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3.1. Teor ias sobr e o tema 

Atualmente,  os  termos  qualidade  de  vida  (Q.  V)  na  velhice,  envelhecimento  satisfatório, envelhecimento bem­sucedido (successful aging) e envelhecimento saudável são  expressões equivalentes e que formam um construto global referenciado a diversos pontos de  vista sobre o envelhecimento (NERI, 1993).  As pesquisas apontam, segundo Neri, (2000), que a qualidade de vida na velhice não é  um atributo pessoal, mas o resultado de um processo contínuo de mudanças no indivíduo e na  unidade em que se desenvolve a sua história pessoal. 

Este  processo  continua  a  autora,  reflete  formas  socialmente  valorizadas  e  continuamente emergentes de adaptação a condições de vida culturalmente reconhecidas que  a sociedade oferece. 

Estes  dados demonstram,  desta  forma,  que  o  constructo  qualidade  de  vida  apresenta  um  caráter  multidimensional  envolvendo:  1  –  o  aspecto  emocional  –  no  sentido  de  desenvolver  habilidades de  auto­regulação para  lidar com agentes estressores; 2 – o aspecto  cognitivo – no sentido de permitir a resolução de problemas e 3 – o aspecto comportamental –  no sentido de implicar em desempenhos efetivos e competência social. 

A  mais  recente  e  bem  aceita  das  perspectivas  para  as  pesquisas  sobre  o  envelhecimento  saudável  e  com  boa  qualidade  de  vida  consiste  em  investigar  as  reservas  inexploradas  e  o potencial  de  mudanças  do  adulto  maduro  e  do  idoso.Assim,  a  plasticidade  comportamental ou adaptativa é o critério para se avaliar o potencial e o grau de preparação  do indivíduo para lidar com as diferentes demandas (NERI, 2000).

Essas perspectivas se apóiam na teoria do curso  de  vida  que afirma  que o indivíduo,  desde que  nasce, precisa exercer  controle  ou domínio sobre  seu mundo,  sobre seu ambiente  físico  e  social,  no  sentido  de  submetê­lo  a  fim  de  satisfazer  suas  necessidades  (BALTES,  1995 apud. NERI, 1999). 

Visto desta forma, o envelhecimento bem­sucedido ou com qualidade de vida depende  então, da  capacidade  do  indivíduo para  gerenciar  o  uso de  estratégias de  controle  de  forma  otimizada  ou  funcional,  diminuindo  custos  e  aumentando  ou  preservando  benefícios  –  conforme  as  oportunidades  e  restrições  do  seu  desenvolvimento,  de  tal  forma  que  ele  mantenha seu potencial a longo prazo, garantindo a sobrevivência física e psíquica.Os sujeitos  são vistos como pró­ativos, regulando sua qualidade de vida através da definição de objetivos  e lutando para alcançá­los.(SEIDL, E.et. al., 2004). 

Mas, Néri (1999) afirma que: 

Estas  questões  não  podem  ser  vistas  como  de  responsabilidade  individual.  Antes,  demandam políticas sociais que devem impactar os sistemas de saúde e educação, o  planejamento  dos  ambientes  de  trabalho  e  dos  espaços  urbanos,  o  sistema  de  seguridade  social  e  também  o  próprio  modelo  de  formação  e  atuação  dos  profissionais que cuidam dos assuntos pertinentes ao envelhecimento com qualidade  de vida (p.56). 

De  acordo  com  Seidl  et.al.  (2004),  revisões  na  literatura  demonstram  que  até  1995  havia  falta  de  clareza  e  de  consistência  quanto  ao  uso  do  termo  e  à  mensuração  da  Q.V.  existindo  prevalência  ora  de  aspectos  objetivos  ora  de  aspectos  subjetivos  em  diferentes  momentos  históricos,  sem  a  preocupação  sistemática  do  envolvimento  de  diferentes  dimensões. 

Uma definição clássica de Q.V nos anos 70 era que “Qualidade de Vida é a extensão  em que prazer e satisfação têm sido alcançados”.

