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A representação social da doença de Parkinson e sua relação com a qualidade de vida dos associados da ASPPE

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO  CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS  PROGRAMA DE  PÓS – GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL  MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL . A  REP RESEN TA ÇÃ O SOCI A L DA  DOEN ÇA  DE  P A RK I N SON E SUA  RELA ÇÃO COM  A  QUALI DA DE DE VI DA  DOS A SSOCI A DOS  DA A SP ­P E . Ana Luiza Rodrigues da Costa  Orientadora: Maria de Fátima de Souza Santos . Recife  2006.

(2) Ana Luiza Rodrigues da Costa . A  REP RESEN TA ÇÃ O SOCI A L DA  DOEN ÇA  DE  P A RK I N SON E SUA  RELA ÇÃO COM  A  QUALI DA DE DE VI DA  DOS A SSOCI A DOS  DA  A SP ­P E . Dissertação apresentada ao  Programa  de  Mestrado  em  Serviço Social  pela UFPE  como requisito para obtenção do  título de  Mestre  sob     orientação   da   Professora  Maria   de   Fátima    de   Souza    Santos. . Recife.

(3) 2006 . Costa, Ana Luiza Rodrigues da  A representação social da doença de Parkinson e  sua relação com a qualidade de vida dos associados  da ASP­PE / Ana Luiza Rodrigues da Costa.  –  Recife  : O Autor, 2006.  107 folhas : il., fig., tab., gráf.  Dissertação  (mestrado)  –  Universidade  Federal  de Pernambuco. CCSA. Serviço Social, 2006.  Inclui bibliografia e anexos.  1.  Serviço  social  –  Psicologia  social.  2.  Doença  de  Parkinson  –  Representação  social  –  Associação  de Parkinson de Pernambuco – Qualidade de vida. 3.  Capacidade  funcional  –  Identidade  e  papel  social  –  Técnica  de  associação  de  idéias  –  Perspectivas  de  grupo. I. Título.  361.4  362.4 . CDU (2.ed.)  CDD (22.ed.) . UFPE  BC2006­278.

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(5) AGRADECIMENTOS . Aos  meus  filhos,  Pedro  e  Lucas, pela  compreensão da  importância  deste  trabalho  na  minha vida profissional e pelo companheirismo nas horas difíceis;  Ao meu marido, Cezar, por ter estado sempre tão disponível em manter a “retaguarda  salva” para que eu pudesse me dedicar aos estudos;  À minha orientadora Fátima Santos, pelas orientações tão importantes principalmente  nos momentos de “encruzilhada”;  À  Antonio  Lucena  Junior,  colega  de  profissão  e  grande  amigo,  pela  eterna  disponibilidade em ajudar;  À Direção da ASP­PE, pelo apoio durante a pesquisa;  Por  fim,  aos  sujeitos  participantes  da  pesquisa,  pela  confiança  e  atenção  dispensadas  durante a coleta de dados..

(6) “  É  uma  coisa  impressionante  a  idade  de  um  homem  !  Resume  toda  a  sua  vida.  A  maturidade  que    ele    adquire  se      faz  lentamente.  Ela    se    faz  a  despeito    de  obstáculos  vencidos,    de  tantas doenças  graves enfrentadas,  de  tantas  penas  acalmadas,  tantos  desesperos  suplantados,    tantos  riscos  cuja  maior    parte  escapou à consciência. Ela se faz através  de desejos, esperanças,  lamentos, esquecimento, amor. A idade de um  homem representa  uma bela carga de experiências e lembranças! ” . Escritos de Guerra.

(7) RESUMO . Com  o  rápido  crescimento  da  população  idosa  a  nível  mundial,  o  olhar  da  Organização  Mundial  de  Saúde  (OMS)  recai  sobre  a  qualidade  de  vida  desses  idosos.  A  própria  OMS  recomenda que tanto a avaliação das condições de saúde quanto de qualidade de vida de uma  população devem levar em consideração não só aspectos objetivos, mas também subjetivos  contemplando  a  opinião  dos  indivíduos  acerca  do  estado  de  saúde  e  da  satisfação  com  a  qualidade de suas vidas. O objetivo deste trabalho é identificar as representações sociais que  os  idosos  que  freqüentam  a  Associação  de  Parkinson  de  Pernambuco  (ASP­PE)  têm  da  doença  de  Parkinson  e  a  relação  desta  representação  com  a  qualidade  de  suas  vidas.  Para  tanto,  recorreu­se  à  teoria  das  representações  sociais  como  arcabouço  teórico para pautar  a  pesquisa, utilizando a análise temática de conteúdo com a técnica de associação de idéias na  perspectiva  de  grupo  (Spink,  1995)  e  a  aplicação  do  Parkinson’s  Disease  Quality  of  Life  Questionnaire”  ­  PDQ­39  (versão  em  português).  Participaram  deste  estudo  08  (oito)  sujeitos que se encontram no mesmo estágio da doença, com idade média de 60,4 anos (55 ­  69), renda acima de 05 (cinco) salários mínimos e morando em casa própria. Como resultado,  observou­se  uma  estreita  ligação  entre  a  representação  social  da  doença  de  Parkinson  e  a  perda da identidade ­ configurada aqui, pela perda progressiva da independência funcional. A  manutenção  da  identidade/independência  apresenta­se,  neste  estudo,    como  um  importante  preditor de qualidade de vida sendo tão mais importante  quanto maior a independência nas  atividades significativas. . PALAVRAS­CHAVE:  representações  sociais,  doença  de  Parkinson,  independência  funcional, qualidade de vida..

