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CAPÍTULO II – METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO

4. Técnica de recolha de dados

Perante as opções metodológicas do enquadramento da investigação, selecionou-se como técnica de recolha de dados, relativos às opiniões e perspetivas dos sujeitos, a entrevista semiestruturada, uma vez que, ao ser conduzida com uma estrutura flexível garantia-se, por um lado, que todos os tópicos cruciais seriam abordados e, por outro lado, através da margem de liberdade dada aos entrevistados, tinha-se a possibilidade de obter informações relevantes acerca do significado atribuído por estes à problemática em causa, eventualmente, não antecipadas ou contempladas nas questões previamente definidas. Para validar evidências das entrevistas também se recorreu à análise documental, na medida em que os dados documentais têm a vantagem de permitir a economia de tempo, facultando ao investigador a possibilidade de confirmar o essencial da sua tarefa.

4.1. Entrevista semiestruturada

A entrevista é uma das técnicas mais difundidas em investigação qualitativa, pois faculta o acesso a informações num plano individualizado, dando a cada sujeito a possibilidade de se expressar e de se pronunciar sobre determinado conteúdo, permitindo ao investigador obter uma visão aprofundada da problemática em estudo, na perspetiva dos atores envolvidos. Assim, a entrevista adquire bastante importância no estudo de caso, pois através dela percebe-se a forma como os sujeitos interpretam as suas vivências já que ela “ é utilizada para recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspectos do mundo”

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(Bogdan & Biklen, 1994:134). Segundo Quivy e Campenhoudt (2008:192), este processo de comunicação com os atores no terreno se for “corretamente valorizado, permite ao investigador retirar das entrevistas informações e elementos de reflexão muito ricos”. Ainda segundo o mesmo autor, as entrevistas são semiestruturadas/ “semidiretivas no sentido em que não é inteiramente aberta nem encaminhada por grande número de perguntas precisas”, a partir das quais é necessário receber uma informação precisa da parte do entrevistado.

Na presente investigação, privilegiou-se, como técnica de recolha de dados a entrevista semiestruturada, na medida em que este tipo de entrevista é a forma mais adequada para aprofundar um determinado domínio de estudo, visto que ao não ser inteiramente aberta, nem encaminhada por um número de perguntas precisas, dá ao entrevistador uma certa margem de orientação do discurso, que as entrevistas estruturadas e não estruturadas não proporcionam. De facto, as entrevistas constituíram um elemento fulcral de recolha de dados, pois em função dos objetivos da investigação era fundamental compreender como é que o trabalho colaborativo, dinamizado no âmbito do Projeto Fénix, e as dinâmicas que o concretizaram contribuíram para o desenvolvimento profissional de professores, na ESPS.

No entanto, é de realçar que Moreira (2007:211) identifica algumas vantagens e limitações do recurso à técnica da entrevista. Por um lado, permite obter uma grande riqueza informativa de expressões e enfoques dos entrevistados e proporciona ao investigador oportunidades de clarificação e acompanhamento das perguntas e respostas num quadro de interação mais direto, personalizado e espontâneo, tornando-se, por isso, mais eficaz no acesso a informações difíceis. Por outro lado, o fator tempo constitui uma desvantagem comummente referida na aplicação desta técnica, por exemplo, quando comparada a rapidez da sua utilização com a de um questionário. Além disso, associados à entrevista surgem problemas potenciais de reatividade, fiabilidade e validade. Ou seja, “a informação produzida na relação dual entrevistador- entrevistado depende da situação de entrevista assim como das características e actuação tanto de entrevistador como do entrevistado”. Gil (1991) refere que a falta de motivação por parte do entrevistado para responder às perguntas, a dificuldade que este tem, por vezes, em perceber o seu significado, a influência que o entrevistador, a sua maneira de ser e as suas opiniões pessoais podem exercer no entrevistado ou nas suas respostas, são alguns problemas que deverão ser superados.

De forma a contornar ou minimizar algumas destas limitações procurou-se contactar previamente os entrevistados informando-os dos objetivos da sua colaboração, averiguando o interesse e disponibilidade dos mesmos para participar no estudo, adotar uma atitude imparcial durante as entrevistas evitando induzir as respostas com formas enfáticas de perguntar e/ou com modos de excluir respostas possíveis e, antes de se aplicar o guião da entrevista, procurou-se validá-lo, efetuando-se uma entrevista piloto.

Assim, numa primeira fase, após a definição dos objetivos gerais e específicos, foram delineadas e operacionalizadas as questões centrais em função dos objetivos e das questões do

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estudo. Elaborou-se, com o apoio do orientador, um guião de entrevista (anexo 1), organizado em três blocos temáticos (Trabalho Colaborativo; Projeto Fénix; Desenvolvimento Profissional), cada um deles com objetivos específicos e um formulário orientador com questões a explorar, de modo a obter informações pertinentes, sob determinadas linhas de orientação. Seguidamente, procedeu-se à realização da entrevista piloto, tendo como objetivo testar a compreensão das questões e a coerência da sua sequência, o que contribuiu posteriormente para o aferir e validar.