Após  a  Segunda  Guerra,  por  exemplo,  a  “boa  vida”  era  aferida  apenas  através  da  conquista  de  bens  materiais;  em  seguida,  o  desenvolvimento  econômico  da  sociedade  (sem  haver a preocupação com a distribuição dos recursos), foi usado com parâmetro da qualidade  de vida de uma nação, surgindo indicadores econômicos para se medir e comparar a Q.V.entre  regiões; aos poucos, o desenvolvimento social foi sendo adicionado aos aspectos econômicos  e só ai incluiu­se a preocupação com a saúde, educação e moradia e os indicadores passaram a  contemplar parâmetros de mortalidade infantil e expectativa de vida, entre outros.  No que diz respeito ao aspecto da subjetividade, só a partir dos anos 60 a questão foi  incluída  na avaliação da  Q.V., na  qual a qualidade  de vida  percebida  contemplava  a opinião  do indivíduo. 

Mas,  da  mesma  forma  que  os  aspectos  objetivos,  também  os  subjetivos  encontram  diferentes  formas de  compreensão.  Seidl (2004) afirma que  enquanto em algumas pesquisas  os  termos:  estado  de  espírito,  felicidade,  contentamento,  satisfação  de  vida,  são  largamente  utilizados para significar bem­estar, outros autores  referem que os fatores associados ao bem  – estar são a percepção do sujeito acerca do estado de saúde, do nível sócio – econômico, do  fato de ser solteiro/casado, da atividade social. 

Em  1961,  as  dimensões:  envolvimento  e  apatia,  resolução  e  fortaleza,  senso  de  equilíbrio entre metas desejadas e alcançadas, humor e autoconceito positivo fizeram parte da  escala  de  avaliação  da  satisfação  com  a  vida  (Life  Satisfaction  Scale),  elaborada  por  Neugarten et.al. 

Sobre a questão da influência do aspecto material sobre a qualidade de vida, Duchiade  (1995) afirma que muito embora a noção de bem – estar não possa se restringir ao fator renda,  na medida que envolve diversas dimensões da vida humana, é inegável sua importância numa  sociedade  como  a  nossa,  em  que  o  acesso  a  bens  essenciais  à  sobrevivência  depende  da  possibilidade de pagar por eles.

Paschoal  (2000),  afirma  que  a  percepção  de  que  o  desenvolvimento  não  ocorre  sem  prosperidade  material  (aspecto  objetivo)  é  correta  posto  que  “as  pessoas  sequer  podem  ser,  para não falar em ter bem­estar ou uma boa vida, se não dispõem de certos bens” (p.36). Mas  afirma também: “[...] há um fetichismo das mercadorias, onde os meros meios são convertidos  em fins últimos; o objetivo passa a ser não o bem – estar, não um bom padrão de vida, mas o  bem material em si” (IDEM). 

O  enfoque  nos  bens  ­  continua,  freqüentemente  leva  à  sua  valorização  como  intrinsecamente bons em si mesmos. 

Por outro lado,  afirma  o autor,  as pessoas podem sofrer grandes privações e, mesmo  assim,  serem  cheias  de  alegria.  Se  não  esperam  muito  da  vida,  podem  ter  grande  contentamento  com  quaisquer  pequenos  favores  que  surjam  para  elas. O  autor  demonstra  assim  sua  preocupação  com  o  condicionamento  mental  dado  por  políticas  e  religiões,  que  levam  as  pessoas  a  aceitarem  e  a  encontrarem  justificativas  para  as  privações  que  estão  passando. Ele arremata: “[...] aquele que só deseja pouco, não tem necessidade de muito; isso  pode ser um bom conselho para se contentar e se resignar com uma realidade dura, mas não é  uma  fórmula  para  se  julgar  o  bem­estar,  a  qualidade  de  vida,  nem  uma  receita  de  justiça  social” (p.37). 

Minayo et. al. (2000), defendem a idéia de que Q.V. é um termo que abrange muitos  significados,  que  refletem  conhecimentos,  experiências  e  valores  de  indivíduos  e  coletividades que a eles se reportam em variadas épocas, espaços e histórias diferentes, sendo,  portanto,  uma  construção  social  com  a  marca  da  relatividade  histórica,  cultural  e  da  estratificação social. 

Pode­se  concluir  assim,  a  partir  das  diversas  concepções,  que  o  construto  Q.V.  está  submetido a diferentes pontos de vista e varia de época para época, de cultura para cultura, de

classe  social para  classe  social,  de  indivíduo  para  indivíduo  e  até  de  um  indivíduo para  ele  mesmo em decorrer do tempo. 

