A representação social da doença de Parkinson e sua relação com a qualidade de vida dos associados da ASPPE
Texto
(2) Ana Luiza Rodrigues da Costa . A REP RESEN TA ÇÃ O SOCI A L DA DOEN ÇA DE P A RK I N SON E SUA RELA ÇÃO COM A QUALI DA DE DE VI DA DOS A SSOCI A DOS DA A SP P E . Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Serviço Social pela UFPE como requisito para obtenção do título de Mestre sob orientação da Professora Maria de Fátima de Souza Santos. . Recife.
(3) 2006 . Costa, Ana Luiza Rodrigues da A representação social da doença de Parkinson e sua relação com a qualidade de vida dos associados da ASPPE / Ana Luiza Rodrigues da Costa. – Recife : O Autor, 2006. 107 folhas : il., fig., tab., gráf. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco. CCSA. Serviço Social, 2006. Inclui bibliografia e anexos. 1. Serviço social – Psicologia social. 2. Doença de Parkinson – Representação social – Associação de Parkinson de Pernambuco – Qualidade de vida. 3. Capacidade funcional – Identidade e papel social – Técnica de associação de idéias – Perspectivas de grupo. I. Título. 361.4 362.4 . CDU (2.ed.) CDD (22.ed.) . UFPE BC2006278.
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(5) AGRADECIMENTOS . Aos meus filhos, Pedro e Lucas, pela compreensão da importância deste trabalho na minha vida profissional e pelo companheirismo nas horas difíceis; Ao meu marido, Cezar, por ter estado sempre tão disponível em manter a “retaguarda salva” para que eu pudesse me dedicar aos estudos; À minha orientadora Fátima Santos, pelas orientações tão importantes principalmente nos momentos de “encruzilhada”; À Antonio Lucena Junior, colega de profissão e grande amigo, pela eterna disponibilidade em ajudar; À Direção da ASPPE, pelo apoio durante a pesquisa; Por fim, aos sujeitos participantes da pesquisa, pela confiança e atenção dispensadas durante a coleta de dados..
(6) “ É uma coisa impressionante a idade de um homem ! Resume toda a sua vida. A maturidade que ele adquire se faz lentamente. Ela se faz a despeito de obstáculos vencidos, de tantas doenças graves enfrentadas, de tantas penas acalmadas, tantos desesperos suplantados, tantos riscos cuja maior parte escapou à consciência. Ela se faz através de desejos, esperanças, lamentos, esquecimento, amor. A idade de um homem representa uma bela carga de experiências e lembranças! ” . Escritos de Guerra.
(7) RESUMO . Com o rápido crescimento da população idosa a nível mundial, o olhar da Organização Mundial de Saúde (OMS) recai sobre a qualidade de vida desses idosos. A própria OMS recomenda que tanto a avaliação das condições de saúde quanto de qualidade de vida de uma população devem levar em consideração não só aspectos objetivos, mas também subjetivos contemplando a opinião dos indivíduos acerca do estado de saúde e da satisfação com a qualidade de suas vidas. O objetivo deste trabalho é identificar as representações sociais que os idosos que freqüentam a Associação de Parkinson de Pernambuco (ASPPE) têm da doença de Parkinson e a relação desta representação com a qualidade de suas vidas. Para tanto, recorreuse à teoria das representações sociais como arcabouço teórico para pautar a pesquisa, utilizando a análise temática de conteúdo com a técnica de associação de idéias na perspectiva de grupo (Spink, 1995) e a aplicação do Parkinson’s Disease Quality of Life Questionnaire” PDQ39 (versão em português). Participaram deste estudo 08 (oito) sujeitos que se encontram no mesmo estágio da doença, com idade média de 60,4 anos (55 69), renda acima de 05 (cinco) salários mínimos e morando em casa própria. Como resultado, observouse uma estreita ligação entre a representação social da doença de Parkinson e a perda da identidade configurada aqui, pela perda progressiva da independência funcional. A manutenção da identidade/independência apresentase, neste estudo, como um importante preditor de qualidade de vida sendo tão mais importante quanto maior a independência nas atividades significativas. . PALAVRASCHAVE: representações sociais, doença de Parkinson, independência funcional, qualidade de vida..
