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3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA

3.3. TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS

3.3.1. ENTREVISTAS

Uma entrevista, de acordo com Gray (2012), é uma conversa, organizada e com uma metodologia entre pessoas na qual uma cumpre o papel de pesquisador. Conforme ainda este mesmo autor, as pesquisas podem apresentar cinco abordagens: estruturadas, semiestruturadas, não diretivas, direcionadas e entrevistas com conversas formais.

Neste sentido, a entrevista semiestruturada é utilizada para o levantamento dos dados primários, pois se julga ser a mais eficaz no contexto desta pesquisa. As entrevistas semiestruturadas, segundo Flick (2013), são métodos que apresentam um guia de perguntas que cobrem um escopo, e os entrevistadores podem se desviar da sequência de perguntas. As entrevistas semiestruturadas são usadas para coletar dados para análise qualitativa, de acordo com Gray (2012).

As pesquisas semiestruturadas podem ser compreendidas como o cerne na obtenção de dados primários deste estudo. Todavia, vale destacar que outros métodos também foram utilizados, como a observação aberta participante.

Sendo assim, cabe realçar que, anterior a execução da pré-testagem e da aplicação dos questionários, ocorreu uma observação do campo, Lagoa Rodrigo de Freitas, no intuito de promover o levantamento de algumas evidências empíricas. Nesta etapa anterior à realização ampliada da pesquisa, foi possível estabelecer: conversas informais com transeuntes e estabelecimentos, envidar registros fotográficos e desenvolver reconhecimento pormenorizado do território da Lagoa, suas nuances, e o seu entorno. Consequentemente, neste primeiro contato, foi possível compreender a necessidade de fragmentar o território da Lagoa em zonas menores e perceber que alguns indivíduos ficavam desconfortáveis em comentar sobre os efeitos provenientes dos Jogos Rio 2016 no seu cotidiano.

O reconhecimento do espaço geográfico da Lagoa Rodrigo de Freitas e os registros fotográficos realizados auxiliaram na confecção dos roteiros. Logo, foram elaborados dois roteiros cujas perguntas possuem como base o Quadro 08:

Quadro 08 – Categorias vs. Práticas de Gestão de Stakeholders

Categorias Autores Práticas

Partes Interessadas

Gou et al. (2014); Jia et al. (2011); Jordhus- lier (2015); Kytle e Ruggie (2015); Liu et

al. (2016); Mok et al. (2015); Sami (2013); Shi et al. (2015); Teo e Loosemore (2010);

Mapeamento do perfil social da população local Divisão da população de acordo com o perfil social Elaboração de ações com base no perfil e demandas sociais Desenvolvimento de parcerias com entidades locais para ações sociais integradas

Comunicação com os stakeholders locais é feita estritamente através da gestão social

Ações e projetos são desenvolvidos o mais próximo possível ao público alvo

Participação em reuniões e conselhos comunitários Estabelecimento de constante diálogo entre a gestão social e lideranças comunitárias

As obras em locais críticos, sob a perspectiva de instabilidade social e violência, são acompanhadas pelo mediador da comunidade

Canal de comunicação direta entre a comunidade e a organização

Promoção de acesso à cultura, lazer e entretenimento Diálogo com entidades públicas

Medidas assecuratórias

Comunicação de obra com todos os impactos causados pela implementação do megaprojeto de acordo com a área afetada Comitê de gestão de crise

Mobilização social antes da operacionalização da obra

Econômica Gou et al. (2014); Kytle e Ruggie (2005); Liu et al. (2016); Shi et al. (2015); Teo e Loosemore (2010);

Medidas para permitir a operacionalização de empresas e comércios no site do projeto

Fonte: Adaptado de Freitas (2016).

O Quadro 08 contempla as práticas de gerenciamentos de stakeholders que envolvam os stakeholders. Este Quadro é uma adaptação da pesquisa de Freitas (2016), na qual o referido autor realizou um levantamento, confrontando as prática encontradas na literatura científica com as práticas encontradas no estudo de caso.

Com o suporte do Quadro 08, o primeiro roteiro proposto foi com foco nos transeuntes da Lagoa Rodrigo de Freitas, constituído por 20 perguntas abertas e fechadas segmentadas em 3 seções.