3.2. Qualidade de Vida e Saúde na Velhice 

O  construto  qualidade  de  vida  (Q.V.)  segundo  Seidl  (2004),  é  usado  na  pesquisa  científica em áreas como economia, sociologia e educação e seu interesse na área da saúde é  relativamente  recente  tendo  sido  citado  na  literatura  médica  inicialmente  na  década  de  30,  mas só a partir da década de 80 aparecendo de forma sistematizada. 

O interesse pelo construto na área de saúde decorre, em parte, dos novos paradigmas  que têm influenciado as políticas e práticas do setor que indicam que os fatores determinantes  e condicionantes do processo saúde­doença são multifatoriais e complexos. 

Nesta mudança de paradigmas, o processo saúde – doença é  compreendido como um  continuum,  relacionado  aos  aspectos  econômico,  sócio­cultural  à  experiência  pessoal  e  ao  estilo  de  vida  do  indivíduo  ­ a  prática  na  saúde  deixa  de  focalizar  apenas  o diagnóstico  e  o  tratamento tendo como indicadores objetivos a morbidade e mortalidade e passa a considerar  a subjetividade ­ onde  a percepção do paciente  acerca do seu bem estar e qualidade de vida  são considerados (PASCHOAL, 1996 ). 

A  partir  deste  fato,  a  melhoria  da  qualidade  de  vida  passou  a  ser  um  dos  resultados  esperados nas práticas assistenciais e das políticas públicas nos campos da promoção de saúde  e  prevenção  de  doenças.Informações  sobre  Q.V.  têm  sido  incluídas  tanto  como  indicadores  para  avaliação  da  eficácia  e  impacto  de  determinadas  intervenções,  quanto  na  comparação  entre procedimentos para o controle de problemas de saúde (SEIDL et. al. 2004).

Em  1961,  as  dimensões:  envolvimento  e  apatia,  resolução  e  fortaleza,  senso  de  equilíbrio entre metas desejadas e alcançadas, humor e autoconceito positivo fizeram parte da  escala  de  avaliação  da  satisfação  com  a  vida  (Life  Satisfaction  Scale),  elaborada  por  Neugarten et. al. 

Segundo Neri (1993), a Life Satisfaction Scale foi sendo modificada havendo inclusão  de outras dimensões a partir de diversas aplicações deste instrumento que, segundo a autora,  permitiram  encontrar  fatores preditivos  de  satisfação de  vida;  sendo  a  saúde percebida  mais  importante  que  o  estado  de  saúde  objetivo,  havendo  também  fatores  importantes  como  a  satisfação  com  a  família,  o  status  social,  a  capacidade  de  iniciar  e  manter  contatos  sociais,  entre outros.  Diante da necessidade emergente de uniformizar a concepção do construto na saúde, a  OMS em 1995, definiu a Q.V.como “a percepção do indivíduo sobre sua posição na vida, no  contexto da cultura e dos sistemas de valores nos quais ele vive, e em relação a seus objetivos,  expectativas, padrões e preocupações”.  Desta forma, só a partir de meados da década de 90, consolida­se um consenso quanto  a  dois  aspectos  relevantes  do  conceito  de  qualidade  de  vida:  a  multidimensionalidade  e  a  subjetividade (SEIDL .et.al., 2004). 

A  natureza  multidimensional  da  Q.V.  configurou­se inicialmente na  emergência  de 4  (quatro) grandes dimensões (física, psicológica, relacionamento social, e ambiente), sendo em  seguida,  redimensionado  para  06  dimensões  (psicológica,  física,  nível  de  independência,  relações sociais, ambiente e espiritualidade) considerando a percepção do indivíduo em cada  uma delas. 

No que se refere à subjetividade, a OMS preconiza que pesquisas voltadas ao tema se  preocupem com as percepções dos indivíduos acerca das questões objetivas (p.ex: condições

materiais)  e subjetivas (p.ex: satisfação com sua condição material),  englobando a  avaliação  dos componentes, estados e capacidades e de sua satisfação/insatisfação com esses aspectos.  Assim, vários instrumentos de avaliação da Q.V. foram elaborados, a exemplo:  Nottingham Health Profile – NHP (HUNT et. al. 1980) – afere problemas percebidos de saúde  física, social e emocional;  EASY care (Elderly Assessment System/ Sistema de Avaliação de Idosos) – tem o intuito de  caracterizar  a  qualidade  de  vida  e  bem  –estar  da  população  acima  de  75  anos,  avaliando  a  percepção dos idosos em relação às suas capacidades. 