(8) ABSTRACT . The WHO has focused on the quality of life of the world elderly population given their fast growth . The WHO itself recommends that the assessment of both health condition and life quality of a population must regard not only the objective features, but also the subjective ones observing the opinion of individuals about their health condition and satisfaction with their life’s quality. The objective of this work is to identify the social representations that the elders, who attend the Pernambuco’s Parkinson Association (ASPPE), have from Parkinson’s disease, and the relation of that representation with their life’s quality. For so, the theory of social representations was used as a theoretical outline of this research, using de theme analysis of content with the idea association technique in the group’s perspective (Spink, 1995) and the usage of “Parkinson’s Disease Quality of Life Questionnaire” PDQ39 (Portuguese version). Eight (08) individuals that were on the same level of the disease participated in this study, with an average age of 60,4 years (55 69), an income above 05 (five) minimum salaries, and being the proprietor of their own houses. As a result, a close connection was noticed between the social representation of Parkinson’s disease and the loss of identity – built herein, by the progressive loss of functional independence. The maintenance of identity/independence presents itself, in this study, as an important predictor of the quality of life, since the bigger independence in the significant activities, the more important the maintenance of identity/independence. . KEYWORDS: social representations, Parkinson’s disease, functional independence, quality of life..
(9) LISTA DE TABELAS, QUADROS E GRÁFICOS . TABELA 1 – Dados Demográficos do Censo 2000 TABELA 2 – Características Demográficas da População Idosa QUADRO 1 – Dimensões de Análise do Grupo FIGURA 1 – Gráfico de Associação de Idéias do Grupo.
(10) LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS . ABP – Associação Brasil Parkinson AIVD – Atividade Instrumental de Vida Diária ASP – Associação de Parkinson de Pernambuco AVD – Atividade de Vida Diária AVDA – Atividade de Vida Diária Avançada CAP – Caixa de Aposentadoria e Pensões COBAP – Confederação Brasileira de Aposentados e Pensionistas EASY – Elderly Assesment System FEBEM – Fundação do Bem – Estar do Menor FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço FUNRURAL – Fundo dos Trabalhadores Rurais GT – Grupo de Trabalho IAPs – Institutos de Aposentadorias e Pensões IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INPS – Instituto Nacional da Previdência Social ISSB – Instituto de Serviço Social no Brasil LBA Legião Brasileira de Assistência LOAS – Lei Orgânica de Assistência Social LOPS – Lei Orgânica da Previdência Social MPAS – Ministério da Previdência e Assistência Social NHP – Nottingham Health Profile OMS . – . Organização . Mundial . de . Saúde.
(11) OSS – Orçamento de Seguridade Social PDQ – 39 – Parkinson’s Disease Questionary PIS – Programa de Integração Social PNAD – Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios PNI – Política Nacional do Idoso PNSI – Política Nacional de Saúde do Idoso PRORURAL – Programa de Assistência ao Trabalhador Rural QV – Qualidade de Vida SAS – Secretaria de Assistência Social SINPAS – Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social WHOQOL – Worl Health Organization Quality of Life.
(12) SUMÁRIO . 1. INTRODUÇÃO..................................................................................................................11 2. ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO NO BRASIL...............................................15 2.1. Mudanças no perfil etário da população e sua caracterização..........................................15 2.2. Implicações culturais do envelhecimento no Brasil..........................................................18 2.3. Breve histórico das políticas públicas voltadas à saúde do idoso no Brasil.....................23 2.4. A Saúde do Idoso Brasileiro.............................................................................................47 3. ENVELHECIMENTO E QUALIDADE DE VIDA.......................................................51 3.1. Teorias sobre o tema.........................................................................................................51 3.2. Qualidade de vida e saúde na velhice...............................................................................55 3.3. Qualidade de vida e incapacidade funcional.....................................................................59 3.4. A doença de Parkinson e sua influência na capacidade funcional....................................68 3.5. A Associação de Parkinson em Pernambuco....................................................................72 4. OBJ ETIVOS.......................................................................................................................75 4.1. Objetivo Geral...................................................................................................................75 4.2. Objetivos Específicos........................................................................................................75 5. MÉTODO...........................................................................................................................76 5.1. Caracterização da amostra................................................................................................76 5.2. Instrumentos e Procedimentos..........................................................................................76 6. RESULTADOS..................................................................................................................79 6.1. Transcrição parcial das entrevistas...................................................................................79 6.2. Achados do PDQ – 39......................................................................................................83 6.3. Relação dos achados do PDQ39 versus Temas emergentes das entrevistas...................85 6.4. Dimensões de análise do grupo........................................................................................86 6.5. Associação de idéias do grupo..........................................................................................87 7. ANÁLISE E DISCUSSÃO................................................................................................88 8. CONCLUSÃO....................................................................................................................94 REFERÊNCIAS.....................................................................................................................98 ANEXOS.
