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A) Entrevistas semi-estruturadas

A opção pelo procedimento de entrevistas semi-estruturadas, realizadas individualmente com cada um dos sujeitos, ocorreu pelo fato dessa estratégia possibilitar um tipo interação que permite focalizar as questões chaves do estudo, segundo a percepção de cada um dos participantes, ao mesmo tempo em que garantia a direção do processo para o obtenção das informações necessárias. Esse procedimento prevê a utilização de um roteiro de questões abertas, podendo-se acrescentar perguntas de esclarecimentos com uma flexibilidade relativa, o que favorece a relação com os sujeitos participantes e a exploração em maior profundidade de elementos considerados informações significativas no curso do processo da entrevista (Laville e Dione, 1999, p. 188-189). Conforme lembra Triviños (1987, p.146), as questões fundamentais que compõem uma entrevista semi- estruturada, resultam do embasamento teórico, suposições e informações prévias sobre o fenômeno investigado, o que justifica a escolha dos informantes. No entender deste autor (op. cit., p. 152), tal instrumento de obtenção de dados favorece não só a descrição, mas também a explicação e a compreensão da totalidade do fenômeno estudado13. Segundo Bogdan e Biklen (1994, p.135), esta forma de entrevista permite ainda a comparação entre os vários sujeitos, sem perder de vista como os sujeitos estruturam a questão.

Contudo, a utilização desta estratégia como procedimento para obter informações pressupõe que sejam levados em consideração alguns cuidados essenciais, conforme recomendam autores que abordam a questão (Bogdan e Biklen, 1994; Laville e Dionne, 1999). Por esse motivo, antes da realização das entrevistas, os sujeitos tiveram uma breve explicação sobre a sua finalidade, e no decorrer das

13 THIOLLENT (1980) apresenta uma discussão relevante sobre os diferentes tipos de entrevista e a

sua utilização na pesquisa, ressaltando a sua importância para investigar as representações dos sujeitos, possibilitando a interação e a problematização dos aspectos social e psicológico.

mesmas procurou-se garantir condições adequadas para que não ocorressem interferências que prejudicassem a coleta dos dados. Buscou-se, ainda, evitar constrangimentos e garantir o respeito às colocações através da disposição de ouvir com atenção o relato dos participantes, preservando-se a espontaneidade e o caráter pessoal das respostas. Ao mesmo tempo procurou-se evitar que ocorressem desvios das questões essenciais. 14

As entrevistas foram gravadas, com a autorização dos sujeitos participantes, a fim de garantir a melhor utilização das informações, pois, após a realização das transcrições dos relatos verbais, poder-se-ia recorrer aos dados obtidos, sempre que se fizesse necessário, durante todo o processo de análise. Bogdan e Bikelen (1994, p. 172) recomendam o uso da gravação, principalmente quando as entrevistas constituem-se na principal técnica de obtenção de dados. Thiolllent (1980, p. 148) ainda refere que o uso do gravador nas entrevistas possibilita a utilização de todo o material fornecido pelos informantes, ao mesmo tempo em que a audição das gravações permite destacar idéias importantes e até buscar complementações aos dados quando se fizer necessário.

Para que se pudesse ter elementos para analisar o objeto em questão, a coleta de dados foi realizada em três etapas, durante um período letivo em que a mesma era oferecida nos cursos de licenciatura. Em cada uma das etapas, a entrevista seguiu um roteiro, procurando obter as informações relevantes para conhecer o processo, conforme é explicitado a seguir.

- Primeira etapa da coleta de dados

A primeira etapa da coleta de dados foi realizada no início do primeiro bimestre do ano letivo, imediatamente após ter sido efetuada a seleção dos sujeitos que fariam parte amostra, segundo os critérios estabelecidos. A entrevista realizada neste momento procurava investigar junto aos sujeitos as concepções sobre os

14 THIOLLENT (op. cit.) ressalta que deve-se ter alguns cuidados na utilização de entrevistas,

considerando tanto a formulação das respostas do investigado quanto a formulação de perguntas e a interpretação por parte do investigador.

processos de aprendizagem e desenvolvimento que os estudantes dos cursos de licenciatura tinham antes de cursar a disciplina Psicologia da Educação, como elas foram constituídas, quais suas implicações para o ensino, bem como que expectativas possuíam em relação ao curso escolhido e a disciplina que iniciavam. Nesse processo, partia-se do pressuposto que os sujeitos já possuíam contato com os conceitos investigados na sua história de vida, bem como que os depoimentos e narrativas dos sujeitos constituíam-se numa manifestação da memória, o que não poderia deixar de ser considerado neste estudo15. Assim, de modo geral, o roteiro procurou abordar os

aspectos abaixo relacionados:

- concepção sobre aprendizagem e desenvolvimento: como os sujeitos entendiam que os alunos aprendem e se desenvolvem;

- concepção sobre o ensino: implicações das idéias sobre o aluno, como consideravam que deveria ser a atuação do professor, qual o papel deste na educação escolar;

- o processo de constituição dessas concepções: que experiências da sua história de vida contribuíram para a constituição de suas concepções;

- participação do conhecimento psicológico na sua constituição: influência de alguma experiência ligada ao conhecimento da Psicologia, em geral, ou da Psicologia da Educação, em particular;

- implicações dessas concepções na prática docente: como tais concepções poderiam orientar os processos de planejamento, desenvolvimento e avaliação na prática pedagógica;

15 A utilização dos relatos de histórias de vidas ou de determinados aspectos das vivências dos sujeitos

é amplamente difundido tanto como método quanto como técnica em investigações com abordagem qualitativa. Muitos estudos realizados nessa perspectiva estão relacionados com a questão da formação docente, preocupando-se em conhecer a dimensão pessoal na profissionalização dos professores, voltando-se para as significações pessoais e sociais dos processos de formação, valendo-se da memória dos sujeitos no relato de histórias de vidas e de formação. Nesse sentido, podem ser destacadas, entre outras, as contribuições de NÓVOA (1992d); CATANI et al. (1997); BUENO, CATANI e SOUSA (1998).