(8) ABSTRACT . The WHO has focused on the quality of life of the  world elderly population given their fast  growth . The WHO  itself recommends that the  assessment of both  health condition and life  quality  of  a  population  must  regard  not  only  the  objective  features,  but  also  the  subjective  ones  observing  the  opinion  of  individuals  about  their  health condition  and  satisfaction  with  their life’s quality. The objective of this work is to identify the social representations that the  elders, who attend the Pernambuco’s Parkinson Association (ASP­PE), have from Parkinson’s  disease, and the relation of that representation with their life’s quality. For so, the theory of  social  representations  was  used  as  a  theoretical  outline  of  this  research,  using  de  theme  analysis  of  content  with  the  idea  association  technique  in  the  group’s  perspective  (Spink,  1995)  and  the  usage  of  “Parkinson’s  Disease  Quality  of  Life  Questionnaire”  ­  PDQ­39  (Portuguese  version).  Eight  (08)  individuals  that  were  on  the  same  level  of  the  disease  participated in  this  study,  with  an  average  age  of  60,4  years  (55 ­ 69),  an  income  above  05  (five)  minimum  salaries,  and  being  the  proprietor  of  their  own  houses.  As  a  result,  a  close  connection was noticed between the social representation of Parkinson’s disease and the loss  of  identity  –  built  herein,  by  the  progressive  loss  of  functional  independence.  The  maintenance of identity/independence presents  itself, in this study, as an important predictor  of  the  quality  of  life,  since  the  bigger  independence  in  the  significant  activities,  the  more  important the maintenance of identity/independence. . KEY­WORDS:  social representations, Parkinson’s disease,  functional  independence, quality  of life..

(9) LISTA DE TABELAS, QUADROS E GRÁFICOS . TABELA 1 – Dados Demográficos do Censo 2000  TABELA 2 – Características Demográficas da  População Idosa  QUADRO 1 – Dimensões de Análise do Grupo  FIGURA 1 – Gráfico de Associação de Idéias do Grupo.

(10) LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS . ABP – Associação Brasil Parkinson  AIVD – Atividade Instrumental de Vida Diária  ASP –  Associação de Parkinson de Pernambuco  AVD – Atividade de Vida Diária  AVDA – Atividade de Vida Diária Avançada  CAP – Caixa de Aposentadoria e Pensões  COBAP – Confederação Brasileira de Aposentados e Pensionistas  EASY – Elderly Assesment System  FEBEM – Fundação do Bem – Estar do Menor  FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço  FUNRURAL – Fundo dos Trabalhadores Rurais  GT – Grupo de Trabalho  IAPs – Institutos de Aposentadorias e Pensões  IBGE –  Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística  INPS – Instituto Nacional da Previdência Social  ISSB – Instituto de Serviço Social no Brasil  LBA  ­ Legião Brasileira de Assistência  LOAS – Lei Orgânica de Assistência Social  LOPS – Lei Orgânica da Previdência Social  MPAS – Ministério da Previdência e Assistência Social  NHP – Nottingham Health Profile  OMS . – . Organização . Mundial . de . Saúde.

(11) OSS – Orçamento de Seguridade Social  PDQ – 39 – Parkinson’s Disease Questionary  PIS – Programa de Integração Social  PNAD – Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios  PNI – Política Nacional do Idoso  PNSI – Política Nacional de Saúde do Idoso  PRORURAL – Programa de Assistência ao Trabalhador Rural  QV – Qualidade de Vida  SAS – Secretaria de Assistência Social  SINPAS – Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social  WHOQOL – Worl Health Organization  Quality of Life.

(12) SUMÁRIO . 1. INTRODUÇÃO..................................................................................................................11  2. ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO NO BRASIL...............................................15  2.1. Mudanças no perfil etário da população e sua caracterização..........................................15  2.2. Implicações culturais do envelhecimento no Brasil..........................................................18  2.3. Breve histórico das políticas públicas voltadas à saúde do idoso no Brasil.....................23  2.4. A Saúde do Idoso Brasileiro.............................................................................................47  3. ENVELHECIMENTO E QUALIDADE DE VIDA.......................................................51  3.1. Teorias sobre o tema.........................................................................................................51  3.2. Qualidade de vida e saúde na velhice...............................................................................55  3.3. Qualidade de vida e incapacidade funcional.....................................................................59  3.4. A doença de Parkinson e sua influência na capacidade funcional....................................68  3.5. A Associação de Parkinson em Pernambuco....................................................................72  4. OBJ ETIVOS.......................................................................................................................75  4.1. Objetivo Geral...................................................................................................................75  4.2. Objetivos Específicos........................................................................................................75  5. MÉTODO...........................................................................................................................76  5.1. Caracterização da amostra................................................................................................76  5.2. Instrumentos e Procedimentos..........................................................................................76  6. RESULTADOS..................................................................................................................79  6.1. Transcrição parcial das entrevistas...................................................................................79  6.2. Achados do PDQ – 39......................................................................................................83  6.3. Relação dos achados do PDQ­39 versus Temas emergentes das entrevistas...................85  6.4. Dimensões de análise do grupo........................................................................................86  6.5. Associação de idéias do grupo..........................................................................................87  7. ANÁLISE E DISCUSSÃO................................................................................................88  8. CONCLUSÃO....................................................................................................................94  REFERÊNCIAS.....................................................................................................................98  ANEXOS.