O segundo roteiro já focaliza nos empreendimentos formais e informais ou associações também localizados na Lagoa Rodrigo de Freitas, sendo constituído por 28 perguntas abertas e fechadas segmentadas em 3 seções.

possuem 3 seções de perguntas nesta ordem que representam: identificação social; práticas de gerenciamento de stakeholders aplicadas ao dia a dia do respondente; e percepção de satisfação com a realização do megaevento. Todas as seções possuíam perguntas abertas e fechadas. Cabe realçar que o território da Lagoa Rodrigo de Freitas foi fragmentado em 7 áreas: Fonte da Saudade, Curva do Calombo, Corte do Cantagalo, Lado de Ipanema, Lado do Leblon, Lado do Jardim Botânico e Lado Jardim Botânico/Parque dos Patins, a fim de contemplar a totalidade do espaço. A Figura 16 ilustra as microrregiões:

Figura 16 – Fragmentação da Lagoa Rodrigo de Freitas em Microrregiões

Fonte: Adaptado do Google Maps (2016).

Vale destacar, conforme evidenciado na literatura através de Mazur e Pisarski (2015), Al Nahyan et al. (2012) e Winch (2004), que os roteiros elaborados tem como foco os indivíduos ou empreendimentos que estejam na qualidade de stakeholder:

organizações executoras do megaevento Rio 2016;

 Stakeholders de produto – envolvem os clientes, fornecedores, governos e público em geral;

 Stakeholders primários ou secundários – os impactados direta e indiretamente pelo megaevento.

Após a elaboração dos roteiros de pesquisa, estes foram avaliados e validados junto ao orientador. Posteriormente, foi submetido a avaliação de um pesquisador com a titulação de mestre e com conhecimentos específicos na área. Sendo assim, foram realizadas as alterações necessárias ou incorporação de novas perguntas.

Em seguida, o instrumento foi submetido a uma pré-testagem com dois estabelecimentos e com dois transeuntes, a fim de verificar a consistência e a validação do referido instrumento. A pré-testagem tem a finalidade de averiguar os níveis de compreensão e entendimento das perguntas, disposição da ordem das perguntas e formas de abordar o entrevistado para assim, mapear oportunidade de melhorias, conforme Flick (2013), Gray (2012) e Bardin et al. (2000).

Neste sentido, a pré-testagem ocorreu no dia 17 de agosto de 2016 e foi realizada em duas microrregiões da Lagoa Rodrigo de Freitas: Lado Jardim Botânico e Parque dos Patins, sendo direcionadas a dois estabelecimentos - Caipirinha & Filé e Quiosque do Índio – e a dois transeuntes. Através da pré-testagem foi possível avaliar que os roteiros das entrevistas foram construídos de maneira equivocada, pois os entrevistados ficavam ansiosos em comentar sobre o que achavam da Olimpíada e não em responder as perguntas do roteiro. Sendo assim, foi coerente realizar algumas modificações:

 Perguntas abertas: passaram a iniciar o questionário após a seção de identificação social. Assim, o entrevistado realizava um grande brainstorming6, possibilitando uma aproximação e uma empatia entre o pesquisador e o entrevistado.

 Escala Likert: inicialmente, a escala apresentava a seguinte medição: 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, na qual 0 era um indicador negativo ou menos favorável e 10 positivo ou mais favorável. Todavia, esta escala gerou confusão aos entrevistados. Sendo assim, fez-se necessário minimizar a escala (de 0 a 5), tornando-a mais simplificada: (1) discordo totalmente; (2) discordo; (3) não

6 Segundo Gary (2012) e Jarvis (1995), o brainstorming é uma técnica para gerar e refinar ideias, priorizando

que a quantidade de ideias produzidas é mais importante do que a qualidade. Vale realçar que não há ideias certas ou erradas e sim as que possuem mais aderência ou não ao propósito que se deseja.

discord/concordo; (4) concordo; e (5) concordo totalmente.

 Vocabulário: foi necessário realizar adequação, pois o vocabulário apresentado estava técnico, o que ocasionava um distanciamento do entrevistado ou a não compreensão da pergunta, uma vez que a comunidade local da Lagoa Rodrigo de Freitas apresenta um diversificado nível de escolaridade.

 Abordagem ao entrevistado: a própria abordagem estava técnica, ocasionando distanciamento do entrevistado ou até mesmo provocar uma percepção de superioridade do pesquisador. Neste sentido, foi adotada uma postura menos técnica, com uma linguagem mais simples e objetiva.

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