- expectativas dos sujeitos em relação ao curso de formação de professores e à disciplina de Psicologia Educacional: o que esperavam e possíveis sugestões.

- Segunda etapa da coleta de dados

Nesta etapa, a coleta de informações voltou-se para as experiências da vida acadêmica, relacionadas especificamente à disciplina Psicologia da Educação, sendo prevista para o início do segundo semestre letivo, com a possibilidade de ser realizado mais de um encontro, caso fosse considerado necessário. O estudo procurava a obtenção de dados sobre os mais diversos aspectos relacionados ao processo de ensino da disciplina, o primeiro encontro para a coleta de informações através de entrevistas ocorreu, conforme estava previsto, a partir do terceiro bimestre do ano letivo, por ser considerado o momento em que os estudantes já poderiam trazer considerações mais significativas. Em função de um período de greve na instituição, que acompanhou um movimento de reivindicações de um grande número de universidades federais, a coleta de dados procurou seguiu calendário acadêmico, para que os resultados não fossem prejudicados. Contudo, uma vez que não foram conseguidas todas as informações pretendidas num primeiro contato, pois o processo de ensino da disciplina estava em andamento e, alguns casos, verificava-se certo atraso no programa, decidiu-se, junto com os sujeitos e com suas sugestões, que o roteiro da primeira entrevista deveria ser retomado no último bimestre do período letivo, para a complementação dos dados.

A investigação desta fase partia do pressuposto que as condições de ensino, em qualquer nível de escolarização, estão relacionadas com as possibilidades de aprendizagem e o desenvolvimento de competências dos estudantes. Por isso, para identificar as implicações da Psicologia na formação docente, seria necessário conhecer como ocorre o ensino da disciplina, quais as experiências que esta proporciona e de que maneira procura instrumentalizar os estudantes para o exercício da docência. A investigação procurou focalizar as dimensões consideradas fundamentais ao ensino, desde o planejamento até a avaliação do processo, a partir da

dinâmica das aulas vivenciadas pelos estudantes16. Para coletar tais informações, o roteiro buscou a abordagem dos aspectos abaixo arrolados:

- a finalidade do conhecimento psicológico no curso de formação docente que os sujeitos freqüentam: quais os objetivos da disciplina, sua clareza e explicitação; - a seleção das experiências de aprendizagem: como ocorreu o planejamento sobre o que seria estudado e a tomada de decisões sobre a maneira como as situações seriam desenvolvidas;

- o que foi ensinado: quais os conteúdos trabalhados e as principais fontes de informações e conhecimentos;

- o ensino na disciplina: que procedimentos metodológicos foram utilizados pelos professores, como foram organizados os conhecimentos e as experiências de aprendizagem, que atividades foram desenvolvidas, que recursos foram usados e que processos interativos proporcionados;

- os procedimentos avaliativos: como foi realizada a avaliação, tipos de avaliação, instrumentos e processos utilizados, critérios e resultados obtidos.

- Terceira etapa da coleta de dados

A terceira etapa de coleta de dados ocorreu no final do ano letivo, realizando-se no decorrer do último bimestre, para que houvesse tempo suficiente para serem obtidas as informações necessárias antes do término do período. A entrevista procurou verificar se as experiências oportunizadas pela disciplina Psicologia da Educação propiciaram conhecimentos que contribuem para a prática docente, cumprindo a sua função na grade curricular dos cursos de licenciatura. Assim, a investigação focalizou as implicações dos conhecimentos teóricos da

16 Nas últimas décadas, verifica-se uma tendência das discussões e dos estudos educacionais voltarem-

se para o processo de ensino e como ele ocorre na dinâmica da sala de aula, enquanto condição para a aprendizagem. Em grande parte procuram abordar a totalidade do processo ressaltando os diferentes elementos que contribuem para o ensino possibilite a apropriação do conhecimento. Isso pode ser constatado em ABREU e MASETTO (1990), GAUTHIER et al. (1998), MASETTO (1998), MEIRIEU (1998), ZABALA (1998), entre inúmeras outras referências que trazem discussões teóricas e relatos de investigações importantes para mostrar a importância desse enfoque.

Psicologia para a prática pedagógica, buscando informações que permitissem verificar se o ensino de Psicologia contribui para que os estudantes dos cursos de licenciatura sintam-se mais capacitados na preparação para o exercício da docência17. O roteiro proposto para essa entrevista abordou as seguintes questões:

- conhecimentos sobre os processos de aprendizagem e desenvolvimento: quais as concepções dos estudantes sobre aprendizagem e desenvolvimento do aluno no término da disciplina;

- implicações na concepção sobre o ensino: como consideravam que deve ser o papel do professor nesse momento;

- contribuições da disciplina Psicologia da Educação: em que medida as experiências propiciaram a ampliação de seus conhecimentos sobre o processo de ensino e aprendizagem;

- o conhecimento da Psicologia na docência: de que maneira os conhecimentos podem subsidiar o planejamento, desenvolvimento e avaliação na prática pedagógica;

- sugestões para melhorar o ensino da disciplina: considerações que os sujeitos poderiam fazer, a partir das experiências e reflexões, para que o conhecimento psicológico contribuísse de forma mais efetiva na formação de professores.