(13) 11 . 1. INTRODUÇÃO . A Organização Mundial de Saúde (OMS) prevê que em 2025 existirão no mundo 1,2  bilhões  de  pessoas  com  mais  de  60  anos  (OMS,  2002).Diante  deste  fenômeno  de  envelhecimento populacional, as áreas de pesquisa em gerontologia social vêm se dedicando  à busca do desenvolvimento de meios para melhor atender as necessidades apresentadas pelos  idosos.  É  consenso  na  literatura  atual  em  gerontologia  (Paschoal,  2000;  Neri,  2001;  Veras,  2003), a defesa de que as pesquisas devem buscar desenvolver teorias acerca do processo de  envelhecimento  que  integrem  a  preocupação  com  a  qualidade  de  vida  e  com  a  própria  compreensão  do  idoso  acerca  do  fenômeno.Ao  tentar  resolver  a  aparente  contradição  que  existe  entre  velhice  e  bem­estar,  a  pesquisa  pode  não  só  contribuir  para  a  compreensão  do  envelhecimento e dos limites para o desenvolvimento humano, como também para a geração  de  alternativas  válidas de  intervenção  visando o bem­estar  e  melhoria  da qualidade de  vida  dos idosos.  A partir do final da década de 90, a OMS adotou o termo “envelhecimento ativo” para  definir o envelhecimento saudável, reconhecendo assim, que além dos cuidados com a saúde,  outros fatores como condições sócio­econômicas, grau de escolaridade e participação social  também  afetam  a  forma  dos  indivíduos  e  populações  envelhecerem.Esta  abordagem  do  envelhecimento  ativo  baseia­se  nos  princípios  de  independência,  participação,  dignidade,  assistência e auto­realização.  Assim, o que se defende é a idéia de  que se os indivíduos envelhecerem mantendo­se  autônomos  e  independentes,  a  sobrevida  aumentada  poderá  ser  plena  de significado,  mas  a  longevidade  pode  vir  a  ser  um  problema,  com  sérias  conseqüências  nas  dimensões  física,.

(14) 12 . psíquica  e  social  caso  não  hajam  iniciativas  de  âmbito  público  e  privado  que  busquem  a  melhoria da qualidade de vida desses indivíduos.  Em se tratando de idosos que já apresentam limitações no seu desempenho funcional,  a  situação  implica  em  pelo  menos  dois  grandes  desafios:  o  primeiro  se  instala  diante  da  necessidade  de  se  compreender  de  forma  abrangente,  os  fatores  que  levam  à  situação  de  incapacidade  funcional  e  o  segundo,  da  necessidade  de  realização  de  intervenções  efetivas  visto  que  a  incapacidade  funcional  no  idoso  incorre  em  conseqüências  no  âmbito  político,  econômico, das relações interpessoais na família e na socialização do mesmo.  A abrangência destes desafios é confirmada por um estudo transversal realizado pela  Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo em parceria com a Faculdade de Saúde Pública  da  USP  em  1989  que  demonstrou  que  existe  uma  complexa  rede  causal  do  declínio  da  capacidade  funcional  dos  idosos  incluindo  entre  outros  aspectos  influenciadores  o  analfabetismo,  a  aposentadoria,  não  ter  moradia  própria,  ter  composição  familiar  multigeracional  e  não  ter  vida  social  indicando  que  a  dependência  funcional  não  é  relacionada apenas à presença de doenças incapacitantes e que as práticas sociais do contexto  em  que  os  idosos  encontram­se  inseridos  interferem  e  são  influenciadas  pelo  seu  nível  de  independência funcional.  Entre  as  afecções  crônicas  da  velhice  que  levam  à  incapacidade  funcional  e  que  trazem  em  seu  bojo,  implicações  que  ultrapassam  a  esfera  domiciliar,  está  a  doença  de  Parkinson. Os gastos crescentes com o tratamento da doença e de suas conseqüências causam  impactos na economia familiar e no próprio sistema de saúde, contribuindo para a diminuição  da qualidade de vida não só do idoso funcionalmente dependente, mas também daqueles que  o cercam. Segundo  Menezes  (1996),  aceita­se  uma  prevalência  da  doença  de  85­187/100.000  habitantes,  em  diferentes  sociedades,  notando­se  um  aumento  gradual  da  mesma  com  a.