(13) 11 . 1. INTRODUÇÃO . A Organização Mundial de Saúde (OMS) prevê que em 2025 existirão no mundo 1,2 bilhões de pessoas com mais de 60 anos (OMS, 2002).Diante deste fenômeno de envelhecimento populacional, as áreas de pesquisa em gerontologia social vêm se dedicando à busca do desenvolvimento de meios para melhor atender as necessidades apresentadas pelos idosos. É consenso na literatura atual em gerontologia (Paschoal, 2000; Neri, 2001; Veras, 2003), a defesa de que as pesquisas devem buscar desenvolver teorias acerca do processo de envelhecimento que integrem a preocupação com a qualidade de vida e com a própria compreensão do idoso acerca do fenômeno.Ao tentar resolver a aparente contradição que existe entre velhice e bemestar, a pesquisa pode não só contribuir para a compreensão do envelhecimento e dos limites para o desenvolvimento humano, como também para a geração de alternativas válidas de intervenção visando o bemestar e melhoria da qualidade de vida dos idosos. A partir do final da década de 90, a OMS adotou o termo “envelhecimento ativo” para definir o envelhecimento saudável, reconhecendo assim, que além dos cuidados com a saúde, outros fatores como condições sócioeconômicas, grau de escolaridade e participação social também afetam a forma dos indivíduos e populações envelhecerem.Esta abordagem do envelhecimento ativo baseiase nos princípios de independência, participação, dignidade, assistência e autorealização. Assim, o que se defende é a idéia de que se os indivíduos envelhecerem mantendose autônomos e independentes, a sobrevida aumentada poderá ser plena de significado, mas a longevidade pode vir a ser um problema, com sérias conseqüências nas dimensões física,.
(14) 12 . psíquica e social caso não hajam iniciativas de âmbito público e privado que busquem a melhoria da qualidade de vida desses indivíduos. Em se tratando de idosos que já apresentam limitações no seu desempenho funcional, a situação implica em pelo menos dois grandes desafios: o primeiro se instala diante da necessidade de se compreender de forma abrangente, os fatores que levam à situação de incapacidade funcional e o segundo, da necessidade de realização de intervenções efetivas visto que a incapacidade funcional no idoso incorre em conseqüências no âmbito político, econômico, das relações interpessoais na família e na socialização do mesmo. A abrangência destes desafios é confirmada por um estudo transversal realizado pela Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo em parceria com a Faculdade de Saúde Pública da USP em 1989 que demonstrou que existe uma complexa rede causal do declínio da capacidade funcional dos idosos incluindo entre outros aspectos influenciadores o analfabetismo, a aposentadoria, não ter moradia própria, ter composição familiar multigeracional e não ter vida social indicando que a dependência funcional não é relacionada apenas à presença de doenças incapacitantes e que as práticas sociais do contexto em que os idosos encontramse inseridos interferem e são influenciadas pelo seu nível de independência funcional. Entre as afecções crônicas da velhice que levam à incapacidade funcional e que trazem em seu bojo, implicações que ultrapassam a esfera domiciliar, está a doença de Parkinson. Os gastos crescentes com o tratamento da doença e de suas conseqüências causam impactos na economia familiar e no próprio sistema de saúde, contribuindo para a diminuição da qualidade de vida não só do idoso funcionalmente dependente, mas também daqueles que o cercam. Segundo Menezes (1996), aceitase uma prevalência da doença de 85187/100.000 habitantes, em diferentes sociedades, notandose um aumento gradual da mesma com a.
(15) 13 . progressão da idade,o que significa que, com a ampliação da expectativa de vida, a incidência da doença irá aumentar. Além disso, segundo Pinheiro (2004), foram relatados grandes grupos familiares com a doença de Parkinson onde cerca de 20 a 25% dos portadores da doença têm, pelo menos um parente de 1º grau com a doença. De acordo com a Associação Brasil Parkinson (ABP2003), a cada ano surgem 20 casos novos para cada 100.000 habitantes, sendo que atualmente, os dados revelam que aproximadamente 220 mil brasileiros apresentam a doença. Nesta realidade duplamente desfavorável – ser idoso e dependente funcional – estudos que busquem apreender a realidade destes idosos e a representação que os mesmos têm da doença e de suas implicações na capacidade funcional podem servir de instrumentos para efetivar mudanças no quadro atual. Além do mais, segundo Caldas (2003), a relevância econômica dos gastos com os idosos dependentes exige também uma análise acurada da situação em que o idoso se encontra para fornecer aos formuladores das políticas de saúde, informações com as quais se possam traçar objetivos e programas de ação visando uma solução qualitativa e economicamente viável. Uma possibilidade de viabilizar o fornecimento destas informações é desenvolver pesquisas dentro das associações que prestam atendimento a essa população, visto que, à falta de serviços públicos especializados endereçados aos mesmos, as associações muitas vezes assumem o papel que deveria ser exercido pelo Estado. Estudos neste âmbito, ao apreender o dinamismo da sociedade a relação dialética entre o velho com dependência funcional e o seu mundo, centrando seu olhar sobre essa relação, podem colocar em evidência fenômenos de constituição social que auxiliam na compreensão do contexto material e ideológico em que os idosos com dependência funcional estão inseridos. . Para realizar estes estudos, é necessário compreenderse que o.
