• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO II – METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO

2. Enunciado do problema

O trabalho colaborativo tem vindo a assumir um papel central, quer no desenvolvimento do profissionalismo docente, quer como veículo contributivo para o sucesso educativo. No entanto, na ESPS, o trabalho colaborativo não tem sido de fácil concretização, porque não está enraizada uma cultura de colaboração entre os professores. De um modo geral, o que acontece são encontros na sala de professores, nos conselhos de turma ou nos grupos que trabalham com as

Turma 7.º D Turma 7.º C Turma 7.º A Turma 7.º B Ninho Português 7ºC/7ºD Ninho Português 7ºA/7ºB Ninho Matemática 7ºA/7ºB Ninho Matemática 7ºC/7ºD Turma 8.º A Turma 8.º B Turma 8.º D Turma 8.º C Ninho Português 8ºA/8ºB Ninho Português 8ºC/8ºD Ninho Matemática 8ºA/8ºB Ninho Matemática 8º C Ninho Matemática 8º D

27

mesmas disciplinas, porém esses momentos acabam por ser utilizados muito mais para a realização de atividades burocráticas e resolução de problemas ocasionais do que para criar um espaço para reflexão e transformação da prática educacional docente.

No ano letivo 2009/2010, no âmbito do Programa Mais Sucesso Escolar, o Ministério da

Educação, através da (extinta) Direção Regional do Alentejo, e a ESPS celebraram um contrato, onde esta escola se comprometeu a “melhorar em 1/3 o nível de sucesso escolar referenciado nos anos de escolaridade envolvidos no projeto” e “em garantir as condições organizacionais, pedagógicas e logísticas” necessárias para a implementação do Projeto Fénix. O Programa Mais Sucesso encontra-se regulamentado no Despacho n.º100/2010, de 5 de Janeiro, tendo sido lançado pelo Ministério da Educação, com o objetivo de apoiar o desenvolvimento de projetos de escola para a melhoria dos resultados escolares no ensino básico, salientando-se os princípios do trabalho colaborativo como forma de prevenir o insucesso escolar.

Assim, tendo em conta o suporte legal que incentiva o trabalho colaborativo como forma de promover novas dinâmicas de trabalho entre os professores e sabendo-se, como foi referido, que a organização do Projeto Fénix assenta, essencialmente, numa forte vertente colaborativa por parte dos docentes envolvidos, tendo inclusivamente sido criado um espaço comum nos horários dos docentes da ESPS para o efeito, pretendeu-se estudar com o presente trabalho, em que medida a implementação deste Projeto mudou dinâmicas de trabalho entre os professores da ESPS, em que sentido elas se operaram e como se refletiram no desenvolvimento profissional dos professores, traduzindo-se na seguinte pergunta de partida:

Como é que o trabalho colaborativo, desenvolvido no âmbito do Projeto Fénix, e as dinâmicas que o concretizaram contribuíram para o desenvolvimento profissional de professores, na ESPS?

Neste estudo, assumiu-se o trabalho colaborativo desenvolvido no âmbito do Projeto Fénix, entre os anos letivos de 2009/2010 e 2010/2011, como o ponto de referência de toda a investigação. Deste modo, pretendeu-se construir um conhecimento, tão aprofundado quanto possível da realidade e interpretá-la a partir das conceções dos participantes, definindo-se como objetivo geral, compreender como é que o trabalho colaborativo, dinamizado no âmbito do Projeto Fénix, e as dinâmicas que o concretizaram contribuíram para o desenvolvimento profissional de professores, na ESPS.

Partindo deste objetivo geral, formularam-se as seguintes questões de investigação:

i. Que conceções os docentes envolvidos no Projeto Fénix têm sobre trabalho colaborativo entre professores?

ii. Que vantagens e constrangimentos inerentes ao trabalho colaborativo entre professores são percecionados pelos participantes?

iii. Como os participantes explicam a resistência que existe às práticas colaborativas entre os professores?

28

iv. Quais as formas de atuação implementadas na escola, ao nível do Projeto Fénix, que permitiram que se operacionalizassem mudanças de dinâmicas de trabalho?

v. Quais as mudanças que ocorreram na prática profissional dos professores envolvidos, decorrentes da implementação do Projeto Fénix?

vi. Quais os contributos do trabalho colaborativo, desenvolvido no âmbito do Projeto Fénix, para o desenvolvimento profissional e pessoal dos professores envolvidos?

3. Opções metodológicas 3.1. Paradigma do estudo

Em termos metodológicos, o presente estudo integra-se numa abordagem qualitativa, uma vez que se centra na análise e interpretação de aspetos da prática profissional dos professores, que não são mensuráveis de forma objetiva, imediata e sumativa.

Esta abordagem permite compreender o modo como as pessoas se comportam e pensam, nos seus ambientes naturais, ou seja, os investigadores preocupam-se em compreender aquilo que as pessoas pensam da sua vida, experiências e situações em particular (Bogdan & Biklen, 1994). Assim, a abordagem qualitativa privilegia as perspetivas dos participantes sendo que, para tal, os investigadores estabelecem estratégias e procedimentos de recolha de informação que permitam ter em conta as experiências e opiniões dos sujeitos participantes no estudo, inseridos no contexto da ocorrência. Deste modo, na presente investigação, a fonte direta dos dados foi o ambiente natural constituindo-se o investigador, instrumento principal, procedendo à recolha de dados, realizando entrevistas e consultando fontes escritas, nomeadamente, atas de conselhos de turma Fénix e do Conselho Pedagógico, relatórios de coordenação do Projeto Fénix, power points de apresentação de resultados do Projeto Fénix e legislação em vigor.

