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CAPÍTULO 5 – APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

5.1. Envelhecimento

A condição humana da mulher idosa, oriunda da construção do seu estilo de vida ao longo dos anos, resulta das tendências construídas a partir das estruturas sociais entendidas como estruturas estruturadas/estruturas estruturantes (Bourdieu, 2007), que são incorporadas no seu mundo social, consciente e inconscientemente, como se ilustra no seguinte testemunho:

“[…] eu sempre tive uma vida de botas altas acima do joelho com saltos até o joelho, de couro, coisa que não havia cá. Por seguinte, eu sempre estudei aqui no Porto, fui sempre uma ovelha fora do local. Eu sempre coloquei aquilo que ninguém colocava o que ninguém tinha coragem de pôr [vestia ou calçava]. Depois com facto de ter trabalhado em moda ou com a moda acho que isso se arreigou em mim. Eu às vezes olho para o espelho e passo a pensar que estou diferente pois, aquela não é minha cara, porque a minha relação com a moda é assim, eu acho que a moda não tem idade, eu acho caricato dizerem que a moda é para alguém dessa ou daquela idade. Eu também não acho que ninguém tem que ser gordo ou magro, não!”

21 Denominamos os grupos de idosas entrevistadas de duas formas. O primeiro, as entrevistas foram

realizadas com mulheres idosas indicadas pela empresa de produção de eventos. O segundo, nomeamos de Concretização, com a finalidade de aferir habitus, estilos de vida, perceção e função que a moda desempenha na vida de cada entrevistada.

(Maria Helena Vieira, 72 anos)

Uma das inquiridas, Florbela Espanca, 75 anos, percebe a sua idade como uma conquista e precisa ser valorizada:

“Em relação como nós nos defendemos, nós os velhos, eu acho a melhor palavra para velho é velho, não gosto de idoso. Outro dia que fiz anos disseram a [Florbela] não é velha, ela tem 75 anos mais IVA. Eu achei muita graça! “Risos”. Então, eu não sou mais velha eu tenho 75 + IVA “risos”. Portanto, nós os velhos em podemos melhorar? Evidentemente, quando temos 18 anos, não tínhamos que nos preocupar muito com a moda ou com a roupa que usamos porque as pessoas eram bonitas, tiveram a sorte em nascerem bonitas como eu.” (Florbela Espanca, 75 anos)

A entrevistada, mesmo com a idade avançada, luta por uma boa aparência, pois ela precisa de estar, ao olhar dos que a seguem nas redes sociais e nos meios de comunicação, com a aparência e a disposição de uma mulher de 20 anos. Ao lembrar-se da época em que sua mãe colocava o espartilho, fala com uma certa dor, mas com muita alegria. Atualmente voltou a usar um espartilho para modelar a cintura:

“A minha mãe coitada, cá nas costas, a apertar, a apertar, apertar, aquilo era um terror, [semblante de dor], mas eu aguentava a noite inteira com espartilho e não comi nada. […]. Eu não podia ter um pouquinho de barriga, eu tinha a barriga metida para dentro. Agora eu tenho a barriga metida para fora. Mas me disse o Filipe Carriço, agora tem que ir a Esbelta Loja de cintas tem umas cintas que reduzem e tiram um número de 38 passas para 36, tem que ser duas meninas a vestir para ficar apertada, apertada. Portanto, voltei ao tempo em que a minha mãe punha o espartilho e que eu não respirava a noite toda para me sentir bem na minha pele. “Risos”. (Florbela Espanca, 75 anos)

No que pese a condição do corpo envelhecido, Florbela Espanca enfatiza que uma das condições da mulher no processo de envelhecimento é preservar e valorizar o seu corpo na hora de vestir-se, e complementa que em relação à vestimenta direcionada para as mulheres idosas acredita que é “fantástico”.

5.2. Moda

Nas entrevistas realizadas, observamos que as mulheres que nasceram há 65 anos atrás percebem a moda de ângulo diferente, fazem menção aos génios da moda, costureiros/estilistas do século XXI, que foram fundamentais para mudar a perceção da

moda, sobretudo, ressaltam a fluidez da moda com o passar dos anos, demonstrando através de suas narrativas que no início do século existia um padrão de moda a ser seguido e que atualmente este padrão foi fragmentado pelo espaço-tempo em que os indivíduos produzem a sua própria moda.