(16) 14 . indivíduo é construído em sociedade, onde, através da partilha de significados constróise representações sociais (RS) que, por sua vez, se apresentam como mediadoras entre ele e a sociedade apreendendoos como um sistema indivisível. Assim, as representações sociais colocamse como simultaneamente individual e social, ultrapassando a dicotomia do indivíduo e da sociedade, compreendendo que numa dada população, os indivíduos partilham mais ou menos os mesmos objetos subjetivos, o que lhes permite comunicarse e agir em comum. Diante do acima exposto, esta pesquisa tem seu arcabouço teórico pautado na teoria das representações sociais e aborda como objeto central, a representação social que os idosos que freqüentam a Associação de Parkinson de Pernambuco (ASPPE) têm da doença de Parkinson e a relação dessa representação com a qualidade de vida dos mesmos. A doença de Parkinson foi escolhida para este estudo visto que é uma enfermidade que afeta a motricidade, causando tremores, lentidão de movimentos (bradicinesia), instabilidade postural e rigidez e apresenta uma evolução lenta afetando principalmente indivíduos a partir de 50 anos sendo sua maior prevalência, idosos acima de 60 anos. Além de seu caráter altamente incapacitante, a escolha por esta afecção se deu também por fazer parte do meu exercício profissional cotidiano, seja em consultório, seja como voluntária da Associação Parkinson de Pernambuco (ASP PE). Esta pesquisa, portanto, contemplará os aspectos objetivos e subjetivos do binômio saúde – doença, abarcando as mudanças de paradigmas que a representação da doença e do adoecer vem passando ao longo dos tempos e, por fim, buscando compreender as implicações que estas representações trazem para a percepção de qualidade de vida dos sujeitos pesquisados..
(17) 15 . 2. ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA . 2.1. Mudanças no perfil etár io populacional e sua car acterização . Segundo Berquó (1999), entre 1980 e 2000 a população brasileira com 60 anos ou mais cresceu 7,3 milhões, totalizando mais de 14,5 milhões em 2000.Nesta progressão, a OMS admite que em 2025 o número de idosos no Brasil terá aumentado 18 vezes enquanto que a população total, em 5 (cinco) e o país será o 6º país do mundo em número de idosos. Essa mudança demográfica da população brasileira vem sendo marcada, segundo o IBGE (2002), por transições decorrentes de alterações nos níveis de mortalidade e fecundidade, uma vez que as imigrações internacionais deixaram de ter influência a partir da década de 40. Entre os anos 40 e 60 em paralelo ao fenômeno de declínio da mortalidade (representado por um acréscimo de 10 anos na esperança de vida ao nascer), observouse uma constância na taxa de fecundidade, mas a partir dos anos 60, o ritmo anual de crescimento populacional inicia uma desaceleração importante que vem a agravar a partir dos anos 80 até 1991, atingindo uma taxa anual de 1.94%. . Nos próximos 20 anos, segundo o Censo 2000, a população idosa do Brasil poderá ultrapassar os 30 milhões de pessoas e deverá representar quase 13% da população ao final deste período. Em 2000, ainda segundo o Censo, a população de 60 anos ou mais de idade era de 14.536.029 de pessoas, contra 10.722.705 em 1991.Assim, o peso relativo da população idosa no início da década representava 7,3%, enquanto, em 2000, essa proporção atingia 8,6%..
