar de este espaço ser, na ótica da educadora, um espaço que não proporcionava tantos desafios às crianças, podiam-se observar várias brincadeiras entre pares nomeadamente com as bolas, sendo que estas não estavam disponíveis no outro espaço. Como neste espaço existia um muro com acesso para o exterior da instituição, as crianças revelavam grande interesse em atirar as bolas com o intuito de elas passaram o lado de lá do muro. Porém, de imediato eram repreendidas pela equipa, pois estas não queriam ir buscá-las.

• 2.º momento de estágio

A sala do segundo momento de estágio também se alterou. Esta sala, devido à faixa etária em questão, trata-se de um espaço bastante amplo, com poucos obstáculos, de forma a facilitar a locomoção das crianças que ainda se apresentam muito

Inquieta sobre o porquê de a equipa não utilizar o espaço exterior do piso 0, decidi questionar a educadora sobre o porquê de este espaço não ser utilizado com regularidade. E.I: Para te ser sincera acho que o facto de ser um piso plano não traz tantos desafios para eles… e como temos materiais idênticos lá em cima [piso 1] o outro é mais prático.

principiantes nestas idades. Estas crianças ainda dependiam muito do adulto, principalmente ao nível dos cuidados básicos. A sala, tal como a anterior e de acordo com as metodologias da educadora, encontrava-se dividida por áreas. Porém, contrariamente à sala do primeiro grupo, esta apenas se dividia em três áreas, nomeadamente a área da dramatização, a área do tapete e a área da biblioteca, pois para a educadora não fazia sentido ter várias áreas se as crianças não as utilizassem.

Enquanto espaço físico, a sala de atividades alterou-se. Mas, esta não teve qualquer influência na investigação. Contudo, a alteração do espaço exterior já apresenta efeitos. Como já referido, a instituição possuí dois espaços exteriores, um localizado no piso 0 e outro no 1º piso. O espaço exterior do 1º piso foi aquele que se modificou. Este era acessível à sala, mas foi drasticamente diminuído. Era retangular e formava uma varanda, impedindo o acesso onde se encontravam todos os materiais lúdicos e o espaço de natureza. Este curto espaço encontrava-se interdito com uma mesa e possuía alguns materiais. Porém, caso as crianças quisessem, poderiam levar os brinquedos da sala para este local. Apesar de este espaço garantir a segurança das crianças, não era de todo organizado de acordo com os seus interesses e necessidades, uma vez que grande parte do grupo já dominava a marcha, existiam várias tentativas com o intuito de passar para o lado de lá. Também, a equipa colocava, mas eram raras as vezes, as crianças do lado de lá do exterior. Contudo, só as crianças que se conseguiam locomover é que poderiam usufruir deste espaço.