(15) 13 . progressão da idade,o que significa que, com a ampliação da expectativa de vida, a incidência  da  doença  irá  aumentar.  Além  disso,  segundo  Pinheiro  (2004),  foram  relatados  grandes  grupos  familiares  com  a  doença  de  Parkinson  onde  cerca  de  20  a  25%  dos  portadores  da  doença têm, pelo menos um parente de 1º grau com a doença.  De  acordo  com  a  Associação  Brasil  Parkinson  (ABP­2003),  a  cada  ano  surgem  20  casos  novos  para  cada  100.000  habitantes,  sendo  que  atualmente,  os  dados  revelam  que  aproximadamente 220 mil brasileiros apresentam a doença.  Nesta realidade duplamente desfavorável – ser idoso e dependente funcional – estudos  que busquem  apreender a  realidade  destes  idosos  e a  representação que os  mesmos  têm da  doença  e  de  suas  implicações  na  capacidade  funcional  podem  servir  de  instrumentos  para  efetivar mudanças no quadro atual.  Além  do  mais,  segundo  Caldas  (2003),  a  relevância  econômica  dos  gastos  com  os  idosos  dependentes  exige  também  uma  análise  acurada  da  situação  em  que  o  idoso  se  encontra para fornecer aos formuladores das políticas de saúde, informações com as quais se  possam  traçar  objetivos  e  programas  de  ação  visando  uma  solução  qualitativa  e  economicamente viável.  Uma  possibilidade  de  viabilizar  o  fornecimento  destas  informações  é  desenvolver  pesquisas dentro das associações que prestam atendimento a essa população, visto que, à falta  de  serviços  públicos  especializados  endereçados  aos  mesmos,  as  associações  muitas  vezes  assumem o papel que deveria ser exercido pelo Estado.  Estudos  neste  âmbito,  ao  apreender  o  dinamismo  da  sociedade  ­  a  relação  dialética  entre  o  velho  com  dependência  funcional  e  o  seu  mundo,  centrando  seu  olhar  sobre  essa  relação,  podem  colocar  em  evidência  fenômenos  de  constituição  social  que  auxiliam  na  compreensão do contexto material e ideológico em que os idosos com dependência funcional  estão inseridos. . Para  realizar  estes  estudos,  é  necessário  compreender­se  que  o.

(16) 14 . indivíduo  é  construído  em  sociedade,  onde,  através  da  partilha  de  significados  constrói­se  representações sociais (RS) que, por sua vez, se apresentam como mediadoras entre ele e  a  sociedade apreendendo­os como um sistema indivisível.  Assim,  as  representações  sociais  colocam­se  como  simultaneamente  individual  e  social,  ultrapassando  a  dicotomia  do  indivíduo  e  da  sociedade,  compreendendo  que  numa  dada população, os indivíduos partilham mais ou menos os mesmos objetos subjetivos, o que  lhes permite comunicar­se e agir em comum.  Diante do acima exposto, esta pesquisa tem  seu arcabouço teórico pautado na teoria  das  representações  sociais    e  aborda  como  objeto  central,  a  representação  social  que  os  idosos que freqüentam a Associação de Parkinson de Pernambuco (ASP­PE) têm da doença  de Parkinson e a relação dessa representação com a qualidade de vida dos mesmos.  A  doença  de  Parkinson foi  escolhida  para  este  estudo  visto  que  é  uma  enfermidade  que  afeta  a  motricidade,  causando  tremores,  lentidão  de  movimentos  (bradicinesia),  instabilidade  postural  e  rigidez  e  apresenta  uma  evolução  lenta  afetando  principalmente  indivíduos a partir de 50 anos sendo sua maior prevalência, idosos acima de 60 anos.  Além de seu caráter altamente incapacitante, a escolha por esta afecção se deu também  por  fazer  parte  do  meu  exercício  profissional  cotidiano,  seja  em  consultório,  seja  como  voluntária da Associação Parkinson de Pernambuco (ASP ­PE).  Esta  pesquisa,  portanto,  contemplará  os  aspectos  objetivos  e  subjetivos  do  binômio  saúde – doença, abarcando as mudanças de paradigmas que a representação da doença e do  adoecer vem passando ao longo dos tempos e, por fim, buscando compreender as implicações  que  estas  representações  trazem  para  a  percepção  de  qualidade  de  vida  dos  sujeitos  pesquisados..

(17) 15 . 2. ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA . 2.1. Mudanças no perfil etár io populacional e sua car acterização . Segundo  Berquó  (1999),  entre  1980  e  2000  a  população  brasileira  com  60  anos  ou  mais  cresceu  7,3  milhões,  totalizando  mais  de  14,5  milhões  em  2000.Nesta  progressão,  a  OMS admite que em 2025 o número de idosos no Brasil terá aumentado 18 vezes enquanto  que a população total, em 5 (cinco) e o país será o 6º país do mundo em número de idosos.  Essa  mudança  demográfica  da  população  brasileira  vem  sendo  marcada,  segundo  o  IBGE  (2002),  por  transições  decorrentes  de  alterações  nos  níveis  de  mortalidade  e  fecundidade, uma vez que as imigrações internacionais deixaram de ter influência a partir da  década de 40.  Entre  os  anos  40  e  60  em  paralelo  ao  fenômeno  de  declínio  da  mortalidade  (representado  por  um  acréscimo  de  10  anos  na  esperança  de  vida  ao  nascer),  observou­se  uma  constância  na  taxa  de  fecundidade,  mas  a  partir  dos  anos  60,  o  ritmo  anual  de  crescimento populacional inicia uma desaceleração importante que vem a agravar a partir dos  anos 80 até 1991, atingindo uma taxa anual de 1.94%. . Nos  próximos  20 anos,  segundo o Censo  2000,  a  população  idosa do  Brasil  poderá  ultrapassar os 30 milhões de pessoas e deverá representar quase 13% da população ao final  deste período. Em 2000,  ainda segundo o Censo, a população de 60 anos ou mais de idade  era  de  14.536.029  de  pessoas,  contra  10.722.705  em  1991.Assim,  o  peso  relativo  da  população idosa no início da década representava 7,3%, enquanto, em 2000, essa proporção  atingia 8,6%..