(18) 16 . A proporção de idosos vem crescendo mais rapidamente que a proporção de crianças. Em 1980, existiam cerca de 16 idosos para cada 100 crianças; em 2000, essa relação praticamente dobrou, passando para quase 30 idosos por 100 crianças. A queda da taxa de fecundidade ainda é a principal responsável pela redução do número de crianças, mas a longevidade vem contribuindo progressivamente para o aumento de idosos na população. Um exemplo é o grupo das pessoas de 75 anos ou mais de idade que teve o maior crescimento relativo (49,3%) nos últimos dez anos, em relação ao total da população idosa (IBGE, Censo Demográfico 2000). . O Censo 2000 verificou ainda que 62,4% dos idosos eram responsáveis pelos domicílios brasileiros, observandose um aumento em relação a 1991, quando os idosos responsáveis representavam 60,4%. É importante destacar que no conjunto dos domicílios brasileiros (44.795.101), 8.964.850 tinham idosos como responsáveis e representavam 20% do contingente total. Em 1991, essa proporção ficava em torno de 18,4%. . A distribuição por sexo revela que, em 2000, 37,6% dos responsáveis idosos eram do sexo feminino, correspondendo a 3.370.503 de domicílios, enquanto no início da década passada essa proporção atingia a 31,9%. Destacase ainda que a idade média do responsável idoso, em 2000, estava em torno de 69,4 anos (70,2 anos quando o responsável era do sexo feminino e 68,9 para o idoso responsável do sexo masculino). . Entre os domicílios sob a responsabilidade de idosos, os domicílios unipessoais, isto é, aqueles com apenas um morador, totalizavam, em 2000, 1.603.883 unidades, representando 17,9% do total. Em 1991, a proporção era de 15,4%. O estudo chama atenção para a elevada proporção de mulheres idosas que moravam sós, em 2000 cerca de 67%..
(19) 17 . No Brasil, em média, as mulheres vivem oito anos a mais que os homens. As diferenças de expectativa de vida entre os sexos mostram que em 1991, as mulheres correspondiam a 54% da população de idosos e em 2000, passaram para 55,1%. Portanto, em 2000, para cada 100 mulheres idosas havia 81,6 homens idosos. . Outra conclusão: o grau de urbanização da população idosa também acompanha a tendência da população total, ficando em torno de 81% em 2000. A proporção de idosos residentes nas áreas rurais caiu de 23,3%, em 1991, para 18,6%, em 2000. . Entre as capitais, Rio de Janeiro e Porto Alegre se destacam com as maiores proporções de idosos, representando, respectivamente, 12,8% e 11,8% da população total nesses municípios. Em contrapartida, as capitais do norte do País, Boa Vista e Palmas apresentaram uma proporção de idosos de apenas 3,8% e 2,7%. Em termos absolutos, o Censo 2000 contou quase um milhão de idosos vivendo na cidade de São Paulo. . Diante deste quadro referencial apresentamos nas Tabelas 1 e 2, alguns dados do que representa a população idosa no Brasil: . População Br asileira . Concentração População Centenár ios Esper ança da população Idosa de Vida idosa de 60 a 69 anos . 169.872.856 15.5 milhões 25787 Tabela 1. Dados demográficos (Censo 2000). . 68.6 anos . 9.1 milhões.
(20) 18 . Estados . Esper ança de Vida . Rio Grande do Sul Santa Catarina Paraná . 74.6 anos . Minas Gerais Goiás Mato Grosso Roraima Rondônia Amazonas Amapá . Bahia Sergipe Alagoas Pernambuco Paraíba Rio Grande do Norte Ceará Piauí Maranhão . 68 anos . 53.7 – 65.1 anos. Tabela 2. Características demogr áficas da população idosa no Brasil. . Este quadro de mudança no perfil demográfico demanda um olhar acurado para as implicações sociais deste processo de envelhecimento que envolve não só a emergência de implantação de políticas públicas voltadas para essa parcela da população, mas também as mudanças de paradigmas que acompanham a relação entre os idosos e seu entorno social. . 2.2. Implicações Culturais do Envelhecimento no Brasil . No Brasil, a exemplo do que ocorreu na França no séc. XIX, a representação social da velhice, é fortemente ligada ao processo de produção (DEBERT, 1999). Mas, naquele país já em 1903 afirma o autor, os indivíduos com mais de 60 anos e com status social elevado não eram considerados velhos e a velhice nas camadas superiores da sociedade não era aparente, denotando a influência do status econômico sobre o status social. .