“De qualquer modo entendo eu que a moda, sobretudo, em Portugal, [silêncio] deixei de ir para ao Portugal Fashion, os estilistas que me desculpem, deixei de ir porque quem viu muita coisa de moda e quem viveu dentro de um ambiente [social] que na altura em Portugal era um mundo à parte e, depois, começamos a ver uma mistura de pessoas que não estão lá de todo para ver a moda, é porque vem pessoas giras, ou pessoas das novelas, quer dizer, não vão com o espírito de moda. Antes quem estava lá com diversas marcas, era um ambiente [social] à parte, cada pessoa que viam a moda como a moda deve ser vista, porque a moda também é arte. Depois vulgarizou-se demasiado, evidentemente, quem me dera a mim ver aqueles desfiles fabulosos em que muitas vezes a roupa não é vestível, mas é para fazer o próprio espetáculo e caracterizar uma época na história.” (Maria Helena Vieira, 72 anos)

Maria Helena Vieira, com 72 anos, acrescenta que a vestimenta que usava era diferente dos colegas da Universidade. Sentia-se como se não fosse daquele grupo social e ratifica que ao trabalhar com a moda e estar na moda percebeu a influência que a moda tem na sua vida. Em analogia à obra de Bourdieu (2007), estamos presente a incorporação de um pensamento classificatório da estrutura social ao problematizar que o seu estilo de moda é diferente dos outros indivíduos da sociedade. Ao mesmo tempo, a entrevistada compreende que a moda é para todas as idades, sem diferença, razão pela qual nos faz refletir sobre a linguagem do corpo e o percurso da vida, a moda tem função importante relacionada com o gosto, o habitus e as tendências ao reproduzirem determinadas estruturas e comportamentos.

Um dos aspetos importantes para compreender as funções que a moda desempenha na velhice é entender que ela é produto de grande importância no que se refere à autoestima, à forma como é vista e sentida como expressão de liberdade:

“A moda para mim é uma mais-valia nesse sentido, se eles decidirão se na época se usa o amarelo florescente ou outra cor qualquer do arco-íris, se por acaso, é do meu agrado eu fico muito feliz porque eu encontro o que eu quero à venda. Só por isso, eu não ponho nada que se use. Eu crio o meu próprio personagem, eu digo que a vida é um palco quando saímos a rua é para desempenhar um papel qualquer, como eu sou uma pessoa extremamente sensível, não sou mutável a

nível afetivo, eu sou muito organizada na minha parte afetiva. No entanto, a máscara ou personagem que eu tiver no dia, não quer dizer que no dia seguinte eu queira usá-la.” (Maria Helena Vieira,72 anos).

Para Natália Corrêa, com 76 anos, a moda é uma arte, conforme narra:

“A moda na minha idade é mais importante do que numa idade de 20 anos, de 15 ou 18 anos. [respiração profunda] Porquê? Aos 18 anos as miúdas não precisam de nada, são lindas, frescas, os olhos brilham, o sorriso, o cabelo saudável, elegantes. A partir dos 40 anos a mulher ter que cuidar de si. Tem que cuidar de si mais do que nunca, porque começa a aparecer a primeira ruga e lá entra a cosmética. Os cabelos têm que ser alimentados. Tem que ter um roupeiro básico, principalmente, básico, eu quando falo básico no roupeiro tem que ter três blazers, a calça de ganga e mais duas calças clássicas. […] Como lhe disse, não fui para a Belas Artes porque fui para um casamento, mas foi através da moda. Eu senti-me a arte que tinha dentro da minha veia. Eu senti-me realizada através da arte da moda porque a moda é uma arte, é uma cultura. É necessário para uma mulher, uma mulher que esteja doente ou que esteja hoje em dia devido há vários motivos da vida ou está no início de uma depressão não pode, um vestido bonito, um batom diferente, um corte de cabelo pode evitar uma depressão.” (Natália Corrêa,76 anos).