WHOQOL  –  100  –  instrumento  idealizado  pela  OMS  em  busca  de  contemplar  uma  perspectiva  transcultural  para  avaliar  a  Q.V.  Foi  desenvolvido  para  uso  internacional,  envolvendo  a  participação  de  14  países,  representando  diversas  culturas,  tendo  sido  desenvolvido uma versão brasileira.Apresenta 6 (seis) domínios: psicológico, físico, nível de  independência,  relações  sociais,  ambiente  e  espiritualidade  e  cada  domínio  apresenta  ainda  facetas que são avaliadas por 4 questões. 

PDQ  ­39  –  instrumento  idealizado  pela  Universidade  de  Oxford  (1995),  cuja  intenção  é  avaliar o  nível  de qualidade de  vida de  indivíduos com a doença  de  Parkinson.Contempla  8  domínios (mobilidade, atividades de vida diária, bem­estar emocional, estigma, suporte social,  cognição, comunicação e desconforto corporal), apresentando aspectos objetivos e subjetivos  em cada domínio. 

Estes  instrumentos  buscam  contemplar  a  subjetividade,  não  só  no  aspecto  da  percepção por parte do sujeito, de  cada domínio da Q.V.,  mas também da compreensão das  inter­relações existentes. 

Mas, Wililiams (1996 apud Paschoal, 2000), diz que estereótipos da velhice em nosso  meio  como:  decreptude,  dependência,  impotência,  doença,  desajuste  social,  baixos

rendimentos, solidão e visões de que o idoso é chato, triste, demente e oneroso (apenas para  citar alguns aspectos), associados à dificuldade de distinguir senescência de senectude, levam  à negação da velhice, ou à negligência de suas necessidades, vontades e desejos. 

Diante  desta  realidade,  os  idosos  tendem  a  inventar  respostas  em  questionários  em  proporção muito maior que os indivíduos jovens, conforme o resultado da pesquisa realizada  por O’ Connor (1989, apud Paschoal, 2000). 

Para  compreender  a  realidade  e  o  significado  da  velhice  é,  portanto  indispensável  examinar o lugar que é destinado aos velhos e  que  representações se  faz deles  na sociedade  em que vivem. 

Segundo  Mercadante  (2003),  no  Brasil  existe  um  modelo  social  de  velho  onde  as  qualidades  atribuídas  a  ele  são  estigmatizadoras  e  contrapostas  às  qualidades  atribuídas  ao  jovem. 

A  autora  afirma  ainda  que  ao  atribuir  qualidades  negativas  aos  velhos,  a  sociedade  nega­lhes um futuro, dificultando a visão de formas alternativas para a velhice. 

Esta  afirmação  reitera  as  reflexões  de  Simone  de  Beauvoir  (1990)  que  afirma  que  a  velhice  é  um  fenômeno  biossociocultural  onde  cada  aspecto  reage  sobre  todos  os  outros  provocando um movimento de circularidade relacional. 

Neste  modelo  social  de  desvalorização  dos  idosos,  os  programas  a  eles  destinados  contribuem  para  agravar  as  desigualdades,  a  exemplo  da  falta  de  redes  de  apoio  às  necessidades  de  assistências  aos  idosos  funcionalmente  dependentes  e  da  ausência  de  programas  de  promoção  de  saúde  que  atendam  os  idosos  independentes  a  fim  de  prevenir  dependências (COSTA, 2001).

3.3. Qualidade de Vida e Incapacidade Funcional 

Segundo Resende (2001),  as questões da capacidade funcional e autonomia do idoso  podem  ser  mais  importantes  que  a  própria  questão  da  morbidade,  pois  se  relacionam  diretamente  à  qualidade de  vida.  Cerca  de  30 a  50% dos  indivíduos  muito idosos  (85  anos  acima),  segundo o autor, são incapazes para pelo menos cinco das atividades da vida diária  (banhar­se,  vestir­se,  alimentar­se,  transferir­se  da  cama  para  a  cadeira,  usar  o  sanitário  e  manter a  continência  urinária  e/ou  fecal)  e  requerem cuidados  pessoais  em  tempo  integral.  Segundo  Duchiade  (1995),  diante  do  envelhecimento  populacional,  o  objetivo  das  intervenções  na  área  de  saúde  e  social,  devem deixar  de  ser  apenas  prolongar  a  vida,  mas,  principalmente, a  manutenção da capacidade  funcional de  cada indivíduo, de forma que  ele  permaneça  autônomo  e  independente  pelo  maior  tempo  possível.    Para  que  isso  ocorra,  segundo o autor, o sistema de  saúde  das nações  em rápido envelhecimento, como o Brasil,  precisa  garantir: acesso universal aos cuidados primários, políticas públicas para  o controle  de  fatores  de  risco  e  estímulo  a  estilos  de  vida  saudáveis,  condições  para  estabelecer  indicadores capazes de  identificar indivíduos de  alto risco,  ênfase  em promoção da saúde  e  prevenção  de  doenças  e  que  o  idoso  seja  avaliado  de  forma  holística,  com  o  objetivo  principal de manutenção da capacidade funcional. 