(21) 19 . Peixoto (2000), afirma que com as alterações ocorridas na legislação brasileira estabelecendo aposentadoria por tempo de serviço, o termo velhice passou a ser fortemente ligado à aposentadoria – ao tempo do “não trabalho” e assim, a velhice passa a ser sinônimo de pobreza, dependência e incapacidade principalmente para as camadas média e superior da sociedade, reforçando uma situação de exclusão social. Moragas (2004), confirmando a convicção de que na sociedade industrial o papel do idoso é mais fruto da regulamentação de leis do que pelo reconhecimento social real, afirma: “[...] o idoso tem um papel sem papel – uma posição social que não implica obrigações, embora na sociedade contemporânea as obrigações sejam fundamentalmente trabalhistas, visto que através delas a pessoa conquista status social e econômico” (p.91). Ainda segundo o autor, nas sociedades agrárias o status social do indivíduo velho é diferente visto que a experiência é mais valorizada que a inovação. Mas segundo Peixoto (2000), no Brasil o termo “velho” apresenta uma ambigüidade de significados podendo ser usado como termo pejorativo ou afetivo, sendo distinguido “pela entonação ou pelo contexto em que é utilizado” (p.77). Ainda segundo o autor, para alguns, ser velho e “não ter o que fazer” designa principalmente o tempo liberado à cristalização dos velhos sonhos e á realização de um novo projeto de vida. Para uma camada da população, segundo o autor, o afastamento do trabalho simbolizou a perda do papel social de indivíduo produtivo e assim, buscouse a transformação da imagem das pessoas envelhecidas como inativas e os novos aposentados passaram a cultuar a “arte do bemviver”. (p.76) Na França, segundo Debert (1999), a concorrência entre as instituições financeiras responsáveis pelos fundos de pensão, levam essas instituições a oferecer além dos.
(22) 20 . rendimentos mensais, outras vantagens incluindo a prestação de serviços de lazer, contribuindo com isso para a “invenção” da terceira idade. Assim, para representar a nova população de aposentados surge o termo “terceira idade” como sinônimo de envelhecimento ativo e independente, onde a busca pela integração social se deu a partir da prática de “novas atividades sob o signo do dinamismo”. (p.76) Desta forma, a terceira idade substitui a velhice e assume novas designações: “nova juventude”, “idade do lazer” e a aposentadoria deixa de ser um momento de descanso e recolhimento para tornarse período de atividade e lazer. O termo “terceira idade” no Brasil, a exemplo da representação francesa, segundo Debert (op.cit.) é usado para designar os “jovens velhos” e aposentados dinâmicos, passando a ser “... uma expressão classificatória de uma categoria socialmente heterogênea, mascarando uma realidade social em que a heterogeneidade econômica e etária é muito grande”.(P.63) A autora relata que com a expressão “terceira idade” uma nova imagem do envelhecimento é constituída, havendo uma inversão dos signos do envelhecimento. Ela afirma: “[...] não se trata mais apenas de resolver os problemas econômicos dos idosos, mas de proporcionar cuidados culturais e psicológicos de forma a integrar socialmente uma população tida como marginalizada” (Idem). A terceira idade, ainda segundo Debert, é uma expressão que se popularizou com rapidez, sendo uma forma de tratamento das pessoas com mais idade, que independente da idade cronológica, ainda não adquiriu uma conotação depreciativa. Nos Programas para a terceira idade, a autora afirma: “[...] a luta contra os preconceitos e estereótipos leva a uma celebração do envelhecimento como um momento de.
(23) 21 . realização pessoal, onde a satisfação e o prazer encontram seu auge e são vividos de maneira mais madura e profícua” (p.144). De acordo com Peixoto (2000), essa concepção de velhice ligada ao dinamismo e à atividade faz com que os idosos busquem cada vez mais os espaços públicos, participando de atividades socializantes que propiciam o sentimento de pertença a um grupo caracterizado pela vontade de envelhecer ativamente modificando a representação social da velhice pautada na monotonia e sofrimento. Mas, para Featherstone (1994), a despeito das designações e aspectos que fazem com que a velhice tenha maior ou menor aceitação na sociedade, a perda de 3 (três) competências básicas levam à estigmatização dos velhos e servem de estereótipos negativos. Essas competências são: 1. Habilidades cognitivas: baseados no uso da linguagem e sua capacidade de comunicação, vitais para uma pessoa tornarse autônoma e aceita. 2. Controles do corpo: a necessidade de controlar os movimentos do corpo, os movimentos dos nossos membros, rosto e cabeça, o grau de capacidades motoras que envolvem o sentar, ficar de pé e andar tanto quanto a capacidade de controlar e reter os fluidos corporais. 3. Controles emocionais: a necessidade de controlar a expressão das emoções de modo que explosões emocionais e perda de controle somente tomem lugar em ocasiões e de forma que possa ser socialmente sancionadas e aceitáveis (p.67) Assim, ao passo que os estigmas negativos da velhice (ligados à decrepitude e decadência) são substituídos por estigmas positivos (ligados á atividade e prazer), outros preconceitos são sedimentados em torno daqueles que não participam dessa forma de envelhecimento ativo..