(18) 16 . A proporção de idosos vem crescendo mais rapidamente que a proporção de crianças.  Em  1980,  existiam  cerca  de  16  idosos  para  cada  100  crianças;  em  2000,  essa  relação  praticamente  dobrou, passando para quase  30  idosos  por 100  crianças.  A  queda da  taxa  de  fecundidade  ainda  é  a  principal  responsável  pela  redução  do  número  de  crianças,  mas  a  longevidade vem contribuindo progressivamente para o aumento de idosos na população. Um  exemplo é o grupo das pessoas de 75 anos ou mais de idade que teve o maior crescimento  relativo (49,3%) nos últimos dez anos, em relação ao total da população idosa (IBGE, Censo  Demográfico 2000). . O  Censo  2000  verificou  ainda  que  62,4%  dos  idosos  eram  responsáveis  pelos  domicílios  brasileiros,  observando­se  um  aumento  em  relação  a  1991,  quando  os  idosos  responsáveis  representavam  60,4%.  É  importante  destacar  que  no  conjunto  dos  domicílios  brasileiros (44.795.101), 8.964.850 tinham  idosos como responsáveis e representavam 20%  do contingente total. Em 1991, essa proporção ficava em torno de 18,4%. . A distribuição por sexo revela que, em 2000, 37,6% dos responsáveis idosos eram do  sexo  feminino,  correspondendo  a  3.370.503  de  domicílios,  enquanto  no  início  da  década  passada essa proporção atingia a 31,9%. Destaca­se ainda que a idade média do responsável  idoso, em 2000, estava em torno de 69,4 anos (70,2 anos quando o responsável era do sexo  feminino e 68,9 para o idoso responsável do sexo masculino). . Entre os domicílios sob a responsabilidade de idosos, os domicílios unipessoais, isto  é,  aqueles  com  apenas  um  morador,  totalizavam,  em  2000,  1.603.883  unidades,  representando 17,9% do total. Em 1991, a proporção era de 15,4%. O estudo chama atenção  para a elevada proporção de mulheres idosas que moravam sós, em 2000 ­ cerca de 67%..

(19) 17 . No  Brasil,  em  média,  as  mulheres  vivem  oito  anos  a  mais  que  os  homens.  As  diferenças  de  expectativa  de  vida  entre  os  sexos  mostram  que  em  1991,  as  mulheres  correspondiam a 54% da população de idosos e em 2000, passaram para 55,1%. Portanto, em  2000, para cada 100 mulheres idosas havia 81,6 homens idosos. . Outra  conclusão:  o  grau  de  urbanização  da  população  idosa  também  acompanha  a  tendência  da  população  total,  ficando  em  torno  de  81%  em  2000.  A  proporção  de  idosos  residentes nas áreas rurais caiu de 23,3%, em 1991, para 18,6%, em 2000. . Entre  as  capitais,  Rio  de  Janeiro  e  Porto  Alegre  se  destacam  com  as  maiores  proporções  de  idosos,  representando,  respectivamente,  12,8%  e  11,8%  da  população  total  nesses  municípios.  Em  contrapartida,  as  capitais  do  norte  do  País,  Boa  Vista  e  Palmas  apresentaram  uma  proporção  de  idosos  de  apenas  3,8%  e  2,7%.  Em  termos  absolutos,  o  Censo 2000 contou quase um milhão de idosos vivendo na cidade de São Paulo. . Diante deste quadro referencial apresentamos nas Tabelas 1 e 2, alguns dados do que  representa a população idosa no Brasil: . População  Br asileira . Concentração  População  Centenár ios  Esper ança  da população  Idosa  de Vida  idosa de 60 a 69  anos . 169.872.856  15.5 milhões  25787  Tabela 1. Dados demográficos (Censo 2000). . 68.6 anos . 9.1 milhões.

(20) 18 . Estados . Esper ança  de Vida . Rio Grande do Sul  Santa Catarina  Paraná . 74.6 anos . Minas Gerais  Goiás  Mato Grosso  Roraima  Rondônia  Amazonas  Amapá . Bahia  Sergipe  Alagoas  Pernambuco  Paraíba  Rio Grande do Norte  Ceará  Piauí  Maranhão . 68 anos . 53.7 – 65.1 anos. Tabela 2. Características demogr áficas da população idosa no Brasil. . Este  quadro  de  mudança  no  perfil  demográfico  demanda  um  olhar  acurado  para  as  implicações sociais  deste  processo de envelhecimento que  envolve  não  só  a  emergência  de  implantação  de  políticas  públicas  voltadas  para essa  parcela  da  população, mas  também  as  mudanças de paradigmas que acompanham a relação entre os idosos e seu entorno social. . 2.2. Implicações Culturais do Envelhecimento no Brasil . No Brasil, a exemplo do que ocorreu na França no séc. XIX, a representação social da  velhice, é fortemente ligada ao processo de produção (DEBERT, 1999).  Mas, naquele país  já em 1903 afirma o autor, os indivíduos com mais de 60 anos  e  com status social elevado não eram considerados velhos e a velhice nas camadas superiores  da  sociedade  não  era  aparente,  denotando  a  influência  do  status  econômico  sobre  o  status  social. .