De  modo  geral,  segundo  Pedretti  (2004),  a  capacidade  funcional  é  tida  como  a  habilidade para realizar as tarefas do cotidiano de forma independente.De acordo com Caldas  (2003), a funcionalidade é definida: 

[...]  pela  capacidade  do  indivíduo  se  adaptar  aos  problemas  cotidianos  que  lhe  são  apresentados  e  requeridos  pelo  seu  entorno  imediato,  incluindo  sua  participação  como  indivíduo  na  sociedade,  ainda  que  apresente  alguma  limitação  física,  mental  ou  social,  sendo  portanto,  um  fenômeno  complexo,  influenciado  por  múltiplos  fatores (p.775).

Nesta ótica, o indivíduo é considerado independente se é capaz de realizar: 

1.  As  atividades  de  vida  diária  (AVD)  –  alimentar­se,  banhar­se,  vestir­se,  controlar  esfíncteres e locomover­se. 

2.  As atividades instrumentais de vida diária (AIVD) – indicativos da capacidade para levar  uma  vida  independente  na  comunidade  (tarefas  domésticas,  realizar  compras,  administrar  medicação e administrar finanças). 

3.  As atividades avançadas de vida  diária (AVDA) – ligadas às atividades mais  complexas  voltadas à socialização, trabalho e lazer. 

A dependência funcional por outro lado,  traduz­se pela necessidade indispensável de  ajuda  para  a  realização  das  atividades  acima  relacionadas,  não  sendo  necessariamente  um  estado  permanente,  podendo  ser  modificado  e  até  prevenido  ou  reduzido  se  houver  um  ambiente e assistência adequados (CALDAS, 2003). 

Diante  da  gravidade  e  complexidade  do  estado  de  dependência,  Caldas  (op.cit.),  afirma que há a necessidade de reconhecer que a questão da dependência funcional no idoso  tende  a  se  tornar  um  problema  de  saúde  pública,  visto  que  é  crescente  o  contingente  de  idosos dependentes ­ uma vez que a expectativa de vida vem aumentando. 

Ainda  segundo  a  autora,  o  fenômeno  “envelhecimento  com  dependência”  deve  ser  encarado  como  um  desafio  e  contrapor  duas  situações:  (a)  as  condições  necessárias  à  manutenção  dos  cuidados  com  as  pessoas  idosas  e  dependentes  na  comunidade;  e  (b)  as  condições que a família realmente dispõe no meio urbano brasileiro para ser responsabilizada  pela assistência a esse contingente populacional.

A autora aponta também para o fato de que o que se observa é que a relação entre a  presença  de  doenças  crônicas  associadas  á  incapacidade  funcional  vem  demonstrando  interferência de maior relevância na qualidade de vida percebida dos idosos brasileiros. 

Segundo  Rocha  (2002),  o  que  está  em  jogo  na  velhice  portanto,  é  a  capacidade  do  idoso  determinar  e  executar  seus  próprios  desígnios,  independentemente  da  presença  de  hipertensão, diabetes ou qualquer outra doença crônica.O que importa, segundo o autor, é que  como resultado de tratamentos bem­sucedidos, o idoso se mantenha independente, autônomo,  feliz e integrado socialmente. 

O autor concorda assim, com Herzlich (1996 apud Alves et. al, 2004), que afirma que  o  binômio  saúde­doença  deve  ser  compreendido  como  um  fenômeno  psicossocial,  como  modo  de  equilíbrio  e  desequilíbrio  do  homem  com  seu  meio,  no  qual  intervém  fatores  humanos, condições ecológicas e estruturas sociais. 