(24) 22 . Isso ocorre porque a sociedade, ao estabelecer meios para categorizar as pessoas, faz com que seja construído um juízo prévio de cada indivíduo inserido nessa categoria. (GOFFMAN, 1982). Desta forma, segundo o autor, expectativas préconcebidas transformamse em exigências, criandose estereótipos acerca de determinados indivíduos, reduzindo as possibilidades de inserção social. O indivíduo por sua vez, passa a basearse não no que acredita ser, mas de acordo com a categoria na qual está inserido, acreditando nos atributos impostos pela sociedade. Os atributos ou características que justificam o estigma apresentam pouca ou nenhuma oportunidade de análise crítica e consciente que os associe às circunstâncias reais da vida e das relações humanas, sociais. Conseqüentemente, o preconceito é inflexível, rígido, imóvel, prejudicial à discussão, ao exame fundamentado e à revisão do que está pré concebido.(IDEM) Assim, ser idoso e funcionalmente dependente num país que prima pela juventude e atividade, tornase uma tarefa exaustiva que, dependendo das circunstâncias, inviabiliza a participação social dos mesmos. Uma forma de viabilizar mudanças nesse quadro de desatenção seria a implantação de políticas públicas que previssem a proteção e apoio a esses idosos dependentes e seus familiares..
(25) 23 . 2.3. Breve Histór ico das Políticas Públicas voltadas à saúde do Idoso no Brasil . Segundo Cohn (1999), é difícil explicar e compreender as atuais políticas de saúde do país sem que se atrele às políticas de Previdência Social dado o estreito vínculo existente entre elas. . Ademais, a formulação das políticas sociais no Brasil desde o início, teve sua . construção baseada em lutas de diferentes instâncias culminando em conquistas diluídas e muitas vezes revogadas, sem caracterizarse desta forma, em uma evolução progressista e linear. Conhecer a forma como o Estado conduziu essas políticas em diferentes momentos pode favorecer a compreensão acerca dos mecanismos vigentes nos dias atuais e que caracterizam as políticas sociais como ineficientes, clientelistas e não universalizadas, levando em última análise, ao descrédito quanto à competência do Estado no setor. Diante deste fato, recorreremos á reconstituição da forma como as políticas de saúde voltadas ao idoso foram sendo implementadas no país abarcando neste processo, as políticas de Previdência Social. Apesar a lei de autoria do deputado Elói Chaves (Decretolei 4682, de 24 de Janeiro de 1923) ser considerada um marco da interferência do Estado na regulação social, é possível identificar tentativas de constituição de instituições de caráter previdenciário no Brasil durante a Colônia – como o “Plano de Beneficência dos Órfãos e Viúvas dos Oficiais da Marinha” em 1795; em 1888 ser instituída uma “Caixa de Socorro aos Empregados das Estradas de Ferro Estatais” e em 1890 um DecretoLei ter concedido direitos para os funcionários do Ministério da Fazenda e da Estrada de Ferro Central do Brasil.(CONH, 1999). A época da “Lei Elói Chaves” foi de anos agitados; o movimento artístico contestava valores da cultura tradicional e o partido Comunista se formava aos olhos de todos e.