Twigg (2012) refere que o vestuário tem sido um tema pouco estudado e que carece de atenção, pois, representa um mediador chave entre o corpo e a expressão social. Outro aspeto apontado é o estilo da roupa para mulheres com mais idade. Dependendo da idade pode ser apropriada ou não, em que conste a observação relacionada com a sexualidade, expressão individual e questões culturais de cada sociedade em particular. Na pesquisa de campo evidenciamos na narrativa e na expressão corporal das entrevistadas, que vestimentas como mini-saias não são apropriadas para as suas idades:

“O envelhecer não tem a ver que eu não possa colocar uma mini, depende da mini, claro, não vai pôr uma mini para ir às compras. O contexto em que põe, evidente, que vai colocar um colã grosso em que possa ser um tamanho de um calção, se vai para um ambiente [social] que se justifica aquilo, vai à discoteca ou a um sítio qualquer, não é vestida como uma adolescente com uma minissaia, tem que ter um equilíbrio das peças. Agora não há nada que seja para essa idade ou para aquela.” (Maria Helena Vieira, 72 anos).

Outra entrevistada compartilha do mesmo pensamento:

“A mulher deve ser como ela própria, não deve ser exagerada. Eu nunca usei mini-saia. Há pessoas que exageram, não fica bem. Tem

que ser discreto. A moda não tem idade, mas não se pode andar de minissaias, temos que saber estar.” (Ana Castro Osório, 66 anos).

Outra entrevistada, dá dica de como a mulher mais velha pode vivenciar a moda sem ser de forma apelativa:

“Portanto, tem que haver um cuidado de a pessoa conhecer o seu corpo e de preservar. Não fazer muito decotes, eu tenho um colo bonito, eu posso fazer um batu, um decote em barco, não fazer decotes profundos, tapar os braços. As minhas pernas são bonitas. A minha pele não tem problema algum, nunca tive celulite, mas acho que acho que seria fantástico se alguém fizesse uma linha para a terceira idade.” (Florbela Espanca, 75 anos).

Segundo Natália Corrêa, de 76 anos, para ficar em evidência precisa-se ter o mínimo no guarda-roupa, de peças. Indica que:

“Primeiro formar o básico porque para vestir o que for tem o básico para acrescentar. Se uma pessoa não tiver um roupeiro com o básico, não consegue vestir-se. Depois, é o seguinte que é muito errado, muito errado, a moda de um mês atrás não é moda. É preciso muito cuidado quando a pessoa vai investir em si.” (Natália Corrêa, 76 anos)

A mesma entrevistada trouxe-nos a sua experiência na área da moda e estilo de vestimenta, acrescentando que a moda há, mais ou menos 59 anos atrás, tinha outra forma. Afirma que o agente social produz a sua própria moda ou cria o seu próprio personagem e completa que em termos de idade não existe exigência, nem por idade nem por imposição:

“Nós fazemos a nossa própria moda, misturar o que quisermos porque a moda deixou de ser radical como era nos anos 60. Nos anos 60 eu usava fato Chanel, mas eu tinha 16 anos, mas usamos salto alto, naquela época as meninas usavam salto alto e carteirinha, era tudo a condizer. Hoje não só se for numa grande gala que tem que ser tudo, há um protocolo. Não havendo protocolo a carteira pode destacar tudo, posso fazer uma mistura de quadrados, com riscos, com bolas e a pessoa está na moda porque não há uma moda fixa.” (Natália Corrêa, 76 anos)

A entrevistada, conscientemente, tem clareza da mudança ocorrida no mundo da moda ao longo dos anos. Trata-se de uma transformação na estrutura social:

“[…] na altura a sociedade quase que impunha se não andássemos de saia por ali que era moda, estávamos fora de moda. Hoje não, hoje eu visto calça justa e amanhã ando com uma larga e amanhã ando com uma saia. Hoje ninguém impõe a moda! A moda é apresentada e

podemos escolher as peças que quisermos e combinar com o que quisermos, sem ser obrigatório estarmos a vestir o fato que está ali completo. Embora, gostamos de vestir, mas não é obrigatório, nem é imposta. Repare a moda é tão diversificada, hoje no mundo inteiro umas aparecem de calções, outras de calças compridas, outro de calças largas, outros de calças curtas, outras de calças rodadas, cada um veste-se como quer. Não há imposição, a moda é nos apresentados e podemos criar o nosso próprio estilo.” (Natália Corrêa, 76 anos).