O  que  se  observa  então,  como  já  apontado  anteriormente,  é  uma  mudança  de  paradigmas onde a doença e por sua vez as seqüelas por ela deixadas, deixa de ser vista como  oposição  à  saúde,  perdendo  seu  caráter  puramente  biológico  e  passa  a  ser  compreendida  também como produto social. 

Sobre  o  aspecto  social  da  doença  e  do  adoecer,  Morin  (2001apud  Medeiros Junior  e  Costa  e  Silva,  2004)  afirma  que  apesar  da  tentativa  do  homem  moderno  de  explicar  e  fundamentar a causalidade das doenças a partir da ciência, ela  não conseguiu explicar tudo e  alcançar todos e assim, crenças e simbolismos permanecem vivos e circulando como verdade  no interior das sociedades. 

Nesta  nova ótica, para compreender como se processam as construções a  respeito da  experiência  da  doença  e  da  dependência  funcional,  é  necessário  buscar  a  proximidade,  a  comunicação  situacional  e  contextual,  buscar  um  conhecimento,  segundo  Santos  (1989)  de

um  localismo  relativamente  desterritorializado  que  busca  uma  racionalidade  local  (mini­  racionalidade). 

Assim, Moscovici (1961 apud Jovchelovitch,  2003), com a  teoria  das representações  sociais  chama  a  atenção  para  que  a  relação  indivíduo  –  sociedade  seja  encarada  de  forma  dinâmica e que o indivíduo seja visto como atuante na sua relação com o objeto­mundo. 

O  autor  aponta  para  o  fato  que  as  representações  sociais  de  um  dado  objeto  (aqui  a  doença  e  a  dependência  funcional),  envolvem  as  dimensões  cognitiva,  afetiva  e  social  com  base na realidade local. Desta forma, essas representações são elaboradas no dia a dia, quando  as pessoas se encontram para falar, e discutir o cotidiano ou quando são expostas aos meios de  comunicação,  aos  mitos  e  à  herança  histórico­cultural  de  suas  localidades.  Portanto,  são  claramente  vinculadas  à  linguagem;  “o  uso  da  linguagem,  de  imagens  e de  palavras que  se  tornaram propriedade comum através da difusão de idéias existentes, dá vida aos aspectos da  sociedade e da natureza do universo consensual” (p.22). 

Herzlich (1996 apud Alves, 2004) afirma: 

Estudar as representações sociais da saúde e doença é observar como as mudanças  de  valores,  de  norma  sociais  e  modelos  culturais  é  pensada  e  vivenciada  pelos  indivíduos de nossa  sociedade, estudar como se elabora, se  estrutura  logicamente  e  psicologicamente, a imagem desses objetos que são a saúde e a doença (p. 137). 

Assim,  envelhecimento  saudável  e  com  qualidade  de  vida  passa  a  ser  resultante  da  interação entre saúde física, mental, independência na execução das atividades de vida diária,  integração  social,  suporte  familiar  e  independência  econômica;  sem  necessariamente  significar ausência de problemas em todas essas dimensões. 

A partir desta visão ampliada do constructo saúde, percebe­se que a atenção ao idoso  funcionalmente  dependente  deve  recair  também  sobre  seu  entorno  imediato,  pois  além  do

custo financeiro, ter um idoso funcionalmente dependente na família implica em alterações na  dinâmica familiar, havendo muitas vezes, trocas de papéis entre os membros da família. 

Karsh  (1998 apud Caldas,  2003),  revela que estudos realizados no município de  São  Paulo no período de 1991 a 1995 apontam que mais de 90% das famílias não receberam ajuda  de serviços, organizações ou grupos voluntários e/ou agências particulares, mas cerca de 30%  delas confirmaram que se pudessem receber esse tipo de auxílio ficariam satisfeitas. 

Assim,  o  que  se  percebe  na  realidade,  é  que  a  família,  apesar  da  falta  de  apoio  e  assistência,  predomina  como  alternativa  no  sistema  de  suporte  informal  aos  idosos  funcionalmente dependentes. 

Essa  família  apresenta,  segundo  estudos  realizados  por  Caldas  (op.cit.)  necessidades  que  vão  desde  os  aspectos  materiais  até  os  emocionais,  passando  pela  necessidade  de  informações  e  orientações.Além  disso,  o  estudo  aponta  também  para  a  importância  de  uma 

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