Segundo os autores citados, a investigação qualitativa permite: i) a recolha de dados em contexto o que, por conseguinte, facilita a compreensão da problemática em estudo; ii) o acesso sistemático a dados descritivos, salvaguardando perdas de detalhes e garantindo os esclarecimentos necessários; iii) a compreensão de processos e dinâmicas de trabalho desenvolvidos pelos professores participantes; iv) após análises indutivas de dados, reformulações ao longo do trabalho e v) enfatizar a perspetiva dos professores participantes na interpretação que estes atribuem à problemática em estudo.

Na seleção desta abordagem, não se ignoraram, no entanto, as críticas à abordagem qualitativa como padecendo de um défice de precisão, rigor e objetividade (Yin, 2010), no argumento de que se centra em contextos singulares e na subjetividade dos atores individuais. No fundo, em tais críticas, questiona-se a validade interna do estudo, ou seja, até que ponto as conclusões do estudo representam e/ou explicam a realidade estudada e não resultam das interpretações subjetivas do investigador. O certo é que toda a investigação pressupõe elementos subjetivos, pois o conhecimento sobre a realidade social é em si mesmo um fenómeno subjetivo (Berger & Luckmann, citados por Afonso, 2005). Para além de que a objetividade, em estudos

29

qualitativos, refere-se à explicitação quanto ao modo como os dados são recolhidos, categorizados, reconstruídos e interpretados, e não às características pessoais do investigador. De facto, o investigador qualitativo preocupa-se com a objetividade, porém o que tenta “fazer é estudar objetivamente os estados subjetivos dos seus sujeitos.” Os métodos que utiliza ajudam-no a superar o possível enviesamento. Recolhe uma quantidade enorme de informação para chegar a conclusões, pretendendo construir conhecimento e não dar opiniões sobre um determinado contexto (Bogdan & Biklen,1994: 67).

Na presente investigação, a utilização da metodologia qualitativa prende-se com o facto deste tipo de abordagem permitir uma melhor compreensão do real, proporcionando um conhecimento intrínseco aos próprios factos, devendo ter sempre presente o rigor na recolha, análise e interpretação dos dados.

3.2. Estudo de caso

No âmbito dos estudos de natureza qualitativa são, muitas vezes, organizados estudos de caso quando procuramos compreender, explorar ou descrever acontecimentos e contextos específicos. Ponte (1994b:2) considera que o estudo de caso

é uma investigação que se assume como particularística, isto é, que se debruça deliberadamente sobre uma situação específica que se supõe ser única em muitos aspetos, procurando descobrir a que há nela de mais essencial e característico e, desse modo, contribuir para a compreensão global do fenómeno de interesse.

Para Yin (2010: 32), o recurso à estratégia de investigação estudo de caso, justifica-se, entre outros motivos, pelo facto de permitir investigar “um fenómeno contemporâneo dentro do seu contexto da vida real”. No entanto, o mesmo investigador sintetiza em três domínios as limitações apontadas ao estudo de caso enquanto estratégia de investigação, a saber: fornece pouquíssima base para generalizações; sendo um estudo em profundidade, o investigador poderá não ter o tempo e os recursos necessários ao seu desenvolvimento e pode ocorrer falta de rigor na recolha, estruturação e análise dos dados, decorrente de preconceitos introduzidos pela subjetividade do pesquisador e de outros elementos envolvidos no caso. O facto de os resultados não poderem ser generalizados a outras populações ou situações é considerado uma limitação do recurso ao estudo de caso. Contudo, a utilização deste método não impede que os resultados sejam interpretados, sendo aplicados alguns princípios genéricos em casos semelhantes, e que lhes seja conferido valor epistemológico. Além disso, uma das vantagens do estudo de caso é o detalhe da informação que se obtém sobre o fenómeno que se está a estudar (Fortin, 2003), podendo representar uma mais-valia para a escola e para os seus participantes, na medida que lhes permite conhecê-la melhor e, consequentemente, melhorar possíveis pontos fracos. Desta forma, considerou-se que, dada a natureza do objeto de estudo e dos objetivos definidos inicialmente, se justifica que as opções metodológicas desta investigação passem por um estudo de caso qualitativo, dado que: a) a fonte direta de informação é o ambiente natural da ocorrência

30

– ESPS; b) o “caso” em estudo é representado por um pequeno grupo, (oito professores envolvidos no Projeto Fénix), num contexto específico, (implementação do Projeto Fénix na ESPS); c) a recolha de informação pode envolver múltiplas fontes; d) as questões de investigação não se prendem no “o quê?”, mas pretende-se saber o “como” e o “porquê?” (Yin, 2010) na perspetiva dos professores envolvidos no Projeto Fénix.

Parece claro que, sendo este um estudo situado num contexto – o Projeto Fénix, na ESPS – e numa problemática específica – contributo do trabalho colaborativo, desenvolvido no âmbito do Projeto Fénix, para o desenvolvimento profissional de professores, na ESPS – todo o conhecimento que dele se possa obter é, obviamente, situado nesse caso, ou seja, advém de uma situação particular, circunscrita no tempo e no espaço e das interpretações subjetivas e idiossincráticas dos seus intervenientes, resultantes da forma como vivenciaram, percecionaram e construíram as suas representações acerca de uma experiência particular. Assim, cientes destas limitações, pretendeu-se reunir informações tão numerosas e pormenorizadas quanto possível, procurando que o produto final deste estudo corresponda a uma descrição rica e rigorosa do caso que constitui o objeto de estudo.

Documentos relacionados