O mundo comporta-se de outra forma. Segundo as entrevistadas a moda é intemporal, o que quer dizer que ainda se vive como a moda cria, se recria e se reinventa, mas o que está em jogo na modernidade líquida é a fluidez com que estes eventos decorrem ao longo do tempo:

“A moda é um pouco isso, chamar moda nem tem muito contexto, no fundo moda são os trapos que eles desenham para aquela época. Mas, moda não devia ser, moda é um somatório disso tudo, é um somatório do que nós falamos! Não pode ser reduzida a essência dos farrapos. A moda é intemporal, eles não inventam nada se reinventa, recria-se.” (Maria Helena Vieira, 72 anos).

A entrevistada afirma, em seguida, que os desfiles de moda são eventos que caracterizam uma época. Reafirma a posição de que a moda ainda é intemporal, assumindo somente novas formas, mas que continua a ser um fenómeno social importante para a sua idade:

“Esses desfiles fantásticos de moda, esse sim vão caracterizar uma época, como lhe digo, estão a falar das emoções, da maneira de estar social naquele momento no mundo. Hoje não há, é um vestido de oncinha, é um casaquinho, “não há nada de novo aqui”, como diz a música.” (Maria Helena Vieira, 72 anos).

Por seu turno, Gabrielle Chanel, com 71 anos, acrescenta que atualmente compra todas as suas roupas nas lojas. No entanto, essa Senhora tem a prática social de reutilizar as suas roupas na lógica de estar sempre na moda, justificando que a moda volta sempre:

“Porque não mudo muito de corpo, eu tenho essa sorte. Portanto eu reciclo e utilizo muitas coisas, eu reciclo coisas! Coisas que foram de 15 a 20 anos que voltaram a moda de novo e que eu tenho e reutilizo.” (Gabrielle Chanel, 71 anos).

Consideramos, assim, que as sociedades atuais não têm uma moda fixa. Por outras palavras, a única coisa permanente, quando nos referimos à moda é realmente a

mudança, exibindo na prática, no quotidiano, o que Bauman (2001) indicou de modo, muito claro, quando nomeia a modernidade atual de modernidade líquida.

5.3. Estilo de vida

Destacamos que as mulheres entrevistadas perceberam que o facto de terem acesso a bons vestuários, nomeadamente, as mulheres idosas do Grupo Evidência, ou terem trabalhado com a moda conduziu para um estilo de vida e um ambiente de sociabilidade em que precisam ser vistas como estando lindas, belas e com a disposição de uma jovem. No Grupo Concretização, também percebemos a boa preferência e a disposição da mulher idosa por estilos de vestuário para pessoa jovem.

A mulher idosa atual resulta da construção do seu estilo de vida ao longo dos anos. Suas tendências são construídas no âmago das estruturas sociais, por meio das estruturas estruturadas/estruturas estruturantes formando certo habitus, o que permite que sejam incorporadas naturalmente no mundo social.

A entrevistada Florbela Espanca, de 75 anos, demonstra que mesmo com o passar dos anos, ela tem uma preocupação maior com o seu estilo e alguns cuidados básicos:

“[…] o que agora me preocupo mais é ficar bem penteada, ter os dentes cuidados, ter a pele bonita, esta minimamente bem vestida. A nossa defesa é tornarmos mais e mais vaidosos e mais preocupadas com a nossa aparência. Porque, evidentemente, uma pessoa velha se desleixar, ficar com aspeto muco, apelativo ou em baixa autoestima, baixa as suas defesas e começa a entrar em depressão na maioria das vezes desejar morrer e a dizer o que eu estou aqui a fazer, só estou a dar trabalho aos outros [refere-se a uma pessoa idosa], não quero dar trabalho aos outros.” (Florbela Espanca, 75 anos)

Os espaços, enquanto lugares de circulação da moda, despertam atenção na análise das entrevistas. Assim, percebemos a narrativa de apropriação do gosto por restaurantes em que se encontram pessoas de todos os países, denominado pela entrevistada com o gosto pelo cosmopolitismo e por pessoas bonitas:

“Eu gosto muito de ir aos novos restaurantes, onde estão as gentes cosmopolitas de todos os lados do mundo. E pela primeira vez e, sobretudo, tomar uma nota do Paulo Amorim, de facto uma gente

internacional, ouve-se várias línguas, uma fala com as outras de forma que em Portugal não temos o hábito [habitus] de ver. Eu acho que esse cosmopolitismo que Portugal está a adquirir serve muito para mostrar aos portugueses que que podemos falar todos um com outros de que somos um povo pacífico, há tranquilidade, se eu sou uma pessoa conhecida posso andar na rua as 3h da manhã que ninguém me faz mau algum.” (Florbela Espanca, 75 anos).