(21) 19 . Peixoto  (2000),  afirma  que  com  as  alterações  ocorridas  na  legislação  brasileira  estabelecendo aposentadoria por tempo de serviço, o termo velhice passou a ser fortemente  ligado à aposentadoria – ao tempo do “não trabalho” e assim, a velhice passa a ser sinônimo  de pobreza, dependência e incapacidade principalmente para as camadas média e superior da  sociedade, reforçando uma situação de exclusão social.  Moragas (2004), confirmando a convicção de que na sociedade industrial o papel do  idoso é mais fruto da regulamentação de leis do que pelo reconhecimento social real, afirma:  “[...]  o  idoso  tem  um  papel  sem  papel  –  uma  posição  social  que  não  implica  obrigações,  embora  na  sociedade  contemporânea  as  obrigações  sejam  fundamentalmente  trabalhistas,  visto que através delas a pessoa conquista status social e econômico” (p.91).  Ainda segundo o autor, nas sociedades agrárias o status social do indivíduo velho  é  diferente visto que a experiência é mais valorizada que a inovação.  Mas segundo Peixoto (2000), no Brasil o termo “velho” apresenta uma ambigüidade  de significados podendo ser usado como termo pejorativo ou afetivo, sendo distinguido “pela  entonação ou pelo contexto em que é utilizado” (p.77).  Ainda  segundo  o  autor,  para  alguns,  ser  velho  e  “não  ter  o  que  fazer”  designa  principalmente o tempo liberado à cristalização dos velhos sonhos e á realização de um novo  projeto de vida.  Para  uma  camada  da  população,  segundo  o  autor,  o  afastamento  do  trabalho  simbolizou  a  perda  do  papel  social  de  indivíduo  produtivo  e  assim,  buscou­se  a  transformação da  imagem  das  pessoas  envelhecidas  como  inativas  e  os  novos  aposentados  passaram a cultuar a “arte do bem­viver”. (p.76)  Na  França,  segundo  Debert  (1999),  a  concorrência  entre  as  instituições  financeiras  responsáveis  pelos  fundos  de  pensão,  levam  essas  instituições  a  oferecer  além  dos.

(22) 20 . rendimentos  mensais,  outras  vantagens  incluindo  a  prestação  de  serviços  de  lazer,  contribuindo com isso para a “invenção” da terceira idade.  Assim,  para  representar  a  nova  população  de  aposentados  surge  o  termo  “terceira  idade” como sinônimo de envelhecimento ativo e independente, onde a busca pela integração  social se deu a partir da prática de “novas atividades sob o signo do dinamismo”. (p.76)  Desta  forma, a terceira idade substitui a velhice e assume novas designações:  “nova  juventude”,  “idade  do  lazer”  ­  e  a  aposentadoria  deixa  de  ser  um  momento  de  descanso  e  recolhimento para tornar­se período de atividade e lazer.  O  termo  “terceira  idade”  no  Brasil,  a  exemplo  da  representação  francesa,  segundo  Debert (op.cit.) é usado para designar os “jovens velhos” e aposentados dinâmicos, passando  a  ser  “...  uma  expressão  classificatória  de  uma  categoria  socialmente  heterogênea,  mascarando  uma  realidade  social  em  que  a  heterogeneidade  econômica  e  etária  é  muito  grande”.(P.63)  A  autora  relata  que  com  a  expressão  “terceira  idade”  uma  nova  imagem  do  envelhecimento  é  constituída,  havendo  uma  inversão  dos  signos  do  envelhecimento.  Ela  afirma: “[...] não se trata mais apenas de resolver os problemas econômicos dos idosos, mas  de  proporcionar  cuidados  culturais  e  psicológicos  de  forma  a  integrar  socialmente  uma  população tida como marginalizada” (Idem).  A  terceira  idade,  ainda  segundo  Debert,  é  uma  expressão  que  se  popularizou  com  rapidez, sendo uma forma de tratamento das pessoas com mais  idade, que independente da  idade cronológica, ainda não adquiriu uma conotação depreciativa.  Nos  Programas  para  a  terceira  idade,  a  autora  afirma:  “[...]  a  luta  contra  os  preconceitos e estereótipos leva a uma celebração do envelhecimento como um momento de.

(23) 21 . realização pessoal, onde a satisfação e o prazer encontram seu auge e são vividos de maneira  mais madura e profícua” (p.144).  De acordo com Peixoto (2000), essa concepção de  velhice  ligada ao dinamismo e  à  atividade faz com que os idosos busquem cada vez mais os espaços públicos, participando de  atividades  socializantes  que  propiciam  o  sentimento  de  pertença  a  um  grupo  caracterizado  pela  vontade  de  envelhecer  ativamente  modificando  a  representação  social  da  velhice  pautada na monotonia e sofrimento.  Mas, para Featherstone (1994), a despeito das designações e aspectos que fazem com  que a velhice tenha maior ou menor aceitação na sociedade, a perda de 3 (três) competências  básicas levam à estigmatização dos velhos e servem de estereótipos negativos.  Essas competências são:  1.  Habilidades cognitivas: baseados no uso da linguagem e sua capacidade de comunicação,  vitais para uma pessoa tornar­se autônoma e aceita.  2.  Controles do corpo: a necessidade de controlar os movimentos do corpo, os movimentos  dos nossos membros, rosto e cabeça, o grau de capacidades motoras que envolvem o sentar,  ficar de pé e andar tanto quanto a capacidade de controlar e reter os fluidos corporais.  3.  Controles emocionais: a necessidade de controlar a expressão das emoções de modo que  explosões emocionais e perda de controle somente tomem lugar em ocasiões e de forma que  possa ser socialmente sancionadas e aceitáveis (p.67)  Assim,  ao  passo  que  os  estigmas  negativos  da  velhice  (ligados  à  decrepitude  e  decadência)  são  substituídos  por  estigmas  positivos  (ligados  á  atividade  e  prazer),  outros  preconceitos  são  sedimentados  em  torno  daqueles  que  não  participam  dessa  forma  de  envelhecimento ativo..