Esta entrevista foi aplicada no dia 21 de dezembro 2012, pelas 16h55min, a uma colega de Português que tinha integrado a equipa do Projeto Fénix durante 3 anos, tendo sido coordenadora no ano de implementação do projeto na escola. À data da entrevista, a colega tinha 45 anos, 23 anos de serviço e pertencia ao quadro de nomeação definitiva, da ESPS. Através desta entrevista, verificou-se que a sequência das perguntas era lógica, no entanto a formulação das mesmas nem sempre era muito clara, tendo a entrevistada manifestado dúvidas em quatro questões que foram, posteriormente, reformuladas no sentido de as tornar mais concretas e precisas. Esta entrevista piloto revelou-se muito importante, não só para detetar e corrigir falhas na organização do guião e na formulação das questões, mas também para a investigadora-entrevistadora interiorizar a estrutura e a dinâmica a imprimir às entrevistas seguintes.

Antes da aplicação das entrevistas e a fim de garantir a disponibilidade dos entrevistados foi estabelecido um primeiro encontro informal onde cada um dos sujeitos foi informado dos objetivos do estudo, explicitaram-se os motivos pelos quais haviam sido selecionados, esclareceram-se aspetos sobre o tempo de duração previsto para a sua realização, solicitou-se autorização para gravar a entrevista, assegurou-se o anonimato, assim como o respeito e proteção de privacidade e calendarizaram-se as entrevistas, de acordo com a disponibilidade dos colegas. Procurou-se, deste modo, estabelecer um clima de confiança, sinceridade e abertura, fundamentais para o desenvolvimento deste trabalho. Houve uma adesão imediata e todos aceitaram participar na entrevista, não tendo apresentando qualquer entrave à realização e gravação da mesma. Acresce que o acesso ao campo de estudo implicou, ainda, a obtenção das respetivas autorizações formais, tendo sido enviada uma carta ao Diretor da ESPS (anexo 2), solicitando a autorização formal para a realização das entrevistas e possível consulta documental, garantindo o total anonimato das pessoas entrevistadas na apresentação dos resultados da investigação.

O processo de recolha de dados decorreu entre 17 de janeiro e 26 de fevereiro 2013, no contexto de trabalho dos sujeitos participantes, num gabinete adjacente à sala dos Diretores de Turma, em ambiente informal, calmo, privado, não tendo a presença do gravador interferido na colaboração dos entrevistados. No início da entrevista, foi feita uma breve síntese enquadradora sobre os objetivos do estudo lembrando as informações já partilhadas no contacto prévio e garantida a confidencialidade dos dados recolhidos. O registo dos dados foi realizado com recurso a um gravador, uma vez que as entrevistas se esperavam extensas e difíceis de captar de forma completa de outro modo. No decorrer da entrevista procurou-se sempre criar um ambiente

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agradável, baseado na confiança e na colaboração, desta forma tentou-se assumir uma postura flexível e adaptável ao entrevistado, motivando-o a colaborar e a clarificar algumas das respostas. As entrevistas tiveram uma duração média de trinta minutos. No final, agradeceu-se a disponibilidade, a confiança e colaboração demonstradas pelos entrevistados.

Posteriormente, as entrevistas foram transcritas de forma integral e fiel ao que foi dito para suporte informático e de papel. Numa primeira audição, transcreveu-se apenas o que era percetível, deixando espaços em branco nas partes em que a audição não era tão clara. De seguida, foi revista a gravação a fim de clarificar as partes da audição de difícil decifração, de modo a permitir uma redação inteligível. Acresce que foram atribuídos aos entrevistados códigos para garantir o seu anonimato.

4.2. Análise documental

A análise documental foi outra das técnicas de investigação utilizadas neste estudo, uma vez que permite aceder a um conhecimento mais profundo e detalhado de determinadas realidades. Entendemos, assim, a análise documental como sendo “uma técnica importante na investigação qualitativa, seja complementando informações obtidas por outras técnicas, seja através da descoberta de novos aspetos sobre o tema ou problema”. Acresce que, segundo os mesmos autores, muitas vezes, “os documentos são as únicas fontes que registam princípios, objetivos e metas” (Sousa & Baptista, 2011:89).

No contexto da problemática em estudo, a análise documental centrar-se-á em documentos de natureza diversa: uns produzidos pelos professores participantes (por exemplo, atas das reuniões das equipas do projeto Fénix, atas dos conselhos de turma Fénix, atas do Conselho Pedagógico; relatórios de Coordenação de Ninhos; relatórios finais do Projeto Fénix, etc.) e outros emanados pela Administração Central (legislação, relatórios de avaliação externa e outros documentos legais). No presente estudo, o recurso à análise documental justifica-se pela necessidade de pesquisar informação que respondesse também aos objetivos pretendidos com a investigação e validar evidências de outras fontes, nomeadamente, das entrevistas.

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