(26) 24 . propunha a tomada de poder pelos trabalhadores; as lutas sociais começam a defender o voto secreto, o fim da corrupção e moralidade pública; os trabalhadores se organizavam para reivindicar direitos e os industriais lutavam pela participação nas decisões políticas. Enquanto isso, o poder Federal se empenhava em descaracterizar a descentralização governamental. Assim, em meio a este clima de reivindicações, em 1923, com a lei do deputado Eloi Chaves, criouse a 1ª CAP (Caixa de Aposentadoria e Pensões) para os ferroviários de empresas privadas e que teve adesão de outras categorias nos anos seguintes, caracterizando um contexto social de mudanças. Segundo Oliveira (1989), o objetivo da CAP dos ferroviários – modelo das demais, era fornecer a seus membros, socorros médicos e hospitalares; medicamentos a custo reduzido; aposentadoria por tempo de serviço, velhice ou invalidez; pensão para os dependentes em caso de morte e custeio das despesas de funerais.A participação dos funcionários era compulsória e sua estrutura administrativa era gerida por um Conselho composto por 1 (um) superintendente ou inspetor geral da estrada; o caixa e o pagador da empresa mais 2 (dois) empregados eleitos pelos demais.Assim, o controle permanecia nas mãos da empresa, a exemplo das antigas mutuais. Do ponto de vista dos empresários, segundo Oliveira (op.cit.), a legislação das CAPs trouxe a vantagem de fixar um gasto anual para fazer frente às despesas de previdência e assistência visto que como o pagamento dos seguros por velhice, invalidez e doenças tornou se pesado demais para as mutuais, eles foram repassados às empresas, sendo necessário despender quantias cada vez maiores com os inativos. O sistema de financiamentos das CAPs era tripartite ( empregadores, empregados e Estado), definia a aposentadoria ordinária por critérios de tempo de serviço (30 anos) e idade cronológica (50 anos) e a aposentadoria por invalidez seria concedida nos mesmos valores da.
(27) 25 . aposentadoria ordinária desde que o segurado contasse com pelo menos 10 anos de serviço (a não ser em caso de acidentes de trabalho). Assim, segundo Cohn (1980), a regulação das CAPs constituíase numa espécie de contrato privado entre empresários e empregados, mediante o qual os empregadores comprometiamse a sustentar os empregados quando estes não fossem mais ativos. Esses contratos, segundo a autora (op.cit.) “ [...] ainda não se fundamentavam na concepção de direito de cidadania passível a ser estendida a todos em condições de participar do processo produtivo visto que abarcavam apenas os empregados de uma única empresa” (p.93). . Conh (op.cit.), afirma ainda que a definição dos grandes traços que marcam até os dias de hoje o sistema previdenciário no Brasil foram dados pelas CAPs a exemplo da forma tripartite de financiamento, do caráter assistencialista e não universalizante do seguro social, elegendo até hoje grupos assalariados de setores de maior peso econômico e politicamente mais mobilizados. Em 1926, algumas mudanças na prestação de serviços pelas CAPs foram instituídas; houve uma redução para 5 anos do prazo de carência para a concessão da aposentadoria por invalidez e a inclusão de um dispositivo prevendo estabilidade no serviço por 10 anos. Em 1930, com a chegada de Getúlio Vargas ao poder, as relações de trabalho passam por diversas transformações; as classes médias urbanas crescem, como também os conflitos entre patrões e empregados que já vinha demonstrando força desde a década de 20. Diante deste quadro, o Estado se propôs a desempenhar o papel de legítimo intermediário. Foi criado então, o Ministério do Trabalho Indústria e Comércio (que visava o controle da classe operária e empresarial pelo governo federal) e até 1934, vários Decretos implementaram a proteção do trabalho da mulher e do menor entre outros aspectos.Em 1937 o Ministério do Trabalho Indústria e Comércio impõe uma regulação mais elaborada dos.
(28) 26 . direitos dos trabalhadores e passa a conceder “cartas de reconhecimento” aos sindicatos que passam a gravitar em torno do Ministério. Desta forma, a partir de 1930, o contrato de seguro característico das CAPs começa a ser substituído por dispositivos legais que colocam a previdência “sob a égide do Estado”, conforme cita Cohn (1980):... criase os Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs), instaurandose um vínculo por categoria profissional de abrangência nacional, em substituição do vínculo por empresa. (p.105) Os IAPs, tal como os CAPS, são juridicamente concebidos como entidades públicas autárquicas, se diferenciando pela presença do Estado em sua estrutura administrativa visto que administração dos fundos dos IAPs seguia o padrão de Conselho de representantes de empresas e empregados, mas o colegiado passou a incluir as figuras do presidente do Instituto – nomeado pelo presidente da República e a do secretário do Conselho Administrativo – nomeado pelo presidente do Instituto, estando assim, submetidos ao poder e á influência da burocracia do Estado, representando uma modalidade estatal de organização da política previdenciária. No que diz respeito ao financiamento dos recursos, segundo Cohn (op.cit.), deuse um retrocesso nos IAPs em relação às CAPs; a contribuição dos empregadores que era um percentual sobre o faturamento da empresa, passa a ser um percentual sobre a folha dos salários. Desta forma, sob a ameaça constante de insuficiência de recursos diante do aumento da demanda, adotase o regime de capitalização onde o patrimônio de cada IAP deveria ser expandido mediante investimentos criteriosos ou pela aquisição de propriedades..
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