(24) 22 . Isso ocorre porque a sociedade, ao estabelecer meios para categorizar as pessoas, faz  com  que  seja  construído  um  juízo  prévio  de  cada  indivíduo  inserido  nessa  categoria.  (GOFFMAN, 1982).  Desta  forma,  segundo  o  autor,  expectativas  pré­concebidas  transformam­se  em  exigências,  criando­se  estereótipos  acerca  de  determinados  indivíduos,  reduzindo  as  possibilidades de inserção social.  O  indivíduo  por  sua  vez,  passa  a  basear­se  não  no  que  acredita  ser,  mas de  acordo  com a categoria na qual está inserido, acreditando nos atributos impostos pela sociedade.  Os  atributos  ou  características  que  justificam  o  estigma  apresentam  pouca  ou  nenhuma oportunidade de análise crítica e consciente que os associe às circunstâncias reais  da  vida  e  das  relações  humanas,  sociais.  Conseqüentemente,  o  preconceito  é  inflexível,  rígido, imóvel, prejudicial à discussão, ao exame fundamentado e à revisão do que está pré­  concebido.(IDEM)  Assim, ser idoso e funcionalmente dependente num país que prima pela juventude e  atividade,  torna­se  uma  tarefa  exaustiva  que,  dependendo  das  circunstâncias,  inviabiliza  a  participação social dos mesmos.  Uma forma de viabilizar mudanças nesse quadro de desatenção seria a implantação de  políticas  públicas  que  previssem  a  proteção  e  apoio  a  esses  idosos  dependentes  e  seus  familiares..

(25) 23 . 2.3. Breve Histór ico das Políticas Públicas voltadas à saúde do Idoso no Brasil . Segundo Cohn (1999), é difícil explicar e compreender as atuais políticas de saúde do  país  sem  que  se  atrele  às  políticas  de  Previdência  Social  dado  o  estreito  vínculo  existente  entre elas. . Ademais, a formulação das políticas sociais no Brasil desde o início, teve sua . construção  baseada  em  lutas  de  diferentes  instâncias  culminando  em  conquistas  diluídas  e  muitas  vezes  revogadas,  sem  caracterizar­se  desta  forma,  em  uma  evolução  progressista  e  linear.  Conhecer a  forma  como o  Estado  conduziu  essas  políticas  em  diferentes  momentos  pode  favorecer  a  compreensão  acerca  dos  mecanismos  vigentes  nos  dias  atuais  e  que  caracterizam  as  políticas  sociais  como  ineficientes,  clientelistas  e  não  universalizadas,  levando em última análise, ao descrédito quanto à competência do Estado no setor.  Diante deste fato, recorreremos á reconstituição da forma como as políticas de saúde voltadas  ao  idoso  foram  sendo  implementadas  no  país  abarcando  neste  processo,  as  políticas  de  Previdência Social.  Apesar a lei de autoria do deputado Elói Chaves (Decreto­lei 4682, de 24 de Janeiro  de 1923) ser considerada um marco da interferência do Estado na regulação social, é possível  identificar  tentativas  de  constituição  de  instituições  de  caráter  previdenciário  no  Brasil  durante  a  Colônia  –  como  o  “Plano  de  Beneficência  dos  Órfãos  e  Viúvas  dos  Oficiais  da  Marinha”  em  1795;  em  1888  ser  instituída  uma  “Caixa  de  Socorro  aos  Empregados  das  Estradas  de  Ferro  Estatais”  e  em  1890  um  Decreto­Lei  ter  concedido  direitos  para  os  funcionários  do  Ministério  da  Fazenda  e  da  Estrada  de  Ferro  Central  do  Brasil.(CONH,  1999).  A época da “Lei Elói Chaves” foi de anos agitados; o movimento artístico contestava  valores  da  cultura  tradicional  e  o  partido  Comunista  se  formava  aos  olhos  de  todos  e.