Os ambientes de sociabilidade frequentados por Florbela Espanca, com 75 anos, parte de um gosto de luxo por restaurantes visitados por povos de diversos países o que, na sua ótica, representa uma grande importância para o povo português. Na narrativa seguinte, contudo, faz-se uma estratificação social dos locais ao afirmar que a estes locais transmitem-lhe algo familiar, o gosto pela moda, pelo belo, por pessoas bonitas e o ambiente social de pessoas conhecidas:

“Eu gosto de ir a estes locais de moda. Porque estes locais de moda têm pessoas bonitas, está cheio, não vamos a lugar que não tem ninguém porque e muito desagradável sair de casa. Eu vivo num sítio mais bonito de Portugal na baía de Cascais. Imagine se eu vou deixar a minha casa fantástica num sítio lindo para ir a um lugar que não tenha ninguém, ou que seja feio, basta a minha comida que eu não sei cozinhar “risos”, é tudo comprado em catering bons, é só meter no micro-ondas e não tem como se enganar “risos.” (Florbela Espanca, 75 anos)

Na perspetiva de Beck (2008), o cosmopolitismo da modernidade ultrapassa fronteiras culturais aproximando nativos e estrangeiros, ou seja, o indivíduo não aceita somente a sua cultura, mas as dos outros, na busca incessante de resposta que não encontra em seu país. O indivíduo passa a ser cidadão do mundo da humanidade, no mundo informacional, a exemplo do facebook as pessoas interagem com outras nações sem sair da morada, interligados por uma rede mundial de computadores.

Notamos na narrativa da próxima entrevistada a indicação de que nas relações entre habitus e estilos de vida percebe-se a influência de outras amigas através do modo de vestir, embora ratifique que adota o seu estilo de vida para agradar a si própria:

“Eu tenho amigos que dizem: “[Matilde], tu tens a tua maneira de ser”. Há muita gente que se identifica com as roupas que uso. Eu nunca percebi isso, é certo que percebo e nem me percebo! Sempre que há coisas [refere-se a roupa]. Dizem: “[Matilde] o vestido que eu tenho para si é mesmo o seu estilo!”. Eu acho graça, nem sabia que tinha estilo. Sem querer elas sabem que eu tenho o meu estilo próprio, dizem “[Matilde], veste-se muito bem”, eu fico admirada que não faço nada

disso. Eu faço tudo dentro da minha possibilidade. Eu não faço nada para agradar a ninguém a não ser a mim mesma. Quando estou a vestir- me … eu sou assim!” (Matilde Rosa Araújo, 73 anos).

No Grupo Concretização, as entrevistadas têm formas de gostos adquiridos, umas mais do que outras. A entrevistada Ana Castro Osório, 66 anos, por exemplo, sempre foi uma mulher de gosto próprio e que adquiriu o gosto pela moda para si própria, afirmando que sempre teve o hábito [habitus] de ir ao cabeleireiro e estar sempre bem arrumada.

“Foi um gosto próprio. Eu sempre fui a cabeleireira para estar bem penteada. Eu acho que tem mulher que se desvaloriza um bocado. Quando eu estou ao café e alguém entra já me percebe.” (Ana Castro Osório, 66 anos).

As narrativas das entrevistadas são comuns em que se preze o gosto próprio, o sentir-se bem com as vestimentas que escolhem para o seu quotidiano ou para irem a alguma festa ou aos locais que costumam frequentar:

“[…] Eu tenho que me sentir comigo bem própria, não com os outros. Para mim não interessa o que os outros veem, interessa-me sentir viva. Aliás nós mulheres temos que gostar de nós própria.” (Ana Castro Osório, 66 anos)

Nota-se que a mulher idosa tem o seu próprio estilo, demonstrada nos testemunhos das entrevistadas, evidenciando que são as protagonistas de um gosto próprio pela moda indicando, entretanto que, o mundo atual passa por uma