(26) 24 . propunha a tomada de poder pelos trabalhadores; as lutas sociais começam a defender o voto  secreto,  o  fim  da  corrupção  e  moralidade  pública;  os  trabalhadores  se  organizavam  para  reivindicar  direitos  e  os  industriais  lutavam  pela  participação  nas  decisões  políticas.  Enquanto  isso,  o  poder  Federal  se  empenhava  em  descaracterizar  a  descentralização  governamental.  Assim, em meio a este clima de reivindicações, em 1923, com a lei do deputado Eloi  Chaves,  criou­se  a  1ª  CAP  (Caixa  de  Aposentadoria  e  Pensões)  para  os  ferroviários  de  empresas privadas e que teve adesão de outras categorias nos anos seguintes, caracterizando  um contexto social de mudanças.  Segundo  Oliveira  (1989), o objetivo da  CAP dos  ferroviários –  modelo das demais,  era  fornecer  a  seus  membros,  socorros  médicos  e  hospitalares;  medicamentos  a  custo  reduzido;  aposentadoria  por  tempo  de  serviço,  velhice  ou  invalidez;  pensão  para  os  dependentes  em  caso  de  morte  e  custeio  das  despesas  de  funerais.A  participação  dos  funcionários  era  compulsória  e  sua  estrutura  administrativa  era  gerida  por  um  Conselho  composto  por  1  (um)  superintendente  ou  inspetor geral  da estrada;  o  caixa  e  o  pagador  da  empresa  mais  2  (dois)  empregados  eleitos  pelos  demais.Assim,  o  controle  permanecia  nas  mãos da empresa, a exemplo das antigas mutuais.  Do ponto de vista dos empresários, segundo Oliveira (op.cit.), a legislação das CAPs  trouxe  a  vantagem  de  fixar  um  gasto  anual  para  fazer  frente  às  despesas  de  previdência  e  assistência visto que como o pagamento dos seguros por velhice, invalidez e doenças tornou­  se  pesado  demais  para  as  mutuais,  eles  foram  repassados  às  empresas,  sendo  necessário  despender quantias cada vez maiores com os inativos.  O  sistema  de  financiamentos  das  CAPs  era tripartite  (  empregadores,  empregados  e  Estado), definia a aposentadoria ordinária por critérios de tempo de serviço (30 anos) e idade  cronológica (50 anos) e a aposentadoria por invalidez seria concedida nos mesmos valores da.

(27) 25 . aposentadoria ordinária desde que o segurado contasse com pelo menos 10 anos de serviço (a  não ser em caso de acidentes de trabalho).  Assim,  segundo  Cohn  (1980),  a  regulação das  CAPs  constituía­se  numa  espécie  de  contrato  privado  entre  empresários  e  empregados,  mediante  o  qual  os  empregadores  comprometiam­se a sustentar os empregados quando estes não fossem mais ativos.  Esses contratos, segundo a autora (op.cit.) “ [...] ainda não se fundamentavam na concepção  de direito de cidadania passível a ser estendida a todos em  condições de participar do processo produtivo visto  que abarcavam apenas os empregados de uma única empresa”  (p.93). . Conh  (op.cit.),  afirma  ainda  que  a  definição  dos  grandes  traços  que  marcam  até  os  dias de hoje o sistema previdenciário no Brasil foram dados pelas CAPs a exemplo da forma  tripartite de financiamento, do caráter assistencialista e não universalizante do seguro social,  elegendo  até  hoje  grupos  assalariados  de  setores  de  maior peso  econômico  e politicamente  mais mobilizados.  Em 1926, algumas mudanças na prestação de serviços pelas CAPs foram instituídas;  houve uma redução para 5 anos do prazo de carência para a concessão da aposentadoria por  invalidez e a inclusão de um dispositivo prevendo estabilidade no serviço por 10 anos.  Em 1930, com a chegada de Getúlio Vargas ao poder, as relações de trabalho passam  por diversas transformações; as classes médias urbanas crescem, como também os conflitos  entre patrões e empregados que já  vinha demonstrando força desde a década de 20. Diante  deste quadro, o Estado se propôs a desempenhar o papel de legítimo intermediário.  Foi  criado  então,  o  Ministério  do  Trabalho  Indústria  e  Comércio  (que  visava  o  controle da classe operária e empresarial pelo  governo federal) e até 1934, vários Decretos  implementaram a proteção do trabalho da mulher e do menor entre outros aspectos.Em 1937  o  Ministério  do  Trabalho  Indústria  e  Comércio  impõe  uma  regulação  mais  elaborada  dos.

(28) 26 . direitos dos trabalhadores e passa a conceder “cartas de reconhecimento” aos sindicatos que  passam a gravitar em torno do Ministério.  Desta forma, a partir de 1930, o contrato de seguro característico das CAPs começa a  ser  substituído por dispositivos  legais que  colocam  a  previdência  “sob  a  égide  do Estado”,  conforme  cita  Cohn  (1980):...  cria­se  os  Institutos  de  Aposentadorias  e  Pensões  (IAPs),  instaurando­se  um  vínculo  por  categoria  profissional  de  abrangência  nacional,  em  substituição do vínculo por empresa.  (p.105)  Os IAPs, tal como os CAPS, são juridicamente concebidos como entidades públicas  autárquicas, se diferenciando pela presença do Estado em sua estrutura administrativa  visto  que  administração  dos  fundos  dos  IAPs  seguia  o  padrão  de  Conselho  de  representantes  de  empresas  e  empregados,  mas  o  colegiado  passou  a  incluir  as  figuras  do  presidente  do  Instituto  –  nomeado  pelo  presidente  da  República  e  a  do  secretário  do  Conselho  Administrativo – nomeado pelo presidente do Instituto, estando assim, submetidos ao poder e  á influência da burocracia do Estado, representando uma modalidade estatal de organização  da política previdenciária.  No que diz respeito ao financiamento dos recursos, segundo Cohn (op.cit.), deu­se um  retrocesso  nos  IAPs  em  relação  às  CAPs;  a  contribuição  dos  empregadores  que  era  um  percentual  sobre  o  faturamento  da  empresa,  passa  a  ser  um  percentual  sobre  a  folha  dos  salários.  Desta forma, sob a ameaça constante de insuficiência de recursos diante do aumento  da demanda, adota­se o regime de capitalização onde o patrimônio de cada IAP deveria ser  expandido mediante investimentos criteriosos ou pela aquisição de propriedades..

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